Just One Year escrita por daylightsx


Capítulo 1
Just One Year




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Maio de 2019

— Bella, você vai se atrasar. Nem no dia do seu casamento você larga essas malditas tintas ? Eu vou custar para tirar isso do seu cabelo… – Rosalie tinha entrado reclamando em meu ateliê enquanto eu pintava. Eu mal dei atenção, mas tive que parar quando ela tomou o pincel da minha mão. – Isabella! Olha pra mim. – Olhei para a figura loira e esbelta a minha frente, que estava com sua cara mais amedrontadora e com as mãos depositadas em sua cintura.

— Oi, Rose. Fala. – Eu perguntei, querendo a irritar um pouco mais. Rosalie era minha melhor amiga desde quando eu me entendia por gente, além de ser minha cunhada. Devido à isso, era minha única madrinha de casamento e a responsável por me arrumar.

— Pelo amor de Deus, pelo menos hoje, você pode soltar essas tintas e dar atenção à você mesma? – Ela deixou as mãos caírem ao lado do corpo. – Hoje é um dia especial, você sonhou tanto com isso.. Todo mundo está acostumado com noivas atrasadas, mas,do jeito que você é, vai deixar o Benjamin morrer esperando por você.

— Eu sei, Rose. Mas eu estou nervosa, e pintar me acalma. Eu não estou muito bem hoje. – Soltei a frase toda numa respiração só.

— Como assim, amiga? Logo hoje? É alguma coisa no estômago? Eu tenho um remédio ótimo aqui. – Ela abriu a bolsa e começou a procurar pelo remédio.

— Não, Rose. Acho que é no coração… Estou angustiada, mas é só isso. – Me levantei do banquinho e limpei as mãos no meu avental. Retirei-o, dobrei e acompanhei Rosalie até meu quarto. Tomei banho enquanto ouvia Rosalie falar sobre o último carro que ela havia arrumado.

— Bella, você iria amar aquele carro. Potencializei o motor dele e tudo mais, agora sim ele tem um motor digno de uma Mercedes… – Ela continuou devaneando sobre os carros que arrumava com o pai. Rosalie era engenheira mecânica e apaixonada por carros. Ela tagarelava enquanto secava meu cabelo. Depois que acabou, começou a arrumá-lo. Ela continuava a falar sobre o carro, mas, embora eu amasse ouví-la falar sobre o trabalho dela, meus pensamentos estavam longe. Não, eles não estavam em meu noivo, Benjamin, mas sim em uma outra pessoa.

Conheci Edward em 2008. Na época, tínhamos dezoito anos recém completados e estávamos nos formando no ensino médio. Estudamos na mesma escola por anos, mas apenas no ano da formatura, quando viramos uma dupla nas aulas de biologia, que começamos a conversar. A conexão foi instantânea e logo começamos a namorar. Eu costumava pensar nessa fase da minha vida como uma das mais tristes pelo que nos aconteceu depois, mas hoje reconheço que aquele foi o melhor ano da minha vida. Edward era uma das pessoas mais gentis e amorosas que eu já conheci. Acho que esse foi o motivo pelo qual me apaixonei perdidamente por ele.

Agosto de 2008

Cheguei à primeira aula do último ano atrasada. A chuva, que já se arrastava há dias por Forks, tinha deixado as pistas escorregadias e todos os motoristas estavam andando em uma velocidade muito abaixo do normal. Quando adentrei à sala, depois de pedir desculpas pelo atraso, me deparei com uma única cadeira vazia, na segunda fileira à minha direita. No banco ao lado estava um garoto alto, de cabelos acobreados. Quando ele me viu vindo em sua direção, rapidamente tirou os livros deixados no lugar vazio ao seu lado. Assim que me sentei, ele me lançou um rápido sorriso, meio de lado. Confesso que eu nunca tinha visto um sorriso tão bonito como aquele.

Ainda estava pensando no sorriso do garoto quando ele se dirigiu à mim. Saí do meu transe.

— Ei, você quer começar a fazer a observação das fases da mitose ou prefere que eu comece? – Ele perguntou e olhou diretamente em meus olhos. Os dele eram de um verde intenso e me peguei pensando em como seria difícil pintá-los. Aquele tom era completamente novo para mim, e me perguntava quantas tintas teria que misturar para chegar à profundidade daquele olhar que me tirou o fôlego.

Como não respondi de imediato, ele disse:

— Eu posso começar, se você não se importar.

— Claro, tudo bem. – Eu finalmente fiz com que algumas palavras saíssem da minha boca. Eu não conseguia parar de ver os olhos dele em minha mente, mesmo que eu fechasse os meus. – Me desculpe, eu estou um pouco dispersa hoje.

Ele passou os olhos do microscópio para mim, enquanto eu colocava uma mecha solta do cabelo atrás da orelha. Continuei. – Eu nem me apresentei. Meu nome é Isabella Swan, mas todos me chamam de Bella. Você é Edward Cullen, certo ?

— Eu sei quem é você. Muito prazer, Bella. – Ele deu mais um sorriso de canto. Pensei que se ele continuasse dando aqueles sorrisos, eu sairia daquela sala totalmente apaixonada.

— Como você me conhece? Nós nunca nos falamos. – Eu perguntei, pois estava surpresa com sua resposta.

— Todo mundo conhece a filha do chefe de polícia da cidade, Bella. E além disso, nós estudamos a vida toda na mesma escola. – Ele concluiu. – Me admira que você saiba quem eu sou.

— Ora, é óbvio que você é um Cullen. Todos conhecem a família do melhor médico da cidade. – Respondi, e na mesma hora me veio na mente os integrantes de sua família. O pai, loiro, olhos verdes e muito alto. A mãe, de cabelos castanhos e rosto em forma de coração. Por fim, os dois filhos: Edward, com seu cabelo acobreado, olhos muito verdes; e Alice, uma garota pequena, magra, de cabelos castanhos curtos e olhos exatamente como os do irmão.

— Parece que somos duas figuras notórias para a pequena sociedade da Forks High School. – Ele riu novamente. – Aqui está. A primeira está em metáfase. Quer conferir?

— Não, eu confio em você. Deixe-me ver o próximo. – Aproximei meu olho do microscópio. Identifiquei do que se tratava na mesma hora. – Intérfase. Quer conferir?

— Não, eu confio em você. – Ele devolveu a fala. Éramos uma dupla muito eficiente e, dez minutos depois, já tínhamos terminado o experimento. O professor veio até nossa mesa.

— Já acabaram ? – O senhor Banner perguntou surpreso. Balançamos a cabeça em afirmativa. – Vou avaliar. – Mais uma vez, balançamos a cabeça juntos. Ele passou o olho pela atividade e a devolveu a Edward. – Está tudo certo. Bem, vocês estão liberados. – Ele olhou para o relógio. – Muito mais cedo do que eu pretendia liberá-los, mas tudo bem. Podem ir.

Juntamos nossos materiais e saímos pela porta. Olhamos um para o outro quando nos deparamos com o corredor deserto do colégio. Edward quebrou o silêncio.

— Temos algum tempo para a segunda aula ainda. Você tem algum plano ? – Perguntou ele.

— Não tenho. – Saímos andando pelos corredores, e terminamos sentados no refeitório.

Enquanto conversávamos, algumas pessoas passaram por nós. Era sempre a mesma coisa: olhavam-nos, juntos na mesa e desviavam o olhar quando um de nós olhava em resposta. Poucos minutos depois, o celular de Edward vibrou um uma mensagem de texto. Ao ler, ele riu. O som de sua risada era um dos melhores sons do universo.

— Parece que somos o assunto dos fofoqueiros do colégio. Olha aqui. – Ele me entregou o pequeno telefone e vi uma mensagem de Alice. Nela dizia: "Todos estão falando de você. O que está fazendo com a Isabella Swan? Vocês estão matando aula?". Eu não contive uma risada.

