Sim, mais um conto de Natal escrita por annaoneannatwo, Kacchako Project


Capítulo 2
O primeiro espírito




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O quarto está tão escuro que, praticamente, tanto faz ficar com os olhos abertos ou fechados. Katsuki se pega naquela sensação medonha de saber que dormiu um pouco, mas não ter descansado nada, a ponto de sentir que, na verdade, não dormiu.

Pelo menos o Best Jeanist não voltou para assombrar seus sonhos, que porra foi aquela? O loiro não tinha um pesadelo fodido assim desde a época do sequestro. Não que ele se lembre da maioria dos seus sonhos, esquece quase todos assim que acorda, mas, nos últimos tempos, seu subconsciente tem enchido a cabeça dele de sonhos… bacanas, sonhos onde ele é apresentado como o herói número 1 e o All Might diz que nunca conheceu alguém tão incrível quanto ele. Já em outros, Katsuki anda de mãos dadas com a Uraraka nos mais diversos lugares, na escola, no parque de diversões, no fliperama, às vezes ela o faz flutuar nesses sonhos, em outros faz ela mesma levitar para alcançá-lo e plantar um beijo nos lábios dele… ugh! Que diabos ele vai ganhar pensando nisso?

Ele se vira do lado da parede para o outro e grita um “Porra!” ao notar a silhueta parada em frente à sua cama.

—  Que merda é essa, caralho? Quer morrer? —  ele entra em posição de ataque, o quarto se ilumina com suas mãos brilhando, prontas para detonar quantas explosões forem necessárias. A luz faz com que ele veja o rosto da presença em seu quarto, e ele vai de estado de alerta, ao de confusão no mesmo segundo —  Present Mic-sensei?

—  Yo, my man! Finalmente acordou! Let’s go que já estamos atrasados!

—  Quê? N-não, eu não vou pra lugar nenhum. E… como você entrou aqui?

—  Ué, o Best Jeanist não te avisou que eu vinha? —  ele coça a cabeça —  Não tá me reconhecendo, man?

—  Tô, você é meu professor de inglês! Mas por que raios meu professor de inglês tá no meu quarto à uma da manhã?!

—  Ah não! Eu não sou seu professor de inglês, eu sou o Fantasma dos Natais Passados, só assumi a forma de alguém que você conheça e se sinta confortável, get it?

—  E você escolheu o PRESENT MIC?! E que porra de Fantasma dos Natais Passados… —  ele pausa —  Ah, caralho! Ainda é aquele sonho maldito!

—  Se você quer pensar assim. —  ele dá de ombros —  Então let’s go! Ainda tem muito pra você ver!

—  Ir pra onde?

—  Pro passado, ué. Pra onde mais? —  ele estende a mão, e o quarto começa a se iluminar, Katsuki olha ao redor em choque, mas depois tudo se torna tão claro que ele não consegue ver mais nada —  Buckle up, my man! It’s gonna be a bumpy ride!

E então, ele está voando, pairando no céu exatamente como em seus sonhos com a Uraraka, mas é bem menos empolgante já que ao invés dela, tem um projeto de Present Mic soltando frases aleatórias em inglês e brilhando tanto que chega a fazer a vista doer.

—  É só a porra de um sonho... —  ele repete para si mesmo, desejando acordar.

—  Então, você tem 17 anos, rapaz? Bem jovem, não viveu quase nada, nem teremos tantos Natais assim pra revisitar, mas wow, os que a gente verá foram bem intensos, hein?

—  Como assim? —  Katsuki olha pra baixo e reconhece sua vizinhança, sua casa logo ali, tá um pouco diferente, o piso da garagem é outro, a cor das paredes também é mais clara, era dessa cor quando ele tinha uns 5 ou 6 anos.

—  Ah, seu sexto Natal! Olha lá você! How cute, man!

O loiro se vê no jardim coberto pela neve, vestido até o pescoço com uma jaqueta vermelha gigante e um gorro preto. Os olhos dele faíscam com aquela admiração alumiada toda vez que produz suas explosões, na época tão grandes quanto estalinhos.

—  Katsuki, bota sua luva se não vai congelar os dedos! —  a voz estridente da velha ressoa pelo jardim, e tanto ele quanto sua versão mirim reviram os olhos.

