The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 28
Akemi: toda verdade que esconderam de nós e todas as mentiras que nos afastou.




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Eu tive que sair o mais rápido possível do quarto de Sayuri, pois ela ficar falando de Gaara só me lembrava do quanto eu precisava falar com ele sobre tudo o que Rasa me disse antes de morrer, mas, como sempre, eu estava o evitando. Se me perguntassem o porquê, eu não saberia dizer. Do que eu tenho tanto medo, afinal? Eu não estou mais com Neji, Chiyo e Rasa já haviam me contado coisas que eu nunca poderia ter descoberto sozinha. Rasa havia morrido por mim. Talvez seja por isso. talvez eu esteja com medo de encarar Gaara porque, mesmo indiretamente, matei seu pai. E dizer que eu estou me sentindo horrível é pouco para o que eu realmente estou sentindo.

Mas eu sei que tenho que falar com ele e sei que preciso dizer tudo o que me foi contado. Afinal, não foram coisas que afetaram apenas a mim. Ele tem o direito de saber tudo também: todas as verdades que esconderam de nós e todas as mentiras que nos afastou.

Eu acabo saindo do hospital da vila e caminho até o prédio do Kazekage que agora está com um entra e sai de pessoas. Muitos me olham torto, de canto de olho, como se eu fosse a pessoa mais indesejada a pisar na Vila da Areia e, de certa forma, eu sou mesmo, considerando que foi o meu irmão quem matou o Kazekage. Mas eu apenas ignoro todas essas pessoas e entro no prédio, com o coração palpitando no peito.

Eu subo alguns lances de escada e acabo parando em frente a porta do apartamento do Kazekage. A porta está entreaberta e eu imagino que seja porque a vida dos filhos do Kazekage está uma loucura, correndo para lá e para cá, organizando enterro e tendo que lidar com a morte do pai. Tremendo, eu seguro a maçaneta e abro a porta, entrando na casa de Gaara. Tudo está tão silencioso que eu acredito poder ouvir as batidas do meu coração e o som da minha respiração.

Não vejo Kankuro e Temari em lugar algum, talvez esteja em outro lugar. O que é bom, não gostaria de encará-los agora. Quando eu saio para a sacada do apartamento, um vento frio passa cortando por mim. Pode parecer impossível, mas no deserto as temperaturas ficam lá embaixo quando anoitece e, por ainda estar no início do amanhecer, ainda está bem frio. O apartamento do Kage é no último andar do prédio então dá para ter uma boa visão da Vila daqui e, ao longe, eu vejo o sol subindo bem lentamente no horizonte, clareando o céu com tons pastel.

Encontro Gaara de pé, no canto da sacada. Ele nem parece perceber minha presença, está olhando para frente, para algo que não consigo enxergar. Seu semblante está sério e o vento balança seus cabelos e a cauda de seu casaco. Ele ainda está sem a cabaça de areia nas costas. Eu fecho a porta de correr com cuidado atrás de mim e me aproximo devagar dele.

— Gaara? — chamo.

No momento em que ele vira na minha direção e os olhos dele encontram os meus, a expressão dele muda completamente. De sério, ele passa a preocupado e vem tão rápido na minha direção que eu mal tenho tempo de compreender o que ele vai fazer até o momento em que ele me abraça. Eu sinto meus olhos encherem de lágrimas no momento em que meu rosto encosta em seu peito e o seguro com força contra mim, como se ele fosse a única coisa na qual eu possa me agarrar no momento. E, pensando bem, ele é.

— Como você está? — ele pergunta, baixinho, me afastando de si apenas o suficiente para olhar o meu rosto.

— A gente precisa conversar — eu digo, ignorando a pergunta dele.

— Sim, eu sei — ele diz. — Mas antes, o que eu preciso mesmo é saber como você está.

— Acho que devia ser eu perguntando isso para você — eu dou um sorriso mínimo.

— Akemi... — ele me encara mais firme.

— Eu estou bem — digo. — Na medida do possível. Sabe como é, vou conseguir sobreviver e tudo mais. E você? Como está?

— Vou sobreviver — ele repete o que eu digo e eu sorrio.

— Como sempre — eu sorrio e ele dá um sorriso mínimo para mim.

— É, como sempre — Gaara segura minha mão e começa a me levar até a porta de correr. — Vamos conversar lá dentro. Está menos frio e tem menos gente olhando.

