The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 32
Sasuke: obtendo informações.




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Nós quatro ainda ficamos um pouco mais no restaurante até o momento em que Akemi achou melhor ela e Gaara irem logo dormir, principalmente Gaara, pois as pessoas já estavam começando a olhar feio para ele e cochichar. “Como podia o filho do Kazekage estar se divertindo logo após o velório de seu pai”, era o que eles provavelmente pensavam e falavam. Assim que a Senju colocou seus pensamentos em palavras, Gaara concordou com ela, ainda que contrariado. Era óbvio que ele se sentia incomodado com tudo isso, nunca havia sido o centro das atenções e agora todos estavam falando dele. A situação incomodaria qualquer um no lugar dele.

Os dois se levantaram da mesa e se despediram de mim e de Sayuri, seguindo lado a lado para fora do restaurante. Ao vê-los se afastarem, penso que, no futuro, Akemi será uma boa esposa para Gaara, uma boa esposa para estar ao lado de um Kazekage. Ela se preocupa com ele ao mesmo tempo que se preocupa com a vila e toma decisões baseadas nos dois sentimentos; um Kage iria querer mais que isso? eu acredito que não.

Assim que eles somem de vista, minha atenção se volta para Sayuri. Ela está com um tom rosado nas bochechas, provavelmente está começando a ficar bêbada com o saquê. Eu digo a ela que é melhor irmos dormir também, pois teríamos que ir embora cedo, logo após Gaara ser nomeado Kazekage. Ela resmunga, me chama de chato e coisas parecidas, mas acaba cedendo com facilidade. Apesar de tudo, ela sabe que eu estou certo. Somos estrangeiros aqui e os ânimos ainda estão muito acalorados com a morte do Kazekage, provavelmente todos estão a fim de arrumar uma discussão ou briga. É a última coisa que eu quero.

Sayuri e eu não trocamos muitas palavras no caminho até o prédio do Kazekage, seguimos em silêncio, mas eu consigo perceber o incômodo dela. Ela ainda está com raiva do que eu fiz, de como eu a salvei. Sinceramente, não a entendo. Não entendo como ela pode sentir raiva de mim quando tudo o que eu fiz foi para mantê-la viva. Cerro meus punhos, pensando no quanto essa garota me tira do sério. Ela podia ser um pouco mais agradecida para variar.

Dentro do prédio do Kazekage, Sayuri entra em seu quarto e eu entro no meu, me jogando na cama. Me reviro de um lado para o outro, fecho os olhos, tento pensar em qualquer coisa que não seja os acontecimentos recentes, mas mesmo assim não consigo pegar no sono. Minha mente está muito agitada, o local onde eu tenho a marca da maldição queima em minha pele. Antes mesmo de levantar, tenho certeza de que não vou conseguir dormir essa noite.

Eu saio do quarto em silêncio, levando apenas a roupa do corpo e a minha espada. Saio do prédio do Kazekage e vou para a parte de trás do mesmo, onde sempre há muitas sombras pela parte da noite. Uma vez ali, como a treinar golpes com a minha espada. Tenho muita dificuldade em fazer os movimentos com o braço direito, o sinto latejando e o flexiono várias vezes, tentando fazer a dor passar, mas não passa. Então, sem querer parar de treinar, eu passo a espada para a mão esquerda, coloco o braço direito atrás das costas e continuo.

Imagino que aquele Hazuki está na minha frente, que os golpes que desfiro com a minha lâmina são nele e isso apenas impulsiona mais a minha raiva. Sinto meu sharingan tentar ativar, mas no mesmo instante minha visão embaça e eu fico atordoado por alguns segundos. 

Paro um pouco com os golpes de espada, observando as coisas ao meu redor e percebendo que não consigo enxergar muito bem. Os prédios, os objetos, tudo está embaçado, como se eu precisasse de óculos e não os estivesse usando agora.

Sinto meu coração em meu peito, batendo descompassado, como se estivesse esquecido como pulsar. Quando o vento frio do deserto toca meu rosto, percebo que algo está escorrendo pela minha bochecha. Levo alguns dedos até ali e, quando olho para eles, percebo, com dificuldade, que estão vermelhos. Meus olhos estão sangrando. 