—  Não quero! Tô treinando!

—  Treinando pra quê, moleque? Entra logo que a gente vai sair!

—  Sair pra onde?

—  Vou levar esse bolo de frutas para Midoriya-san, e você vem junto! Você vai pedir desculpas pro menino dela por ter rasgado a cartinha dele pro Papai Noel, sua peste! Que diabos você tava pensando?

—  O idiota pediu uma individualidade pro Papai Noel, não é assim que funciona! —  ele bate o pé —  E o Papai Noel nem existe!

—  Quem te falou isso?

— Ninguém, eu só sei porque sou esperto!

—  Se é tão esperto, você vai entrar agora, botar suas luvas e me acompanhar de bico fechado, para pedir desculpas para a Midoriya-san e pro menino Izuku, se sabe o que é melhor pra você!

—  Mas se é pra eu ficar de “bico fechado”, como vou pedir desculpas? —  ele lança um sorriso desafiador, já esperando a gritaria descontrolada.

—  Passa. Pra. Dentro. —  ela diz em um tom grave e pesaroso, e Katsuki obedece de cara amarrada. Tsk, deixa ela achar que levou a melhor nessa, essa chata vai ver só!

O loiro assiste a tudo com uma sensação estranha, ele se lembra disso, só não lembrava de ter feito uma expressão tão irritante. Tsk, se um pirralho olhasse pra ele do jeito que olhou pra mãe, já podia estar correndo porque Katsuki não perdoaria. Que… merda! Ele tá dando razão pra velha doida agora?

—  Let’s go, man!

—  Pra quê? Eu lembro o que aconteceu depois. —  ele fecha o punho por entre seus braços cruzados, Katsuki se lembra muito bem.

O Deku não mudou quase nada, a mesma cabeleira cacheada, as mesmas sardas salpicando-lhe as bochechas e o nariz, os grandes olhos verdes brilhantes, ele ainda faz essa cara de bichinho assustado às vezes, mas hoje em dia é mais raro, começou a rarear naquele fatídico dia em que ele se intrometeu e tentou salvar Katsuki do monstro de lama, o ar assustado e sempre nervoso deu lugar a uma expressão determinada e corajosa. Ou talvez sempre estivesse lá, Katsuki só nunca tinha percebido.

Neste momento não, pelo menos. O nerd se agarra nas pernas da mãe enquanto olha para a velha com curiosidade.

—  Boa noite, Inko-san! Espero não estar atrapalhando!

—  Imagina, Mitsuki-san! Feliz Natal para você e para esse seu menininho aí! Ele é a sua cara, hein? —  ela sorri e se inclina, sorridente. Katsuki a observa com cautela. Ela não vai brigar com ele por causa do pirralho dela que não sabe se defender sozinho?

—  Aqui, não é grande coisa, mas eu fiz com a melhor das intenções. —  a velha se curva quando entrega o bolo. Tsk, precisa disso tudo?

—  Oh, não precisava! —  os olhos dela brilham —  Olha, Izuku! Não é lindo?

— Uaaaau, é sim! Deve estar muito gostoso!—  o nerd abre um sorrisão —  Você que fez, Kacchan?

—  Nem a pau! E já falei pra parar de me chamar assim, seu idiota!

—  Katsuki! —  a mãe dele rosna —  Queira me desculpar, Inko-san...

—  Ora, tudo bem.

—  Uhum, tudo bem! —  o Deku acena com a cabeça —  Ei, Kacchan! Você quer ver o que eu ganhei de Natal?

—  Nem a p- — a velha aperta sua mão e lança um sorriso diabólico —  Tsk, mostra aí.

—  Legal! Tá lá no meu quarto! —  Katsuki é praticamente arrastado para dentro do apartamento, xingando mentalmente sua mãe por submetê-lo a essa tortura! —  Olha! É um All Might da Era de Prata! —  o nerd aponta para um action figure na estante, o babaquinha empurrou todos os livros e outros brinquedos pra abrir espaço para o All Might em posição imponente —  Igual ao que você ganhou, né?

—  Tsk, é. Só que eu ganhei o meu há um tempão. —  ele dá um sorriso desdenhoso.