Ignorando quem quer que pudesse estar olhando para nós lá debaixo, eu o deixo me guiar para dentro do apartamento e observo enquanto ele fecha a porta da sacada e tranca a porta de entrada do apartamento. Sinto um pouco de frio na barrida ao perceber que estou trancada em um local sozinha com Gaara, mas percebo, com certa surpresa, que não fico mais assustada em sua presença. Depois de tudo o que me contaram, a companhia de Gaara é o que eu mais quero no momento. Afinal, não existe ninguém melhor para me entender que a pessoa que passou por tudo isso comigo, não é?!

Quando Gaara vira de frente para mim, eu percebo pela primeira vez os machucados em seu corpo. Seu rosto está cheio de arranhões e um corte em seu antebraço, que parece maior do que eu posso ver, chama minha atenção. A manga de sua blusa está mais escura, provavelmente por causa do sangue que saiu, mas está seco agora. Por que ele não havia ido até o hospital?

— Onde fica a bolsa de primeiros-socorros? — pergunto quando ele vem até mim.

Ele sabe sobre o que eu estou falando e eu posso ver isso no modo como ele olha para mim.

— Akemi, acho que podemos deixar isso para depois.

— Não, não podemos. Onde está? — eu franzo o cenho e estendendo a mão, mostrando que estou falando sério.

Ele me observa por uns segundos, depois solta o ar pelo nariz e, mesmo contrariado, vai até um armário na cozinha e pega a bolsinha vermelha, colocando em minhas mãos quando volta. Eu digo para ele sentar no sofá e eu coloco uma almofada no chão, ficando de joelhos em cima dela, entre as suas pernas. Começo a limpar os machucados em seu rosto. Ficar com o rosto próximo dele desse jeito não me deixa mais tão nervosa como antes e eu acho muito, muito bom, considerando que eu não tenho forças para lidar com mais nenhum sentimento.

Quando termino os curativos em seu rosto, eu passo para o braço, e vejo que a manga de seu casaco está rasgada no local onde o ferimento está. Eu seguro a mão dele e enrolo a manga até o seu cotovelo com a outra. A pele de Gaara é bem mais branca que a minha, mas agora parece quase transparente. Me pergunto se ele tem se cuidado bem ou se tem comido direito e a promessa que fiz a Rasa volta à minha mente rapidamente. É difícil cuidar de uma pessoa que não está muito a fim de ajudar.

Eu começo a desinfetar o machucado e Gaara nem mesmo se encolhe de dor. Até hoje ainda me surpreendo com todas as coisas que ele demonstra ser capaz de suportar. Eu sinto o olhar dele em cima de mim enquanto trabalho em seu braço e isso começa a me deixar um pouco sem graça.

— O que aconteceu com Shion? — pergunto, tentando desviar a atenção dele para outra coisa que não seja eu.

— Eu não a matei — ele diz. — Mas mandei prendê-la. Não foi a minha melhor luta — ele me observa enquanto eu envolvo seu braço com as faixas. — Minha cabaça quebrou e ela me fez usar tanto chakra que, no fim, ela conseguiu me cortar aí. Eu demorei para entender o jeito dela de lutar, para achar uma fraqueza, então consumi muito chakra tentando. E eu não queria usar o de Shukaku por que... Bem, você sabe.

Eu balanço a cabeça, concordando. Eu termino o curativo em seu braço e fico de pé, colocando a bolsinha em cima do sofá. Gaara desenrola a manga de seu casaco e eu respiro fundo, tomando coragem para falar. Quando começo, ele apenas me observa e me escuta com atenção.

Eu falo da senhora Chiyo primeiro, que ela me procurou para conversar. Digo, com todos os detalhes, tudo o que ele me disse dentro daquele quarto de hospital. Falo dos planos do Kazekage de criar uma arma para vila, colocando uma Bijuu em seu filho mais novo enquanto ele ainda estava na barriga da mão; falo sobre o medo que Chiyo sentiu disso e da alternativa que ela encontrou em mim quando minha mãe chegou grávida na vila. Falo sobre o plano dela de fazer de mim uma forma de pará-lo caso ele perdesse o controle, o que ela fez quando minha mãe me deu à luz, a marca em minhas costelas. Eu explico detalhadamente sobre como essa marca funciona, que quando ele está perdendo o controle ela queima em minhas costelas e por isso eu sinto tanta dor. No fim, eu digo que é por isso que sempre tivemos uma ligação muito forte.