Estremeço, com medo do que isso pode significar, e limpo minhas bochechas com as costas da mão, voltando a treinar com minha espada e esperando que minha visão volte ao normal.

Quando vou desferir o golpe que seria mortal, um golpe de cima para baixo, como que para cortar o peito do meu adversário, minha espada é bloqueada por uma kunai. O barulho de metal contra metal é tão alto que me surpreende. Segundos depois, vejo os olhos verdes de Sayuri me encarando.

Minha visão parece um pouco melhor agora. Como se nada tivesse acontecido, vejo Sayuri nitidamente em minha frente e penso se tudo o que aconteceu não passou de uma alucinação. Mas em minha mente ainda vejo o sangue em meus dedos.

Ela havia trocado de roupa, estava usando uma roupa comum, nada ninja. Mas é bem a cara dela sair com uma roupa normal, porém portando uma kunai ou qualquer arma. Ela sempre era preparada nesse nível, sempre estava com a guarda levantada. Quando eu abaixo minha espada e meu sharingan some, ela gira a kunai no dedo e guarda no bolso de seu short. Um vento frio do deserto nos envolve ali no escuro, jogando os cabelos dela para trás. Ela me observa por um momento, meu braço atrás das costas, o fato de eu estar usando a mão esquerda para lutar sendo que sou destro. Não preciso me explicar para ela, mas se ela perguntasse, eu falaria que estava apenas melhorando a mão esquerda. Mas eu sei que ela já sabia o motivo disso tudo. Ela sempre percebia tudo nos mínimos detalhes.

— O que você está fazendo? — ela pergunta.

— Não consigo dormir — eu desvio o olhar do dela, colocando minha espada novamente na bainha. — Vim treinar um pouco.

— Como você está? — ela aponta com o queixo para a gola da minha blusa e eu sei que está querendo falar da marca da maldição.

— E desde quando você se importa?

Sayuri coloca uma mão na cintura e me encara com as sobrancelhas franzidas. Eu solto o ar pela boca, bufando.

— Estou bem, Sayuri — digo. — Satisfeita?

Ela caminha até mim e mesmo que eu tente me afastar, Sayuri é mais rápida e pega minha mão, a segurando bem firme.

— Não é o que a sua mão diz.

Sayuri sente o tremor na minha mão e eu a puxa da sua, me sentindo incomodado com a aproximação dela. Nós nos afastamos, mas ela ainda parece bem determinada em não me deixar em paz até que eu admita que estou morrendo ou algo parecido. Ela suspira, fechando os olhos por um momento. Penso que ela fica bonita quando o rosto tranquilo como está agora. Mas aí ela abre os olhos e me encara com a mesma raiva de sempre.

— Me diz o que você quis dizer lá no hospital quando disse que a Doragon talvez não esteja atrás apenas de Akemi.

Fico alguns segundos em silêncio, sem saber o que dizer. Foi apenas uma sensação depois de tudo o que aconteceu. O fato deles terem vindo até aqui apenas para matar o Kazekage não pareceu certo. Se eles estivessem atrás apenas de Akemi, poderiam tê-la levado com facilidade, pois eles estavam em dez, mas resolveram nos separar. Levaram Sayuri e eu para um lado e prenderam Gaara e Akemi em outro, a morte do Kazekage foi apenas um efeito colateral. O que eles queriam mesmo era... A realidade recai sobre mim como um soco e eu arregalo os olhos.

— Eles vieram aqui conhecer a gente, nós quatro — digo, incrédulo. — Vieram conhecer nossos jutsus ou pelo menos ter uma prova pequena do que somos capazes — eu olho para Sayuri e ela me encara, os olhos arregalando gradualmente quando entende o que eu digo. — Eles nos separam, Sayuri. Nos fizeram lutar com eles por besteira apenas para saber mais sobre nós quatro.

— Não entendo... — Sayuri começa, mas eu a interrompo.

— Você se lembra que eles lutaram apenas com nós quatro? — eu começo a andar de um lado par ao outro, concentrado em meus próprios pensamentos. — Estavam os dez aqui, mas apenas três lutaram e apenas com a gente, eles não atacaram mais nenhum shinnobi. A intenção deles não era matar o Kazekage, ainda não pelo menos, mas por algum motivo acabou acontecendo.

