Same Old Feeling escrita por melodrana


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Pat, eu espero muito que você goste do que preparei para você! Eu adorei os combos que você mandou, tudo conversava muito e isso facilitou demais para a criação da história. De verdade, foi muito gostoso trabalhar com uma música da Taylor, tanto que me empolguei e coloquei também várias outras ao decorrer da história. Espero que você se apaixone por esse Edward e essa Bella assim como eu amei escrevê-los, e espero também que você encontre alguns elementos que eu acabei stalkeando no seu twitter e coloquei na história. Me desculpe a demora para postar, mas posso te garantir que tudo foi feito com muito carinho!

Um agradecimento especial para a Fe, que foi de fundamental ajuda para que a história saísse e para a Val, a leitora mais fiel e linda da terra. Obrigada por tudo, meninas ♥

Boa leitura!



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Quando Isabella Swan era apenas uma garotinha, sonhava todos os dias em ser uma princesa.

Dentro de seu quarto, Bella exercitava sua criatividade assim que colocava o vestido rodado que ganhara de Renée em seu aniversário de seis anos. Como se a roupa tivesse propriedades mágicas, a pequena se transportava para o mundo em que vivia em um castelo gigantesco, repleto de cômodos que nem ao menos sabia a utilidade. Com os olhos fechados, Bella rodopiava pelo espaço apertado e transformava a brisa que vinha do movimento em um passeio pelos jardins que cercavam a construção de pedra.

Conforme crescia, Bella substituíra sua ilusão favorita por momentos reais que, agora como adulta, sabia que valiam mais do que qualquer fantasia que tivera quando mais nova.

As lembranças mais doces da infância de Bella aconteceram dentro da Black Swan, a livraria que passara de geração em geração por sua família. Lembrava-se com carinho das tardes em que se escondia nas prateleiras, explorando os títulos dos livros como se cada um fosse um tesouro. Ainda podia invocar a imagem de Charlie com o óculos na ponta do nariz, lendo um grosso livro enquanto a vigiava para ter certeza de que tudo estava bem. Quando estava ali, Bella não fantasiava mais sobre mundos mágicos em que era a protagonista, mas sonhava com as histórias de outras pessoas, fossem elas descritas em livros ou em detalhes pequemos nas páginas gastas de papel.

Por isso, Bella não se importava em passar grande parte de sua semana ajudando seu pai nos afazeres da livraria. Apesar de ter seu próprio emprego, ela se sentia acolhida em meio às inúmeras prateleiras. Aquele lugar era tanto seu lar quanto o pequeno apartamento que alugava com seu salário de professora.

— Pai, o que eu posso fazer hoje? — perguntou assim que entrou na livraria e cumprimentou Charlie com um beijo de bom dia.

— Bells, você não tem alguma aula para preparar? — Ele arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar desconfiado à filha. — Você já terminou o seu projeto de mestrado?

Bella escondeu uma careta. Sempre tivera maior afinidade com o pai porque, assim como ela, Charlie era calmo, observador e expressava seus sentimentos com ações e não com palavras. Só que uma das maiores desvantagens de serem tão parecidos era que ele a conhecia melhor do que qualquer pessoa. Então, Charlie sempre batia de frente com todas as formas de procrastinação que Bella criava quando ia até a livraria.

— Eu estou tranquila, pai. Posso ajudar.

— Quando é o prazo para a submissão mesmo?

— Sexta que vem.

— E quanto você tem escrito?

— Pai — Bella sentia-se uma adolescente sendo repreendida por não fazer a lição de casa da escola. O que era horrível, já que jamais fora irresponsável com suas tarefas escolares. — Eu preciso de um pouco de distração. Eu ainda não tenho o tema definido e preciso de algumas tarefas mecânicas para pensar.

Charlie estava pronto para argumentar, mas cedeu quando viu o pequeno bico que Bella fazia sempre que queria o convencer de algo.

— Tem umas caixas lá nos fundos que precisam ser catalogadas. Uma delas tem livros de doação, então precisam ir para a sessão dos mais baratos, mas outras são algumas remessas novas de uma editora com quem eu fiz um bom contrato esses dias. Se você puder separá-los eu ficaria bem agradecido.

— Deixa comigo, pai — Bella sorriu para Charlie e passou por ele, encaminhando-se para os fundos da livraria.

O caminho era tão familiar quanto respirar. O lugar não era tão grande quanto as franquias que existiam espalhadas por Boston, mas suportava diversas sessões com os mais diversos títulos. Bella sabia que muito daquele espaço fora conquistado com o esforço de sua avó Marie, mas orgulhava-se muito do que ela e o pai construíram juntos. Nos últimos anos, fizeram algumas reformas para deixar o local mais aberto, sem perder o ar de antiguidade e o conforto que alguns dos itens mais antigos traziam ao ambiente. Além disso, adicionaram uma cafeteria com acesso à internet para atrair os jovens que sempre estava aos arredores, investindo bastante no ambiente aconchegante e no delicioso aroma de café e biscoitos caseiros.

Não foi difícil encontrar as caixas que Charlie descreveu; elas estavam empilhadas no canto mais distante da mesa que usavam como escritório improvisado, mas que parecia mais um depósito pelo caos organizado. Bella encontrou uma posição confortável no chão e logo começou a trabalhar. A primeira caixa era uma da remessa da nova editora, e ela mergulhou na tarefa mecânica, separando os títulos por categorias e colocando-os em pilhas organizadas para em seguida catalogá-las no sistema da livraria e encaixá-las em suas respectivas prateleiras.

Quando chegou à terceira caixa, percebeu que era diferente das outras, então presumiu que era a caixa de doações. Bella pensou em ignorá-la por enquanto e continuar o que estava fazendo, mas sua curiosidade sempre a vencia quando se tratava de coisas antigas. Pegou então a caixa, decidindo que fazer uma pausa para procurar alguma preciosidade naquelas páginas não faria mal a ninguém.

Bella ficou confusa assim que a abriu. Ao invés de encontrar livros velhos e empoeirados, se deparou com uma pilha de cartões postais, algumas cartas e também alguns pacotes bem envoltos em papel pardo. Pegou o cartão que estava no topo da pilha e observou a imagem com anseio. Era uma foto de um castelo que ficava na Escócia, um que ela pesquisara sobre quando era mais jovem, sonhando em passear por entre as ruínas quando tivesse condições para tal. Virou o cartão por pura curiosidade e ficou em choque ao ver que o nome para qual o cartão estava endereçado era o seu.

Então, Bella entendeu sobre o que se tratava aquela caixa.

Tudo que estava guardado ali eram correspondências enviadas a ela. Havia pedido para que o pai se livrasse daquilo, mas, por sorte, Charlie era mais sábio do que ela e guardara cada objeto, provavelmente com a esperança de que a filha um dia superasse os sentimentos que nutria pelo remetente daquelas mensagens. 

Contrariando todas as emoções amargas que queriam emergir em seu peito, Bella sorriu. O tempo acabou cicatrizando a ferida que fora aberta tantos anos antes, mas ela seria hipócrita se dissesse que havia superado completamente Edward Masen. Com os dedos ligeiramente trêmulos, ela traçou os contornos da caligrafia do cartão postal e leu a mensagem com um nó na garganta.

 

“Bella,

Foi impossível passar por essas ruínas e não lembrar de você. Este lugar é ainda mais lindo pessoalmente, acredite. 

Enquanto eu caminhava por aqui, conseguia ouvir sua voz em minha mente, recitando cada informação técnica sobre o lugar, ou alguma curiosidade aleatória sobre as pessoas que viveram ali. O passeio foi um pouco mais completo com a sua presença, mesmo que ela tenha sido apenas fruto da minha imaginação. 

Um dia, espero ter a honra de visitá-lo com você ao meu lado. 

Com amor, Edward.” 

 

Oh, se ela tivesse lido esse cartão anos atrás, teria o rasgado em mil pedaços. Talvez o teria queimado, para trazer um pouco de drama à cena. Como ele se atreve a mandar um cartão postal do lugar que eu sonho em conhecer, só para se vangloriar da beleza dele e do fato que eu não estou lá? 

Bella riu ao imaginar qual seria sua reação no passado, agradecendo pelos bons anos de terapia terem lhe trazido muito autoconhecimento e maturidade. 

No entanto, conforme lia os cartões postais e as cartas, um sentimento agridoce tingiu a ponta de sua língua e o centro de seu coração. Ela seria hipócrita se dissesse que não sentia um pouco de inveja de Edward por ter conhecido todos aqueles lugares que um dia combinaram de conhecer juntos. Ao mesmo tempo, sentia-se feliz por ele ter tido aquelas experiências. Ele nunca fora um garoto muito entusiasta em antiguidades como ela, mas Edward sempre mereceu tudo de melhor que a vida tinha a oferecer, simplesmente por ser um garoto — agora um homem, ela esperava — com o coração do tamanho do mundo.

Ao ler as linhas cheias de carinho, com uma pitada de pesar e uma grande dose de esperança, Bella sentiu o peso da saudade voltar a pousar em seus ombros. Edward um dia fora seu namorado, mas antes de tudo, fora seu amigo. Eles cresceram juntos naquele bairro do subúrbio de Boston, compartilhando alegrias e também muitas dores. Seu coração se apertava com a vontade de envolver seus braços ao redor do corpo dele, só mais uma vez.

Quando chegou até a carta mais recente, enviada três anos após o término, percebeu que era a mais curta de todas. Ficou apreensiva, mas a abriu, assim como todas as outras, e começou a ler. 

 

“Bella,

Eu não sei se você leu minhas cartas anteriores, mas pela falta de resposta, acredito que não. Resolvi mandar essa última tentativa de contato para ao menos te dizer o que sinto e o que desejo para nós dois. 

Eu ainda te amo, Bella. E eu acho que esse sentimento nunca vai acabar porque você faz parte de mim. Desde aquele dia em que nos encontramos pela primeira vez na frente da sua casa, quando ainda éramos dois pirralhos, eu soube que você seria especial. Nossa conexão sempre foi muito forte e acredito que ela transcende o nosso namoro fracassado. Por isso insisti em te contatar por tanto tempo. Eu sinto muita falta da minha amiga, Bella, e não só da minha namorada. 

Sei que temos muitas coisas para conversar, muitas desculpas para pedir. E espero que um dia consigamos fazer tudo isso, para encerrarmos este capítulo da nossa vida. Ou, quem sabe, começar novamente. 