Quando eu termino, Gaara não fala nada e eu aproveito para falar logo tudo de uma vez. Quando eu começo a falar sobre o que Rasa havia me contado, eu tenho que parar várias vezes para engolir o choro e deixar minha voz mais firme. Se Gaara percebe isso, ele não fala nada, apenas deixa que eu conte tudo do jeito que eu conseguir. Assim como o primeiro, eu digo tudo em detalhes do que Rasa havia me dito: que Gaara nunca teve culpa na morte dos meus pais, que foi Rasa quem havia mandado Yashamaru até ele, para provocá-lo até Gaara perder o controle e se transformar em Shukaku. E tudo isso porque Rasa não suportava o fato de que eu — e eu odeio essa palavra — tivesse mais controle sobre seu filho que ele.

— Todos esses anos — digo, já sentindo lágrimas rolando pelas minhas bochechas e não faço questão de pará-las. —, eu senti muita raiva de você por algo que você não teve nenhuma culpa. Você era só uma criança e... e... — eu levanto o rosto e, pela primeira vez em muito tempo, eu vejo Gaara chorando. As lágrimas escorrem por seu rosto e ele nem parece senti-las e isso parte meu coração. — E eu não acreditei em você. Nem te dei o beneficio da dúvida. Nós éramos amigos e acusei você como se nem nos conhecêssemos. Gaara — eu me aproximo dele. —, se isso ainda servir de algo, eu te peço desculpas. Por todas as coisas que eu já te disse e por tudo isso.

Eu dou uma pausa para limpar meus olhos e me surpreendo quando sinto Gaara segurar minha mão. Quando olho para ele novamente, ele está de pé na minha frente. Seu rosto está todo molhado como o meu, mas, antes que eu consiga falar qualquer coisa, ele segura um lado do meu rosto com a sua mão livre e se inclina na minha direção, encostando seus lábios nos meus. Sinto meu coração se aquecer um pouco com isso e eu aperto um pouco a mão que ele está segurando a minha.

Depois de alguns segundos, ele afasta o rosto do meu, e eu quase peço para que ele não faça isso, mas, então, ele encosta a testa na minha e eu penso que por causa de tanta mentira eu quase havia me esquecido como era me sentir do jeito que Gaara faz eu me sentir. Quase.

— Eu sei que é muita coisa para processar... — começo, mas ele me interrompe.

— Eu te amo.

Ele diz apenas essas três palavras e fica em silêncio e meus olhos se arregalam como se ele tivesse acabado de falar que fosse me matar ou que me odiasse. Me ama? O pensamento quase me deixa atordoada e se ele não estivesse me segurando, meus joelhos provavelmente teria cedido. Quer dizer, sim, é claro. Eu esperava outra coisa? Eu por acaso queria que ele falasse outra coisa? Não, óbvio que não.

Eu solto a mão dele e cubro a minha boca com as minhas duas mãos, abafando um soluço. Depois de todo esse tempo, depois de tudo o que aconteceu, ele ainda me ama. Talvez eu tivesse pegado um caminho mais fácil, mas, se passar por tudo isso significasse que no fim eu estaria aqui com ele, eu passaria por tudo de novo.

— Eu sei que você namora o Neji e tem muita coisa ainda entre a gente, mas...

— Shh! — eu o interrompo, colocando a minha mão em seus lábios. — Você nunca foi de falar muito e agora está falando um monte de coisas sem sentido.

Eu sorrio minimamente e ele me observa enquanto afasto minha mão de seu rosto. É a minha vez de dar um selinho nele. Me erguendo na ponta dos pés, eu seguro o tecido de seu casaco entre meus dedos e colo meus lábios aos dele. Eu sinto a mão dele em minha nuca um tempo depois e o beijo se aprofunda. Quando dou por mim, Gaara me já está me carregando no colo e me levando para algum canto da casa dele que eu ainda não tinha visto. Nossos lábios apenas se afastam quando eu percebo que ele entrou em outro cômodo e eu viro minha cabeça para olhar enquanto ele me coloca no chão.

É o quarto dele. Eu quase engasgo com a minha própria saliva quando penso no motivo dele ter me trazido para cá. Meu rosto cora violentamente e eu me recuso a virar de frente para ele. Não sei como eu imaginava o quarto de Gaara e não me surpreendo nem um pouco com o que eu vejo. O quarto dele é bem simples, sem decoração ou qualquer enfeite. Só tem as paredes pintadas de branco, uma cama, um armário e o banheiro que está com a porta fechada. Parece um quarto de hospital.