— Sasuke, você acha que eles podem estar atrás de nós quatro? — Sayuri pergunta e eu percebo um tremor em sua voz.

— Algo me diz que sim, mas não sei. Não posso afirmar nada — digo, apertando a ponta do meu nariz e me sentindo derrotado.

— Mas eu acho que sei como descobrir — ela me encara.

—x—

Eu sigo Sayuri para fora da Vila da Areia, por toda aquela areia do lado de fora e por um caminho que eu começo a acreditar que nos levará de volta para Konoha, pois é mais longo do que eu poderia esperar. Não faço a menor ideia de para onde ela está me levando e, apesar de achar que ela vai acabar nos metendo em alguma confusão, mas confio nela e a sigo de qualquer jeito.

Nós caminhamos por um tempo indeterminado até que me vejo em frente a uma grande construção. Demoro um tempo para perceber onde estamos e esse é o tempo que Sayuri leva para deixar os dois shinnobis que guardam os portões da frente desacordados. Eu ergo uma sobrancelha para ela quando vejo os dois homens caídos aos seus pés e ela apenas dá de ombros, como se isso fosse apenas mais uma atividade do dia a dia.

— O que nós viemos fazer aqui na prisão da vila? — pergunto, seguindo-a para dentro da construção.

Eu a ajudo a abrir os portões, que são bem pesados, e nós entramos no prédio. Assim como todas as construções de Sunagakure, essa é bem rústica, feita de areia, mas quando toco nas paredes percebo que elas têm selos que tornam a estrutura impenetrável, pelo menos para a maioria dos shinnobis. 

— Fiquei sabendo que aquela menina, Shion, está presa aqui — Sayuri me responde. — Vamos tirar algumas informações dela antes de voltamos para Konoha.

Sayuri provavelmente vai querer torturá-la e, apesar de não me achar em condições de usar muito chakra, sei que é uma boa ideia e não hesito em segui-la pelo corredor. 

Os corredores aqui são bem amplos, com várias salas, a maioria vazia. Bem diferente de Konoha que deve estar com a prisão abarrotada de ninjas. Aqui na Areia, a prisão é bem assustadora, tão silenciosa assim, mas nós seguimos caminhando sem hesitar. Em algum momento, Sayuri ativa seu kekkei genkai herdado da família de sua mãe para rastrear a prisioneira. Eu ando quando ela anda, corro quando ela corre, até chegarmos à uma porta mais larga que as outras. 

Sayuri e eu trocamos um olhar e eu entendo que a menina está atrás dessa porta. Tomo a frente e giro a maçaneta, a porta se abre com facilidade, o que é bem estranho, considerando que isso aqui é uma prisão, mas agradeço pela facilidade. Quanto menos trabalho isso aqui nos der, melhor. 

Do lado de dentro, há apenas uma sala ampla e vazia. Pregado nas paredes, há argolas de ferro que sustentam correntes bem grossas. Correntes essas que estão presas aos pulsos e tornozelos de Shion. A menina está um lixo. Bem machucada fisicamente, com vários pontos ainda sangrando e um olho roxo. Aparentemente, Gaara pegou bem pesado com ela. Mais uma vez, Sayuri e eu trocamos um olhar e, antes que a gente consiga se aproximar, escutamos uma risada, que vai aumentando gradualmente. A risada é de Shion e ela parece uma louca quando ergue a cabeça e nos encara.

 — Sasuke! Sayuri! — diz, parecendo bem animada em nos ver. — Que surpresa! Admito que estava esperando Gaara ou até mesmo aquela Senju vindo se vingar do beijo que eu dei no filho do Kazekage — ela ri de novo. — Mas vocês dois? Não. O que traz vocês aqui? 

— Viemos fazer algumas perguntas — digo, desembainhando a minha espada e apontando para ela. — E queremos respostas para elas. 

Shion joga a cabeça para trás, rindo insanamente. Ela fica de pé com dificuldade, sua roupa ninja está toda rasgada e ensanguentada e o headband que usava não está mais em sua cabeça. Ela caminha na minha direção, chegando até o ponto em que as correntes permitem, e estica a mão, como se fosse tocar em meu rosto. Seus olhos lilases estão com um brilho maníaco. 

