O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 19
Capítulo 19 - A Conversa




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Desde o falecimento de Lord Phillip, ou seja, seu pai, John seria capaz de contar às vezes que entrou naquele cômodo, no antigo escritório dele e também local que foi encontrado morto, sentado em sua mesa como de costume, sobre os documentos espalhados, jamais esqueceria aquele dia.

Sua mãe entre todos os cômodos da casa, faz daquele o seu escritório particular, como isso fosse a deixar mais próxima do falecido marido, permanecendo os seus dias ou a maior parte de seu tempo naquele lugar, além disto, costumavam guardar todo e qualquer documento pessoal, ou referente aos bens, propriedades e negócios da família apenas nos cofres existentes daquele quarto, ou demais tinha como função apenas chamar a atenção ou enganar.

J - Mãe, posso entrar?

L.R - É claro John, temos alguns assuntos mal resolvidos que devem ser esclarecidos, vamos, entre e acomode-se, nossa conversa talvez seja uma pouco mais longa do que gostaríamos.

John sentou em um dos sofás fixados à janela, de onde tinha a visão de Marguerite e Verônica caminhando sobre a neve, próximas ao lago quase totalmente congelado, enquanto Lady Roxton, optou por uma poltrona ao lado de uma mesinha, um pouco mais afastada, degustando de seu chá da tarde, aguardando tranquilamente, que partisse dele a iniciativa.

Não se sentia à vontade com a tranquilidade da mãe, estava calma demais, como se escondesse cartas em sua manga ou estivesse jogando, o que não seria nenhuma novidade, a viu fazendo antes, várias vezes, ela era habilidosa, rápida, teve os melhores estudos de sua época, o que a permitiu quase sempre uma visão a frente de seu tempo e além do que as pessoas demonstravam, no entanto, com o tempo tornou-se desconfiada, perspicaz  e capaz de fazer o que fosse preciso para salvar os seus de pessoas que julgasse perigosa, e naquele momento essa pessoa era Marguerite.

J - Então, o que a senhora espera que diga sobre Marguerite?

L.R - Seria bom que você começasse pela verdade.

J - Se estiver referindo-se aos desfalques do meu cofre em Londres, ou o automóvel branco novo, tudo o que foi feito teve a minha total permissão.

L.R - Disso eu já sei, Leopold me contou, aliás lamentável a sua atitude, induzi-lo a tais atos, como pode John, ele poderia ter pago muito caro por isso.

J - Eu sei mãe, mas aceitamos as consequências quando todos nós iniciamos os planos de retornar para a sociedade.

L.R - Certo, mas me diga filho, quais são essas consequências?

... Se vocês encontraram esse medalhão, mesmo que seja recente, nada impedia que em menos de uma semana estivessem aqui, como fizeram agora. Então porque dessa demora? O que você não quer me contar John?

J - Existem muitas coisas envolvidas, segredos que não são meus para serem contados, pelo menos não por enquanto.

... Eu não pedirei para que confie em Marguerite, é inútil, mas eu sou seu filho, acredite no que eu digo, em breve terá todas as respostas que quiser, minhas e dela também, só peço, tenha um pouco mais de paciência.

L.R - Paciência?!

... Eu tive paciência durante 04 anos, esperando a cada dia uma notícia sua, contratando detetives, exploradores e caçadores experientes como você, financiando inclusive uma expedição de resgate, e nada, a grande maioria estão mortos agora, devorados por canibais, perdidos em meio a América do Sul, ou sendo digerido por alguma fera.

... E você me pede paciência?! Por conta daquela mulher obviamente, agora sou eu quem falo filho, não por enquanto. Concedi uma oportunidade para você me contar mais a respeito, vou perguntar mais uma vez, faz você ou devo eu tirar conclusões sobre o que já sei?

 

John passou a mão entre os cabelos, angustiado e apreensivo, olhava para a sua mãe diante de si, como suspeitava ela estava jogando e qualquer coisa que falasse poderia prejudicar ainda mais aquela situação, que já era delicada o suficiente.

