The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 3
Sayuri: um bom filho a casa torna.




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Se você que está lendo isso for mulher, vou lhe dar uma dica: nunca, nunca mesmo, tenha a ideia de dividir um apartamento com mais quatro pessoas – principalmente se essas quatro pessoas forem do sexo masculino e todos eles tiverem personalidades diferentes e muito difíceis.

Um dia, no auge dos meus belíssimos dezesseis anos, fiz amizade com quatro garotos que faziam parte dos Caçadores Anbu da Névoa e, voilà, tive a brilhante ideia de dividir um apartamento com eles. Posso dizer que me arrependo disso amargamente desde então.

No sábado acordo bem mais cedo que de costume. É o meu dia da semana preferido e o único no qual eu me atrevo a acordar cedo. Às cinco e meia da manhã já estou bem acordada e super disposta. Saio da cama e começo meus alongamentos matinais enquanto canto uma música qualquer. Tenho uma sensação boa para o dia de hoje e isso me deixa animada.

Assim que termino os meus exercícios vou para o banheiro. Tiro meu pijama, solto meus cabelos e me olho no espelho. Modéstia a parte, tenho um corpo excepcional e por cuidar bem dele não me faltam elogios. Mando um beijo para o meu próprio reflexo e vou para o box. Tomo um banho quente e bem demorado enquanto vejo, pela janela do banheiro, o sol começar a nascer no horizonte.

Quando fico satisfeita, enrolo-me em uma toalha e saio pingando para o quarto. Fecho a porta calmamente enquanto volto a cantarolar a música de minutos atrás. Começo a caminhar até o meu armário, mas me detenho quando vejo quem invadiu meu quarto e está tomando conta da minha cama como se fosse dono dela.

Laito.

Além de estar deitado nu no lugar que considero mais sagrado no mundo, ele ainda está o desvirtuando com aquele pênis em contato com os meus lençóis. Sinto meu sangue ferver e faço a cara mais ameaçadora que consigo. Mas o desgraçado apenas ri de mim como se eu tivesse contado algum tipo de piada.

— Bom dia, vadia — ele me manda a melhor versão da sua cara de safado. Ele vira de peito para cima, escondendo sua bunda e me dando uma visão bem clara de suas partes íntimas. — Estava te esperando. Você demorou muito aí dentro — ele faz um biquinho que teria me deixado caindo aos seus pés se eu já não estivesse bem vacinada contra isso.

— Só tenho uma pergunta — volto a andar até meu armário. — O que você tem na cabeça pra deitar na minha cama como se ela fosse sua e ainda por cima sem roupa?

— Pensei que você fosse gostar — eu o escuto sair da cama, segundos depois sinto seus braços envolvendo-me pela cintura. — Você gostava antes.

Viro-me de frente para ele e vejo em seus olhos que ele está cheio de expectativas. Aperto suas bochechas com a minha mão, formando um biquinho em seus lábios, e chego bem perto de sua boca.

— Sim, antes. Passado — o empurro levemente para longe. Ele dá uma risadinha, pois sabe que eu não estou sendo totalmente sincera. — Pega essas roupas aí e dá o fora. Preciso me arrumar e, até onde sei, você também. Ou o Mizukage vai querer matar a gente se chegarmos atrasados.

— Você é uma chata às vezes — ele diz, vestindo a cueca.

— E você é um ninfomaníaco, mas eu não saio por aí dizendo, não é mesmo?

Antes de sair do quarto Laito dá um tapa tão forte em minha bunda que provavelmente vai acabar deixando uma marca vermelha mais tarde. Jogo um sapato nele, mas a porta se fecha antes que acerte. Resmungo alguns palavrões enquanto visto meu uniforme. Pego minha capa e minha máscara Anbu antes de deixar o quarto.