— Sempre ouvi falar que os Uchihas eram tão lindos — ela diz, olhando em meus olhos. —, mas nunca imaginei que fosse realmente verdade. 

Antes que eu responda algo, Sayuri toma a frente, se aproximando de Shion, se inclina para o lado e ergue uma perna. O que acontece depois me pegar um pouco de surpresa: Sayuri chuta Shion com chakra acumulado no pé e a menina bate na parede na qual estava encostada quando entramos, quebrando a mesma e deixando o contorno de seu corpo ali. Ela cospe sangue e cai sentada no chão, sorrindo. 

— Se você matá-la, não teremos como perguntar nada — digo a Sayuri quando ela se recompõe. 

— Se ela continuar com essa merda, um chute vai ser bem pouco para o que ela vai receber — Sayuri pega sua kunai e se aproxima da menina que está limpando o canto da boca com as costas da mão. Ela se agacha na frente de Shion e ergue a cabeça da mesma com a ponta da kunai encostada em seu queixo. — É o seguinte, garota, precisamos de informações e você vai nos dar isso. Por bem ou por mal. 

Eu penso que agora Shion vai colaborar com a gente e responder tudo de livre e espontânea vontade, mas estou enganado. Ela encara Sayuri com um ar divertido e acaba cuspindo nela; por pouco não atinge o rosto de Sayuri. O cuspe vai parar no chão e, até o momento, acho que nunca vi Sayuri com tanta raiva quanto ela fica depois desse gesto da loira a sua frente.

Antes que eu tenha tempo de intervir entre elas, Sayuri fica de pé, pega a mão da menina e a encosta na parede atrás dela, cravando a lâmina de sua kunai na palma de Shion. A ninja da Areia grita a plenos pulmões enquanto o sangue começa a escorrer de sua mão para seu braço. Os olhos dela ficam injetados e ela encara Sayuri com tanto ódio que, se ela tivesse presa, com certeza teria ido com tudo para cima dela.

  — Já chega dessa merda — Sayuri diz, ficando de pé e se afastando de Shion que ainda fica com a mão pregada na parede.

Sayuri se afasta um pouco, mas continua de frente para a loira. Ela começa afazer alguns sinais de mãos, sem quebrar o contato visual com Shion, e eu percebo que seu mangekyou sharingan foi ativado. Nem preciso ver os sinais de mão até o final para saber o que Sayuri pretende fazer. Ela está criando um jutsu de ilusão. É a Técnica Tsukuyomi, porém em uma escala bem simples, para apenas uma vítima.

Assim que ela ativa o jutsu, nós três somos colocados dentro dele. Já estou mais que acostumado com o “mundo” que esse jutsu cria para o usuário e por isso não me surpreendo com o fato de estarmos todos com umas cores estranhas, mistura de preto e vermelho. A nossa frente, Shion está pendurada em uma cruz, mãos e pés presos. Ela grita, xinga, mas Sayuri parece completamente alheia a tudo isso, apenas troca um olhar comigo e entendo sua intenção. Ela vai torturar Shion dentro do jutsu até que a menina fale o que a gente quer saber. Dou espaço para que Sayuri fique a vontade.

— Está vendo isso aqui? — Sayuri pergunta a Shion, mostrando uma estaca de madeira. — Vai entrar no seu corpo se você não colaborar.

— Você acha que eu não sei que isso aqui é um jutsu de ilusão, sua desgraçada?! — Shion cospe as palavras.

— Não sei — Sayuri diz, pensativa, e aponta a estaca de madeira para Shion, a soltando. O objeto voa na direção da loira como se ela fosse um imã, se alojando em seu ombro. Shion grita. — A dor parece bem real para mim.

— Vai se foder! — Shion vocifera, com os dentes trincados.

— Claro — Sayuri diz. — Mas antes, uma pergunta: por que vocês vieram até aqui?

Todos nós sabemos que Sayuri está se referindo a Doragon, mas Shion não responde. Ela continua encarando Sayuri com muita raiva e se recusa a responder. Ao meu lado, Sayuri suspira e solta mais uma estaca. Shion grita quando o objeto perfura sua coxa. Ela começa a chorar; a cena seria comovente se não soubéssemos que se fossemos nós no lugar de Shion ela faria pior. Sayuri solta mais uma estaca, que perfura o braço da menina, e está pronta para soltar a terceira quando Shion cede. Eu sorrio, mentes fracas sempre cedem bem fácil.