— Nossa. As pessoas daqui são bem rápidas. No mínimo, devem estar chocadas por você estar conversando comigo. Logo o Edward Cullen! O sonho da maioria das garotas, mas completamente inacessível. – Fiz minha melhor cara de deboche.

— Ah, qual é! Você tem sua fama também! A Isabella Swan, a garota mais desejada do colégio desde o primeiro ano do ensino médio. – Ele olhou para mim. – Fazemos uma boa dupla. – Edward colocou os cotovelos em cima da mesa.

Continuamos a conversar e descobrimos que tínhamos todas as nossas aulas juntos naquele semestre. Seria aquela uma ajuda do destino para nos juntar? Eu não sabia a resposta. Ainda.

— Bella, você está me escutando? – Rosalie perguntou. Tentei formular uma resposta rápida.

— Oi, estou. O que você disse? – Falei.

— Você não estava ouvindo. Se estivesse, não estaria perguntando o que eu disse. Enfim. Eu disse que o Emmett avisou que a Renée logo chega. Ele foi buscá-la na manicure. – Ela dizia, enquanto terminava de fazer alguns cachos em meu cabelo.

— Um milagre que ele tenha ido, ele detesta dirigir com a mamãe. Se hoje não fosse meu casamento, ele teria me obrigado a ir no lugar dele. – Eu falei, lembrando rapidamente de meu irmão reclamando sempre que mamãe mandava ele dirigir mais devagar.

Olhei para o relógio. Faltavam apenas três horas para o casamento. Minha mão começou a suar e senti meu estômago revirar. Eu não conseguia parar de pensar em Edward. Eu tinha que falar com alguém sobre o que eu tinha feito. Minha mente voou novamente.

Dezembro de 2008

Deitei em minha cama enquanto falava com Edward no telefone. Já namorávamos há dois meses e muito havia mudado em minha vida. A essa altura ele já tinha virado uma parte muito importante dela e eu não conseguia mais visualizá-la sem sua presença. Nossas famílias se aproximaram, e estávamos combinando de passar o Natal juntos, na casa dos Cullen.

— Amor, eu preciso da sua ajuda. – Edward falou, com sua voz manhosa.

Toda vez que ele me chamava de amor e mudava seu timbre, eu já me preparava para o pior. Da última vez, ele fez eu assistir um jogo inteiro de futebol americano com ele, meu pai, meu irmão e o pai dele. Um verdadeiro pesadelo para uma garota que não é nada fã de esportes.

— Ai meu Deus… Fala. – Eu respondi, esperando qual seria a peripécia da vez.

— Eu estou pintando meu quarto. Como eu sei que você é uma exímia artista, a senhorita poderia me dar a honra de me ajudar a pintar minha parede? – Ele disse.

— Edward, eu não acredito nisso… Usando todos esses elogios para me fazer ir pintar paredes?… É um verdadeiro absurdo, mas eu vou porque eu te amo. Me espere, vou trocar de roupa e chego em trinta minutos.

Eu não sabia dizer não a ele. Era simplesmente impossível! Porém eu sabia que ele também não conseguia fazer isso por mim. Vesti uma camiseta e meu jeans velho, e fui até sua casa.

Ao chegar lá, observei que ele não tinha nem começado a pintar as paredes de seu quarto.

— Edward, você nem começou! Seu folgado. – Eu disse, rindo da cara dele e dando um tapinha em seu braço.

— Eu não queria começar sem você, a artista da relação. Eu preciso dos seus conselhos. – Ele riu e começou a beijar minha bochecha enquanto me abraçava.

— Eu não sei se você sabe, mas pintar quadros é bem diferente de paredes…

— Ah, que nada! Pense que a minha parede é uma grande tela. Divirta-se! – Ele me entregou o rolo de tinta.

Quatro horas depois, estávamos sentados no chão, encostados em uma das duas paredes limpas, extremamente cansados e completamente sujos. Tínhamos feito um bom tempo. Teríamos sido ainda melhores se não tivéssemos feito uma pequena guerra no meio da pintura. Eu tinha tinta em todos os lugares do meu corpo, assim como ele. Mas mesmo todo sujo, sua beleza ainda era capaz de me fazer esquecer de respirar.

— Você está linda com essa mancha azul na sua bochecha. Deixe-me tirar…– Ele se aproximou, mas eu não havia percebido que ele tinha passado mais tinta em seus dedos. Só notei quando senti o líquido gelado em meu rosto. Ele começou a rir.

— Edward! Eu vou te matar, garoto! – Pulei em cima dele enquanto eu passava mais tinta pelo seu rosto. Nesse momento, Esme, a mãe de Edward, entrou no quarto com uma bandeja.

— Meu Deus! Mas são duas crianças… – Ela riu e colocou a bandeja em cima da mesa. – Comam alguma coisa, vocês precisam de mais força para terminar a guerra… ou a pintura, como queiram chamar.

— Obrigada, Esme. Mas foi o seu filho que começou. – Eu me levantei e fui até a mesa para pegar um sanduíche.

— Nada disso. Mãe, você não pode acreditar nela. – Edward tentou argumentar, enquanto Esme ria.

— Edward, claro que foi você. Te conheço… É sua cara fazer uma coisa dessas. Espero que estejam se divertindo, e que limpem tudo isso depois.

— Sim senhora! – Ele riu e bateu uma continência para a mãe, que nos deixou sozinhos logo depois.

Ao terminarmos nosso trabalho, nos sentamos no chão e entrelaçamos nossas mãos. Pensávamos em nosso futuro. Edward quebrou o silêncio.

— Da próxima vez, irá ser na nossa casa.

— Meu amor, da próxima vez nós vamos contratar pintores. – falei, rindo.

— Assim não tem graça. – Ele disse e me derrubou no chão. Ele ficou em cima de mim. – Nós vamos pintar as paredes da nossa casa sim, quer você queira ou não, senhorita Isabella Swan. – Ele riu e me beijou.

— Se é assim, quero pintar muitas paredes com você.

— Rose? – perguntei, meio insegura.

— Oi? – Ela falou, com um grampo de cabelo na boca e segurando uma mecha do meu cabelo. Quando prendeu-a no lugar, olhou para mim pelo espelho.

— Você sabe que o Edward voltou pra cidade, né? – Perguntei baixinho.

— Aham, você comentou. Mas… por que você está falando isso agora? – Ela me dirigiu um olhar cheio de dúvidas.

— Eu não consigo parar de pensar nele. – soltei e fechei meus olhos.

— Mas… Bella? Eu achei que a história de vocês tivesse ficado para trás. – Ela soltou a escova e se sentou ao meu lado. – Aconteceu alguma coisa que eu não saiba?

Pensei muito antes de responder.

— Eu o encontrei. Nós conversamos. Só isso. Ele voltou mês passado e... eu o convidei para o casamento. – Completei a última parte da frase baixinho.

— Não acredito. E você acha que ele vai aparecer? – Ela perguntou.

— Eu não sei. Na verdade não sei nem o que deu em mim para convidá-lo.

— O Ben sabe? – Rosalie questionou.

— Sabe. Eu contei para ele. Você sabe que eu não escondo nada dele. – Suspirei, enquanto massageava as minhas têmporas. – Eu só fiquei confusa com isso tudo. Foi muito rápido. – Contei, enquanto as imagens de nosso encontro passavam por minha mente.

Abril de 2019.

Eu tinha acabado de sair da Forks High School, com uma pilha de provas de literatura para corrigir. Como ainda estava cedo para ir para casa, resolvi ir até uma cafeteria perto da escola. Eu sempre me sentei em uma mesa específica, desde quando eu tinha dezesseis anos. Era "a minha mesa", e, por incrível que pareça, ela estava sempre vazia quando eu ia até lá. Mary, a garçonete, veio até mim com um bloquinho na mão.