Do lado de fora tenho a visão do inferno. O apartamento está literalmente virado de cabeça para baixo. Tem sacos de batatinhas e embalagens de lámen espalhados pela sala de estar, a cozinha parece que foi invadida por um meteoro e tem roupa em todos os cantos visíveis. Vou me esquivando de toda a sujeira e roupa suja até chegar à cozinha. Sento-me na única cadeira que ainda está limpa e começo a calçar minhas sandálias ninja. Dou uma espiada no sofá da sala e vejo pés descalços apoiados no braço do móvel. Não preciso pensar muito para saber de quem são aqueles pés. Levanto-me e vou até o individuo.

— Ei — cutuco Shu com bastante força, ele nem se mexe. — Ei, Shu! — dou um tapa em seu rosto e ele acorda com um sobressalto.

— Mas o que... — ele esfrega os olhos para espantar o sono e se dá conta da minha presença. — Caramba, Sayuri. Por que você me bateu? Tá doida?

— Hum, não. O que é bem surpreendente já que eu moro com quatro malucos — ele me lança um olhar ferino. — Levanta essa bunda branca daí e vai chamar o Ayato antes que eu entre lá e jogue ele pela janela. 

— Por que eu tenho que acordar ele? Manda o Laito ou vai você.

— Olha aqui, Shu — eu aperto suas bochechas do mesmo jeito que apertei as de Laito. — Eu tive que acordar com aquele tarado do Laito enfiado na minha cama com o penduricalho dele balançando bem na minha cara. Hoje eu não estou para gracinha, tá entendendo? Levanta logo daí e vai chamar o Ayato.

— Tá bom, tá bom — ele se solta de mim e levanta, indo na direção do quarto de Ayato. — Mas é você quem vai ter que acordar o Subaru. Aquele ali é a encarnação do capeta de manhã, eu não entro naquele quarto nem amarrado.

Lanço um olhar cortante para a porta do quarto de Subaru. Não posso acreditar que esse garoto ainda não acordou. Na verdade, nem sei porque estou surpresa. É claro que ele ainda não acordou. Isso é bem nítido pelo estado em que se encontra o apartamento. Logo que nos mudamos para cá, dividimos algumas tarefas entre nós cinco. Ayato é responsável pela roupa suja, Shu é responsável pela limpeza dos banheiros, Laito é responsável pela limpeza dos quartos, eu sou responsável pela alimentação e Subaru é responsável pela limpeza do resto do apartamento (sala de estar, cozinha e sacada). Com toda essa bagunça da pra ver que ele não limpa o apartamento desde ontem quando os quatro decidiram chegar tarde e fazer uma festinha enquanto eu tentava dormir.

No momento em que giro a maçaneta da porta do quarto de Subaru sinto minha barriga roncar. Eu devia estar fazendo o café da manhã, mas a cozinha está uma imundice e vou esfaquear Subaru se ele não limpar aquilo em dez minutos. Adentro o quarto e percebo que, por mais bagunçado que esteja, ele já acordou há algum tempo. Dou uma olhada pelo local e encontro meu amigo olhando pela janela. Subaru está sério e de braços cruzados, conheço-o bem o suficiente para saber que ele só fica com essa expressão quando algo sério está acontecendo. Caminho até ele calmamente.

— Tudo bem por aqui? — pergunto, parando em sua frente. Subaru tira os olhos da janela para me encarar.

— Olhe aquilo ali — ele aponta para fora da janela, ignorando minha pergunta. Sigo seu dedo indicador com os olhos e me assusto com o que vejo.

Taigā — sussurro.

Minha gatinha está andando calmamente pelo telhado de uma casa, mas não é sua presença que me assusta e sim o que está preso em uma de suas patinhas. Em poucos minutos, ela dá um salto e entra pela janela do quarto de Subaru. Faço carinho em seu pelo macio e brilhante e tiro o que ela traz na pata.

É um recado vindo diretamente do Mizukage. Meu coração dá um salto em meu peito e percebo que começo a ficar nervosa. Será que algo ruim está acontecendo? Afasto-me da janela e sento na cama de Subaru, segundos depois ele já está ao meu lado.