— A Doragon queria estudar vocês — ela diz, por fim, a voz tão fraca que é quase um sussurro. Sayuri e eu trocamos um olhar.

— Vocês quem? — pergunto.

— Vocês dois, Gaara e a menina Senju — ela diz, um fio de sangue escorre de sua boca até o queixo.

— Não estão atrás apenas de Akemi, por causa do irmão dela? — Sayuri pergunta.

Shion ri alto, jogando a cabeça para trás tanto quanto é possível, e encara nós dois.

— Vocês acham mesmo que os nossos planos se resumem a uma Senju idiota? — ela pergunta, sarcástica, e Sayuri solta mais uma estaca. Essa perfura a lateral do abdômen dela. A menina grita.

Não sei se Sayuri fez isso para defender Akemi ou apenas porque é sádica mesmo.

— Por que nós quatro? — Sayuri pergunta. — Que plano é esse?

— Não sei — Shion responde. Sayuri aponta mais uma ataca para ela, mas a menina se precipita. — Eu juro! Não sei mesmo. Hazuki ainda não havia compartilhado os planos dele com a gente, apenas a parte de que precisamos de vocês quatro.

Sayuri e eu trocamos um olhar. Não sabemos dizer se ela está falando a verdade ou não, mas não temos tempo para descobrir. Se algum shinnobi resolver vir até aqui, irá ver os dois guardas desmaiados lá na frente e se nos encontrarem aqui dentro estaremos bem ferrados.

— O que vocês pretendem fazer agora, depois desse showzinho que vocês deram aqui na Areia? — Sayuri pergunta.

— Hazuki não entrou em detalhes, disse que íamos nos separar, em duplas — a cabeça de Shion pende para frente. Ela está perdendo a consciência. Sayuri solta mais uma estaca e a menina acorda com a dor, sentindo mais sangue escorrer.

— Continua — Sayuri diz, bem séria. — Ou você vai sofrer ainda mais.

— Vocês não vão conseguir nada com isso — Shion diz.

— Vamos conseguir o suficiente — Sayuri rebate. — Continua falando ou a próxima estaca vai ser no seu coração.

— Ele disse que cada dupla iria para uma vila. Vila Oculta da Cacheira, Vila Oculta da Lua, Vila Oculta da Pedra, Vila Oculta da Nuvem e Vila Oculta da Névoa.

Ao meu lado, Sayuri estremece ao ouvir o nome da Vila da Névoa.

— Quando? — Sayuri parece mais impaciente agora. — Quando vocês vão se dividir assim? Por quê?

Ao longe, nós escutamos vozes. Sei que o nosso tempo acabou aqui, mas Sayuri ainda parece muito determinada a continuar o interrogatório e torturar Shion até que consiga extrair a última gota de informação. Mas não temos tempo, as vozes se aproximam mais a cada segundo.

— Temos que ir — digo, segurando o braço de Sayuri.

— Não, ela tem que responder! — Sayuri tenta se soltar do meu braço, mas eu a seguro com força. — É a minha família, Sasuke!

— Eu sei, mas você não vai conseguir protegê-los estando presa aqui com ela, que é o que vai acontecer se aqueles shinnobis nos encontrarem nessa sala.

Sayuri me encara. Eu percebo o medo em seus olhos, o tremor em seu lábio inferior, a vontade de continuar indo em frente, mas ela sabe que estou certo. Ela cede e eu a solto.

O jutsu é quebrado e, a nossa frente, Shion está desmaiada e sem nenhum ferimento a mais no corpo além do que a kunai de Sayuri fez. Sayuri puxa a kunai da mão da menina e nós saímos da sala o mais rápido que conseguimos.

Os corredores agora parecem um labirinto e Sayuri não está mais tão concentrada em sair daqui como estava em entrar. Sei que na cabeça dela só as palavras de Shion têm espaço, o fato de que vão provavelmente invadir a Vila da Névoa. Provavelmente vão tentar matar o clã dela, os Dobutsu,  por ser o mais forte da vila.

