The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 18
Akemi: preparações.




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A conversa com Sayuri me deixou pensativa, mas o que me fez demorar a pegar no sono de verdade foi meu término com Neji, não conseguia parar de pensar nisso. Ficava repassando mentalmente tudo o que havia acontecido, o que eu podia ter falado ou feito de diferente. Porém, no fundo eu sabia que não havia nada que pudesse fazer o resultado ser outro e eu só podia aceitar ou continuar sofrendo. Quando eu entendi que a primeira opção era a melhor, eu consegui pergar no sono.  Contudo, tenho um pesadelo com meu irmão. É tão horrível que acordo suando frio, chorando e meu peito dói.

Na manhã seguinte, acordo com o corpo todo dolorido. Talvez porque, desde o primeiro dia de missão, não durmo direito e meu corpo fora tão machucado que agora todas as dores resolveram aparecer juntas. Porém, não deixaria que isso fosse um empecilho para mim. Hoje eu tenho apenas um milhão de coisas para fazer antes de ir embora da vila. Mesmo que eu ainda estivesse triste por Neji, prometi a mim mesma que não pensaria nele durante o dia. Eu tinha um dever e iria cumpri-lo, querendo ele ou não.

Levanto da cama e me arrasto até o banheiro. Lá no box, eu tomo um banho quente, vendo que todos os machucados que eu ganhara na missão ainda não estavam 100%, mas já estavam melhores, até mesmo aquele feito pela espada de Sasuke. Quando termino tudo, visto minha roupa um short, uma blusa, calço tênis e prendo meu cabelo em um coque frouxinho. Para o que eu faria hoje eu não precisaria da minha roupa ninja.

Noite passada, quando sai do lago e vim para o meu novo apartamento, fiz uma lista de afazeres para hoje:
1. Conversar com Ai e Reiji;
2. Conversar com Tsunade;
3. Conversar com Camus-sensei;
4. Conversar com os filhos do Kazekage;
5. Escolher o grupo que vou levar.

Não exatamente nessa ordem. Enquanto saio do meu apartamento, fico observando a frase “conversar com os filhos do Kazekage”. Obviamente eu tenho que anunciar que estou me mudando por um tempo para a vila deles, mas eu realmente preciso? Talvez se eu pudesse apenas encontrá-los em lá no portão de entrada antes de sair... Não! Balanço a cabeça, deixando esse pensamento de lado. Eu tinha que enfretar meus problemas e isso não aconteceria se eu ficasse me escondendo como uma medrosa.

Os primeiros com quem tenho que falar são Gaara e seus irmãos. Isso é meio óbvio — mesmo que eles estejam em quarto na minha listinha — e já estava me preparando para isso desde que coloquei meus pés no apartamento novo noite passada, mas hoje de manhã me vejo enrolando para ir até eles em uma barraquinha de café enquanto compro alguma coisa para comer. Desde que chegamos da missão, Gaara, Sasuke, Sayuri e eu parecíamos quatro estranhos, nem tínhamos nos falado direito — tirando a minha noite anterior com Sayuri. Nem parecia que Gaara e eu tínhamos compartilhado certos momentos. Queimo minha língua com o café quente enquanto tenho esse pensamento e xingo baixinho. Com certeza o universo já estava me punindo desde ontem à noite por ter traído Neji na missão.

— Cuidado.

Escuto a voz de Ranmaru, mas não me viro para olhá-lo. Eu imaginava que ele iria vir falar comigo assim que Kakashi anunciasse seu novo posto entre os Caçadores Anbu, mas não acreditava que ele vinha mesmo. Percebo que estou com raiva dele — assim como estou com raiva de Neji, de Gaara, do Kazekage, dos Doragons, da minha vida. Estou com raiva de Ranmaru por ter pegado meu lugar de líder com tanta facilidade, de Gaara por ter reaparecido, de Neji por simplesmente ter desistido da gente indiretamente, do Kazekage por ter mandado aquela maldita carta, dos Doragons por estarem atrás de mim, e, finalmente, da minha vida porque se eu não existisse nada disso teria acontecido. Com meu cafezinho em mãos, me viro e começo a andar para longe de Ranmaru.