Enquanto isso não acontece, espero que você fique bem. Desejo isso do fundo do meu coração. 

Sempre seu, 

Edward.” 

 

Aquelas palavras ecoaram seus desejos tão fielmente que era como se ela mesma tivesse escrito a carta. Bella limpou uma solitária lágrima que caiu do canto de seu olho, suspirando com o peso de todas as emoções que tomaram conta de seu corpo. Será que algum dia eles estariam prontos para se encontrar de novo, apenas para conversar e compartilhar todos os sentimentos que ainda estavam tão sufocados dentro do peito? 

Bella não teve muito tempo para mergulhar na reflexão, pois foi interrompida pelo toque de seu celular. 

— Oi, Alice.

Tudo pronto para amanhã, Bella?

— Você faz essa pergunta como se não me conhecesse.

Estou só checando — Bella conseguia imaginar o corpo minúsculo do outro lado da linha dando de ombros. Com essa imagem em mente, sorriu, feliz pela familiaridade do agora tirá-la do clima pesado que havia mergulhado minutos atrás. 

— E por aí, está tudo pronto? Precisa de alguma ajuda?

Ela ouviu a amiga bufar do outro lado da linha.

Eu só preciso que você fique muito bonita e compareça amanhã na hora. E se prepara porque minha mãe disse que esse ano nós provavelmente vamos ter o dobro de doadores para convencer. 

Bella respirou fundo. Não gostava daquele tipo de evento social, mas era muito envolvida com a causa para negar qualquer ajuda à Alice. Desde que saíram do colégio, ambas se engajaram na Breaking Dawn, uma ONG em que a mãe de Alice era co-fundadora, que fornecia auxílio a mulheres vítimas de relacionamentos abusivos. O baile que aconteceria no dia seguinte era a principal fonte de doações da instituição, que crescia cada vez mais com o trabalho árduo de todas as voluntárias envolvidas. Era um dia de festa, mas também de muito trabalho para todas elas.

— Estarei pronta.

Ótimo.

Bella percebeu que as pausas de Alice estavam longas e desconfiou que a amiga precisava pedir algo a ela, mas estava hesitando por algum motivo. 

— Aconteceu alguma coisa, Alice? Você realmente não precisa da minha ajuda?

Não, não preciso, Bella. Eu só preciso te contar uma coisa.

— Conte.

Alice suspirou.

Edward está de volta a Boston.

Quais eram as chances de Alice trazer Edward à conversa enquanto Bella ainda segurava aquela carta nas mãos? Ela queria rir da ironia do destino.

— Ele veio tirar férias? — Sabia que a pergunta era idiota, porque estavam no final de janeiro. Mas Bella precisava de alguma forma retirar o foco do seu pulso acelerado.

— Não Bella. O Edward vai voltar a morar em Boston.

Merda.

— E ele vai ao baile amanhã.

 

[...]

 

Depois de oito anos morando na Inglaterra, Edward Masen não esperava mais voltar aos Estados Unidos.

Só que a vida, como sempre, tinha outros planos para ele.

— Edward? — ouviu a voz da amiga do outro lado da porta e sorriu. Ela estava adiantada.

— Está aberta, Alice.

— Eu espero muito que você esteja vestido!

Edward queria dar uma bronca em Alice por ser tão indiscreta em um prédio cheio de famílias tradicionais, mas sentira tanta falta da personalidade espontânea da amiga que apenas riu. Depois de alguns segundos, a porta de seu novo apartamento se abriu e Alice entrou de supetão, carregando um terno nos braços curtos. Ele correu para ajudá-la e recebeu um bufar em agradecimento.

— Por que você resolveu morar em um lugar que não tem elevador?

— Eu gosto de fazer um pouco de exercício físico. Não tenho muito tempo livre — deu de ombros.  

— Puf.

Ele retirou alguns segundos para observar a amiga e percebeu que ela era a mesma, mas que ao mesmo tempo estava muito diferente. Alice não havia crescido nem um centímetro desde o colegial, mas era agora muito mais elegante e bem sucedida. A energia meio caótica que sempre a acompanhava estava ali presente, mas Edward sabia que ela era encarregada de algumas responsabilidades que a maioria das pessoas não conseguiriam lidar. Sorriu, feliz por estar próximo novamente daquela pessoa irritante e incrível.

Nunca mais fique tanto tempo longe de mim — ela anunciou depois de alguns segundos, cutucando o peito de Edward com a unha longa. Ele riu, pegando o corpo dela em um abraço de urso, tomando cuidado com o terno ainda em seus braços.

— Você fala isso como se não tivesse adorado me visitar em Oxford.

— Você sabe muito bem que é diferente — Alice se afastou e tentou parecer brava. — Eu senti saudades, seu idiota.

— Eu também, Alice. Eu também.

Tomar a decisão de voltar para Boston não foi uma tarefa muito difícil. De forma inesperada, Edward recebera em seu e-mail uma proposta de emprego que era irrecusável, fruto de uma indicação de um amigo de Universidade, Emmett McCarty, que viera para os Estados Unidos anos antes. O prazo para os trâmites burocráticos e para a mudança era um pouco apertado, mas ele conseguiu fazer tudo a tempo e agora estava se instalando em seu antigo lar para começar o novo cargo naquela segunda-feira.

— Coloque o terno em um lugar que não amasse — Edward revirou os olhos, mas obedeceu, guardando o traje em seu quarto. — Por onde você quer começar a desempacotar?

— Pela cozinha? Eu precisava de um prato ontem à noite e não tinha ideia de onde poderia estar.

— Cozinha então. Vamos.

Edward não tinha muitos pertences, mas cada vez que olhava para o chão de seu novo apartamento encontrava uma nova caixa para ser aberta. Alice, apesar do tamanho, fazia seu trabalho com o dobro de eficiência dele, sendo extremamente ágil e organizada em seu desempacotamento.

Alice oferecera ajuda com a mudança assim que soube que Edward tinha pouco tempo para se instalar. Como troca por sua mão de obra, pediu que o amigo comparecesse ao baile beneficente da ONG de sua mãe, alegando que Edward poderia usar aquele belo rosto para conseguir algumas doações generosas para a instituição.

Ele não se opôs ao favor, até se lembrar que o outro motivo pelo qual ele voltou para Boston também estaria presente no baile.

— Você já falou com a Bella?

— Eu liguei para ela pouco antes de chegar aqui.

— E como ela reagiu?

— Como qualquer outra pessoa, Edward. Normal.

Ele seria um mentiroso se dissesse que aquilo não havia o abalado.

— Edward, a Bella mudou muito nestes oito anos que você esteve fora. — Alice continuava a desempacotar seus copos, sem olhar para ele enquanto fazia seu discurso. — Ela está mais madura, não é aquela mesma adolescente insegura que você deixou para trás.

Edward suspirou.

— Eu sei.

Edward e Bella se conheceram quando eram pequenos. Edward e sua mãe, Elizabeth, mudaram-se para uma nova casa no subúrbio de Boston quando ele tinha seis anos. Para o seu deleite, sua vizinha era uma menina apenas um ano mais nova, que adorava fazer castelos de areia na caixa improvisada no quintal dele. Eles não demoraram para criar uma amizade sólida e, mais tarde, evoluir aquele relacionamento para algo a mais.

O rompimento do namoro fora traumático, para dizer o mínimo. Edward ainda sentia o coração retorcer no peito ao lembrar do rosto de Bella assim que ela descobriu que ele se mudaria para longe. Por anos, ele tentou contato, mas ela jamais respondeu nenhuma de suas correspondências.

— Ela ainda te ama — Alice declarou como se aquela fosse uma verdade universal.

— Eu não tenho essa certeza, Alice.

— A Bella precisou te afastar da vida dela para continuar, Edward. Ela não podia conquistar nada com a sua lembrança como uma assombração atrás dela.

Infelizmente, Edward sabia que isso era real, pois tinha a sua própria cota de lembranças para afastar.

Além da bolsa parcial que ganhara na Universidade de Oxford, um dos motivos pelos quais Edward decidiu se mudar para a Inglaterra foi a morte de sua mãe. Elizabeth fora pega de surpresa ao descobrir um câncer em seus pulmões, mesmo sendo ainda muito jovem para algo do gênero. Escondeu do filho a doença por meses, mas quando já não conseguia mais disfarçar, contou com o apoio de Edward para tudo. Ele viu a mãe perder a vida, pouco a pouco, enquanto segurava a sua mão e fingia ser forte para ela.

Depois que ela se fora, Edward precisava se afastar de todas as memórias, precisava viver sua dor em um lugar que não fosse Boston. Então, assim que a oportunidade surgiu, ele a agarrou. Aceitou a bolsa que ganhara e fora morar com a avó, também chamada Elizabeth, nas proximidades de Oxford. Juntos, encontraram formas de superar o luto e de viver o sofrimento tão pungente na pele de ambos. Fora um período de novas experiências para ele, mas, principalmente, de muito amadurecimento.

Gostaria de ter compartilhado tudo isso com Bella, mas não se podia mudar o passado.

— Vocês dois precisavam disso, Edward.

— Você acha que teria dado certo se eu e Bella tivéssemos continuado juntos?

— Não sei. Poderia ter dado certo, poderia ter dado errado. Nós não controlamos nada nessa vida, só o universo saberia o que teria acontecido — Alice parou por alguns segundos o trabalho e fitou o amigo. — Mas você pode mudar o hoje, se quiser. Vá até aquele baile e a reconquiste.

Por muitos anos, Edward tentou seguir em frente. Começara diversos relacionamentos na Inglaterra, mas nenhum deles vingou e ele sabia exatamente por quê. Nenhuma daquelas mulheres era Isabella Swan. Nenhuma delas era sua melhor amiga, a pessoa que compartilhou tantos momentos bons e ruins em sua vida. Nenhuma delas tinha a delicadeza de olhar para um objeto antigo e descartável e encontrar ali histórias para toda uma vida. Nenhuma delas tinha aquele sorriso doce e aqueles olhos curiosos. Nenhuma delas tinha aquela pureza de alma e determinação de coração.

Estava apreensivo, obviamente. Oito anos sem nenhuma resposta de Bella haviam abalado sua confiança. Só que Edward não deixaria que esta oportunidade escapasse de seus dedos.