J - Mãe, a senhora está dificultando às coisas.

... Eu não tenho palavras para agradecer suas tentativas de entrar em contato conosco, comigo. Mas eu sinto muito, não posso comprometer os nossos planos, de todos nós, por uma mera desconfiança sua.

L.R - Como queira. Agora, deixe-me explicar os reais motivos da minha desconfiança, ou melhor, mostra-los a você.

 

—--//---

 

As mulheres caminhavam vagorosamente, uma ao lado da outra, não havia sobrado tempo hábil para conversarem sobre tudo o que aconteceu, sobre Luna, sobre os medalhões ou todas as novidades dos últimos dias.

V - Marguerite, você acha que os medalhões ainda estão apresentando falhas?

M - O Tryon eu não sei, o Oroboros por enquanto não apresentou nenhuma, estamos todos aqui certo?

V - Sim, mas isso não significa nada.

M - Não, mas eu estava pensando Verônica, se isso não é por conta da gravidez, não sei, dizem que mãe e criança dividem os sentimentos ou pelo menos podem ter me deixado confusa, o bastante para surtir sobre o Oroboros.

V - Pode ser, lembro que as mulheres de algumas tribos falam sobre isso, de compartilharem sentimentos com as crianças. Mas para acontecer isso, de modo semelhante com os dois medalhões, eu também estaria grávida.

M - E você não está grávida, certo?

V - Não, eu não estou grávida.

M - Você tem certeza disso?

V - Tenho, eu sentiria algo diferente, você não sentiu?

M - Não muito, você sabe que eu descobri a gravidez apenas quando passei mal, por conta daquele mal súbito.

V - Sim, mas eu não estou grávida Marguerite, está tudo em dias e Malone e eu temos nossos métodos, eu tomo alguns chás, que acredito que sejam mais eficazes. Nós devemos mesmo é procurar a Luna, juntas.

M - Eu concordo, ela poderá explicar melhor o que está acontecendo, mas você viu como fiquei ontem a noite, teremos que aguardar mais um tempo.

V - Sim, e eu posso ir sozinha também, pelo menos para saber se ela tem mais alguma informações útil, que não precise compartilhar com nós duas juntas.

M - Sim, e também espero que a cópia do Oroboros esteja pronta, agora mais do que nunca vou precisar do “Comércio de Zanga”.

 

—--//---

 

L.R - Então, o que temos a comentar sobre a Baronesa Von Helsing? Ou deveria chama-la de Senhorita Marguerite Montclair ou Parcival?

John tinha em mãos diversos documentos, fotografias, passaportes falsificados, registros confidências do exército britânico, tabelas de números correspondentes a consultoria da companhia Summerlee entre outros, tinha mais informações sobre a herdeira do que ela mesmo um dia revelou sobre, mas não todas aparentemente e é claro, que apenas documentos não explicavam com exatidão os motivos reais de suas escolhas ou atitudes.

J - Como a senhora soube de tudo isso e como obteve todos esses documentos? Existem alguns que são confidências, a senhora sabe disso?

L.R - Eu falei que contratei pessoas durante sua ausência, a principio para encontrar você meu filho, mas algumas dessas pessoas esbarraram por coincidência em certas pendências sobre a sua amada Marguerite, desde então passei a conduzir uma investigação particular sobre esta mulher.

... Principalmente quando obtive a informação de que ela possivelmente esteve envolvida ao fracasso da sua carreira militar.

O homem suspirou profundamente, abaixou os olhos, doía lembrar daqueles momentos de guerra, dos sacrifícios que escolheu fazer e mais ainda dos motivos que os fez, depositou os documentos sobre o móvel, aproximou-se da Lady, abaixando-se próximo as alturas dos joelhos, segurando suas mãos, acariciando-as, ele não queria iniciar mais uma briga com a mãe, bem verdade tudo o que seu coração mais desejava era paz, e manter toda a sua família unida.