Nós dobramos em um corredor e eu escuto passos vindo em nossa direção. Puxo Sayuri para dentro de um vão que há entre duas paredes e nos escondo nas sombras. Sinto a cabeça de Sayuri encostar em meu peito, ela está tremendo um pouco.

— Preciso avisar minha mãe — ela diz, baixinho, contra minha blusa. — Preciso estar com eles, preciso...

Eu a interrompo, segurando o rosto dela com as minhas duas mãos. Eu a faço olhar para mim e quando nossos olhares se encontram, eu me assusto com o que vejo em seu rosto.

Há um rastro em cada bochecha de Sayuri, vermelhos como se ela tivesse chorado sangue. Seus olhos verdes estão vermelhos e ela franze o senho para mim, como se algo estivesse errado, mas uma ideia sobre o que ainda não tivesse se formado em sua cabeça. 

— Você vai fazer tudo isso, mas antes precisamos sair daqui — digo, tentando não fazê-la perceber que aconteceu com ela o mesmo que aconteceu comigo. 

— Não estou enxergando — ela diz, primeiro baixo, depois sua voz aumenta uma oitava e ela se afasta. — Não estou conseguindo enxergar, Sasuke! 

Ela começa a andar de um lado para o outro, inquieta e ansiosa. Imagino que sua visão esteja tão embaçada quanto a minha havia ficado. Escuto mais passos se aproximando. Sem saber o que fazer, eu a puxo para mim, segurando seu rosto novamente e limpando suas bochechas. 

— Silêncio! — digo, baixinho. 

Eu a seguro contra meu peito, encostando suas costas na parede. Sayuri fica quieta. Os passos chegam até nós junto com vozes irritadas, e se afastam, sem nos perceber, sumindo no corredor. Meu corpo relaxa e eu me afasto de Sayuri alguns centímetros. 

Ela pisca uma, duas vezes, depois fecha os olhos e leva os dedos até eles como se estivesse sentindo dor de cabeça. Continuo calado até ela abri-los de novo e me encarar como se agora estivesse me enxergando novamente. 

— Eu… — ela diz, confusa. — Minha visão… 

Por um momento, sinto vontade beijá-la, mas sei que preciso me concentrar. Eu coloco minha cabeça para fora do esconderijo, dando uma espiada para ver se ainda tem mais alguém por ali. Aparentemente está tudo vazio e eu não escuto mais vozes ou barulhos de passos, o que quer dizer que eles estão longe.

— Precisamos sair daqui — digo.

Eu viro um pouco o rosto por cima do meu ombro e olho para Sayuri pelo canto do olho. Ela me encara de volta e eu dou um sorriso de canto.

— Você realmente é irritante, Sayuri — digo. — Fica fazendo a maior cena por besteira.

A expressão dela passa de confusão a raiva e ela passa por mim, esbarrando o ombro no meu. Internamente, me sinto aliviado que ela tenha conseguido enxergar novamente igual a mim. 

— Vai se foder — ela diz.

Ela sai andando e eu caminho atrás, ignorando o comentário e me sentindo vitorioso por ter conseguido o que eu queria. Que ela deixasse a ansiedade de lado e se concentrasse no agora. Nada melhor que fazer isso sentindo raiva de mim, como sempre.

Nós corremos para a saída, dobramos em mais alguns corredores e conseguimos refazer os mesmos passos que fizemos para entrar aqui, saindo da prisão antes que alguém nos veja, mas do lado de fora somos surpreendidos quando mãos feitas de areia nos envolvem pela cintura e nos puxam com uma velocidade incrível para algum lugar que eu não consigo saber qual é, pois para onde eu olho só vejo borrões feitos de areia. Meu cérebro começa a pensar em alguma maneira de nos tirar dessa situação até que somos colocados calmamente no chão, em frente a duas pessoas. Gaara e Akemi.

Eles estão atrás da prisão. Gaara está com dois dedos em um olho, provavelmente usando aquele jutsu do terceiro olho. Ele estava nos vigiando? Quando o ruivo tira os dedos do olho, o jutsu dele se desfaz. Akemi nos olha com cara de preocupação.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Sayuri pergunta. — E que ideia foi essa de nos puxar com areia, Gaara? Quase morri de susto.