— Oi Bella, como vai? O que vai ser hoje? O de sempre? Temos waffles saindo da máquina. – Ela perguntou.

— Olá, Mary. Eu vou bem, e você? Eu vou querer o de sempre, um café expresso com canela, sem açúcar.

— Ótimo, já trago. – Ela saiu e eu peguei uma caneta para começar a corrigir as provas. Terminei de ler a primeira questão quando ela voltou com meu café.

— Obrigada, Mary. – Agradeci. Ela respondeu com um pequeno aceno de cabeça e foi para outra mesa.

Três provas depois, meu café já tinha acabado, porém não pedi outro. Mary me trouxe uma torta de amora enquanto eu ouvi o sininho da porta soar. Continuei a ler a prova sem dar importância.

— Bella? É você mesmo? – Uma voz grave falou.

Aquela voz. Eu jamais seria capaz de confundi-la em toda minha vida, mesmo que cem anos tivessem se passado. Quando olhei para o dono dela, vi que meu palpite estava certo. Era Edward. Dez anos depois. Ele estava ali, parado, na minha frente. Pisquei meu olhos, achando que aquilo seria uma miragem. Mas ao abri-los, ele continuava lá, parado.

Edward não tinha mudado muito. Estava mais forte, aparentemente mais alto do que eu me recordava. Porém os olhos verdes e o sorriso arrebatador ainda continuavam intactos.

— Sim, sou eu. Ah meu Deus, não acredito que é você, Edward. – Eu disse e me levantei. Ele me puxou para um abraço rápido. Meu coração bateu forte quando eu senti seu perfume. – Ahn, você voltou para Forks?

— Sim, voltei. Na verdade foi há três dias atrás. E você, como está? – Ele perguntou.

— Eu? Bem, estou bem. É… você quer se sentar? – Perguntei.

— Se não for atrapalhar… Você está muito ocupada?

— Não, só estava passando o olho em algumas provas. Mas posso cuidar disso mais tarde.

— Tudo bem, então. – Ele disse e se sentou à minha frente. Ele cruzou as mãos em cima da mesa.

— O que te trouxe de volta a Forks? – Perguntei. Eu tinha curiosidade em saber, já que sua saída daqui foi tão traumática. Pelo menos para nós dois.

— Saudades. – Ele olhou para mim com uma cara divertida, e parecia que quem estava na minha frente era o Edward de dezoito anos. – E eu consegui uma transferência. Agora vou dar aulas na Universidade de Seattle, no campus de Port Angeles.

— Aulas? Você é professor? – perguntei, boquiaberta. Edward queria ser engenheiro quando mais novo. Não imaginava que a carreira acadêmica pudesse lhe interessar.

— Sim, eu sou. Na verdade, eu sou engenheiro, mas dou aula para o curso de engenharia da universidade. – Ele respondeu. Mary parou ao nosso lado e anotou o pedido dele. Chocolate quente. Algumas coisas nunca mudavam.

— Interessante. Bem, eu também sou professora. Do ensino médio, mas sou. Dou aulas de literatura na nossa antiga escola. – Contei e apontei para a pilha de provas ao meu lado.

— Literatura? É a sua cara. Sempre soube que você seria professora. Sabe, Bella… Quando eu entrei aqui e olhei para essa mesa, achei que estava vendo uma miragem. – Ele falou e deu aquele riso de canto de boca.

— Acredite, quando eu vi você, também achei que fosse uma miragem. Na verdade, eu sempre achei que eu nunca mais veria você. – Falei com sinceridade, mexendo com o garfo em minha torta meio comida.

— É, eu achei que eu nunca voltaria para cá. Mas aqui estou eu. O destino prega peças na gente. Talvez seja a minha chance de consertar meus erros. – Ele passou a mão pelos cabelos acobreados. – E por falar em erros, Bella, eu não imaginava te encontrar aqui, como eu mesmo já disse, mas de qualquer forma eu iria te procurar para conversarmos.

Olhei para ele atentamente. Eu sabia que nós teríamos aquela conversa. Sobre tudo o que vivemos, e sobre como acabou.

— Eu sei que eu errei em ir embora daquele jeito. Eu tinha só dezoito anos, e, comparado ao que sou hoje, eu era muito imaturo. Isso não é desculpa, claro, mas eu queria que você entendesse. Eu não medi os meus atos e, por isso, acabei machucando a pessoa que eu mais amava. Me desculpe, Bella. Eu sei que o tempo não para e que não seríamos a mesma coisa hoje, mas eu ainda gostaria de tentar ter uma relação boa com você. – Ele engoliu em seco. – Minha vida mudou bastante. Acredito que a sua vida tenha mudado também. – Ele olhou direto para o meu anel de noivado, depositado em minha mão.

— É, tudo mudou. – Olhei para meu pedaço de torta. Eu já não conseguiria mais comer nada. – Edward, eu fiquei muito mal quando você me deixou. Mal mesmo. Eu não conseguia sair de casa mais. Mas as coisas foram melhorando, com o passar do tempo. Agora, dez anos depois, eu já não guardo mais rancor. Todo mundo erra, afinal.

— Isso quer dizer que você não me odeia? – Ele perguntou.

— Não, eu não te odeio. Eu te conheço, sei que está sendo sincero. Eu te desculpo. Vamos colocar uma pedra em cima disso. – Falei, numa tacada só.

— Ah, Bella. Você não imagina o peso que saiu das minhas costas. Eu fiquei os últimos anos remoendo o que eu fiz com você. Foi imperdoável, mas mesmo assim, você está disposta a passar por cima disso. Eu nunca te disse isso, mas você é boa, Bella.

— Ah, longe disso. Eu só não gosto de guardar mágoas. Prefiro levar a minha vida assim. – Falei, rindo. Ele sempre me elogiava demais e, pelo visto, aquilo não mudara.

Nós continuamos conversando algumas coisas triviais, e descobrimos muito acerca da vida do outro. Edward tinha se casado e se separado, morado em Chicago e na Califórnia por um ano, já agora estava provisoriamente na casa dos pais. Eu o contei da minha vida e dos preparativos para o casamento. Ao tocarmos nesse assunto, vi em seus olhos um lampejo de tristeza.

— Entendo. E faz bem ser assim. Eu não consigo deixar certas coisas para trás, mas é tudo um processo. Bem, eu preciso ir. Começo minhas aulas amanhã e eu tenho que me organizar. – Ele deixou uma nota de cinquenta dólares em cima da mesa. – Foi bom te ver, Bella. Espero poder cruzar com você novamente.

— Até, Edward. Boa sorte nas suas aulas. – Eu disse. Ele acenou com a cabeça e saiu.

Fiquei algum tempo parada, olhando para a porta, tentando absorver aquele encontro. Só saí do transe quando Mary parou do meu lado, perguntando se eu queria mais alguma coisa. Eu neguei e a agradeci. Depois, juntei minhas coisas e fui para casa. Eu precisava pensar.

— Daí eu resolvi mandar um convite para ele. Depois de falar com o Ben, é claro. Ele concordou e eu mandei. – Contei à Rosalie, depois de explicar nosso breve encontro. Só de lembrar, meu coração batia forte como aquele dia.

— Meu Deus… É muita informação para um dia só. Mas como você está se sentindo em relação à ele? Eu imagino que deva ser uma baque enorme reencontrá-lo depois de tanto tempo. Cara, ele foi seu primeiro amor. – Rose disse.

Primeiro e único, mas eu não tinha coragem de falar isso para ela. Claro, eu amava Ben. Ele me ajudou a me reerguer depois que Edward me abandonara. Ele foi um ótimo amigo. Porém ele era aquilo, apenas. Um bom amigo.