— É esse o olhar que eu quero ver amanhã à noite — Alice anunciou, sorrindo como se diversas peças de um quebra-cabeça estivessem começando a se encaixar.

[...]

Alice realmente sabia dar uma festa.

Assim que entrou em um dos salões do Boston Harbor Hotel, Edward se surpreendeu com a elegância do local e agradeceu por sua amiga ter lhe orientado sobre como deveria se vestir e se portar. Sabia que o hotel era de luxo e que precisariam de muitas doações para pagar o aluguel daquele espaço, mas reconhecia o toque de Alice em cada detalhe disposto no salão, desde o arranjo de flores nas mesas até a pista de dança instalada no centro do evento.

Chegara um pouco atrasado de propósito. Edward sabia que Bella era também voluntária da Breaking Dawn e que estaria trabalhando nesta noite, assim como Alice. Não queria arriscar um encontro repentino, atrapalhando o andamento do evento que elas passaram tanto tempo organizando.

Com uma taça de champagne nas mãos, Edward passeou pelo salão, cumprimentando figurões que nunca havia visto na vida e algumas figuras que reconhecia de fotos que Alice mostrara para ele no dia anterior. Fez seu papel com maestria, elogiando o evento e o trabalho da ONG e instigando as pessoas a doarem uma quantia generosa à causa.

Então, ele a avistou.

De longe, as mudanças em Bella eram sutis. Um corte de cabelo mais curto, algumas curvas mais acentuadas, uma elegância na forma de se mexer e conversar com as pessoas. Ela trajava um vestido azul marinho longo, que realçava o tom claro de sua pele e caía perfeitamente em seu corpo. Uma fenda mostrava grande parte de suas pernas quando ela caminhava, tornando seus passos fluidos e naturais. Seu sorriso era simpático e acolhedor, como se aquele fosse um evento rotineiro em sua vida. As pessoas ao seu redor riam de algo que havia dito e ela não se recolheu com toda a atenção que recebia.

Depois de alguns segundos, Bella levantou os olhos e o encarou.

Edward sentiu como se o passado tivesse dado um soco no meio de seu estômago.

Do outro lado do salão, Bella parecia ter tido uma reação semelhante. No entanto, ela não demorou a se recompor, sorrindo para ele de maneira tímida, reconhecendo sua presença com um aceno curto de cabeça.

— Vá até ela, idiota.

Assustado pela interrupção, olhou para o lado e viu Alice encarando a troca silenciosa entre os ex-amantes.

— A pista de dança vai abrir em alguns minutos. Aproveite.

Assim como veio, Alice se foi. Quando levantou os olhos novamente, Edward viu que Bella estava sozinha no mesmo canto do salão, bebericando uma taça de algo que parecia não ser alcoólico. Sendo discreto, atravessou o salão, cumprimentando as pessoas no caminho para disfarçar a vontade de correr até ela.

— Bella?

O nome dela saiu de seus lábios como um sopro de alívio que ele segurara por muito tempo.

— Oi, Edward.

De perto, Edward conseguiu encontrar mais algumas mudanças. O rosto de Bella havia perdido os traços mais infantis da adolescência, tornando-se um pouco mais anguloso e sério. Seus ombros estavam relaxados, apesar de estar em meio à tantas pessoas e diante de um fantasma de seu passado. Seu olhar não mudara muito, pois sempre fora carregado de emoções, mas havia uma certa sabedoria no fundo daqueles olhos escuros que antes não existia.

Edward queria entender como ela conseguira ficar ainda mais linda.

Antes que pudesse desenvolver uma conversa decente com Bella, ouviram a voz de Alice.

— Boa noite a todos. Eu gostaria de agradecer...

O discurso se estendeu por alguns minutos e toda a atenção de Bella se voltou à amiga. Edward, em contrapartida, não conseguia tirar os olhos daquela nova Bella que estava tão ansioso para conhecer. Seu maior desejo naquele momento era pegá-la em seus braços novamente, sentir o toque de sua pele e passar minutos, horas, até mesmo dias conversando com ela e aprendendo cada nova nuance que perdera nos oito anos que esteve distante.

— ... e muito obrigada. Por favor, abram a pista de dança. Precisamos também de um pouco de diversão nesta noite.

O salão acompanhou o final do discurso de Alice com uma rodada de risadas e em poucos segundos as luzes do salão diminuíram e um enorme globo de vidro começou a girar, cintilando cores por todos os lados. De repente, Edward ouviu uma risada discreta, e ao olhar para Bella viu que ela tinha uma das mãos sobre a boca, disfarçando sua diversão para não parecer rude aos outros convidados.

— Nós sempre podemos contar com Alice para animar uma festa. Tenho medo de perguntar onde ela encontrou um globo desses e como ela convenceu os gerentes desse hotel a colocar isso em um salão dessa magnitude.

Edward não conseguiu ser tão discreto e riu.

— Será que existe alguma coisa que Alice não consiga fazer?

— Eu sinceramente jamais apostaria contra ela.

Ela ainda te ama.

A frase que a amiga dissera no dia anterior ecoou em sua mente e ele esperava muito que Bella estivesse certa quando disse que jamais apostaria contra Alice.

Uma música lenta começou a tocar e Edward reconheceu como uma balada antiga, que embalara a adolescência dos amigos em dias de inverno como aquele. Viu o sorriso se abrir nos lábios de Bella quando ela também reconheceu a música e algum instinto, morto havia muito tempo, o fez estender a mão em sua direção, e nesse segundo ele se sentiu mais humano do que nunca.

— Você aceita dançar comigo, Bella?

[...]

A mão de Edward que estava estendida na direção de Bella estava ligeiramente trêmula e ela sentiu um alívio ao perceber que não era a única apreensiva com aquele reencontro.

Apesar de ter sido avisada com antecedência sobre a presença dele no baile beneficente, Bella jamais estaria preparada para o impacto de ver Edward pessoalmente depois de tantos anos. Encará-lo do outro lado do salão fora basicamente uma experiência extracorpórea, e Bella agradecia por ter se tornado especialista em disfarçar emoções neste tipo de evento.

Como se fosse possível, Edward estava ainda mais bonito. Sempre fora alto, mas agora seus ombros pareciam um pouco mais largos, com uma definição diferente nos músculos. O rosto era uma obra de arte, mas estava um pouco mais lapidada, com os traços mais adultos e sérios. O cabelo estava todo arrumado, mas a cor de fogo em suas mechas ainda estava presente, assim como o brilho e maciez que eram visíveis de longe. E aqueles olhos verdes, que sempre foram a perdição de Bella, continuavam tão sedutores e carinhosos como antes.

Bella não sabia o que sentiria assim que visse Edward, mas com certeza não esperava a onda de desejo que se abateu na boca do seu estômago.

— Sabe, isso tudo me lembra o baile de primavera do meu último ano.

Edward havia os conduzido até o canto mais próximo da pista, onde o globo de vidro refletia suas milhares de facetas com maior incidência. As mãos com dedos longos estavam pousadas em ambos os lados da cintura de Bella e seu toque era firme, mas respeitoso. Ela enlaçara delicadamente as mãos ao redor do pescoço dele, fingindo que o gesto não a mantinha em equilíbrio naquele momento.

Sorriu ao ver que o rosto dele estava absorto na lembrança agridoce.

— Nós éramos bem mais desastrados naquela época.

— E um pouco mais bêbados também.

Bella riu e o gesto fez com que Edward voltasse a fitá-la. O olhar dele era tão carregado de sentimentos que ela ficou sem fôlego por um segundo.

— Você não conseguia lidar muito bem com multidões.

— E você sempre as adorou — sorriu, lembrando-se de como eram tão opostos em alguns pontos, mas tão parecidos em outros. Edward sorriu com ela.

— Mas parece que você aprendeu bem. Eu te vi ali de longe, os figurões estavam todos encantados.

Bella revirou os olhos.

— Eu sou obrigada a ser simpática. Para isso visto minha persona social e saio seduzindo todos para conseguir dinheiro. Eu chamo essa minha outra personalidade de Marie.

— Seu nome do meio... achei oportuno.

Bella não devia se surpreender que Edward lembrava-se daquele pequeno detalhe sobre ela, mas mesmo assim seu coração se aqueceu. Por fora, deu de ombros, como se a informação não fosse de todo importante.

— Talvez essa personalidade sempre esteve escondida aqui, por isso tem o meu nome.

— Oh, eu com certeza saberia se conhecesse a Marie. Se ela se manifestou, foi depois...

Edward parou no meio da frase. Depois que fui embora, era provavelmente a frase que sairia de sua boca, mas que foi interrompida antes que os assuntos desagradáveis assumissem o lugar daquela divertida troca que estavam tendo.

Isso trouxe Bella de volta ao real e fez com que ela percebesse que estava investindo demais na fantasia de que tudo estava bem entre eles. Se quisessem voltar àquele patamar de intimidade e diversão, antes precisariam retirar do caminho todas as mágoas que ainda estavam ali, a espreita.

— Edward, será que a gente podia conversar?

Ele percebeu imediatamente a mudança no rosto de Bella, mas não se opôs.

— Claro que sim. Você tem alguma coisa muito urgente para fazer? Podemos dar uma caminhada pelo píer, a noite está linda.

— Eu acho que Alice tem tudo sob controle. Ela me dispensou pouco antes do discurso.

— Então vamos?

O frio da barriga que havia sido escondido pela aura mágica daquela pista de dança reapareceu e Bella assentiu, lembrando-se que no dia anterior havia pedido uma oportunidade para o universo para que pudesse colocar para fora todos os sentimentos que sufocara por anos.

Estava na hora de agarrá-la.

— Vamos.

[...]

— Uma tatuagem, uh? Quem diria.

Bella ainda estava um pouco atordoada com a presença de Edward, então demorou a entender sobre o que ele estava falando. Se deu conta de que suas costas estavam expostas no salão graças ao tamanho do decote do vestido de seda azul que usava e sorriu.

— Você sabe que eu sempre gostei da noite. Achei justo representá-la.

— Eu não imaginei que você fosse fazer uma tatuagem algum dia.

— Uma não. Várias.

Ele arqueou uma sobrancelha com a informação, ainda mais surpreso.

— Eu tenho um castelo aqui — Bella apontou para a miniatura minimalista em seu calcanhar. — E a outra só alguns privilegiados podem ver.