— Por que você me trouxe até aqui? — pergunto. Era pra ser uma pergunta simples, mas parece que estou o acusando de algo. — Quer dizer, eu não estou mais com Neji, mas...

Eu acabo virando de frente para ele e vejo que ele me encara confuso, como se não entendesse porque eu havia ficado dura feito uma pedra do nada.

— Eu ia tomar um banho — ele diz, como se fosse óbvio. — Trouxe você porque te carreguei no colo e não ia simplesmente te jogar no chão.

Uma risada irrompe de dentro de mim sem nenhum convite e eu me dobro um pouco para frente, rindo. Às eu simplesmente esquecia que Gaara provavelmente não teve nenhum tipo de contato humano (além daquele beijo com Shion que por acaso ainda não me desceu completamente) e ele é tão inexperiente nessas coisas quanto eu era anos atrás. Quando eu me recomponho, limpo as lágrimas que surgiram em meus olhos por causa do riso. Eu nem me lembrava mais como Gaara me fazia rir fácil antes de tudo complicar do jeito que complicou.

— É claro — eu digo, olhando para ele agora. — Você vai tomar banho. Claro. O que mais você faria no seu quarto, não é?  Claro, vai lá, vai.

Eu o empurro na direção do banheiro e ele some lá para dentro, trancando a porta atrás de si. Quando escuto o barulho do chuveiro sendo ligado, eu me sento na cama dele e fico observando ao meu redor. É triste pensar que ele não tem um porta-retratos de algum momento feliz dentro do quarto ou qualquer outra coisa que mostre que ele gosta de algo ou que teve algum momento feliz. Eu suspiro e, pela primeira vez desde que tudo aconteceu, eu sinto o cansaço me abater. Ainda não dormi desde a madrugada passada. Tento não pensar muito em todos os acontecimentos da noite anterior, em meu irmão ou em Rasa ou em tudo o que isso vai significar daqui para frente.

Eu tiro meu sapato e acabo deitado na cama de Gaara. Ela é bem confortável e o travesseiro é maleável, o que me deixa ainda mais sonolenta e quando Gaara sai do banho eu estou apenas parcialmente acorda, mas sentindo como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Me sinto em um nível de exaustão que eu nem sabia ser possível chegar. Escuto o clique da porta do banheiro se fechando e sinto o colchão afundando ao meu lado quando Gaara se deita ao meu lado. O cheiro de shampoo e sabonete masculino parecem estar em todo o lugar e eu me lembro da primeira vez em que o vi, chegando em Konoha.

— Eu deveria trocar os seus curativos — digo, baixinho, sentindo ele se mexer atrás de mim.

— Não se preocupa com isso, eu troquei.

Gaara passa o braço por baixo da minha cabeça e eu viro de frente para ele, indo deitar em seu peito. Eu passo um braço pelo seu abdômen e o sinto estremecer embaixo de mim, mas estou com sono demais para notar. Eu não abro os olhos, mas sei que ele tirou a roupa ninja e está com outra mais confortável.

— Você vai dormir comigo? — pergunto.

— Eu não posso dormir — ele responde, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Eu abro os olhos pela primeira vez e ergo minha cabelo até encontra-lo me observando. Eu pensei que estava acostumada com os olhos de Neji, mas os de Gaara são mil vezes mais intensos. Talvez seja coisa de gente que não tem pupila. Eu me sinto um pouco intimidade, mas só porque não estou acostumada com toda essa proximidade. Ao contrário de mim, ele parece bem à vontade.

— Você pode tentar — digo, olhando em seus olhos. — Lembra tudo o que eu disse sobre a marca que eu tenho? Talvez estar perto de mim neutralize tanto o Shukaku que você consiga dormir.

— Não sei — ele desvia o olhar do meu e fica encarando o teto. — Parece arriscado demais. Se eu perder o controle e machucar você...

— Não vai acontecer nada — o interrompo, colocando um dedo em seu queixo e virando seu rosto para mim de novo. — Se você não confiar em mim não podemos ficar juntos.

— É claro que eu confio em você, mas... — ele arregala um pouquinho os olhos, se dando conta do que eu disse. — O que você disse?