— Akemi, espera aí — meu antigo amigo vem atrás de mim. — Espera. — ele vai para a minha frente, me impedindo de continuar andando. Respiro fundo e levanto o rosto para olhá-lo.

— O que é?

 Por um momento, eu o vejo hesitar. Isso acontece porque estamos invertendo nossas posições. Era eu quem ficava atrás dele e era ele quem era hostil e maldoso comigo. Pois é, bem, posso até seguir todas as regras, mas nem sempre sou a menina boazinha.

— Kakashi me contou... — ele parece desconfortável. — que você está indo embora.

— Sim, que legal, não é? Eu estou indo embora e você conseguiu o lugar de líder dos Caçadores Anbu. Olha que incrível você conseguindo duas coisas que sempre quis! — digo com sarcasmo e passo por ele, me apressando para qualquer outro lugar em que eu pudesse ter um minuto de paz.

— Eu só queria te dizer... — ele corre atrás de mim até me alcançar. — Obrigado. Sabe, por ter indicado meu nome.

Em outros tempos, a esperança de que ainda podíamos ser amigos se acenderia dentro de mim, mas agora eu só estava cansada e triste, por isso minha resposta é a mais fria possível, mesmo que o “obrigado” dele tenha me pegado de surpresa.

— É, tanto faz. Não é como se fosse definitivo.

A conversa acaba aqui e ele me deixa ir. No momento em que me afasto dele, sinto algo estranho dentro de mim. Eu nunca o havia tratado assim sem sentir nenhum remorso depois. Sinto como se eu estivesse sendo uma outra Akemi, como se eu estivesse no meu corpo, mas outra pessoa o controlasse. Não gosto disso, mas digo à mim mesma que é resultado de tudo o que vem acontecendo, estou apenas estressada. Nada mais.

O apartamento em que os filhos do Kazekage foram instalados quando chegaram à vila fica a alguns poucos metros de distância do prédio do Hokage e quanto mais me aproximo de lá, mais ansiosa eu fico. Eu nem sabia o que falar para eles. Como começar? “O pai de vocês acha que os ninjas da Areia são inferiores aos da Folha e por isso acha bom algum ninja daqui ir ajudar lá”? Não, definitivamente não. Não posso simplesmente chegar chamando nossos aliados de inferiores

Apartamento 208, 10º andar. Repasso isso mentalmente várias e várias vezes enquanto subo no elevador. Havia conseguido essa informação com Shizune noite passada. Dentro do elevador, me vejo andando de um lado para o outro, nervosa. Eu nem tenho motivo para estar assim... A lembrança do meu beijo com Gaara na cachoeira me vem à mente e, sim, penso que eu tenho motivos de sobra para estar nervosa assim, afinal estou indo falar à Gaara que a partir de agora passo a “morar” na mesma aldeia que ele. Respiro fundo e solto o ar pela boca quando o elevador abre.

Bato apenas uma vez na porta e espero. O prédio está silencioso e por isso consigo escutar vozes dentro do apartamento, mas não consigo entender o que estão falando. Até que escuto a fechadura ser destrancada e a porta se abre me revelando Kankuro. Por uns cinco segundos nós dois apenas nos encaramos, ele parece bem surpreso por ver aqui. O irmão de Gaara está usando apenas uma calça e está sem todas aquelas pinturas no seu rosto. Penso que ele é mais bonito assim de “cara limpa”. Percebo Gaara passando atrás do irmão e meu coração dá um pulo no peito.

— Akemi? — Kankuro me traz de volta à realidade. — O que você está fazendo aqui?

Engulo em seco.

— Posso entrar?

— Sim, claro.

Ele me dá passagem e de repente sinto minhas pernas amolecerem como se fossem feitas de gelatina, tenho que usar um pouco do meu chakra na sola dos pés pra ver se consigo manter o equilíbrio.