O desejo que preencheu os olhos claros de Edward era uma perigosa arma. O ambiente noturno tornava os traços daquele rosto ainda mais atrativos, quase como se as sombras a desafiassem a descobrir o que estava escondido com a ponta de seus dedos. Por sorte, as mãos de Bella estavam ocupadas com o sapato de salto que ela usara no baile, mas que se sentiu livre para tirar assim que atravessou as portas do salão de festas luxuoso.

— Eu mudei um bocado nesses anos, Edward — afirmou, tentando retirar o foco da conversa da sua tatuagem escondida.

— Eu acharia estranho se você não tivesse mudado.

— Te incomoda?

— Nem um pouco.

O atrito da sola de seus pés com as pedras do píer trazia à Bella o vínculo com a realidade que ela precisava para se manter sóbria. Ela evitou por muitos anos pensar que estaria novamente ao lado de Edward, com a possibilidade de tocá-lo a apenas alguns passos e uma dose de coragem. Era fácil fantasiar sobre um cenário em que eles nunca tiveram uma briga, em que passaram os últimos anos juntos, sem nenhuma mágoa ou desentendimento. Era tão tentador ignorar tudo aquilo e apenas se entregar ao desejo em suas veias.  

Mas ela não podia. Estava ali para conversar com Edward e compartilhar seus pensamentos, mesmo que se sentisse insegura, como se todos aqueles anos criando cenários e diálogos em sua cabeça não fossem úteis para a intensidade do momento real.

— Primeiro de tudo, eu preciso te pedir desculpas, Edward.

Ele abriu a boca para argumentar, mas encontrou no rosto de Bella o pedido silencioso para que ficasse calado, pelo menos por enquanto. Então assentiu, dando a abertura que ela precisava para expressar o que estava guardado por tanto tempo.

— Eu repassei aquela nossa briga na minha mente tantas vezes, que eu sei tudo decor — riu, sem humor. Ao fitar os olhos de Edward, percebeu que compartilhava do mesmo sentimento.  

Bella descobrira sobre a viagem de Edward por acaso. Resolvera fazer uma surpresa para ele naquela tarde, levando alguns cookies que havia assado para o piquenique que fariam mais tarde e acabou encontrando a carta de admissão da Universidade de Oxford sobre a bancada da cozinha dele.

Ela ainda conseguia sentir na ponta da língua o gosto amargo da traição que sentira naquele momento.

 

Bella subiu os degraus da escada correndo e encontrou Edward saindo do banheiro já vestido, com o cabelo molhado do banho recente.

— Oxford, Edward? — Ela segurava o papel com tanta força que ele amassara e estava prestes a se rasgar.

— Bella, eu...

— Você ao menos ia me contar? Ou você ia simplesmente ir embora sem me dar nenhum aviso?

— Óbvio que eu ia te contar, Bella! Eu só queria que nós aproveitássemos esse tempo que ainda temos juntos. Podemos fazer planos para o próximo ano, você pode tentar entrar em Oxford também, eu sei que você tem notas ótimas e eles tem programas excelentes em história e...

— Eu não vou me mudar, Edward.

Bella pôde ver o impacto de suas palavras imediatamente. O rosto de Edward se fechou, quase como se ela tivesse o atingido fisicamente com a afirmação.

— Bella, mas...

— Eu não vou deixar meu pai, Edward. E eu tenho meus próprios planos, você sabe deles.

Edward passou a mão pelo cabelo molhado, espalhando algumas gotas de água na carta que Bella ainda segurava.

— Por quê? — A pergunta saiu engasgada, antecipando o soluço que pedia passagem pela garganta de Bella.

— Essa bolsa é uma oportunidade muito boa, Bella. Eu vou morar com a minha avó, posso mudar um pouco dos ares daqui de Boston. Eu... — A pausa foi longa. Edward também estava sufocado por suas próprias palavras e sentimentos. — Eu não consigo mais ficar lembrando da minha mãe, Bella. Eu preciso ir embora, eu preciso me afastar para diminuir um pouco da dor.

A mãe de Edward falecera meses antes, de um câncer que retirou em medidas homeopáticas a vivacidade de uma mulher que era a personificação da alegria. Ele tentara lidar com a perda da melhor forma que podia, mas Bella sempre o flagrava chorando escondido ou com um olhar vago, como se não tivesse mais forças para continuar caminhando sem a mulher mais importante de sua vida.

— Você quer se afastar de mim?

Bella odiava fazer aquela conversa ser sobre ela, mas estava magoada demais para se dar conta de seu egoísmo naquele momento.

—  Claro que não, Bella! — Edward se aproximou dela, colocando o rosto pequeno entre as suas mãos. — Eu jamais quero me afastar de você. Eu te amo.

Os lábios se chocaram em um beijo dolorido, até mesmo agressivo. Edward queria gravar em Bella suas palavras, queria que ela acreditasse nele quando dizia que a amava.

— Vem comigo, Bella. Você pode terminar o ensino médio e depois se mudar comigo. Nós podemos namorar um tempo a distância, muita gente faz isso e...

— Fica, Edward.

As palavras eram sussurros, mas era como se ele tivesse sentido o eco delas em seus ossos. A dor nelas era palpável.

Ele se sentiu horrível quando respondeu.

— Eu não posso ficar, Bella. Minha mudança já está marcada.

A rejeição reverberou tão fundo no peito de Bella que ela deu dois passos para trás. Edward pôde ver nos olhos vermelhos e cheios de lágrimas algo se quebrando em milhares de pedaços, e estendeu a mão em direção a ela, como se pudesse recolher todos os cacos que agora se espalhavam pelo chão graças a ele.

— Eu nunca mais quero te ver.

Bella saiu correndo pela escada, mas Edward a seguiu e conseguiu agarrá-la antes que ela atravessasse a porta da frente.

— Bella, a gente pode fazer isso dar certo, por favor.

— Eu não quero que isso dê certo, Edward. Por favor, me deixa ir.

Edward negou com a cabeça, o rosto também repleto de lágrimas silenciosas.

— Vamos conversar, Bella.

— Eu não quero conversar! Eu não quero mais te ver! Me solta!

Edward conseguiu escutar a porta da casa ao lado se abrindo e fechando. Em pouco tempo, Charlie estaria ali para saber o que estava acontecendo e ele não teria mais nenhuma chance de convencê-la a ficar e conversar. Estava tão perdido que não sabia mais o que pedir a Bella.

— Por favor, Bella. Dê uma chance para nós dois, por favor.

— Você deu uma chance para mim, Edward?

As palavras eram amargas, cheias de tanta dor que Edward percebeu que não conseguiria nada naquele momento. Soltou o braço de Bella e a deixou ir, levando consigo uma grande parte de seu coração.

Bella voltou ao presente, sentindo na superfície de sua pele o arrepio pelo clima frio de Boston e pelo peso daquela lembrança.

— Eu fui muito egoísta, Edward. Nem considerei pensar no seu lado, eu estava muito magoada. Eu não conseguia ver nada além da dor. Você me deu uma alternativa, mas quando eu te apresentei a minha e você negou, eu...

— Só conseguia lembrar da sua mãe — ele completou, balançando a cabeça como se tivesse entendido aquela informação há muito tempo.

Bella assentiu.

Renée era um espírito livre. Com frequência as pessoas questionavam por que alguém tão enérgico quanto ela estava com alguém tão silencioso quanto Charlie. Quando Bella nasceu, Renée desejou com todas as forças que a filha fosse mais parecida com ela, mas enquanto a pequena crescia e se mostrava cada vez mais interessada por calmaria e livros, ela se tornava mais frustrada. Isso não a impediu de forçar Bella a ser como ela, levando-a às feiras artesanais que costumava frequentar, matriculando a filha em aulas diversas de dança ou esportes, ou mantendo-a sempre em destaque em clubes que participava pela vizinhança.

Bella, sendo apenas uma criança, gravitava ao redor da mãe como uma abelha operária servindo sua abelha rainha. Mesmo que toda aquela agitação a incomodasse e tirasse um pouco de sua energia, ela insistia em fazer a mãe feliz, nunca negando qualquer atividade extravagante que Renée propunha. Bella se manteve tentando por anos, procurando sempre manter o holofote sobre ela para que a mãe não se esquecesse de sua presença ou se cansasse dela, assim como ela fazia com as diversas atividades que participava.

Só que nada disso foi o suficiente para fazer Renée ficar. Depois de alguns anos, ela se entediou da vida de casada e de mãe e foi embora, alegando precisar de um tempo para si para poder se reinventar.

Esse tempo durava muitos anos, pois ela nunca voltou.

— Eu não deveria ter reagido daquela forma, Edward, me perdoe. Mas quando eu pedi para você ficar e você não ficou, eu revivi tudo aquilo. E como eu entendia o que era a rejeição, sofri em dobro.

Bella respirou fundo, sentindo o ar gelado de inverno invadir seus pulmões. Já conseguia falar sobre esses assuntos sem chorar, mas isso não fazia o desabafo ficar mais fácil.

— E você não deve ter percebido, mas eu agia com você como eu agia com a minha mãe. Eu sempre fiz de tudo para manter sua atenção, mas não deixava muito óbvio para não parecer forçado. Sempre tentei ser uma pessoa interessante, sempre topei todos os passeios que você propunha. Eu precisava que você não enjoasse de mim e fosse embora — Bella arqueou o canto dos lábios, triste. — Não funcionou com você também.

Edward escutava cada palavra de forma solene, caminhando a passos lentos, com as mãos nos bolsos da calça e os olhos no rosto concentrado de Bella. O mar estava calmo e representava o estado de espírito dos ex-amantes, com as ondas dotadas de uma energia poderosa e silenciosa, mas com o oscilar completamente controlado e pacífico. 

— Depois que eu fui para a terapia, comecei a entender o que eu sempre fazia e percebi que aquela necessidade de agradar os outros só prejudicava a mim mesma. Então aos poucos comecei a me relacionar de forma diferente com as pessoas, me colocando em primeiro lugar em muitas situações. A vida ficou mais fácil depois disso.

Bella sorriu. Gostava muito de sua versão madura, uma mulher que sabia quais eram suas prioridades e seus maiores anseios na vida. Uma mulher que não cedia mais a qualquer migalha de atenção e que, valorizando a si mesma, recebia o dobro em troca.

— Eu não sei se tenho direito de falar isso, mas estou orgulhoso da mulher que você se tornou.