— Se você não confiar em mim, não podemos ficar juntos — repito com um sorrisinho nos lábios, deitando minha cabeça em seu peito novamente.

— Nós... estamos juntos?

— Se estiver tudo bem para você... — sinto um friozinho bom na barriga.

— Está tudo bem para mim — ele diz, tão rápido que não consigo evitar o sorriso que se espalha pelo meu rosto.

— Então está tudo bem para mim também.

— Isso quer dizer que...

Eu o interrompo, erguendo a cabeça de novo e o calando com um beijo. Eu não tinha percebido como ele estava tenso embaixo de mim, mas sinto quando ele solta o ar pelo nariz e relaxa.

— Isso quer dizer que nós dois vamos dormir agora e conversar mais tarde — eu digo contra os lábios dele.

— Claro. Tudo bem.

Eu me deito novamente e nós ficamos em silêncio. Eu automaticamente acabo deslizando minha perna para cima da perna dele do mesmo jeito que eu fazia quando dormia com Neji. Já era costume. Pensar em Neji agora parece algo tão distante, como se tivéssemos acontecido há muito tempo, e não há apenas alguns dias. Eu trato logo de tirar o Hyuga da minha cabeça porque se eu pensar demais vou acabar me torturando por tudo o que estou fazendo e eu não quero isso, não agora.

O sol já está alto no céu, atravessando palidamente as cortinas da janela do quarto de Gaara, mas eu só consigo dormir realmente quando vejo que Gaara dormiu. Eu ainda levanto um pouco para olhá-lo. Eu nunca havia o visto dormir, nem quando éramos crianças, e saber que ele fica tão em paz quando está agora é mais do que eu poderia desejar. Mentalmente, eu mando Shukaku ir se foder e espero que, de alguma forma, ele possa escutar. Quando eu me aconchego de novo em Gaara, pego no sono rapidamente.

—x—

Quando eu acordo, o sol já está se pondo e o quarto está mergulhado em uma escuridão agradável. Não está tão escuro a ponto de eu não conseguir enxergar nada, mas está bem mais escuro do que estava quando eu dormi. Eu me mexo um pouco, sentindo o corpo de Gaara ao meu lado. Tiro minha perna de cima da sua e abro os olhos, encontrando os olhos de Gaara já me observando. Eu me assusto um pouco, pois não esperava que ele já estivesse acordado, mas acabo rindo depois, o que o faz dar um pequeno sorriso. Ele fica de lado e apoia seu cotovelo no colchão, colocando a cabeça na mão. Eu acabo me espreguiçando, sentindo que todas as dores que no meu corpo sumiram.

— Por que você está me olhando? — eu pergunto, virando de lado para ele também.

— Porque eu gosto de observar você — ele diz, colocando uma mão em meu rosto e acariciando minha bochecha com o polegar. — E porque você é muito bonita, até mesmo dormindo. E porque ainda é difícil acreditar que você está aqui então eu preciso ficar te olhando para ter certeza de que você não vai desaparecer.

— Eu não vou desaparecer, Gaara, não se preocupe — eu sorrio. — Você conseguiu dormir?

— Sim — ele balança a cabeça, concordando. — Eu nem acreditei quando acordei.

— Então a minha teoria estava certa. Que bom.

— É, parece que sim.

Ele se inclina na minha direção e me beija. Mas, dessa vez, quando o beijo se aprofunda, ele continua vindo para cima de mim, até eu ficar deitada de costas no colchão. Ele se coloca entre as minhas pernas e eu sinto o meu corpo todo esquentar de uma só vez. Será que ele tinha noção do que estava fazendo? Do que poderia acontecer se ele continuasse? Eu tento afastar meus lábios dos dele para perguntar, para saber o que poderia acabar acontecendo aqui, mas ele não deixa. Sua boca procura a minha como se ele estivesse morrendo de sede e eu fosse a última fonte de água do mundo.

Não posso fazer mais nada a não ser acompanha-lo. Eu passo minhas mãos do seu peito para sua nuca, encontrando alguns fios do seu cabelo ali no final. Quando ele mexe o quadril e pressiona o meio de suas penas no ponto mais sensível em mim, eu seguro com força sua blusa entre os meus dedos, prendendo um gemido no fundo da minha garganta.