Por dentro o apartamento está bem organizado, o que é, no mínimo, surpreendente considerando que eram três jovens vivem aqui. Mas sei que Temari mataria os irmãos antes que eles sequer tivessem a idéia de bagunçar o lugar. O apartamento é simples e aconchegante, como o meu, e tem Gaara bem no meio dele. Assim que meus olhos caem sobre ele, percebo que ele já está me encarando. Diferente de Kankuro, ele não demonstra supresa, mas sim expectativa ao me ver na sua sala de estar. Isso me deixa um pouco envergonhada. Gaara está usando calças pretas como a de Kankuro, porém, diferente do irmão, está cobrindo o resto do corpo com uma blusa também preta, da mesma cor. É estranho vê-lo em vestes diferentes das suas roupas ninjas, mas não posso deixar de notar que ele continua  bonito, de qualquer forma.

— Tá fazendo o que aqui?

A voz grave de Temari tira minha atenção do irmão mais novo dela. Assim que meu olhar recai sobre a irmã mais velha, vejo que ela me encara, com os braços cruzados, como se eu fosse algum inimigo que ela não confia nem um pouco. E penso que, para ela, sou isso mesmo, afinal ela nunca gosotu de mim. Engulo a timidez que estou sentindo por estar bem longe da minha zona de conforto e me obrigo a falar algo.

— Eu vim aqui porque preciso dizer algo à vocês — digo, firme, e tento fazer contato visual com os três, mas quase não olho para Gaara porque sei que nem vou conseguir pensar direito se a gente se encarar de novo. — Vocês com certeza já sabem do que se tratava a missão em que o irmão de vocês e eu estivemos — reveso meu olhar entre Kankuro e Temari. — Bem, o pai de vocês também ficou sabendo e mandou uma carta para o Hokage — Temari e Kankuro trocam um olhar. — Ele pediu ajuda da Folha, com shinnobis. Provavelmente ele só está cuidando para que vocês não sejam pegos de surpresa caso algo aconteça.

— E o que isso tem a ver com você?— Temari pergunta.

— O Hokage me mandou liderar um grupo para a vila de vocês. Só queria avisa-los que, quando vocês saírem, eu vou juntos.

Não olho para Gaara, mas sinto seu olhar em cima de mim. Tão intenso que faz minha pele formigar. Me mexo, desconfortável.

— Não confio em você — Temari é a primeira a quebrar o silêncio. — E não acredito que nosso pai mandaria uma carta pedindo ajuda com shinnobis — ela ri, como se a ideia fosse absurda. — Os ninjas da Areia são bem treinados e dão conta de qualquer coisa. Não precisamos de você e do seu grupinho.

— Bem treinados? Não foi o que me pareceu oito anos atrás — olho de relance para Gaara e ele desvia o olhar de mim. Eu sei que é golpe baixo trazer esse assunto para a conversa, pois não machuca apenas à mim, mas Temari simplesmente consegue me tirar do sério. — Mas tudo bem. Se vocês não precisam da gente agora, não venham atrás quando metade do povo da Areia estiver morto.

— Ora, sua... — Temari avança para cima de mim, eu não movo nenhum músculo, estou mais do que preparada caso ela tente alguma coisa. Porém, a loira não chega até mim, pois Kakuro a segura e Gaara se mete na minha frente — o que me surpreende. — Qual é o problema de vocês? — ela pergunta meio alto.

— Chega, Temari — a voz de Gaara se faz presente, baixa e grave. Mais uma vez sinto minha pele se arrepiar. Encaro as costas dele.

— Akemi está certa — Kakuro diz.

— O que?! — Temari parece incrédula.

— Sim, nossos shinnobis são bons, mas uma ajuda a mais é sempre bem-vinda, principalmente se vier da Folha. Você sabe disso, Temari.

— Vocês não estão considerando mesmo levar essa garota para a nossa vila, não é? — ninguém fala nada. — Vocês estão loucos? Ela vai levar aquela organização até a gente! A gente nem conhece essa menina direito!

— São ordens do Kazekage, Temari — Kankuro diz em um tom que não admite mais discursão.