— Vamos sair daqui — Gaara diz, ignorando Sayuri. — Nós conversamos melhor lá na vila.

Sayuri e eu nos preparamos para correr, mas Akemi e Gaara sobem em um bloco de areia que flutua a alguns centímetros do chão. Os dois ficam nos encarando, como se fossemos idiotas, e apontam com a cabeça para outros dos blocos que são para a gente. Sayuri e eu trocamos um olhar, ela dá de ombro e nós subimos. Gaara nos põe em movimento e penso que é conveniente e menos demorado esse tipo de locomoção. Nós chegamos bem rápido na vila e subimos para o apartamento do Kazekage que está vazio, Gaara explica que seus irmãos estão trabalhando na segurança da vila. Eles estão com medo, depois de tudo o que aconteceu, e vão ajudar a reforçar a segurança.

Sayuri aproveita para se jogar no sofá e colocar os pés na mesa de centro. Ninguém fala nada.

— Então, o que vocês estavam fazendo lá? — Sayuri repete a pergunta. — Não que eu esteja reclamando porque foi muito bom não ter que vim correndo até aqui. Seu jutsu é ótimo, Gaara. Apareça mais vezes sem avisar.

O ruivo desviar o olhar de Sayuri, como se estivesse envergonhado. Ao lado dele, Akemi sorri, percebendo que ele ficou desse jeito porque não está acostumado com elogios, mas feliz por ele ter recebido um. Eu limpo a garganta, chamando os dois de volta para a realidade para que eles respondam a pergunta de Sayuri.

— Ah, nós vimos vocês pela janela do quarto de Gaara quando vocês estavam saindo da vila — Akemi diz.

— Você estava no quarto dele? — Sayuri ergue uma sobrancelha, maliciosa. Akemi cora, se dando conta do que disse, e eu reviro os olhos. Sayuri sempre tinha que se ligar em detalhes irrelevantes.

— E vocês nos seguiram — eu continuo, voltando ao que interessa. — Para verem o que íamos fazer.

— Sim — Gaara diz. — O que vocês foram fazer lá na prisão?

— Conversar com Shion — Sayuri muda de posição no sofá, ficando mais confortável. Conversar é um eufemismo para o que ela fez, mas decido não falar nada.

Durante alguns minutos, Sayuri relata aos dois o que Shion nos disse. Entre expressões de surpresa e assombro, os dois permanecem calados e escutam com atenção tudo o que Sayuri diz. Quando ela fala sobre as vilas, eu percebo um tremor na voz dela ao falar sobre a Névoa. No fim, Akemi é a primeira a falar.

 — O que será que eles querem com a gente? — ela junta as mãos e entrelaça os dedos, apertando com força. Está agora com tanto medo quanto Sayuri estava dentro da prisão. Meio sem jeito, Gaara coloca uma mão em cima das dela e Akemi acaba segurando a mão dele. Sayuri e eu escolhemos ignorar esse detalhe.

— Ela disse que não sabia — Sayuri diz. — Que o líder, Hazuki, não entrou em detalhes quanto a isso.

— Vamos dar um jeito — Gaara diz, mais para Akemi que para Sayuri e eu. Akemi balança a cabeça, concordando.

Depois de alguns segundos, Akemi pergunta se Sayuri e eu queremos comer algo, mas nos negamos. Precisamos ir dormir, ou pelo menos tentar, quando amanhecesse nós teríamos que ir embora o mais rápido possível. Talvez nem ficássemos até o final da nomeação de Gaara. Eu sabaia que Sayuri iria querer tudo isso o mais rápido possível a Kakashi.

Nós quatro nos despedimos então e Sayuri e eu seguimos para nossos respectivos quartos. Uma vez dentro do meu, não consigo acalmar minha mente para dormir. Penso na cegueira momentânea que tomou conta de mim e de Sayuri e me pergunto se isso tem algo relacionado ao nosso jutsu ocular e, se tiver, o que isso poderia dizer. Teríamos que parar de usá-los? Deixar de sermos ninjas, pois ficaríamos cegos? Essa ideia me deixa ainda mais inquieto, mas entre um pensamento e outro acabo pegando no sono sem perceber. Meu braço para de tremer pela primeira vez no dia.    


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