Fevereiro de 2009.

Estava trabalhando em uma pintura, enquanto Edward e meu pai assistiam à um jogo de basquete na tv. Os gritos de alegria deles não ultrapassavam meus fones de ouvido. Eu ouvia um álbum do Maroon 5 chamado Songs About Jane, enquanto minhas mãos fluíam pela tela. Comecei aquela obra sem nenhuma pretensão, no entanto , conforme as pinceladas se combinavam, o quadro foi se tornando uma releitura de uma foto minha e de Edward, em nosso lugar favorito: a campina.

Tínhamos a descoberto por acaso, enquanto andávamos pelas trilhas do bosque perto de nossa escola. Estava um dia diferente para os padrões de Forks, o Sol até tinha arriscado a aparecer. Por termos sido liberados mais cedo, como sempre, do laboratório de Biologia,resolvemos caminhar um pouco, sem nos importar para onde estávamos indo. Por fim, encontramos aquele lugar. Uma clareira um pouco ao norte do colégio, que estava intocada, linda. Ela estava repleta de flores violeta, salpicadas pelos poucos raios solares que ali entravam. Aquele espaço, que era tão diferente das florestas da cidade, aparentava ter sido tirada de uma pintura impressionista. Cada flor e cada pequena folha parecia que tinham sido desenhadas à mão.

— Edward… Você sabia da existência disso? – Eu perguntei, ainda extasiada pela visão da campina. Não esperei que ele respondesse a pergunta e fui andando por entre as flores, até o meio da clareira. Ele se sentou ao meu lado.

— Não, mas foi uma bela surpresa. – Ele olhou para mim colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. – Esse será o nosso lugar.

A cada pincelada que eu dava, parecia que estava lá, sentada entre as flores e folhas, olhando para o céu, junto de Edward. Quando senti sua mão em meu ombro, dei um pulo tirando meus fones de ouvido.

— Você me assustou. – Dei um beijo rápido em seus lábios. – O que está achando? – Perguntei, uma vez que ele estava vidrado na tela.

— Meu amor, tudo o que você pinta eu acho incrível, mas essa aqui… Eu nem tenho palavras para descrever. Você tem tanto talento, Bella… Deveria expor nos maiores museus de arte do mundo. – Ele disse, enquanto me envolvia por seus braços.

— Ah Edward… Você vê qualidades demais em mim. – Falei, enquanto balançava a cabeça.

— Não mesmo. Eu não falo isso só porque sou seu namorado, eu falo o que eu sinto. Você teria um lindo futuro pela frente no ramo artístico, e isso não fui eu que disse. – Ele respondeu. – Foi minha mãe, que tem muito bom gosto, por sinal.

— A Esme é incrível, mas acho que ela exagerou um pouco. Faço isso apenas por prazer. Pintar me acalma. Acho na realidade que eu nem seria aceita em alguma academia de arte.

— Bella, Bella. Você não sabe a loucura que está saindo da sua boca agora. – Ele riu. – Mas eu não vou discutir com você. Eu sempre perco nas discussões. Eu posso ficar aqui te olhando, pelo menos? – Edward perguntou, com a sua típica voz arrastada e baixinha, que ele sempre fazia quando queria me pedir algo.

— Pode. – Eu sorri e me sentei no banquinho, voltando a trabalhar nos tons de roxo para pintar as flores. A cada momento que eu olhava para Edward, eu o flagrava sorrindo.

— O que foi? – Sorri também.

— Nada, estou apenas admirando.

— Eu não sou de me auto apreciar, mas esse quadro está ficando lindo. – Inclinei um pouco a cabeça ao observá-lo.

— De fato.Só que não é ele que eu estou apreciando nesse momento. Estou totalmente focado em você. – Ele se inclinou e apoiou a cabeça nas mãos. Eu sorri e continuei a pintar. Naquele momento, refleti e vi o quão sortuda eu era por tê-lo em minha vida. Edward era muito mais que meu namorado e meu amor. Ele era o meu melhor amigo.

— Eu não sei como eu estou me sentindo, Rose. Não sei mesmo. Depois que ele voltou… Eu… Ah, meu Deus. Isso é muito difícil. – Tentei falar, e senti meus olhos serem inundados por lágrimas que eu não queria que existissem.

— Bella, eu entendo. Essas coisas são difíceis mesmo, mas pense que daqui a pouco você vai estar casada e feliz com o homem que você ama. Vamos mudar de assunto, ok? Não quero que você fique toda vermelha e com cara de choro. – Rosalie falou.

— Claro… – Eu disse baixinho.

— Sabe o que eu acabei de lembrar? – Ela começou a rir. – Meu Deus, eu sempre fui sua cabeleireira e maquiadora.

— O quê? – Eu ri. Não estava entendendo nada.

— Você lembra do nosso baile de formatura? Bella, estamos na mesma posição que dez anos atrás. Você sentada ai e eu te arrumando… Eu preciso achar fotos desse dia! Você estava tão linda… Assim como hoje! – Rose ia falando sobre aquele dia, e eu ia me recordando aos poucos.

Agosto de 2009.

— Rose, pelo amor de Deus, eu nem queria ir à esse maldito baile… – Eu ia falando, mas ela foi mais rápida e tapou minha boca com a mão.

— Quieta mocinha! Você vai sim, nem que eu tenha que te arrastar, entendeu? – Ela disse fechando a cara. Eu, impossibilitada de falar, apenas balancei a cabeça em um gesto afirmativo e dei de ombros. – É o último baile, o último da sua vida! Você não vai deixar de aproveitar de jeito nenhum.

— Ok, Rose. Eu vou aproveitar. Está feliz? – Falei quando ela finalmente tirou sua mão da minha boca.

— Muito! – Ela deu três pulinhos de alegria e sorriu.

Mais tarde naquele dia, ao descer as escadas, encontrei aos pés dela meus pais e Edward. Ele sorria.

— Você está linda, meu amor. – Edward disse me puxando logo para um abraço.

— Você também está lindo. – Sorri. Eu e ele fizemos menção de sairmos pela porta, mas Renée interveio.

— Esperem! Antes de ir, nós precisamos de uma foto para registrar esse momento. – Minha mãe falou, desesperada.

— Sim, é claro. Como podemos esquecer? – Edward disse e sorriu para minha mãe, que tirou várias fotos de nós.

— Pronto, agora vocês estão liberados. Aproveitem bem e não voltem cedo. – Ela disse, enquanto meu pai olhava surpreso para ela.

— Juízo, vocês dois. – Ele completou, mas logo sorriu. – Edward, tente arrancar pelo menos uma dança dessa menina, ok? Ela costuma ser difícil quando se trata de dançar. – Olhei feio para meu pai. Ele sabia que eu odiava dançar. Eu costumava falar que tinha os dois pés esquerdos.

— Claro, pai, claro… – Eu disse enquanto puxava Edward porta afora.

Caminhamos em silêncio até o carro de Edward. Ao entrarmos, propus a ele que fugíssemos do baile.

— Você está maluca? Acha que depois do que o seu pai disse eu vou deixar de tentar dançar com você? Não mesmo. – Ele soltou uma risada. – E meu amor, eu não quero que você perca esse baile por nada. É o nosso último baile, estamos nos formando. Precisamos comemorar isso. – Edward respondeu.

— Tudo bem… Mas só uma dança, ouviu? Eu sou péssima nisso. – Falei,ainda com esperança de que ele mudasse de ideia. Meu celular apitou. Era uma mensagem de texto de Rosalie, que dizia: "Não tente fugir antes de chegar à escola!". Quando paramos em um sinal, a mostrei para Edward fingindo um ultraje.