— O que você acha que é? — ele pergunta. Sei que está me encarando, mas não consigo tirar os olhos do papel para encará-lo de volta.

— Só vamos saber quando for aberto.

Respiro fundo e desenrolo o papel. Subaru tenta vir mais para perto de mim na tentativa de conseguir ler, mas sou mais rápida e assim que termino de ler o que está escrito fico de pé imediatamente, assustando meu amigo.

— Sayuri? — ele me olha com preocupação. Sei que estou com uma expressão assustada no rosto. — O que foi? O que você leu aí?

Não respondo. Sinto que meu coração está quase para sair pela boca. Não posso acreditar em meus próprios olhos. Será que li certo? Por que o Mizukage iria querer isso? Por quê?

Ignoro todas as perguntas de Subaru e saio como um raio de seu quarto, esbarrando em Ayato no meio do caminho. Ele resmunga alguns palavrões, mas eu apenas o ignoro. Shu e Laito perguntam algo, mas mal os escuto. Pego minha capa e minha máscara Anbu e saio pela janela. Não olho para trás.

A Vila Oculta da Névoa está incrivelmente nublada fazendo jus ao meu dia que está literalmente ruindo bem na minha frente. Os moradores da Vila da Névoa são bem reservados, eles falam apenas o necessário e só quando é realmente preciso. Eles nem teriam me notado pela rua se minha fama por aqui não fosse tão grande. Causo medo nas pessoas, sei disso, mas dessa vez não ligo. Podem pensar o que quiserem, eu só preciso chegar ao escritório do Mizukage o quanto antes.

Como esperado, ele está lá. Ignorando os pedidos de paciência dos Jounins, entro como um furacão em seu escritório, quase arrombando a porta. Eu estou em ótima forma, mas quando paro perto de sua mesa, percebo que estou ofegante e meu corpo inteiro treme. Se eu estou assim é por sua culpa, seu idiota prepotente, penso, imaginando o rosto daquele que por tanto tempo quis esquecer.

— Como você pôde?! — praticamente grito, batendo o papel que ele me mandara em sua mesa. — Me mandar de volta para aquele lugar. Você enlouqueceu?!

O Mizukage gira sua cadeira calmamente e fica de frente para mim. Ele parece calmo, sua expressão é pacifica. Isso me enche de raiva. Como ele pode estar tão calmo quando eu estou quase perdendo a cabeça? Bato minha outra mão em sua mesa.

— No que você estava pensando? — ele continua em silêncio, observando-me. — Diz alguma coisa, caramba!

Ele solta um suspiro longo e alto. Quero gritar e bater nele até a morte, mas me contenho. Apesar de tudo, ele é o Mizukage e eu sou líder dos Caçadores Especiais Anbu, não posso simplesmente matá-lo. O que isso faria de mim?

— Você está fazendo um estardalhaço por nada — ele junta as mãos em cima da mesa, entrelaçando os dedos.

Franzo o cenho e cerro os dentes. Um estardalhaço por nada? Ele pelo menos tem alguma ideia do que está fazendo?

— Por nada? Você sabe o que aconteceu comigo naquela aldeia e você está me mandando de volta pra lá!

— Ora, pare com isso, Sayuri! — ele fica de pé e parece tão nervoso quanto eu. — Não é como se você fosse voltar a morar lá. O Sexto Hokage pediu para que alguém fosse representar nossa aldeia e, sinto muito, mas em tempos como este precisamos manter todas as alianças possíveis. Entendeu?

— Argh! — afasto-me da mesa bruscamente. — E por que eu tenho que ir? Com tanta gente aqui, por que eu?

— Pelo amor de Deus, Sayuri! — ele bate os punhos na mesa. — Você é líder dos Caçadores Especiais Anbu! Quem pode estar mais capacitado para isto que você?