— Eu também estou — Bella sorriu ainda mais, feliz por ter recebido o elogio por aquilo que ele realmente era, e não por querer a validação de Edward por toda a sua trajetória. — E por isso eu peço perdão hoje pela menina imatura que eu fui. Tenho explicações por ter agido daquela forma, mas isso não justifica a mágoa que causei a você.

— Aceito as suas desculpas se você aceitar as minhas, Bella.

Os olhos castanhos fitaram aquele belo rosto e em um pequeno gesto com a cabeça, ela o autorizou a começar a relatar a sua versão de toda a história. Estava curiosa para ouvi-lo, ao contrário daquela tarde tantos anos atrás.

— Eu jamais deveria ter escondido algo tão importante de você. Foi errado manter uma decisão como aquela de uma das pessoas que eu mais amo no mundo — Bella percebeu o uso do verbo no presente, mas não o interrompeu. — Mas eu não podia te perder, Bella. Naquele momento, você era todo o meu chão. Eu dependia de você para continuar.

Edward passou as mãos sobre o cabelo penteado, trazendo caos aos fios cor de cobre. Ele sempre tivera dificuldade de colocar seus sentimentos em palavras, e Bella percebeu que aquilo não havia mudado com o tempo.

— Mas tinha uma coisa dentro de mim que me dizia que eu deveria ir embora de Boston. Eu nunca entendi muito bem o que era, mas acho que minha alma sabia que eu precisava dessa mudança para crescer e amadurecer. Eu precisava estar longe para aprender quem eu era e o que eu queria ser daquele momento em diante.

Os olhos de Edward estavam no chão, mas ele levantou a cabeça de repente, querendo mostrar a Bella a sinceridade de suas próximas palavras.

— Eu não me arrependo de ter partido, Bella. Morar na Inglaterra e me aproximar da minha avó foram uma das melhores coisas que fiz na vida. Eu tive muitas experiências, conheci muitos lugares e pessoas diferentes. Mas os maiores ensinamentos que tive foram em momentos simples com ela, ou quando eu estava sozinho. Eu precisei ir embora para perceber isso, entende?

Bella assentiu, sorrindo com as diferenças e semelhanças entre as jornadas dos dois.

— Eu também estou orgulhosa do homem que você se tornou, Edward Masen.

O sorriso de Edward foi ligeiramente envergonhado, mostrando uma timidez que ele raramente expressava.

— E eu também te perdoo, Edward. Não me arrependo daqueles erros, porque foram eles que trouxeram a gente até aqui — sorriu, pronta para encerrar o necessário desabafo. — Não dizem por aí que nós não sabemos nada da vida quando somos jovens?

— Eu sempre soube de uma coisa.

— O quê?

— Que eu nunca deixaria de te amar.

A confissão tão sincera fez com que Bella parasse de caminhar por um segundo. Seu coração, antes calmo, batia contra seu peito com tanta força que ela tinha medo que Edward percebesse. O corpo dele, instintivamente, havia se aproximado mais dela na calçada de pedras e seus olhos procuravam uma resposta, talvez reciprocidade.  

Bella não havia se preparado para esse tipo de conflito. Por muito tempo lidou com os sentimentos amargos que envolviam o término, mas nunca fora além disso. A ausência física de Edward facilitava a ignorância diante dos sentimentos mais doces do relacionamento. Ela conseguia esquecer com frequência que um dia o amara com todas as forças, que havia desfrutado de muitos prazeres ao seu lado.

Ela precisava de tempo. Precisava digerir que Edward estava de volta para ficar e que ele poderia participar de sua vida novamente. Tinha que se permitir sentir todas aquelas emoções tão acolhedoras que apareciam sempre que fitava aqueles olhos claros e aquele sorriso avassalador.  

Bella ainda não estava pronta para mergulhar novamente em algo tão intenso quanto amar Edward Masen.

— Eu acho que nós temos muita coisa para conversar, mas eu tenho que ir. Já está tarde.

O entendimento passou imediatamente pelo rosto de Edward. Ele percebera que fora com muita sede ao pote, que havia tocado em assuntos que ela ainda não estava pronta para aprofundar, mas não pareceu nem um pouco assustado com o possível desafio.

— Eu posso te levar para casa...

— Não, eu posso pegar um Uber, fica tranquilo. Não precisa se incomodar.

Em tempo recorde, Bella abriu seu aplicativo e pediu um carro. Para sua sorte, a motorista estava a poucos minutos de distância e ela não precisaria esconder o constrangimento por muito tempo.

— Foi um prazer te encontrar de novo, Bella — Edward anunciou assim que o carro se aproximou.

— O prazer foi todo meu, Edward. Nós precisávamos disso.

Bella sorriu, mas seu arquear de lábios era agora mais cauteloso. Mesmo diante da postura defensiva, Edward aproximou-se dela e estendeu os braços, oferecendo naquele gesto simples um abraço. Ela não conseguiu resistir e colocou o corpo contra o dele, envolvendo a cintura de Edward com seus braços, assim como sonhara tantas vezes. Fechou os olhos e, ao inalar o perfume da pele dele, percebeu que sentira muita falta do aroma que ela sempre identificou como lar.

Separaram-se assim que ouviram o carro estacionar. Bella verificou se a motorista era realmente aquela que havia solicitado e assim que ia entrar no veículo, sentiu uma das mãos de Edward agarrando delicadamente seu pulso, a obrigando a olhar para ele.

— Posso te pedir só uma coisa?

Bella queria negar, mas era impossível dizer não àqueles olhos, então assentiu.

— Posso te ver amanhã?

Uma das coisas que Bella mais gostava em seu relacionamento com Edward era a maneira como ele sempre desafiou seus limites. Ela tinha a tendência de ser cautelosa demais em muitas situações e isso a impedia de se entregar plenamente às experiências da vida. Edward sempre fora consciente disso e a incentivava a ir além.

E Bella sabia que aquele era um daqueles momentos. Os olhos verdes de Edward estavam preenchidos pelo desejo e determinação de fazer aquele reencontro valer a pena. Ele não cederia tão fácil e dessa vez ela não sabia se queria resistir tanto.

— Você sabe onde me encontrar.

Edward sorriu, iluminando a noite mais do que todas as luzes da cidade refletidas nas águas do mar.

E Bella entrou no carro, torcendo para ter feito a decisão certa.

[...]

Edward pesquisou o horário de funcionamento da Black Swan no Instagram da livraria, imaginando quantos dias Bella levou para convencer o pai que investir em redes sociais seria uma boa forma de conseguir mais clientes. Encaminhou-se para o lugar no final da tarde, quase na hora que em que fechariam, pensando em levá-la para jantar depois do expediente mais agitado do final de semana.

Ele foi surpreendido pelas mudanças da livraria assim que entrou. O espaço estava mais moderno do que ele se lembrava, mas não havia perdido o ar acolhedor que era sua marca registrada. Um mezanino havia sido construído e ali fora instalada uma cafeteria que provavelmente era ainda mais confortável do que parecia. Alguns corredores foram estendidos e poltronas foram instaladas em lugares estratégicos para que os clientes passassem ali um tempo de qualidade.

Sorriu, pensando em todo o zelo e esforço que a família Swan depositou naquele lugar para que seu legado continuasse prosperando por mais gerações.

— Será mesmo que eu estou vendo Edward Masen?

Edward procurou a voz do homem que fora por muito tempo a figura paterna de sua vida. Charlie Swan estava próximo ao caixa e parecia o mesmo, com seu bigode muito bem aparado e o óculos de aro simples sobre o nariz, mas não demorou muito para que Edward identificasse alguns sinais da idade ao redor dos olhos escuros.

— Oi, Charlie. — Edward aproximou-se de Charlie e o abraçou, sentindo a garganta se fechar. Aparentemente, sentia mais saudade dele do que queria admitir.

— Está de volta à cidade, uh?

Era óbvio que Charlie sabia de toda a história, com detalhes provavelmente contados por Alice, mas queria ouvir a confirmação da fonte. Edward reprimiu o riso, lembrando-se da veia fofoqueira de seu ex-sogro. Sua mãe e Charlie frequentemente conversavam por cima da cerca viva que separava suas casas, ou até mesmo tomando um café juntos no final da tarde, compartilhando histórias da vizinhança e dos próprios filhos.

— Vim para ficar. Recebi uma proposta muito boa de emprego, não podia recusar. Desculpa não te avisar antes, Charlie.

— Fique tranquilo. Eu tenho meus informantes — Charlie sorriu e a teoria de que ele e Alice trocavam informações ficava ainda mais sólida. — Eu só acho que você surpreendeu outras pessoas, não é?

Charlie não precisava citar nomes para Edward saber de quem estavam falando.

— Um pouco.

— Ela ficou agitada o dia todo. Vocês já conversaram?

— Sim, ontem à noite depois do baile. Ainda temos muito para falar, mas já trocamos alguns pedidos de desculpas.

— Bom.

Charlie preferiu não interferir na briga entre Edward e Bella, mas isso não o impediu de explicar ao ex-sogro o que havia acontecido. Em uma carta gigantesca, pedira perdão pela confusão formada, por toda a dor que havia causado à Bella e explicara em detalhes por que resolvera ir embora de Boston. Edward recebeu uma resposta de Charlie que ainda trazia lágrimas em seus olhos, com palavras que acalentaram seu coração e conselhos que ainda levava para a vida.

— Eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente por seu perdão e compreensão, Charlie.

­— Esqueça disso, garoto — Charlie deu um tapinha no ombro de Edward, segurando-o em seguida em um gesto de carinho. — Todos nós cometemos erros quando mais novos, eu tenho minha cota também. Eu só espero que você não repita o erro, principalmente com a minha filha.

— Eu não vou. Bella é especial demais para eu estragar tudo de novo.

— Bom — Charlie repetiu, firmando um pouco o aperto no ombro de Edward. — Ela está lá atrás, arrumando a sessão dos livros antigos.

— Obrigada, Charlie.

— Não suma mais, garoto.

— Se sua filha permitir, não vou mais sumir.

Charlie sorriu, como se soubesse que veria Edward presente em sua vida por muito tempo, e se encaminhou para o caixa, provavelmente para encerrar o dia.