Com raiva e se sentindo contrariada, Temari sai pisando duro e bate a porta do quarto com força. A sala fica em silêncio por uns segundos, continuo encarando as costas de Gaara, me perguntando se ele lutaria com a irmã só pra me defender. Finalmente, Kankuro diz que vai falar com Temari e deixa Gaara e eu sozinhos. Ah, que ótimo, era tudo o que eu queria evitar. Pela milésima vez no dia, sinto meu coração acelerar.

Quando a porta do quarto de Temari se fecha pela segunda vez, Gaara vira de frente para mim. Ergo minha cabeça e devolvo seu olhar. É estranho o fato de que agora estou percebendo que senti falta dele desde o momento em que chegamos à vila quando, em oito anos, eu tentava nem pensar na sua existência. Agora ele estava aqui na minha frente e tudo o que penso em fazer é abraça-lo e dizer tudo isso que está passando pela minha cabeça. Por um momento, Gaara e eu não falamos nada. Apenas ficamos nos encarando. Não sei se ele está pensando o mesmo que eu, mas na minha cabeça só consigo pensar no nosso beijo. E agora eu estou morrendo de vontade de beijá-lo de novo e me odiando por sentir essas coisas.

— Você está bem? — ele pergunta.

 Eu balanço a cabeça, dizendo que sim, e desvio o olhar do rosto dele para sua mão que se ergue na minha direção e quase toca meu braço. Mentalmente, vendo sua mão pairando a centímetros de mim, peço para que ele continue e me toque, pois quero muito isso e com certeza não teria nenhuma resistência da minha parte. Mas ele não vai até o fim. Sua mão cai do lado do corpo e ele fecha o punho.

— Nós vamos ir embora amanhã, bem cedo  — ele diz, num tom mais baixo. — Tudo bem para você?

— Sim, tudo bem — balanço a cabeça, deixando meus pensamentos inapropriados de lado. — Eu preciso mesmo resolver umas coisas ainda aqui antes de ir.

Gaara balança a cabeça, entendendo o que eu digo. Eu levanto a cabeça e  mais uma vez nos encaramos em silêncio. Eu devia ir embora, ficar tão próxima assim dele não me faz bem.

— Então, acho que já vou. A gente se vê amanhã — digo, passando por ele e me apressando até a porta.

Quando estou perto o suficiente para tocar a maçaneta, Gaara segura meu pulso, me parando no mesmo lugar. Meu coração erra todas as batidas. Se ele me puxasse para si eu não teria forças nenhuma para me afastar caso ele tentasse me beijar. Porque eu o quero mais do que sou capaz de aceitar.

De costas para ele, sinto quando se aproxima de mim, seu corpo quase tocando o meu. Ele abaixa a cabeça e encosta a testa na minha cabeça. Sinto sua respiração em meu cabelo

— Desde que voltamos — ele diz contra o meu cabelo. —, não consigo parar de pensar naquele beijo... — ele aperta o polegar em meu pulso e sei que ele sente minha pulsação descontrolada. — E em você de calcinha e sutiã na minha frente.

Eu fico sem palavras, respirando com dificuldade, sentindo meu coração pular do meu peito para minha garganta e depois para o meu estômago. Antes que eu tenha tempo de sequer pensar no que dizer, Gaara me surpreende beijando minha nuca descoberta. Eu arquejo, soltando o ar pela boca, sentindo minha alma quase sair pela boca e o meio da minha perna ficar quente.

Agradeço mentalmente por Kankuro e Temari ainda estarem discutindo alto no quarto, pois Gaara me vira de frente para ele, me prendendo entre ele e a porta. Ele esconde o rosto na curva do meu pescoço e desce a mão do meu pulso para os meus dedos, entrelaçando-os nos seus. Minha respiração descompassada está em sua orelha e eu sei que ele sabe exatamente o que ta fazendo comigo.

Sua outra mão desce pela curva da minha cintura e eu sinto seu polegar tocar em meu umbigo onde a blusa acaba. Me pergunto porque não coloquei uma blusa maior. Eu queria que ele me tocasse, mas desse jeito já é demais para mim, para a minha pobre sanidade.

