Minha mãe fez questão de me fazer sentir 100% do clima rancheiro como ela mesma disse. Primeiro tivemos que ficar 12 horas dentro de um ônibus sendo que poderíamos ter muito bem pegado um avião. Depois pegamos um táxi com um cara que tinha um chapéu tão grande que quase saía pelas janelas. E por último veio o inacreditável.

—Ah não mãe! Eu não vou subir nisso - falei quando vi o meu primo Ignacio parar a carroça ao nosso lado.

Minha mãe só riu e passou a mão no meu cabelo com um pouco de força. Isso queria dizer que era para mim calar a boca.

—Desculpa ele, Igui. Você sabe esses meninos de hoje - minha mãe disse sorrindo amarelo.

Nada contra quem é da roça mas estava claro que o taxista podia seguir o caminho até o rancho do meu tio, mas minha mãe fez questão de parar e me fazer subir na carroça.

Eu fiz a vontade dela claro, caso contrário ficaria com o rosto ardendo com o tapa que ela me daria. Mas não escondi minha raiva e fui emburrado todo o caminho. Ela faz de propósito, não se enganem.

Foram quase quinze minutos andando em cima daquele veículo excêntrico e sentindo o fedor de bosta de cavalo. Minha mãe falou animadamente com o Ignacio durante todo o caminho, querendo jogar na minha cara que eu deveria estar alegre. Mas eu não colocaria um sorriso no rosto até estar de volta a Seattle e nem ela nem Deus me faria mudar de ideia.

Então quando finalmente nós chegamos ao rancho eu fui o primeiro a pular daquela carroça e me esquivar dos beijos de uma mulher que se dizia minha tia. Logo uma roda de gente se formou ao nosso redor mas eu não tinha certeza se eram todos parentes, a única coisa que sei é que todos pareciam animados com a nossa chegada. A animação era toda deles porque eu mesmo não estava nem um pouco animado.

Mas aquela roda de gente serviu para que eu saísse e fosse para longe. Minha vontade era fugir mas eu olhava em volta e só via campo e algumas vacas pastando ao longe. Então já que a fuga não era possível, eu queria pelo menos esfriar a cabeça porque a raiva já estava tomando conta de mim.

Então rodeei o rancho e procurei algum lugar para ficar mas lá trás fedia demais, Deus me livre. Era galinha correndo de um lado para o outro, pintinhos piando na minha cabeça, pato, ganso, cachorro… Nossa, aquilo tava uma loucura. Mas o fedor maior vinha do chiqueiro que estava a alguns metros. 

—Como esse povo vive no meio desse fedor? - me perguntei em voz alta enquanto me distanciava com a mão no nariz.

Então eu continuei andando mas tive que mudar o trajeto quando vi dois bodes me encarando. Eu não tenho medo deles mas nunca se sabe o que se passa pela cabeça de um animal, então é melhor evitar. 

Depois de mudar de direção eu continuei olhando para trás para vê se aqueles bichos não estavam me seguindo. Mas quando resolvi olhar para frente quase não tive tempo de me desviar de uma manada de bezerro que vinha correndo na minha direção. A única solução que eu encontrei foi subir na primeira coisa que eu vi: uma árvore. Mas eu nunca tinha subido numa árvore e para completar o meu azar o tronco da tal árvore era cheio de espinho. Então eu não consegui subir e ainda me arranhei todo.

Então de repente do meio da poeira que levantou um cavalo enorme tipo enorme mesmo, surgiu com uma garota loira em cima. No começo eu mal consegui enxergar ela porque meu olho encheu de terra, mas quando eu finalmente vi ela pude ver também que ela ria de mim.

—Cuidado aí - ela falou na maior tranquilidade e bateu no cavalo que saiu correndo atrás dos bezerros outra vez, jogando mais terra nos meus olhos.

—‘Cuidado aí’ - repeti olhando para a minha mão que sangrava - Garota louca!

Então lá vai a dica número um: saiba bem onde você está subindo. se uma manada de bezerros estiver vindo na sua direção comandados por uma garota louca em cima de um cavalo, é melhor correr.