Edward demorou um pouco para encontrar o corredor certo, mas assim que achou, avistou Bella. Ela estava vestida com um casaco bege pesado, o cabelo preso em um coque desarrumado e os olhos fixos em uma edição surrada de uma coletânea da Jane Austen. Foi impossível não abrir um sorriso ao vê-la, principalmente porque achava que aquele visual despojado era proposital para afastá-lo. Edward não era um especialista no mundo das mulheres, mas acreditava que aquela era a forma dela de dizer que não estava interessada em nada mais além de uma conversa entre velhos amigos.

Era uma pena que todo o esforço para parecer casual fosse em vão, porque Edward achava Bella maravilhosa de qualquer maneira.

— Eu acho que não deveria ficar surpreso de ver você lendo esse livro de novo.

Bella levantou os olhos, meio assustada, mas sorriu ao ver que quem a abordava era Edward.

— Eu nunca vou me cansar de Jane Austen, principalmente se for em uma edição cheia de marcações como essa.

— Bom saber que algumas coisas nunca mudam.

Bella fechou o livro e deu de ombros, sorrindo. Era quase um traço de personalidade seu se apegar em coisas antigas e nas histórias que elas contavam. Edward adorava observá-la quando ela ficava absorta em algum livro muito antigo ou quando ela pesquisava infinitas horas sobre seus tão amados castelos. O olhar de interesse e a expressão de felicidade em seu rosto eram sempre contagiantes.

— Achei que tivesse me dado um bolo — ela declarou depois de colocar o livro em sua bolsa, tentando parecer casual.

— Pensei em te levar para jantar, mas não tinha como te avisar disso, me desculpa.

— E se a gente ficasse por aqui? — Novamente, Bella hesitava. Ele sabia que na cabeça dela um jantar poderia facilmente ser classificado como um encontro, então evitava qualquer situação que beirasse o mínimo de romance.

— Eu estou com fome.

— Você vai ser alimentado. Vem comigo.

Edward seguiu Bella por entre os corredores e subiu as escadas até a cafeteria. O lugar já estava completamente vazio — aparentemente Charlie encerrara o expediente naqueles poucos minutos em que procurara Bella — e parecia tão confortável quanto imaginara assim que entrou na livraria.

— Me espere aqui — Bella apontou para uma mesa que ficava próxima as janelas dos fundos. — Eu tenho uma surpresa para você.

Ele a obedeceu e, assim que se sentou, entendeu por que Bella havia escolhido aquela mesa para se acomodarem. A proximidade da mesa com a janela dava ao lugar um ar de intimidade pela penumbra que começava a avançar com o cair da tarde. Dali, podiam ver a rua e seu movimento, mas só o suficiente para não se sentirem totalmente sozinhos. Era um lugar perfeito para ter uma conversa mais privada com um amigo, sem insinuar qualquer coisa a mais.

— Bom apetite, Masen.

Como Edward estava distraído, não percebeu que Bella já havia colocado um prato à sua frente.

— Não acredito!

— Assumo que você ainda gosta muito de bolo de limão.

— Eu gosto do seu bolo de limão, Bella. Em Oxford eu experimentei uma infinidade de bolos, mas nenhum chegou nem aos pés do seu.

Ela ficou ligeiramente envergonhada pelo elogio e, para disfarçar, acenou em direção ao pedaço de bolo, quase como se desse autorização para que Edward avançasse. Ele a obedeceu novamente, levando uma garfada gigantesca à boca e soltando um gemido de prazer. Bella riu, sentindo o som reverberar em seu coração e em seu baixo ventre. Edward sempre fazia sons maravilhosos enquanto comia.

— Eu ainda vou descobrir o que você coloca nesse bolo que faz dele tão especial — Edward resmungou, ainda de boca cheia.

Amor, pensou Bella. Eu coloco amor nesse bolo.  

— Receita de família — deu de ombros, ainda sorrindo.

— Então... você vai ficar me vendo comer? Por que não me conta o que aconteceu com você nesses últimos oito anos?

— Você quer a versão estendida ou a resumida?

— A que você estiver confortável em me contar.

Bella assentiu, agradecida pela possibilidade de escolha.

— Primeiro de tudo... o quanto Alice te contou?

Edward sorriu.

— Tudo.

— Aquela fofoqueira.

— Eu pedi que ela me atualizasse, Bella. Você não respondia minhas cartas, então eu tinha que saber de alguma forma se você estava bem. Alice foi uma ótima informante.

— Ela é uma traidora, trabalha de todos os lados. Eu sabia que ela trazia umas informações suas pro meu pai também, ela nunca soube disfarçar — Bella bufou, quase como se estivesse com ciúmes de todas as informações que não recebera durante os anos.

— Eu também percebi isso quando entrei aqui — Edward riu, comendo outro pedaço de bolo.

— Enfim... Eu consegui ir para Cambridge — Bella sorriu, iluminando todo o ambiente. Edward sempre soube que Cambridge era um sonho para ela, mas não sabia ela teria condições financeiras para frequentar a tão prestigiada Universidade. — Meu pai tinha feito uma poupança para mim desde que eu era pequena. E eu trabalhei muito no último ano do colégio e acabei também conseguindo um dinheiro extra.

— Fico tão feliz que tenha realizado esse sonho, Bella.

Edward viu nos olhos castanhos que ela tinha orgulho dessa conquista até hoje, espelhando o seu próprio olhar orgulhoso. Imaginou como foram os primeiros dias dela na Universidade, passeando como uma turista pelos prédios históricos e se aprofundando naquilo que sempre amou estudar. Bella provavelmente vivera cada segundo daquela experiência como se fosse a última de sua vida.

— Eu também. Agora eu dou aulas de história e sociologia para os anos iniciais, mas eu quero mesmo dar aulas em universidades. Por isso eu quero voltar para lá para fazer meu mestrado. Na verdade, eu vou voltar. Eu só preciso terminar meu projeto e enviar.

— Sobre o que é seu projeto?

Bella fez uma careta.

— Eu... não sei exatamente.

Edward riu.

— Qual o prazo para a entrega do projeto, Bella?

A careta aumentou.

— Sexta-feira que vem.

Edward quase engasgou com o pedaço de bolo que colocara na boca.

— Me diz que você pelo menos tem uma noção do que quer.

— Sim, eu tenho — Bella afirmou, quase ofendida por Edward achar que ela estava assim tão obtusa em relação a algo tão importante. — Minha orientadora, Rosalie Hale, trabalha com diversas vertentes do feminismo e explora principalmente algumas figuras históricas da cidade que foram importantes para o movimento. Eu só não consegui encontrar ainda uma que me instigasse o suficiente.

Naquele momento, Edward abriu um sorriso travesso. Ele podia ajudá-la.

— Você não leu nenhum dos diários que eu mandei para você, não é?

Bella arqueou uma sobrancelha, confusa pela mudança brusca de assunto.

— Não, eu só encontrei as coisas que você me mandou anteontem. Aqueles pacotes bem embrulhados são diários?

— Sim. Da minha avó — sorriu, lembrando-se de Elizabeth e sentindo um aperto de saudade no peito. — Eu enviei para você porque achei que fosse gostar das histórias. Minha avó fez parte de muitos movimentos enquanto estava aqui em Boston.

Então, os olhos de Bella brilharam com entendimento.

— Movimentos... feministas?

— Uhum.

— Eu não acredito.

— Pois é.

Edward sorriu ao ver que a mente de Bella já trabalhava a mil por hora. Ele torcia para que aqueles diários realmente a ajudassem em algo e que o seu projeto ficasse incrível, assim como todas as coisas que ela se propunha a fazer.

— Você pode me contar mais? — Bella perguntou depois de alguns segundos, os olhos escuros tão empolgados que Edward sentiu um nó na garganta ao se deparar novamente com aquela emoção tão contagiante.

— Não. Você vai ter que lê-los para saber o que aconteceu.

Bella estreitou os olhos.

— Eu sei que seu prazo é curto, mas tenho certeza que você dá conta, Bella — Edward estendeu o braço e afagou com a ponta dos dedos a mão dela que estava sobre a mesa, avançando lentamente com o dedão para o pulso dela. — Hoje eu quero conversar sobre nós.

O brilho de empolgação e curiosidade foi logo substituído pela cautela nos olhos de Bella. Edward afastou a mão, decidindo não pressioná-la demais.

— Posso contar o que fiz na Inglaterra?

— Vai se vangloriar sobre ter visitado vários castelos sem mim?

Edward riu.

— Não. O que você sabe sobre mim?

— Basicamente nada. Pedi para Alice não me contar.

— Então vou te dar a versão estendida, princesinha.

Bella gemeu ao ouvir o antigo apelido.

— Pelo amor de Deus, Eddy.

Edward riu.

— Nós deveríamos ter deletado esses apelidos da memória há muito tempo.

— Foi você quem começou!

— Eu não resisto. Assim que você fala a palavra “castelo” eu imagino você vestida em um vestido bufante, com uma coroa na cabeça e um bico.

— Um bico?

— Sim, você tem cara de que seria uma princesa bem rabugenta.

— Como você é idiota! Eu não seria assim!

Bella cruzou os braços e seu rosto automaticamente assumiu uma expressão irritada. O bico que ela fez com os lábios foi o suficiente para fazer Edward soltar uma gargalhada estrondosa.

— Oh, por favor! Você veio para conversar comigo ou para tirar sarro da minha cara?

Edward riu ainda mais.

Porra, como a amava.

— Posso começar a contar? — Edward perguntou assim que conseguiu se controlar.

— Vá em frente — Bella ainda tinha um pouco de irritação no rosto, mas não sabia disfarçar que também tinha se divertido com a provocação.

— Eu não sou um médico.

— O quê? Não?! — Bella estava completamente surpresa, exatamente como Edward imaginou. Aquela reação acabou sendo comum, já que um dos maiores sonhos declarados por ele para todos era o de se tornar um médico um dia.

— Não — sorriu, pensando em sua trajetória. — Eu entrei no curso básico de ciências, mas um dia eu resolvi assistir uma aula que falava sobre terapia respiratória. Era uma aula bem avançada, mas eu estava muito curioso por causa da minha mãe, então entrei.

Bella escutava atentamente, lembrando-se dos dias em que a mãe de Edward precisou fazer este tipo de terapia para respirar melhor. Os últimos dias dela foram os piores, mas os exercícios passados pelo fisioterapeuta melhoraram um pouco do sofrimento e permitiram que ela descansasse em casa, sem precisar de aparelhos hospitalares sufocantes.