— Por que você está me dizendo essas coisas? — pergunto, baixinho.

— Eu pensei que você deveria saber sobre o que eu tenho pensado — ele diz contra a minha pele e, quando sinto seus lábios e meu pescoço, eu arquejo, soltando ar pela boca.

Dentro de mim, uma pontinha de satisfação se acende por saber que ele pensa em mim e naquele beijo, mas do jeito que estamos aqui eu sei que estamos indo longe demais — ele por estar fazendo essas coisas e ele por estar deixando. O mesmo medo que sinto desde que ele voltou para minha vida aperta meu coração com suas garras. Mas ele começa a subir os beijos pelo meu pescoço, chegando atrás da minha orelha e depois na minha mandíbula. Meu peito sobre e desce rapidamente enquanto sinto os dedos dele descendo do meu umbigo para o botão do meu short.

Ignorando todos os alertas que se acendem em minha cabeça, eu fecho os olhos e me entrego bem aqui nessa porta para ele. Eu aperto sua mão que está com os dedos entrelaçados nos meus e talvez isso seja o único sinal de confirmação que ele precisa, pois ele levanta a cabeça e se aproxima para me beijar.

Mas a porta do quarto de Temari é aberta e eu afasto Gaara para trás tão rápido que parecia que ele tinha me dado um choque. Ofegante, eu olho para ele como se tivesse despertado de um sonho. Que merda eu estava fazendo? Kankuro e Temari ainda não haviam saído apesar de terem abrido a porta. Eu nem espero para vê-los e nem olho para Gaara antes de abrir a porta atrás de mim e sair correndo do apartamento. Antes de entrar no elevador, eu escuto algo se quebrando lá dentro do apartamento.

Quando chego do lado de fora do prédio, me encosto a parede e puxo o ar com força para os meus pulmões. O coque do meu se desfez e agora ele bate no meu rosto com o vento. Sem pensar muito, eu fecho os olhos e levo meus dedos ao meu pescoço, onde Gaara beijara minutos atrás.

—x—

Perto da hora do almoço, eu convido Reiji e Ai para almoçarem comigo. Enquanto comemos sushi, não falo nada sobre o que aconteceu no apartamento de Gaara, mas eles ficam loucos da vida quando falo sobre estar indo embora. Acham a ideia um absurdo e dizem que vão comigo, mas eu logo corto essa ideia.

— Preciso de vocês aqui, de olho no Ranmaru e em Neji — digo, sorrindo docemente.

— Você tá de sacanagem com a gente, né? — Reiji me olha cheio de raiva. — Não vamos deixar você ir sozinha para o outro lado do mundo, só para ficarmos de olho em dois marmanjos, nem pensar.

— Não é o outro lado do mundo e eu não vou estar sozinha. Eu vou voltar rápido, é só por um tempinho, uns dias, talvez — sorrio novamente, tentando tranquiliza-los. — Por favor, gente.

— Eu até entendo que você queira que a gente fique de olho em Ranmaru, mas Neji? — Ai me encara confuso. — Por que temos que ficar de olho nele?

Olho para baixo, encarando minha comida no prato.

— Nós... Terminamos — digo, baixinho. — Se não for pedir muito, queria que vocês cuidassem dele. De longe, sabe? — levanto a cabeça e alterno o olhar entre Reiji e Ai. — Ele é orgulhoso demais pra admitir quando precisa de alguém em algum momento, mas, por favor, fiquem por perto.  

— Sinto muito, Akemi — Reiji segura minha mão por cima da mesa.

— Tudo bem — eu enxugo meus olhos. — Acho que era assim que as coisas deviam acabar acontecendo.

Nós falamos mais um pouco sobre isso e, no fim, eles acabam cedendo, mas dizem que vão lá sempre que tiverem uma folga para ver como estou. Eu aceito isso e nós mudamos de assunto. Enquanto rimos juntos, eu penso que amo tanto meus amigos que dói pensar que eu podia coloca-los em perigo por isso precisava que eles ficassem aqui, não tinha ideia quanto à minha segurança em Sunagakure, não queria acabar arriscando a vida deles também.