Quando a falta de ar incomoda, ele desce os lábios até o meu pescoço e eu deixo que ele fique ali fazendo o que bem entendesse. Quando ele mexe o quadril de novo, eu consigo sentir sua ereção entre as minhas pernas e a minha visão fica turva de tanto desejo. Eu só consigo pensar no quanto eu queria que ele pulasse todas preliminares, tirasse logo essa calça e fosse ao que interessa de uma vez. Mas os planos dele parecem ser outros. O arrepio que percorre o meu corpo quando a mão dele desliza para baixo da minha blusa é tão intenso que eu tenho certeza que ele sente. Eu ergo um pouquinho o corpo, sentindo sua respiração em meu pescoço e deixando que a mão dele chegue até o fecho do meu sutiã.

É nesse momento que ele pega uma de minhas mãos e, calmamente, a leva até o cós de sua calça. Ele provavelmente quer que eu comece a tirá-la, mas eu mudo seus planos quando deslizo a mão até o meio de sua perna e a coloco por dentro de sua calça. Ele fecha os olhos com força quando meus dedos encontram seu pênis, como se estivesse doendo, mas eu sei que não está, que está apenas sensível pelo fato dele estar excitado. Eu começo a tocá-lo, sentindo a textura de sua cueca e me pergunto por que diabos ele está usando cueca. Mas é claro que está, por que não estaria, não é Akemi?! Ele para de fazer o que quer que estivesse fazendo em mim apenas para sentir o que eu estou fazendo nele.

— Se você quiser que eu pare... — eu praticamente sussurro, sentindo a testa dele encostada na minha.

Gaara apenas balança a cabeça, dizendo que não, que eu deveria continuar. Eu começo então a deslizar meus dedos para dentro da sua cueca.

— Gaara?

A voz atrás da porta do quarto parece reverberar por todas as paredes e nós dois travamos. É a voz de Kankuro, seguida de uma batida na porta. Eu me lembro que nenhum de nós dois trancou a porta, mas ainda bem que Kankuro é suficientemente educado para bater antes de ir entrando.

— Gaara? — ele chama de novo. — Você está aí?

Um minuto de silêncio se passa sem que nem Gaara e nem eu mexamos nem um músculo se quer. Até que ele quebra o silêncio.

— O que é? — pergunta, com tanta raiva que até eu me assusto.

— Ah, você está aí. Então, o conselho vai se reunir para conversar sobre a substituição de Kazekage, como nós somos filhos de Rasa, seria bom você participar. Depois disso, é o enterro. Se você quiser ir, é claro.

No escuro do quarto, Gaara olha para mim e nós nos encaramos por um tempinho, minha mão já longe da sua calça. Ele parece estar esperando que eu fale alguma coisa, então eu digo a primeira coisa que me vem à mente.

— Você deveria ir — digo, baixinho.

— Deveria, mas não preciso — ele rebate.

Eu sorrio minimamente.

— É verdade, mas você vai. Isso aqui nós podemos continuar outra hora.

Ele balança a cabeça, concordando, e, sem ter muito o que fazer, sai de cima de mim. Ele levanta da cama e pega uma roupa ninja igual a que ele costuma usar, porém nova.

— E então, Gaara? — Kankuro insiste. — Você vai?

— Sim — Gaara responde, frio. — Eu te encontro lá.

— Tá certo.

Nós escutamos os passos de Kankuro se afastando e a porta do apartamento se fechando. Eu sento na cama quando Gaara vai até o banheiro e fica um tempo lá trocando de roupa. Quando ele sai novamente, já vestido como um ninja, vem até mim e se inclina na cama, apoiando suas mãos no colchão. Eu seguro seu rosto com as minhas duas mãos em um formato de concha e o beijo demoradamente. Quando ele se afasta, nossos olhares se encontram.

— Você não precisa sair daqui, se não quiser — ele diz.

— Eu tenho que resolver algumas coisas também — o afasto um pouco para que eu possa levantar. — Eu volto quando estivermos livres.

— Te espero aqui então — diz, me dando um selinho e se dirigindo até a porta depois.

Quando Gaara sai, eu vou até a janela e pulo dela para o chão. Não ia sair pela porta da frente, correndo o risco de toda a vila me ver saindo do prédio do Kazekage. Enquanto faço meu caminho de volta até o hospital em meio as sombras da noite, evitando que as pessoas me vejam, não consigo evitar o sorriso bobo que surge em meu rosto durante todo o percurso.


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