— Que droga! — digo, mais alto do que esperava. — O que vai ter lá, afinal de contas?

— Você sabe sobre a morte de Orochimaru, não é? — ele se senta novamente. Balanço a cabeça, concordando. — Então, a Aldeia da Folha está fazendo uma festividade para comemorar isso.

— Uma festividade? — franzo o cenho. — Por quê?

O Mizukage dá de ombros.                 

— É importante para eles — ele me encara. — É importante para nós também. Você sabe o quanto Orochimaru era perigoso.

— Minha mãe por acaso está sabendo desses seus planos? — pergunto.

— Bem, eu ainda vou conversar com ela. Você sabe como é, tenho muito trabalho por aqui e pouco tempo livre. 

— Hum — resmungo, cruzando os braços. — Tudo bem. Eu vou, mas vou levar mais quatro pessoas comigo.

Ele assente.

— Como você quiser. Agora vá pegar o que achar necessário, quero os cinco saindo em trinta minutos.

Saio do escritório do Mizukage e me escoro na parede. Fecho os olhos com força e tento recuperar o ar que escapara de meus pulmões. Eu não estou nem um pouco animada com isso. Ir para a Vila da Folha agora, depois de tantos anos e de tudo o que acontecera, é assinar meu atestado de óbito. Nunca pensei que colocaria os pés lá novamente ainda mais por causa de uma festividade idiota.

Abro os olhos. Eu sou mais forte agora do que era antes. Não vou deixar aquele imbecil acabar comigo. Ele não tem mais nenhuma influência em mim e há muito tempo deixei de ser guiada pelos meus sentimentos. Ergo a cabeça e volto a andar. Ele não significa mais nada pra mim, digo em meus próprios pensamentos.

Antes de voltar para o meu apartamento, encontro com Taigā. Entro em uma loja de bebidas e lá dentro, enquanto bebo um saquê, escrevo uma mensagem para minha mãe. Sei que não vou ter tempo para falar com ela, mas pelo menos vou deixá-la sabendo que estou deixando a vila agora.

“Mãe, estou indo para a Vila Oculta da Folha por ordem do Mizukage. Não se preocupe, eu vou ficar bem. Assim que chegar lá vou dar um jeito de entrar em contato com você. Cuide de Taigā para mim, por favor. Te amo" 

Amarro na patinha de Taigā, faço carinho em sua cabecinha e solto um suspiro enquanto vejo-a se afastar. Será que estou realmente fazendo a coisa certa? Será que vale mesmo a pena voltar para lá depois de tantos anos e depois de tudo o que aconteceu? Não saber as respostas para estas perguntas me enche de pavor.  

—x—

Antes de sair do apartamento, tiro meu uniforme Anbu e coloco meu uniforme ninja. Enquanto arrumo meu cabelo penso se seria uma boa ideia colocar minha antiga bandana, provavelmente sim. Amarro em minha coxa a bandana da Vila da Folha, que antes era meu lar. Solto um suspiro alto e tranco o apartamento, colocando minha máscara e capa Anbu. Penso que se vou passar por isso, tenho que ser forte.

É uma histeria coletiva quando conto aos quatro que eles vão comigo até a Vila Oculta da Folha. Laito é o que mais fica animado, pois logo pensa que vai ter mais um milhão de garotas aos seus pés, como é aqui na nossa vila. Não posso deixar de dar um tapa bem em sua cabeça. Como ele consegue só pensar em sexo? Me pergunto como é possível uma pessoa ser assim, mas, na verdade, não me sinto nem um pouco animada para ter essa resposta.

Seguindo as ordens do Mizukage, partimos em meia hora. Não posso acreditar que aquele cara nem sequer nos ofereceu um meio de transporte decente. Temos que ir pelas árvores, pulando de uma para outra, como fazemos em treinamentos e missões. Em um certo momento, paramos para descansar. Laito, Shu e Ayato sentam em um galho de árvore e discutem sobre algo que não estou nem um pouco interessada em saber. Vou para o chão com a desculpa de sondar o terreno por baixo, ver se não estamos sendo seguidos ou algo do tipo, mas na verdade quero apenas um momento para pensar na merda que estou fazendo. Sou surpreendida por Subaru segundos depois.