— Eu me apaixonei pela fisioterapia ali. Na verdade, eu acho que essa mudança já tinha acontecido antes, mas eu só fui perceber naquele momento. Então, larguei a medicina e mudei de curso. E aqui estou, formado em fisioterapia com especialidade em tratamentos respiratórios.

Edward conseguiu enxergar nos olhos de Bella o orgulho que sabia que veria nos olhos de sua mãe se ela estivesse viva. Por mais que negasse, ver a aprovação no rosto dela trouxe para ele a certeza de que estava realmente no caminho certo e que havia se tornado um homem do qual poderia se orgulhar.

Um homem digno do amor dela.

— Estou muito feliz por você, Edward — Bella deixou de lado sua hesitação e apertou a mão de Edward enquanto sorria para ele, demonstrando silenciosamente todo seu orgulho, felicidade e admiração. — Eu sempre soube que você seria gigante em qualquer coisa que escolhesse fazer. Você sempre foi esse tipo de cara.

— E você sempre viu o melhor em mim — Edward sorriu, lembrando-se agradecido de todos os dias que recorreu às memórias de Bella para poder seguir em frente. — Eu não sei quem eu seria hoje se não me lembrasse sempre dos seus incentivos.

— Com certeza teria se perdido no personagem.

Deu de ombros.

— Não tenho culpa se sou um pedaço de mal caminho.

Desta vez, quem soltou uma gargalhada foi Bella. Seu rosto se tornou a personificação da felicidade e o peito de Edward se preencheu com o som e com a imagem à sua frente, trazendo aos seus olhos todo o amor que ele podia recolher dentro de si e oferecer a ela.

Bella percebeu a mudança em poucos segundos. O ar se preencheu com uma eletricidade invisível, que era sentida em cada centímetro de pele de ambos. Ela não recuou, no entanto. Estendeu uma das mãos em direção à Edward e pegou a dele, sentindo na ponta dos dedos a prova de que todo aquele encontro não era apenas uma fantasia de sua cabeça.

— Você quer dar uma olhada na livraria? Eu posso te mostrar algumas das mudanças que fizemos.

— Claro.

Edward percebeu que Bella precisava daquele momento de distração para colocar seus sentimentos no lugar, então não se opôs ao tour que ela fez com tanta empolgação. Conforme caminhavam por toda a cafeteria, pelos pequenos lounges de leitura e pelas novas sessões de livros, ele a sentia se soltar cada vez mais. Bella era o tipo de pessoa que ficava confortável ao falar das coisas que amava, e aquele lugar era claramente um de seus lugares preferidos no mundo.

Chegaram então até a prateleira de livros antigos, aquela em que Edward encontrou Bella assim que chegou na livraria. Apesar das luzes estarem todas acessas, aquela sessão trazia um pouco de mistério, quase como se tivessem entrado em outra dimensão assim que se aproximaram do local. Bella ainda falava animadamente sobre todos os detalhes da livraria, mas assim que uma sombra cobriu o corpo dela, deixando apenas parte de seu rosto iluminado, Edward já não escutava nenhuma palavra.

Não demorou muito tempo para que Bella parasse de falar. Seu olhar estava fixo no rosto de Edward, alternando entre os olhos verdes e a boca convidativa. O coração dele batia forte contra o peito, a respiração rápida a centímetros do rosto de Bella.

— Eu senti tanto a sua falta, Bella.

Edward estendeu uma das mãos e agarrou a cabeça dela, segurando-a com firmeza. O gesto era forte, mas demonstrava ao mesmo tempo carinho e atenção, já que as pontas dos dedos dele faziam círculos lentos no couro cabeludo de Bella. Ele viu o rosto dela se desmontar, pouco a pouco, se entregando à sensação que era confortante e excitante ao mesmo tempo. Os olhos se fecharam lentamente e as mãos agarraram-se aos braços dele para obter equilíbrio.

Ele aproximou o corpo de Bella, em um ritmo que permitia que ela se desvencilhasse dele se quisesse. As costas dela se chocaram contra a prateleira atrás deles e os olhos dela voltaram a se abrir. Desejo pulsava em seu olhar, puro e tão brutal que Edward se assustou com a reação tão intensa. Só que, lá no fundo, ele conseguiu enxergar uma pequena porção de medo.

— Eu não quero fazer nada que você não queira, Bella. Mas, porra, eu sinto a sua falta.

Ela não disse nenhuma palavra, mas também não se desvencilhou do toque. Em um movimento lento, caminhou com as mãos até o pescoço de Edward, pousando seu toque em um ponto que ela sabia que provocava arrepios em todo o corpo dele. Com os olhos fixos nos dele, lambeu os lábios em antecipação, prendendo-os entre os dentes.

— Posso te beijar?

Um aceno mínimo de cabeça foi tudo que Edward precisou para avançar.

Ele apreciou o sabor daqueles lábios como se fosse o néctar mais precioso do planeta. Edward achava que havia se esquecido da textura do beijo de Bella, mas percebeu que a lembrança tinha se mantido guardada, alimentando seus dias com uma porção mínima de doçura e excitação. Beijá-la novamente havia desencadeado um frenesi em seu corpo, criando um vício que precisaria ser alimentado diariamente para que ele continuasse vivendo de maneira descente.

Um gemido baixo escapou de Bella e Edward levou o som como incentivo para prosseguir. Encaixou seu corpo ainda mais contra o dela, cobrindo a figura pequena com seu torso largo e suas pernas longas. Enquanto uma mão ainda segurava a cabeça dela, a outra começou a explorar o corpo de Bella, delineando as delicadas curvas que agora eram um pouco mais adultas e voluptuosas que anos atrás.

Por sorte — ou por planejamento da parte dela, ele não se importava —, Bella trajava um vestido por baixo do pesado casaco. Conforme o beijo avançava e ele a sentia ceder cada vez mais ao seu toque, Edward tornou-se ousado o suficiente para colocar uma das mãos por debaixo do tecido macio. Um arrepio percorreu o corpo de Bella assim que a ponta de seus dedos entrou em contato com a pele dela, mas ela ainda não fez nenhum movimento para impedi-lo.

Em busca de ar, Edward afastou-se de Bella por alguns segundos e procurou o rosto dela, querendo ter novamente uma injeção de ânimo ao fitar os olhos repletos de desejo. Suas mãos não pararam, no entanto, e o seu toque, que antes estava pousado em uma das coxas de Bella, subiu alguns centímetros. A resposta dela vinha pela respiração entrecortada e pelos lábios entreabertos, sedentos por mais. Com a autorização, Edward avançou ainda mais e chegou até o tecido da calcinha, segurando a alça entre as mãos com a intenção de afastá-la.

— Eu quero te fazer gozar, Bella — sussurrou no ouvido dela, com a mão pausada por enquanto. — Posso?

Edward conseguia sentir o pulsar errático do coração de Bella em seus lábios. Sem falar qualquer coisa, ela assentiu lentamente, apertando os dedos ao redor dos fios cor de cobre de Edward, autorizando-o a prosseguir.

Ao apenas senti-la daquela maneira, tão vulnerável e excitada em seus braços, Edward se sentia completamente satisfeito. Esperara por aquele momento por tanto tempo que qualquer fração de carinho que recebesse de Bella bastava. Queria, agora, fazê-la sentir a mesma euforia que percorria suas veias ao simplesmente beijá-la.

Os dedos que ainda permaneciam debaixo do vestido de Bella se mexeram, avançando para retirar o tecido da calcinha de seu caminho. Com o pouco de forças que tinha, Bella o ajudou, usando uma das mãos livres para colocar a peça de roupa para fora de seu corpo.

Edward voltou a sua posição original, segurando Bella com delicadeza pela cabeça, e com a outra mão subiu novamente pela pele macia das coxas dela, afastando-as com seu toque. Aproximou-se ainda mais e fechou os lábios ao redor do pescoço de Bella, em um ponto que ele sabia que a deixaria com as pernas completamente bambas. Ela respondeu com um gemido e, sem tempo para absorver o beijo molhado em sua pele, sentiu os dedos de Edward encontrarem seu destino.

A partir dali, Edward fora conduzido pelos sons que saíam da boca de Bella. Intensificava seus movimentos se ouvisse um gemido mais forte, reconduzia os dedos caso percebesse que ela estava se perdendo um pouco. Os lábios dele permaneceram explorando o colo de Bella, subindo e descendo, mordiscando e lambendo. Em contrapartida, ela se agarrava às mechas de cabelo dele como se precisasse delas para viver. Edward não reclamou e, inclusive, gostava da sensação que os arrepios de dor causavam em seu corpo.

Quando percebeu que Bella estava próxima de seu clímax, Edward se afastou do pescoço dela e agarrou seu rosto, acariciando a pele com a ponta dos dedos.

— Bella, olhe para mim.

Com dificuldade, Bella abriu os olhos enevoados.

— Isso. Preciso ver seus olhos quando você gozar para mim.

Bella mordeu seu lábio inferior em antecipação, suprimindo mais um gemido. Os movimentos de Edward se tornaram então frenéticos, acompanhando as reações do rosto dela com maestria. Nas pupilas dilatadas de desejo, ele conseguia ver se atingira um ponto estratégico e permanecia ali, à procura do máximo prazer para ela. Agora, mais desperta e próxima de explodir, Bella sustentava o olhar de Edward, mergulhando na imensidão verde que estava preenchida por luxúria e satisfação.

Eu também senti sua falta, pensou ela. E também nunca deixei de te amar.

Ela não precisava dizer as palavras em voz alta para que Edward entendesse o recado. Ele abriu um sorriso triunfante e a fez sucumbir em seus braços com um movimento certeiro. O rosto de Bella foi tomado por uma das emoções mais instintivas de seu corpo e ela teve que permanecer forte para não fechar novamente os olhos e se entregar completamente ao abandono que seu corpo pedia.

Edward não resistiu ao vê-la tão perfeita em seus braços e beijou-a, compartilhando com Bella todos os sentimentos que fluíam intensamente por suas veias. O corpo dela estava trêmulo em seus braços e, assim que percebeu que o prazer estava se extinguindo aos poucos, enlaçou a cintura dela para sustentar o peso de seu corpo sem forças. O beijo foi ficando mais lento conforme se recuperavam e Edward se afastou assim que sentiu o sorriso de Bella em seus lábios.

— Eu acho que tivemos uma bela conversa aqui.

A risada de Bella fora tão jovial que Edward prometeu a si mesmo que passaria o resto da vida fazendo-a rir daquela maneira.