J - Eu conheço Marguerite, os que está me apresentando são apenas escritos em um ou outro papel, embora tudo o que consta neles, são verdadeiros.

... Mas não é só isso minha mãe, não é o bastante, você não sabe os motivos que a fizeram agir dessa maneira, não conhece suas razões, nem as minhas por ter me envolvido com Parcival. É muito mais do que isso.

Lady Roxton levantou-se imediatamente, desprendendo-se das mãos de John, respiração acelerada, continha os seus impulsos o máximo que seus sentidos permitiam, furiosa, os olhos tempestuosos e corava de nervoso, raiva e irresignação.

L.R - Esta me dizendo que de fato sabia de tudo isso, e que ainda assim se tivesse escolha, me esconderia?

J - Sim mãe, eu sabia. Eu falei que os segredos não eram meus para contar e que a situação era delicada, mas que contaria para senhora, quando tudo estivesse resolvido.

L.R - Tudo o que? Quer dizer que existe mais coisas além disto? E resolver o que?

Ele não respondeu, talvez se permitisse a mulher um pouco mais de tempo, os ânimos acalmariam. A Lady o olhou mais uma vez, em seus olhos o desgosto e a desaprovação, até virou-se de costas, em questão de segundos o quarto foi preenchido por um silêncio desagradável, sufocante.

 

L.R - Enganada pelo meu próprio filho.

... Você não honra o sobrenome que carrega, nem a memória de seu pai ou irmão, que por sinal jamais se envolveria como uma mulher da laia dela, porque não se matou naquele maldito safari ao invés de tirar a vida dele?!

... Nunca tive gostos por suas aventuras ou por seu interesse em certas companhias, mas de todas elas, que ouvi falar ou que tive o desprazer em conhecer, você não poderia ter escolhido pior. Viúva negra de Viena, ladra de joias procurada por todos os continentes, charlatã barata e claro pertencente a máfia oriental.

... Além de ser uma indigente, sem nome, uma ....

J - CHEGA!!!!

 

Agora John que estava beirando ao nervosismo, tomado por fúria e cansaço, além de sentir-se consumido por lembranças trazidas a toma, das quais jurou nunca mais pensar sobre.

J - Você não sabe nada sobre Marguerite, não sabe nada sobre nós dois, nem mesmo sobre mim!! Você apenas vê o quer ver e, é o que importa para a senhora!  Assim como a morte do William, que sei muito bem que me culpa até hoje, EU NÃO O MATEI!!! Não o matei ... Acha mesmo que seria capaz de matar meu próprio irmão, que monstro a senhora pensa que sou?

Remorsos passados e feridas não cicatrizadas, conduziam a conversa para uma direção incerta.

L.R - Um assassino que pretende se juntar com uma mulher ainda pior.

... Se eu fosse você, pensaria duas vezes antes de se juntar a mesa com ela, principalmente durante o período matinal, um dos maridos foi morto assim, doses pequenas de cianureto servido ao café.

... Ou melhor ela ainda pode ...

J - Está abusando minha mãe, além dos limites, perdeu a sanidade?

L.R - Estou abusando, e você fará o que, vai me bater ou matar?

EU AINDA SOU SUA MÃE,    S-U-A   M-Ã-E!!!

Um estalo abrupto ecoou, por impulso, como há anos não acontecia, Lady Roxton permitiu que a mágoa cegasse, a razão foi deixada de lado, e sua mão ardeu no rosto do filho, sim, ela o bateu, e não houve arrependimento, apenas dor, para ambos.

L.R - Não pedirei que escolha entre nós, porque você já fez isso, mas eu quero que saia desta casa imediatamente, leve-a junto com você e quem mais quiser acompanha-los, e nunca mais volte, não olhe para trás.

J - Mãe ... Eu ...

Ned - Desculpe interromper Lady Roxton, John

... Mas é importante, é sobre Marguerite.


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