— Você está bem? — ele pergunta, colocando a mão em meu ombro.

— Por que não estaria? — sento-me no chão. Por algum motivo sinto-me exausta.

— Bem, talvez porque estamos indo para a Vila da Folha e lá está o... — eu o interrompo.

— Não fale o nome dele! — digo alto, assustando Subaru e chamando a atenção dos outros três. — Desculpe — abaixo a cabeça. — Só não fale.

— Tudo bem — ele responde. — Vamos continuar. Assim que chegarmos às docas, teremos que pegar um barco para atravessarmos. 

Balanço a cabeça, concordando. O País da água é uma ilha, cercada de água por todos os lados, então não temos outra maneira de atravessar para o País do Fogo se não de barco. É bem fácil conseguir um meio de transporte e a travessia é mais rápida do que eu esperava. O que demora mesmo é quando chegamos ao País do Fogo, pois a Vila Oculta da Folha fica mais longe do que eu me lembrava. Em algum momento da viagem, começo a me perguntar se chegaremos a tempo. 

Infelizmente, algumas horas depois o portão de entrada da Vila da Folha entra em meu campo de visão. Por um momento não consigo mais continuar, minhas pernas simplesmente travam e caio de joelhos. Sinto todo o cansaço da viagem em meu corpo. Eu começo a tremer mais do que o normal e respirar se torna um pouco difícil. Eu não devia ter vindo, este lugar traz tantas lembranças ruins que nem consigo pensar direito.

— Sayuri? — escuto a voz de Shu e vejo que os quatro estão ao meu redor. — Se isso aqui for demais pra você, nós podemos voltar. Tenho certeza que o Mizukage vai entender.

— Não! — Laito me ajuda a ficar de pé. — Não. Vamos em frente. Eu estou bem, só um pouco cansada.

— Mas... — Shu tenta falar alguma coisa, mas ele para quando coloco uma de minhas mãos gentilmente em seu rosto. Sorrindo, digo a ele:

— Eu estou bem, Shu. De verdade — faço contato visual com todos eles agora. — Obrigada pela preocupação de todos vocês, mas eu estou bem. Vamos logo acabar com isso.

Mesmo hesitantes, eles fazem o que digo e nós continuamos avançando até a Vila da Folha. Aparentemente somos os últimos a chegar e vejo que todos já estão entediados de tanto esperar. Dou de ombros mentalmente, não é como se a Névoa ficasse a 15 minutos de distância da Folha.

Nós quatro descemos das árvores e seguimos a pouca distância à pé. Dou uma boa olhada em todos que estão a nossa espera. Nem um sinal dele. Ótimo. Meus olhos param no Hokage que está de pé bem na minha frente. Um sorriso aparece em meu rosto por trás da máscara.

— O ninja que copia — o cumprimento quando estamos frente a frente. — Já faz um tempo.

— O Tigre da Névoa — ele diz, com um sorrisinho. — Sim, já faz um tempo.

Sinto algo dentro de mim se agitar. Algo bom. Não sabia o quanto tinha sentido tanta falta de Kakashi até agora. Queria poder abraçá-lo, mas sei que, sendo Hokage, ele precisa manter certas aparências, e o que quero fazer com ele agora não ia ser muito bem visto. Sorrindo, abro a boca para falar mais uma coisa, porém algo me chama a atenção. É uma pessoa. Uma Caçadora Anbu – a líder pra ser mais precisa, assim como eu. Sei que é uma mulher, pois posso distinguir as curvas femininas escondidas atrás de sua capa branca. Porém, não é o fato dela ser mulher ou líder que me chama atenção e sim a máscara que ela está usando. É a máscara que Kakashi usava quando era um Caçador Anbu.