 

[...]

— Entregou seu projeto de mestrado?

Bella não conseguia mais ouvir aquela pergunta, mas finalmente tinha uma resposta para ela.

— Sim, Alice. Enviei essa manhã.

— Ótimo. — O tom de Alice era ligeiramente autoritário, mas o brilho em seus olhos claros mostrava o quão orgulhosa estava pelo esforço de Bella. — Eu trouxe comida, porque eu sei que você deve ter passado a semana toda sem se alimentar direito.

Sem nenhuma cerimônia, Alice entrou no apartamento de Bella e começou a caminhar para a cozinha a fim de pegar alguns pratos para comerem. A pequena era irritante e intrometida em muitos momentos, mas era também uma amiga verdadeira. Bella agradecia por tê-la em sua vida por tantos anos e pretendia mantê-la por perto pelo tempo que lhe fosse permitido.

—  Edward me ligou — anunciou assim que voltou para a sala, sentando-se no chão ao lado de Bella.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Não se faça de sonsa. Ele me contou da conversa que vocês tiveram sábado passado na livraria.

Bella quase engasgou com a garfada de massa que acabara de colocar na boca.

— Ele é um fofoqueiro — anunciou depois de tomar um gole da água que Alice também trouxera consigo da cozinha. — E ainda fala que você que sai espalhando as coisas por aí.

— Não mude de assunto, Bella.

Bella não havia se encontrado novamente com Edward depois daquele final de tarde na livraria. Depois da conversa, passaram mais alguns minutos trocando amenidades enquanto Bella fechava o lugar e em seguida foram para um restaurante chinês que ficava a poucos quarteirões de distância. Conversaram sobre coisas triviais, como os dias na universidade e os relacionamentos frívolos que tiveram, mas não se aprofundaram em nenhum momento sobre o que aconteceria com os dois daquele dia em diante.

Assim que voltou para casa, Bella pegara os diários que haviam sido colocados em um canto de seu quarto e passou a noite toda lendo, encantada com a riqueza de detalhes das histórias ali contadas. O material que a avó de Edward havia dado a ela para sua tese ia além do que ela poderia esperar e Bella nem ao menos esperou para começar a escrever seu projeto.

Passara o resto da semana entre seu emprego e horas em frente ao computador, acrescentando referências bibliográficas válidas à pesquisa que pretendia desenvolver nos próximos dois anos e usou esse trabalho como desculpa para não entrar mais em contato com Edward.

— Eu estava ocupada.

— E depois disso, qual vai ser a sua desculpa?

— Alice.

— Do que você tem medo, Bella? Eu sei que você ainda ama o Edward.

Bella passou toda a semana negando, mas sabia que aquela afirmação era mais do que verdadeira porque sentia a falta de Edward em seus ossos e diversas vezes pensou em largar seu trabalho para encontrá-lo.

— Vocês mudaram. Claro, vocês precisam conversar muito ainda, e de verdade, mas eu não vejo motivo para ir contra esse sentimento.

— Eu... — Bella suspirou, fechando os olhos escuros por um momento. — Eu tenho medo de repetir tudo, Alice. E se eu voltar a ser aquela menina insegura, que faz tudo pela pessoa que ama? Eu não quero voltar para esse ciclo.

— Bella, você não vai voltar a ser aquela menina — Alice aproximou-se da amiga e fez com que ela fitasse seus olhos. — Isso é tudo o que ela é, uma menina. A pessoa que eu vejo na minha frente é uma mulher, uma que sabe muito bem o que quer e que jamais irá voltar a se dobrar por alguém que não merece.

Bella continuou fitando Alice, esperando que as palavras que a amiga havia acabado de dizer fizessem morada em sua mente e seu coração.

— E, convenhamos, Edward não é o tipo de pessoa que iria embora por qualquer motivo. Ele foi embora uma vez e errou ao não te contar, mas eu tenho certeza de que isso não vai se repetir. Se ele precisar ir para a Inglaterra de novo, você vai junto.

Alice pegou as mãos da Bella entre as suas e as apertou, fazendo a amiga fitar seus olhos novamente.

— Lutar contra o amor da sua vida é como praticar boxe sem luvas, Bella. A única que vai se machucar é você. Então, pare de lutar.

Bella riu.

— Eu sempre posso contar com você para vir com alguma analogia estranha.

— Estou mentindo?

Negou, ainda rindo, mas sentindo também algumas lágrimas escorrendo por seu rosto. Bella sentia-se tão emotiva nos últimos dias, coisa que evitara ser por muito tempo para que as emoções não tomassem conta de seu corpo e tivessem o poder de quebrá-la novamente. Agora, com a volta de Edward, sentia-se livre para liberar todo o amor que prendera por tanto tempo em seu coração.

— Minha cabeça é toda errada — apertou as mãos de Alice em um agradecimento silencioso.

— Você fala isso diante de mim.  

Bella riu, mas pegou Alice em um abraço apertado.

— Obrigada, Alice.

— Me agradeça depois de conversar com Edward. E por favor, use camisinha.

[...]

Edward não esperava encontrar Bella na porta de seu apartamento naquela noite de sábado. Depois de tanto tempo sem contato, achou que ela havia desistido de qualquer interação com ele, até mesmo da amizade. Mas ali estava ela, linda em um suéter vermelho e com uma sacola nas mãos.

— Posso entrar?

— Hm, claro.

Ele fechou a porta atrás dela, ainda confuso.

— Eu achei que você não quisesse mais falar comigo — confessou, honesto.

— Eu estava trabalhando no meu projeto do mestrado e em algumas outras coisas.

Edward arqueou uma sobrancelha.

— E talvez eu estivesse te evitando.

E o que te fez mudar de ideia?

— Eu vou te explicar. Mas antes, posso colocar isso aqui em algum lugar? Quero fazer o jantar para você. Se você deixar, lógico.

— Pode colocar sobre a bancada da cozinha. E se eu tenho uma memória boa, você pode cozinhar aqui todas as noites, eu jamais vou me opor.

Edward escutou a risada de Bella da cozinha. Segundos depois ela apareceu, com um sorriso tímido nos lábios, e se sentou ao lado dele no sofá que novo que havia chegado naquela semana. Se pudesse, Edward emolduraria aquela imagem, pois Bella ficava perfeita ali, como se sempre fizesse parte daquele apartamento.

— Você está com aquele olhar bobo no rosto.

— Você está linda hoje.

— Só hoje?

Edward revirou os olhos.

— Eu preciso fazer duas coisas: primeiro te pedir um favor, e depois te agradecer de uma forma especial. Por favor, não me interrompe?

Ele assentiu, solene.

— Eu passei a semana toda fugindo de você porque eu tenho medo, Edward. Os primeiros anos que passei longe de você não foram fáceis, eu sofri muito. E eu tenho medo de voltar para aquele lugar, entende?

Edward se aproximou de Bella e pegou as mãos dela entre as suas. Ela não se opôs ao gesto e aquilo aqueceu o coração dele mais do que qualquer palavra dita.

— Mas eu quero dar uma nova chance para nós. Eu percebi que eu te amo, Edward, nunca deixei de amar. — Os olhos castanhos brilhavam com lágrimas, mas ele percebeu que não eram lágrimas de tristeza. —  Eu achei que aquele sentimento antigo tinha acabado, mas a verdade é que ele nunca foi embora. O que eu sinto por você é aquele amor antigo, aquele mesmo que cresceu desde que nós éramos crianças.

Bella suspirou.

— Se você me quiser, eu quero tentar de novo. Não precisamos começar do zero, mas nós temos muito trabalho pela frente. Querendo ou não, somos pessoas diferentes.

Edward confirmou com a cabeça, ainda sem dizer nenhuma palavra. Ele provavelmente não conseguiria dizer nada, já que o nó em sua garganta havia crescido tanto que a única coisa que ele poderia continuar fazendo era acenar.

— Por isso, eu peço para você me ajudar a prestar atenção nas minhas atitudes. Se você ver que eu estou voltando a ser aquela garota insegura, eu quero que você me avise. Vamos evitar que uma briga como aquela aconteça de novo. Ok?

— Posso falar?

Bella riu.

— Claro que pode, idiota.

— Porra, eu te amo. Eu também nunca deixei de te amar, Bella. Nunca.

Edward levantou uma das mãos e pegou o rosto dela, segurando-o com ternura. Bella fechou os olhos com o toque e ele sentiu a autorização para beijá-la com tudo o que tinha.

— Eu ainda não terminei — ela pontuou assim que se separaram, e ele riu. — Eu preciso te agradecer pelos diários. A história da sua avó era tudo o que eu estava procurando e não sabia. Meu projeto ficou maravilhoso e se eu realmente conseguir essa vaga, minha tese vai ser ainda melhor.

— Ela vai ficar muito feliz em ouvir isso.

— Eu quero agradecê-la pessoalmente. E também preciso fazer algumas perguntas. Você acha que ela se incomoda?

— Pessoalmente?

— Você achou que ia me namorar e não ia me levar para a Inglaterra, Edward?

Ele riu e beijou-a novamente, sem conseguir resistir.

— Seu desejo é uma ordem, princesa.

Bella fez uma careta, mas riu logo em seguida.

— Mas ei, você disse que tinha um agradecimento especial — Edward se lembrou alguns segundos depois. — Qual é, o jantar?

Bella negou com a cabeça e mordeu o lábio inferior, provocativa.

— Você vai ter a honra de conhecer a minha terceira tatuagem.

E com isso, saíram correndo para o quarto.


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Notas finais do capítulo

Informações sobre as escolhas da minha amiga oculta:

FRASE DE MS: “Algum instinto, morto havia muito tempo, me fez estender a mão em sua direção, e nesse segundo me senti mais humano do que nunca”.

CARACTERÍSTICA: Grande paixão por castelos e tudo que é antigo e possuí uma história

IMAGEM: uma moça de coque, lendo livro em uma livraria/biblioteca

MÚSICA: Mirrorball, Taylor Swift. Usei a música pra montar a personalidade da Bella e definir alguns acontecimentos da vida dela. Usei também outras músicas da Taylor, direta e indiretamente: Afterglow, Cardigan, Begin Again e Enchanted.


E aí gente, o que acharam dessa Bella e desse Edward? E o que vocês acham que é a terceira tatuagem, hein? Me digam nos comentários, quem sabe um dia a Bella não resolve contar ;)

Beijos!



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