— Ela sabe que você tem essas tendências fugitivas quando se trata de festas. Rose me fez prometer que não cairia em qualquer provocação sua até que chegássemos à escola, coisa que eu fiz muito bem. – Ele piscou para mim, sorriu com deboche e estacionou o carro em frente ao prédio.

— Isso vai ter volta, pode escrever. – Tentei parecer ameaçadora, mas não segurei o riso.

Com muito esforço, Edward arrancou duas danças de mim. O recorde da minha vida, eu diria.

— Edward, não me culpe se eu acabar com os seus pés. – Eu o avisei com minha expressão mais inocente possível. Ele sorriu.

— Não se preocupe com isso, meu amor. Eu irei te conduzir e manterei meus pés longe dos seus. – Ele piscou para mim e me deu um giro. – Eu sei o que eu estou fazendo.

Incrivelmente, ele estava certo. Ele me conduzia com uma elegância de um rei. Quantos talentos ocultos meu namorado tinha escondido de mim? Esbocei um sorriso ao pensar nisso.

— O que foi? – Ele perguntou, enquanto éramos embalados pela música baixa que tomava conta do lugar.

— Eu estava pensando em você. – Falei para ele. Seus olhos brilharam e ele esboçou mais um daqueles lindos sorrisos que me derretia. – Estava pensando em como eu tenho sorte.

— Sorte? Bella, quem tem sorte sou eu. Você é… eu nem tenho palavras para descrevê-la em sua totalidade. Você é simplesmente você. Perfeita em todos os aspectos. Nada se compara a você. – Disse, com seus lindos olhos verdes totalmente voltados para mim. Durante aquela noite toda, ele não os desviou dos meus.

— Eu te amo, Edward. – Falei. Meu coração pedia que aquilo fosse explanado.

— Eu te amo, Isabella.

Aquela noite foi uma das melhores da minha vida. Embora eu detestasse todo e qualquer tipo de festa, ali, com meus amigos e Edward, eu me senti genuinamente feliz.

— Aquela noite foi incrível. Acho que eu me arrependeria profundamente se você não tivesse insistido para eu ir. – Falei para Rosalie, que deu de ombros.

— Querida, eu estou sempre certa. E eu sei que você aproveitou bastante a festa e o depois… – Ela deu uma risada.

— Eu não sei do que você está falando. – Tentei enrolá-la.

— Isabella, Isabella… Você se esquece que eu sou praticamente onisciente. Inclusive isso me fez lembrar que você nunca chegou a me contar como foi depois do baile. – Ela parou de me maquiar e se encostou na penteadeira, de frente para mim.

— Você realmente quer que eu te conte sobre a minha primeira vez no dia do meu casamento? – Eu não segurei a risada.

— E tem dia melhor para você contar? – Ela arqueou as sobrancelhas perfeitamente desenhadas.

— Foi como qualquer outra.

— Bella, para né. Me poupe. – Ela fez uma careta.

— Foi bom, Rose. Melhor do que eu imaginei. Aquela noite foi perfeita, em todos os aspectos. – Falei e ela sorriu.

— Eu fico feliz. É bem melhor quando é assim. – Ela voltou a passar os pincéis pelo meu rosto. Minha mente traiçoeira voltou-se para aquele momento.

Nós estávamos na casa de Edward, depois de termos fugido mais cedo do baile. Alice ainda estava na festa, Carlisle e Esme tinham saído para jantar com amigos. Sozinhos, nossos beijos ficaram intensos, cada vez mais urgentes. Eu sentia suas mãos passeando por cima do tecido do vestido, traçando os mais diversos caminhos por meu corpo. Cada toque era uma explosão diferente. Nossas respirações estavam carregadas e meu coração batia violentamente no peito.

Nossos corpos juntos formavam um só ser. Cada arfar era mútuo, todos os movimentos se encaixavam com perfeição. Não tínhamos segredos, receios, vergonha. Estávamos ali cem por cento, completamente entregues. Éramos totalmente nós, envoltos por um turbilhão de sentimentos. Tudo naquele momento parecia mágico.

Ele fez com que eu me sentisse a mulher mais desejada do mundo e a mais bela de todas. Não havia sentimento que descrevesse o cuidado e a maneira com que ele me tratara. Ele me entendia e me conduzia de formas únicas. Tinha sido, de todas as maneiras, perfeito.

Eu nunca pensei que eu conseguiria me conectar de tal modo com alguém nesse mundo, mas com Edward tudo era diferente. Eu me encontrava em um estado de êxtase. Eu sabia que estava apaixonada, porém diante de tudo aquilo, não tive outra escolha a não ser aceitar que o que eu sentia era mais que paixão. Eu realmente o amava, mais do que achei que seria capaz de amar alguém.

Soltei um suspiro mais alto do que eu pretendia, e Rosalie, claro, percebeu. Ela deu um sorriso debochado.

— Está lembrando, né? – Perguntou.

— Estou. – Falei enquanto fechava meus olhos e inclinava a cabeça para trás. Não havia porque mentir. Rosalie me conhecia muito bem, e, às vezes, mais do que até eu mesma. – Eu senti tanta falta dele, Rose.

— Eu sei, minha amiga. Sei mais do que ninguém. Você o viu depois daquele dia no café? – Ela questionou.

— Sim. Mais vezes do que imaginei serem possíveis. Em todo lugar que eu ia, ele estava lá. Eu simplesmente aceitei que tudo era uma coincidência do destino. Mas… vamos mudar de assunto, não quero continuar falando dele. Tudo volta. – Na verdade, falando ou não, toda a nossa história voltava à minha mente. Isso já tinha virado uma coisa comum. Edward estava mais em minha mente do que eu esperava. A todo momento alguma coisa me levava à ele.

— Tudo bem. Bella, você vai levar todos os seus quadros para a casa do Ben? – Rosalie perguntou subitamente.

— Eu não sei, devo levar alguns. Por que? – Não pensei antes de responder. Mexer naqueles quadros seria uma tarefa difícil. Não porque eram muitos, mas sim por me proporcionarem muitas lembranças.

— Nada, só para saber mesmo. Eu iria querer alguns, caso você se desfizesse deles. Sabe que eu sou a sua fã número um. – Ela riu.

— Você pode pegar o que você quiser, Rose. – Falei e ela me deu um abraço rápido, dizendo um "obrigada" empolgado. Ela sempre admirou muito minhas obras, por isso não havia nenhum motivo para eu prendê-las somente à mim. Às vezes, elas precisavam criar novas histórias, traçar novos caminhos e terem novos significados atribuídos. Elas tinham que viajar.

Me recordei de um quadro em especial. "A Campina", como eu o tinha batizado. Havia um bom tempo que eu não o olhava, mas seu contorno era nítido em meu pensamento. Algo dentro de mim se apertou. Eu senti, de repente, uma necessidade extrema de vê-lo, tocá-lo. Eu não conseguia me segurar na cadeira.

— Rose, eu preciso beber água. Só um minuto, volto logo. Descanse as mãos um pouco. – Falei deixando-a sozinha em meu quarto. Fui até meu ateliê, no quarto ao lado do meu. Na parede, estavam encostados todos as minhas telas.

Encontrei "A Campina" escondida em um canto. Um pouco desbotada, mas ainda exuberante. Aquele era o meu quadro favorito, embora me trouxesse muita tristeza. Sentei-me no chão para apreciá-lo e fui levada novamente ao meu passado.

Setembro de 2009.

Aquele estava sendo um dia maravilhoso. Pela manhã, tinha recebido minha carta de aceitação na Universidade de Seattle, no campus de Port Angeles. Eu não poderia estar mais feliz. Edward tinha sido aceito semanas antes na Universidade de Chicago e em Dartmouth. Ele ainda esperava a resposta de Seattle. Eu iria estudar Literatura e ele provavelmente iria para a Engenharia, um sonho antigo. Eu mal podia esperar para contar a notícia a ele. Nós tínhamos muito o que comemorar. Estávamos prestes a fazer um ano de namoro.