Cerro os punhos. Então quer dizer que ele já arrumou outra e deu a máscara pra ela? Sinto vontade de avançar na garota, mas não o faço. Não posso perder a cabeça assim. Tenho que manter a postura. Dois Caçadores Anbu nos escoltam até o lugar reservado, mas no meio do caminho me afasto deles. Por sorte, ninguém percebe meu súbito desaparecimento.

Andar pela Vila da Folha, me traz uma série de lembranças e a nostalgia não me faz nem um pouco bem. São lembranças que lutei tanto para esquecer e agora estão voltando com força total. Sinto meu corpo começar a tremer e começo a me arrepender de ter saído de perto do meu grupo. E se eu encontrar com ele sem querer? Sei que ele deve estar aqui em algum lugar.

Em algum momento da caminhada, passo por baixo de alguns prédios, paro para pedir uma informação e, por algum motivo, me sinto tentada a olhar para cima. Quando levanta a cabeça e olho, percebo que é o maior erro que eu poderia cometer. Vejo na sacada de um dos apartamentos que alguém me olha de volta. É Sasuke. Ele me olha com certa curiosidade e, vê-lo ali em cima, a apenas alguns metros de distância de mim, depois de tantos anos, me deixa apavorada. Não posso deixar isso me afetar, digo a mim mesma, não posso deixa-lo me afetar. Por isso, faço a única coisa lógica neste momento: abaixo a cabeça, quebrando o contato visual, e apresso meus passos para o mais longe possível dali. Enquanto ando, rezo silenciosamente para que ele não tenha me reconhecido.

—x—

O escritório do Hokage ainda continua do jeito que me lembro. Kakashi não mudou quase nada de lugar, apenas adicionou uma foto de quando ele treinava Naruto, Sasuke e eu. Seguro o quadro entre os dedos e o observo mais de perto. Era uma época fácil, onde eu pensava ser feliz e meu único problema era aprender o novo jutsu que Kakashi ensinaria.

Deixo o quadro no lugar e, com um suspiro, sento-me na cadeira do Hokage. Não me interessa se isso é proibido, ninguém está aqui para me ver mesmo. E tenho certeza que quando Kakashi aparecer, ele não vai se importar. Viro-me de frente para as grandes janelas e tenho uma vista bem ampla da vila que eu costumava chamar de lar. Sinto meus olhos arderem, mas não me permito chorar.

Antes que eu me torne um pouco mais sentimental, escuto a porta sendo aberta e, segundos depois, sendo fechada. Viro-me de frente para a pessoa e me deparo com Kakashi. Ele tira o chapéu que completa a roupa do Hokage e abaixa a máscara que usa para cobrir uma parte de seu rosto, parece cansado, mas ainda está incrivelmente bonito. Ele levanta o rosto, dando de cara comigo.

— Que surpresa — ele diz.

— Quem é aquela garota usando sua máscara Anbu? — vou direto ao ponto. Odeio rodeios.

A risada de Kakashi quebra o silêncio da sala e eu me pergunto por que ele está rindo. Até onde sei não me lembro de ter contado uma piada.

— Você veio até aqui para me perguntar isso? — ele me encara.

— Quem é ela, Kakashi? — fico de pé. — Uma das suas vadiazinhas?

Ele ri novamente. Minha raiva só cresce.

— Responde!

— Nossa, Sayuri. Que estresse — ele se aproxima de mim. — O nome dela é Akemi, não é nenhuma vadia e não é minha. A máscara era para ser sua, mas até onde me lembro você foi embora da aldeia antes que eu pudesse lhe dar.

— A garota não é sua? — ergo uma sobrancelha.