—  É, o papai falou que só ia comprar no Natal. Bom, ele não comprou, só mandou o dinheiro pra mamãe, aí ela comprou!

—  Bom pra você. —  ele dá de ombros.

—  É bom mesmo, não é?  —  mas o merdinha nem se liga.

—  Aproveita bastante, seu nerd. —  ele sorri maleficamente  —  É o mais perto que você vai chegar do All Might. Ou não, sei lá, inútil e idiota como você é, talvez um dia ele tenha que te salvar. —  o nerd abaixa o olhar —  Aliás, tô aqui pra te pedir desculpa.

—  D-desculpas?

—  É, desculpa por rasgar sua cartinha pro Papai Noel, sinto muito por você ser tão imbecil que precisa de um velho barrigudo que nem existe vir te dar uma individualidade. —  ele gira nos calcanhares —  Feliz Natal, seu nerd de merda!

—  O Papai Noel… não existe? —  a voz do nerd soa chocada, mas ele não tá nem aí.

—  Isso foi duro de assistir! —  o Fantasma dos Natais Passados, ou o Present Mic, vai saber, balança a cabeça negativamente —  Não é por nada não, my man, mas você era o capeta, hein?

—  Tsk, todos os moleques da minha sala eram assim!

—  Todos menos o Midoriya-kun, pelo jeito.

—  É, ele sempre foi esquisito pra caralho. —  ele cruza os braços —  Nisso não mudou nada.

—  E você? Mudou em alguma coisa? —  ele indaga. E Katsuki se lembra de como se recusou a receber o presente de amigo secreto do Deku há alguns dias. Ele já tava puto porque nem queria participar, a Rosinha enfiou o nome dele nessa merda e Katsuki não teve pra onde fugir. Assim que viu que o presente era uma action figure do All Might, o loiro achou que só podia ser deboche desse desgraçado, é muita pachorra mesmo esfregar na cara dele que foi o escolhido como sucessor do Símbolo da Paz. Katsuki só não mandou ele enfiar a action figure no cu porque o All Might não merece isso, mas saiu puto da vida e não quis o presente. 

No fim, talvez ele não tenha mudado tanto assim, ainda se sente atingido pelas menores besteiras do nerd, até no fato de ele não criar um par de bolas e assumir pra Uraraka que gosta dela… imbecil do caralho!

— Temos mais uma parada. Let’s go, dude!

—  Essa porra não acabou ainda?

—  Of course not! Vamos dar um pulinho no tempo e ir para seu 16º Natal!

—  Quer dizer ano passado? Não aconteceu porra nenhuma!

—  Are you sure? —  e no mesmo momento, eles estão de volta à U.A., mas tem algo de diferente, a decoração dos dormitórios não é igual, e o calendário pregado na geladeira indicam que eles estão realmente no ano passado. A área de convivência não tá tão cheia e algumas das luzes natalinas já estão apagadas, a festa já deve estar no fim. Ele se vê avançando pela cozinha para lavar algumas louças e se deparando com a Rosinha, a Menina Sapo e a Uraraka, sentadas perto da bancada, remexendo na forma onde ainda tem alguns cookies.

—  Ai, que soninho! —  a Rosinha se espreguiça —  É, melhor eu puxar o carro!

—  Já? Tá cedo! —  a Uraraka protesta —  Fica mais um pouquinho!

—  Ômodeuso! Ela tá tristinha que vai ficar sozinha! —  a Rosinha corre para abraçá-la —  Não se preocupa, Ocha, vou te encher de mensagens o feriado todo pra você não se sentir sozinha!

—  Obrigada, Mina-chan!

—  Eu também vou te ligar na virada do dia 24 para o dia 25, ribbit, e na virada do ano também, Ochako-chan. —  a Menina Sapo diz e a abraça também.

—  Ah, eu quero falar que não precisa, mas vou ficar tão feliz! —  a voz dela soa chorosa, e Katsuki luta contra a vontade de olhar para ela.

—  Mas você sabe que tá passando o Natal sozinha porque quer, né, meu anjo? Porque se você quiser, descobre quem foi o admirador secreto que te mandou essa pulseira e passa o Natal de um jeito bem mágico e romântico! —  a Rosinha diz de modo sonhador, fazendo-o apertar o copo que tá na mão tensamente.