Como presente, resolvi dar o nosso quadro, cujo nome eu tinha pensado na noite anterior: A Campina. Nem um pouco criativo, mas eu sabia que ele iria gostar. Embrulhei a tela e a coloquei no banco do carona da minha caminhonete. O tempo estava feio, fechado e chuvoso, porém não deixaria que nada atrapalhasse minha felicidade. Eu me sentia bem.

Ao chegar à casa de Edward, dei de cara com Esme saindo. Ela ia até o supermercado, mas me avisou que o filho estaria lá dentro, à minha espera. Nos despedimos rapidamente e entrei na casa que eu conhecia como a palma da minha mão. Entrei no quarto e encontrei Edward sentado na cama, em uma postura rígida. Seus olhos, tão lindos, estavam tão tristes como o tempo chuvoso.

— Oi, meu amor. Você está bem? – Perguntei, preocupada. Ele tinha o contorno dos olhos vermelhos e seu rosto parecia um pouco inchado.

— Bella, precisamos conversar. Sente-se aqui, por favor. Apenas me escute. – Ele disse. Comecei a me assustar e a me preocupar mais, porém acatei seu pedido.

— Eu vou para Illinois. Vou estudar na Universidade de Chicago. Eu estou há muito tempo pensando nisso, é realmente o meu sonho. Não posso esperar ser aceito em Seattle. Eu estou decidido a ir. – Edward disse, com a voz entrecortada. Ele parecia estar se esforçando muito para dizer aquelas palavras. Em meu colo, o quadro estava intocado.

— Isso é ótimo, Edward. Depois de um ano aqui, quem sabe, eu posso pedir uma transferência para Chicago. Ouvi dizer que o curso de Literatura deles é ótimo… – Eu ia falando, empolgada, quando ele me cortou.

— Bella, você não entendeu. Eu estou indo para o outro lado do país. Isso não vai dar certo. – Disse. Eu senti um bolo na garganta.

— Como assim, Edward? Você está… – Não consegui terminar a frase.

— Sim, Bella, estamos terminando. – Eu já não via mais nada em minha frente. Estava tudo embaçado pelas minhas lágrimas.

— Edward… Eu não entendo… Nós podemos fazer dar certo… – Tentei argumentar em vão.

— Não, isso não vai funcionar, Bella. Entenda meu lado. Eu não quero atrapalhar sua vida. É melhor assim. Peço que respeite a minha decisão. Foi difícil demais para mim tomá-la, mas estou certo que é o melhor a se fazer. – Ele dizia, de pé, olhando pela janela as pesadas gotas de chuva caindo do céu.

Eu não olhei para trás. Simplesmente fui embora. Eu estava arrasada, nem sei como consegui chegar em casa. Depois do nosso término, minha vida se tornou um borrão, como se várias tintas tivessem se misturado, sem formar nenhuma cor. Nada fazia sentido. A felicidade que eu tinha experimentado tantas vezes naquele um ano se tornaram nada. Ela simplesmente não existia mais.

Passei meses trancada em casa. Perdi o primeiro semestre da faculdade. Eu simplesmente não conseguia. Eu tinha desaprendido a viver. Nada que eu tentasse fazer dava algum resultado. Eu não ouvia mais música, pois qualquer letra me lembrava Edward. Parei de ler, pois qualquer história de amor não fazia sentido para mim. Por fim, parei de pintar. Todas as pinceladas que eu dava me traziam de volta à campina, iniciando o ciclo novamente. Primeiro a felicidade, depois a tristeza extrema.

Eu só consegui ter algum vislumbre de melhora quando Benjamin começou a ocupar um lugar diferente em minha vida. Nós éramos amigos desde o jardim de infância. Ele era filho de um policial amigo de meu pai e sempre frequentava nossa casa. Ele se tornou tudo quando eu não tinha mais nada. Me chamava para sair e trazia doces de sua mãe para mim. Ele me incentivou a finalmente começar a faculdade, que eu tinha trancado antes mesmo de começar. Benjamin foi o meu porto seguro, e meu carinho por ele foi aumentando à medida que o tempo passava. Depois de algum tempo, eu já não sentia mais a partida de Edward. Dizem que tudo passa depois de um tempo. E aquilo passou. Comecei a ficar bem de novo, sempre com Ben ao meu lado.

Começamos a namorar cerca de quatro anos depois de tudo isso, e resolvemos nos casar depois de três anos de namoro. Não tinha como dar errado. Eu o amava, ele era o meu melhor amigo. Eu não podia querer mais nada.

Não notei que haviam algumas lágrimas em meus olhos. Se eu chorasse, Rosalie iria perceber. Dei mais uma olhada no quadro. Ali estávamos eu e Edward, juntos. Era o vislumbre de um futuro que eu nunca teria, não se eu continuasse com aquilo. Respirei fundo e guardei a tela onde ela estava. Já tinha tido lembranças demais por um dia. Fui até a cozinha e peguei um copo de água. Pela janela, eu não conseguia ver nosso jardim, mas, se tivesse atenção, eu ouviria as vozes de nossos convidados chegando. Subi as escadas devagar.

— Ei, você demorou. – Rose disse, enquanto retocava sua própria maquiagem. Ela já tinha separado o meu vestido e o colocado em cima da cama. – Acho que devemos nos vestir já. – Ela conferiu o relógio no pulso. – Faltam quinze minutos.

— Tudo bem. – Eu me despi e ela me ajudou a colocar o vestido. Encarei meu reflexo no espelho. Eu estava linda. Rosalie tinha feito um ótimo trabalho, mas, de certa forma, eu não me reconhecia.

— Você está linda. – Ela disse quando terminou de se vestir e se juntou a mim na frente do espelho. – Está pronta?

— Estou, mas antes eu gostaria de uns minutinhos. – Pedi a ela. Eu necessitava desse último tempo sozinha. Eu tinha que pensar.

— Claro. Eu vou deixar minhas roupas no quarto do Emmett. Te espero na porta. – Ela deu um beijo no alto da minha cabeça. – O que quer que você faça, eu estarei aqui com você. – Ela disse e saiu porta afora.

Os últimos dias passaram como um filme em minha mente. Todas as conversas, todas as lembranças que vieram a mim neste dia voltaram. Respirei fundo. Eu sabia que minha vida dependia apenas de mim e tomei minha decisão. Eu tinha que deixar aquilo tudo para trás. Levantei-me de minha cama e saí pela porta.

Desci as escadas de casa, com Rosalie atrás de mim. Ao pé da escada estavam meus pais e meu irmão. Minha mãe tinha lágrimas rolando por seu rosto, já meu pai permanecia com seu semblante tranquilo. Emmett, por outro lado, exibia um sorriso de orelha a orelha.

— Caramba, Bella. Você está linda. – Ele falou e senti que era sério, uma raridade para ele. Parei ao seu lado e sorri.

— Obrigada, Emm. Você está lindo também. Na verdade, todos vocês estão lindos. Olha só o papai… – Ele deu um sorriso sem graça.

— Eu precisava estar apresentável para o casamento da minha menina. – Seus olhos brilharam e, naquele momento, sabia que estava se recordando de todos os nossos momentos juntos. – Bem… Não queremos mais atrasos, não é? Emmett, Rose, saiam primeiro, depois a Renée vai. Em seguida eu levo a Bella. – Eu ri enquanto meu pai dava todas as ordens, já que ele gesticulava e usava seu melhor tom de comandante de polícia.