Kakashi é bem ágil com suas mãos e antes mesmo que eu consiga perceber, ele tira a minha máscara Anbu. Fico surpresa, mas não demonstro. Sua mão, quente e forte, vai parar em meu rosto. Ele acaricia minha bochecha gentilmente e sinto um calor percorrer todo o meu corpo.

— É claro que não.

E ele me beija antes que eu possa dizer qualquer coisa. A surpresa me faz querer empurrá-lo para longe, mas em poucos segundos esqueço isso e começo a retribuir o beijo. Seus lábios ainda continuam macios do jeito que eu me lembrava, suas mãos me seguram pela cintura de uma maneira que faz eu me sentir segura. Eu quero poder parar o tempo e continuar com ele, mas sei que isso é impossível, então apenas aproveito enquanto posso.

Abro minha boca, dando passagem para sua língua, e levo minhas mãos até sua nuca. Arranho-o naquele local e o sinto estremecer. Isso me faz rir mentalmente, pois ele ainda tem as mesmas velhas sensações de antes. Quando o beijo acaba, sinto meus lábios latejarem e sei que estão vermelhos e muito provavelmente inchados.

— É um ótimo jeito de dizer “seja bem vinda” — digo, sorrindo.

— Você sabe que é sempre bem vinda aqui — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

Abaixo os olhos. Kakashi percebe meu desconforto e me sinto grata quando ele muda de assunto.

— O que você acha de nos encontrarmos mais tarde? — ele levanta meu rosto.

— Pensei que nós não poderíamos ser vistos juntos.

— Quem disse que vai ser em um local público? — ele dá a sua melhor versão de um sorriso safado.

— Hum... — coloco minhas mãos em sua nuca e entro em seu joguinho. — O que você tem em mente?

— Me encontre às onze horas no meu apartamento, você ainda lembra onde é?

Balanço a cabeça, concordando.

— Você vai ver o que tenho em mente quando chegar lá.

Jogo a cabeça para trás, rindo, e dou um selinho nele.

— Tudo bem então — pisco para ele, me afastando. — Tenho que ir agora, se alguém me encontrar nos braços do Hokage vai ser um escândalo.   

— Como se você não gostasse de um bom escândalo.

Saio do escritório rindo e desço as escadas colocando minha máscara. No meio do caminho encontro com Shikamaru. Ele franze o cenho quando me vê, sei que não me reconhece, mas aceno para ele mesmo assim. Passamos direto um pelo outro e no final da escada vejo algo surpreendente.

Kiba está me esperando. Ele sorri quando me vê.

— Nossa, você cresceu. Lembro que até o Akamaru conseguia ser maior que você — ele diz.

— Ah, cala a boca — dou um tapinha em seu ombro. — Não exagera.

Ele ri. Kiba segura minha mão e me puxa para um abraço. No momento em que ele coloca a cabeça na curva do meu pescoço e sinto sua respiração, meu corpo inteiro se arrepia.

— Senti sua falta — ele diz.

— Eu também senti sua falta — aperto-o mais em meus braços.

No momento em que abro os olhos, me arrependo. Vejo Sasuke parado ali, encarando-me. Sinto meu corpo voltar a tremer e toda a felicidade que eu estava sentindo momentos atrás se dissipa. Qual é a desse cara? Está me seguindo por acaso? Será que eu não posso ter um pouco de paz só por uns minutinhos?

Seus olhos escuros fitam os meus com uma intensidade que me faz querer correr para bem longe. Ele não pode me reconhecer, se isso acontecer tudo estará acabado. Não, ele tem que continuar pensando que morri, talvez assim ele possa continuar morto para mim também.

— Será que você pode me tirar daqui? — sussurro no ouvido de Kiba.

Não preciso pedir duas vezes. Antes que eu perceba ele já está me puxando para longe. Para longe de Sasuke e consequentemente para longe do meu passado. É isso aí, Sayuri, digo em meus pensamentos. Mantenha distância, ele não poderá lhe atingir desta vez. Eu ainda não sabia o quanto estava enganada.


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