—  M-Mina-chan! Você prometeu que não ia mais falar nisso!

—  Ai, desculpa! Mas não consigo evitar, acho tão fofo que você teve um amigo secreto realmente secreto, tipo, nem você sabe quem é.

—  Não sabe mesmo, ribbit?

—  Como assim, Tsu-chan?

—  Nada, é só que se formos parar pra pensar a fundo, não demoraríamos em descobrir quem foi. E honestamente, Ochako-chan, acho que no fundo você sabe quem é, ribbit.

—  Ah, é mesmo? —   a Rosinha soa animada.

—  B-bom, eu… não sei se sei de verdade ou só… gostaria muito que fosse ele… —  a voz dela diminui.

—  Hum… interessante… e você vai confrontar o Midoriya-kun quando, então?

—  O… O Deku-kun? —  ela pula de susto.

—  É, ué! É ele que você quer que tenha te dado essa pulseira, não é?

—  A-ah, eu… eu… bom, eu… —  ela começa a gaguejar, como se tocar no nome dele a fizesse adquirir um dos hábitos mais irritantes do Deku, Katsuki taca o foda-se pra louça suja e sai da cozinha, não querendo ouvir mais nada dessa conversa.

—  Tsk, como se o Deku tivesse bom gosto pra escolher uma pulseira daquelas. —  ele resmunga para si mesmo.

—  Ah, então você sabe quem foi? —  o Present Mic pergunta.

—  É lógico que eu sei.

—  E por que… não disse nada pra ela?

—  O Natal dela já ia ser uma merda por ficar sozinha, eu não ia estragar ainda mais acabando com a ilusão dela, e revelar que no lugar do idiota, quem deu esse presente foi um fodido que se enfraquece todo perto dela!

—  Tenho certeza que a verdade a deixaria muito mais feliz…

—  É, pois eu tenho certeza que não. —  ele a olha mais uma vez, admirando a pulseira com seus grandes olhos brilhantes e as bochechas tão vermelhas quanto o gorro natalino que ela usa. Katsuki gosta de pensar que ajudou o Natal dela a ser um pouquinho menos merda, nem que seja só um pouquinho mesmo. O Deku deve essa pra ele —  Já acabou? Ou eu ainda tenho que ficar aqui vendo essa baboseira de mulher? 

O Present Mic de araque dá um suspiro e, num estalo, eles estão de volta ao quarto dele.

—  Boy, what a ride! —  o fantasma exclama —  Bom, minha parte tá feita, meus colegas ainda aparecerão ao longo da noite, mas tenho certeza que você já conseguiu perceber algumas coisas sobre si mesmo ao se ver, não? Considere um privilégio, muitas pessoas gostariam de se observar “de fora” pra ver onde erraram e o que podem fazer pra melhorar.

—  E vou melhorar o quê no passado se a porra do passado já passou?!

—  Verdade, não dá pra fazer mais nada quanto ao passado, a não ser aceitá-lo e seguir em frente pra que não aconteça de novo!

—  Tsk, que papo clichê.

—  Clichês só são clichês porque são verdade, my dude. Bom, vou nessa! Merry Christmas! Ho ho ho! —  o quarto se ilumina de novo, forçando-o a fechar os olhos. Quando Katsuki reabriu-os, ele já não está mais lá.

O loiro se deita novamente, remoendo a expressão da Uraraka em seu sonho, por um momento, ele pensou tê-la vista olhando-o quando a Menina Sapo sugeriu que ela sabia quem tinha dado a pulseira. Tsk, até parece! Isso é só o subconsciente dele fazendo-o ver o que ele quer.

Mas é verdade que essa “visita ao passado” o fez repensar algumas coisas. Katsuki nunca mais dará um presente de Natal pra ela, por exemplo.


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Notas finais do capítulo

Antes dessa fic, eu nunca tinha eacrito o Present Mic, relendo agora pra postar, percebo que eu o fiz basicamente como um tipo de Supla djjksdjdjkjks
Espero que esteja gostando! Próximo capítulo amanhã!



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