Todos saíram. Por fim, eu e Charlie ficamos sozinhos em nossa sala de estar, com as janelas fechadas. Quando percebi os vários sons e vozes que vinham do nosso jardim, dei um passo para ficar ao lado da janela. Não que eu estivesse de fato interessada nelas. Havia apenas uma única pessoa que ocupava todos os meus pensamentos no momento. Aquela pela qual eu tentava encontrar em meio aos meus convidados. Edward.

Ao levantar a mão para puxar a cortina, meu pai interveio e parou na minha frente. – Nada de espiar, mocinha. – Meu pai falou. – Bella, antes que eu te leve ao altar, eu preciso saber… Você tem certeza disso, certo? – Charlie perguntou e meu coração parou de bater por um instante.

— Sim, pai. – Respondi baixo, como se estivesse tentando fazer com que aquelas palavras fizessem algum sentido para mim e, de repente, se tornassem verdadeiras.

— Ótimo, pois eu quero que você seja feliz. Apenas isso. – Ele me abraçou. – Eu espero que vocês tenham uma bela vida juntos. É a única coisa que eu desejo. – Ele deu um beijo em minha testa. – Eu te amo, minha filha, e estarei aqui sempre para você. Nunca se esqueça disso.

Senti meus olhos serem inundados novamente, e pisquei para afastar as teimosas lágrimas.

— Obrigada, papai. Eu te amo.

— Podemos ir, querida? – Ele perguntou.

— Sim. – Respirei fundo. Havia chegado a hora.

Todos se calaram quando eu e meu pai nos posicionamos no final da fileira de cadeiras. Nosso jardim era grande, por isso conseguimos comportar quase cem pessoas ali. Olhei para Benjamin, que deu um grande sorriso. O retribuí.

— Vamos? – Perguntou meu pai, baixinho. Apertei mais meu braço em torno do seu e dei o primeiro passo. Aquele, que seria o primeiro de minha nova vida como Isabella Welch. Meu estômago se apertou, mas continuei a caminhar até o altar.

— Cuide bem da minha menina, Ben. – Meu pai falou, enquanto apertava a mão de Ben.

— Pode deixar, Charlie. – Ele sorriu e me deu a mão. – Você está linda, Bella. – Ele sorriu e nos viramos para o reverendo Weber. Meu coração batia tão forte, parecia que ele iria saltar do meu peito a qualquer momento.

O reverendo começou a cerimônia.

— Quero começar esse casamento falando sobre amizade. Sim, amizade, e não amor. É claro que o amor é uma peça importante para a união de um casal, mas a amizade é o pilar mais forte. Eu consigo ver nesses dois jovens, que aqui se encontram, um laço muito bonito. Reconheço o amor, porém o que transborda é a amizade, o carinho, o cuidado. Eu já fiz muitos casamentos, sabem… Da cidade inteira, praticamente, e vejo muitas coisas. Às vezes, o amor se enfraquece, no entanto, em um casamento onde há uma ligação forte de amizade, esse sim, sobrevive e revive o amor… – O Reverendo continuou. – Para vocês, Benjamin e Isabella, eu desejo que o amor não enfraqueça, contudo desejo mais ainda que a amizade de vocês se intensifique a cada dia. O casamento é uma instituição importante e séria. Em vocês eu vejo o amor. Sei que serão felizes.

Ele continuou a falar, mas eu já não assimilava mais nada. Aquele discurso bateu forte em mim, reconhecendo o que eu estava negando há muito tempo. Eu não podia me casar com Benjamin.

— Benjamin Michael Welch, você aceita Isabella Marie Swan como sua esposa? – Weber perguntou para Ben, que respondeu de prontidão.

— Sim.

Ele voltou a pergunta para mim.

— Isabella Marie Swan, você aceita Benjamin Michael Welch como seu esposo? – Quando ele disse essas palavras, meu coração acelerou e abri a boca para puxar mais ar para meus pulmões. Eu olhei para os convidados, bem a tempo de ver os olhos verdes de Edward. Eu sentia a dor deles. Ele se virou e saiu do jardim.

— Ben, nós podemos conversar? – Falei baixinho.

— Agora? – Ben esboçou uma expressão surpresa.

— Sim. Tem que ser agora.

— Tudo bem, então. – Eu ouvia alguns burburinhos correndo pelos convidados, mas os ignorei. Peguei Ben pela mão.

— Reverendo, nos dê um minuto, tudo bem? – Eu perguntei e ele balançou a cabeça num sinal positivo.

— Caros, nós precisamos de alguns minutos. – Weber falou enquanto eu puxava Benjamin para minha casa. Olhei para meus pais, que permaneciam sentados com os rostos cheios de preocupação. Emmett fazia menção de levantar, mas Rosalie o segurava na cadeira. Ela se virou para mim e fez um sinal positivo com a cabeça. Ela me entendia.

— Bella, o que está acontecendo? Por que você parou o casamento pela metade? O que você tem de tão importante para me dizer? – Ben perguntou. Ele parecia desorientado.

— Ben, me perdoe. Mas eu não posso fazer isso. – Falei, reunindo toda a minha coragem interna.

— O quê? Como assim, Bella? Nós nos amamos, não tem porque… – ele tentava argumentar.

— Ben, eu te amo, sim. Porém eu não posso mais mentir para mim mesma. Nós merecemos ser felizes. E… Ben, isso não daria certo.

— Espera. Você está dizendo que me ama, mas não ao ponto de se casar comigo? – Perguntou, enquanto passava a mão pelos cabelos negros.

— É. Ben, nós não podemos. Eu preciso buscar a minha felicidade.

Ele respirou fundo e eu vi as lágrimas brotarem em seus olhos castanho-claros.

— É ele, não é? – Ben disse, baixo. Eu apenas balancei a cabeça, em afirmativo. Ele respirou fundo. – Eu sabia… Desde o momento em que ele apareceu de novo…

— Benjamin. Eu amo você, de verdade, mas você nunca passou de um amigo para mim. Me perdoe. – Falei, enquanto as lágrimas rolavam por meu rosto. Eu já não fazia nenhum esforço para detê-las.

— Bella, eu não vou ser hipócrita em dizer que eu não estou arrasado, mas eu… eu te amo tanto que eu quero que você seja feliz, com ou sem mim. Eu vi quando ele saiu. Vá atrás dele. Vá atrás da sua felicidade. – Ben também não conseguiu deter as lágrimas, sentando-se em uma cadeira próxima.

— Obrigada por me entender.

Dei um beijo em seu rosto e saí correndo de casa. Passei por todos os convidados, sem dar ideia aos comentários que aquilo poderia provocar. Edward não poderia ter ido muito longe. Eu olhava por todos os lados, mas não o encontrava. Eu já estava entrando em desespero, quando o vi indo até seu carro.

— Edward! – Eu gritei, sem me importar com quem ouviria aquilo. Ele se virou, assustado. Corri até ele. – Espere.

— Me desculpe Bella, mas eu não iria conseguir ver você fazendo aquilo. Não consigo ver você se casando com um homem que não sou eu, não quando eu ainda te amo. Porém, eu não posso fazer nada, além de desejar parabéns e felicidades para vocês. – Ele disse e ia se virando.

— Edward, você pode me escutar? – Ele parou novamente e olhou para mim. Seus olhos estavam tristes.

— Acho melhor a gente não piorar isso, Bella.

— Edward, eu não me casei. Não podia fazer isso amando outro homem. Não poderia fazer isso amando você. – Eu falei e soltei os braços ao longo do corpo.

— Você… o quê?

— Edward, eu não poderia mais viver em um mundo em que você não estivesse ao meu lado. Eu te amo, nunca deixei de te amar. Mesmo depois de todo esse tempo, ainda te amo. – Falei.

Aquelas palavras estavam pelo menos há dez anos engasgadas na minha garganta e guardadas em algum lugar do meu coração. Edward permaneceu parado, sem reação.

— Ah, Bella… Meu Deus. Isso era tudo o que eu precisava ouvir. – Ele finalmente falou e me tomou em seus braços. Eu não me importava com as pessoas que começaram a passar por nós, nem com os convidados do meu casamento fracassado. Minha vida começara ali, naquele momento, em que meus lábios se juntaram com os de Edward.

— Eu achei que eu nunca mais fosse poder te abraçar, te beijar… Eu achei que o meu erro tinha custado minha vida, a vida que eu queria com você. Bella, me perdoe. Eu fui tão inconsequente… – Ele dizia, enquanto segurava meu rosto com as mãos. Eu via as lágrimas rolarem por seu rosto.

— Eu também achei que não havia mais nada para nós. Mas há, Edward. Nós podemos fazer diferente. Nós podemos fazer dar certo. – Falei, enquanto o abraçava novamente. Eu queria continuar assim para sempre, imersa no som do seu coração e aquecida pela sua pele. Porém, nós ainda teríamos que enfrentar algumas coisas para que pudéssemos ser felizes.

— Isabella! – Ouvi a voz de meu pai atrás de mim. Quando me virei, vi ele, minha mãe, Rosalie e Emmett correndo em nossa direção. Charlie parecia furioso. – Isabella. Eu espero que você tenha uma ótima explicação para ter abandonado seu casamento e seu noivo. – Ele disse, vermelho de raiva. Ele lançou um olhar fulminante para Edward.

— Eu tenho, pai. A única explicação para eu fazer o que fiz é que eu amo este homem. Eu não poderia, de forma alguma, me casar com o Ben amando o Edward. Só hoje eu percebi o terrível erro que eu estava cometendo.

— Minha filha, pelo amor de Deus… Depois de tudo o que aconteceu? Como você pôde abandonar tudo? Eu não entendo.

— Pai, foi tudo por amor. Eu amo o Ben e, por isso, não poderia enganá-lo dessa forma. Eu fiz o que foi melhor para nós dois. Eu só quero ser feliz, isso é pedir demais? – Senti minhas lágrimas voltarem a escorrer pelo meu rosto.

— Isso é demais para eu assimilar agora. Eu preciso pensar. – Ele jogou as mãos para o alto, se livrando do aperto de minha mãe e de meu irmão. Charlie voltou para casa cabisbaixo, com Renée em seu encalço.

— O que você fez foi uma loucura, Bella, mas eu não te julgo. Se fosse comigo, acho que faria a mesma coisa. Espero que vocês sejam felizes. Vocês sabem que tem meu apoio e o apoio da Rose. – Emm falou, enquanto Rose ao seu lado concordava com a cabeça.

— O Emm está certo. Eu sabia que você iria fazer isso. Eu te conheço mais do que você pensa. Foi o quadro que virou a chave, não foi? – Ela perguntou, arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços.

— Como você sabe...? – Perguntei à Rosalie, intrigada com a revelação. Eu estava sozinha naquele momento, não?

— Eu fui atrás de você. Sabia que não iria pegar água nenhuma, pois eu havia colocado uma garrafinha bem na sua frente quando eu cheguei. – Ela riu. – Eu vi quando você pegou o quadro, se sentou no chão e ficou olhando. Acha que eu não percebi que a sua maquiagem estava um pouco borrada? Ah Bella… – Ela me abraçou, e falou baixinho no meu ouvido. "Vocês serão muito felizes. O Charlie vai aceitar, fique tranquila. Nós estamos aqui com vocês." Ela me soltou, olhando para Edward.

— Eu espero que você não cometa a mesma presepada do passado e deixe essa mulher escapar, Cullen.

— Se fizer minha irmã sofrer de novo, já sabe… – Emmett o olhou com um semblante fechado, mas logo abriu seu sorriso.

— Eu não sou de cometer o mesmo erro duas vezes. – Edward disse, e sorriu para mim.

Sete anos depois.

Estávamos em nosso lugar. A campina. Não foi onde tudo começou, mas mesmo assim ela faz parte de nossa história. Ela não estava muito diferente do passado. Hoje o Sol resolveu aparecer. Por espaços entre as árvores ele salpicava as flores violetas e as folhas do lugar. Mesmo depois de todo esse tempo, chego aqui e tenho a mesma sensação de encanto. Está tudo igual, mas é como se fosse a primeira vez.

Me sentei na toalha que trouxe na cesta com Edward ao meu lado. Debaixo dos raios solares, parecíamos brilhantes. Eu vigiava Renesmee correndo pela campina, procurando flores.

— Mamãe, olha essa que eu achei. É a que tem a cor mais bonita. – Ela veio correndo até mim. – Ela parece com a do seu quadro. Vou levar pra casa. Quero me lembrar dela para sempre. – Ela voltou a correr por entre as flores.

— Cuidado com as pedras, querida. – Edward dizia para ela, mas Renesmee já estava longe. Ele se voltou para mim. – Ela é observadora, não?

— Demais. – Eu respondi, enquanto mordia um pedaço de uma maçã.

— Ela é igual à mãe, sem tirar nem pôr. Você já percebeu que o traço dela é igual ao seu? Isso sem falar na percepção de cores. Posso apostar que teremos mais uma artista na família. – Ele segurou minha mão e deu um sorriso. Eu sorri de volta. Mesmo depois de todos esses anos, eu ainda ficava derretida com o sorriso de Edward. Quando ele falava de nossa filha, seus olhos brilhavam. Olhos esses que ela tinha iguais. Era uma das minhas coisas favoritas em Renesmee. Ela, claro, tinha traços parecidos com os meus também. Eu sempre dizia que ela era uma mistura perfeita de nós dois.

— Eu espero que sim. Seria maravilhoso. – Sorri e olhei para ela, que tinha se sentado e começado a desenhar a flor que tinha colhido em seu bloquinho. – Ela tem talento. – Falei baixinho e encostei minha cabeça no ombro de Edward. Nós ficamos ali, sentados, aproveitando o Sol e a companhia um do outro, enquanto observávamos nossa maior obra prima.

— Assim como a mãe. – Edward riu e me abraçou.

Renesmee se levantou e veio se sentar conosco. Pegou uma uva da cesta e comeu. Logo me mostrou o desenho de sua violeta, orgulhosa. Sorri. Edward tinha razão. Seus desenhos se assemelhavam aos meus quando eu era menor.

— Mamãe, papai, vocês poderiam me contar de novo aquela história? – Ela perguntou, num lapso de curiosidade.

— Qual, meu amor? – Edward perguntou.

— A história daquela moça, que vocês me contaram uma vez. Aquela que foge do casamento. – Ela disse e eu ri, junto com Edward. Trocamos um olhar afetuoso. Estar com Edward era fácil. Ele se esforçava todos os dias para nos fazer rir, mesmo com as piores piadas. Ele se importava conosco. Seu amor e carinho eram palpáveis. Antes de tudo, éramos amigos. Não poderia ser diferente. Mesmo depois de tudo o que passamos, estávamos ali, juntos, formando uma família. Sim, ainda formando, já que o mais novo membro ainda não tinha crescido muito, apesar de já senti-lo em minha barriga. Coloquei minha mão sobre ela. Edward sorriu em resposta ao gesto. Estávamos conectados. Éramos um do outro.

— Bem, tudo começou com uma garota, vamos chamá-la de… – Pensei, mas Edward me interrompeu.

— Bella. O nome dela era Bella. – Ele disse para nossa filha, que tinha deitado a cabeça em seu colo para acompanhar a narrativa. Ela olhava vidrada para nós.

— Ok. – Eu concordei, e continuei contando.

— Cheguei à primeira aula do último ano atrasada...


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