Depois do almoço, eu vou falar com meu antigo sensei. Encontro com Camus em um campo, ele está sentando à sombra de uma árvore, lendo um livro. Quando começamos a conversar, ele dis que já sabe de tudo e apenas me abraça e me deixa chorar um pouco. Camus era uma das únicas pessoas que sabia sobre o meu passado, sobre o que acontecera com meus pais e meu irmão, então ele sabia bem o que eu estava sentindo. Quando eu me acalmo, nós sentamos juntos debaixo da árvore e conversamos por horas, ele escuta tudo o que eu tenho para dizer e me dá conselhos e diz todas aquelas coisas sábias, como sempre fazia. É reconfortante, mas não muito. Eu estou apavorada em voltar para a Vila da Areia e isso não passaria só com palavras.

— Você foi a minha melhor aluna, Akemi — ele diz. — Você sempre foi forte, porém gentil. Sofreu tanto e ainda continua com o mesmo coração bondoso. Você é uma garota extraordinária e é por isso que eu tenho certeza que vai dar conta disso tudo. Você tem o sangue Senju correndo em suas veias, você é capaz de qualquer coisa. Lembre-se disso.

 São belas palavras, mas não me deixam melhor. Eu quero acreditar que conseguiria passar por tudo isso, mas parece impossível. Eu nunca havia me sentido tão sozinha como estava me sentindo agora. Queria que a minha mãe estivesse aqui, talvez ela conseguisse me confortar.

A próxima pessoa que vou visitar é minha tia, Tsunade, que tinha chegado novamente à Folha um dia atrás.  Ela não parece nem um pouco feliz com essa decisão do Hokage de me mandar para o mesmo lugar que tirou a vida da irmã dela, do cunhado e do sobrinho, e em algum momento eu me vejo em uma posição em que sou eu quem tem que assegurar a ela de que tudo ficará bem. Quando os ânimos se acalmam, nós tomamos chá na varanda do apartamento em que dela e conversamos sobre minha família. Daqui podíamos ver as estátuas de todos os Hokages naquela montanha.

— Você está bem? — Tsunade pergunta.

Hesito em responder. Se eu estou bem? Não. Às vezes acho que estou um pouco mais próxima de ter um colapso nervoso. Mas ninguém precisa saber disso, não é mesmo? Camus-sensei costumava me dizer que aparência era tudo para um shinnobi, então se você aparentasse estar bem todos acreditariam e você não seria visto como fraco. Era nisso que eu estava me focando. Mas Tsunade não é idiota.

— Akemi? — ela insiste.

— Estou ótima — digo. — Quer dizer, além de não conseguir dormir, da agitação, do constante medo de que algo terrível aconteça... Eu estou ótima.

— Issó é chamado hipervigilância, sabia? — ela não parece nem um pouco surpresa com o que eu disse. — Esse sentimento constante de ameaça.

— Não é só um sentimento — olho para a paisagem além de mim. Alguns passarinhos voam aqui e ali. — É como... Um ataque de pânico. Como se você não pudesse respirar.

— Como se você estivesse se afogando.

Um vento passa por nós, jogando meus cabelos para trás.

— Sim — olho para ela. — É algo parecido com isso que acontece comigo. Todos os dias eu sinto como se estivesse me afogando, com uma pressão tão intensa dentro de mim que sinto como se eu fosse explodir — olho para frente de novo. — Mas eu sigo fingindo que não sinto nada disso porque tenho deveres a cumprir.

Tsunade passa um tempo em silêncio. Eu não a encaro mais, mas posso sentir seu olhar sobre mim.

— Sabe — sua voz finalmente se faz ouvir. —, você me lembra muito a sua mãe — ela diz, observando as nuvens no céu. — Asami era exatamente como você, sempre colocava as necessidades dos outros acimas das dela, mesmo que isso custasse a sua vida — ela abaixa a xícara e seu semblante fica triste. — Ela herdou isso do nosso avô.

— Hashirama? — pergunto. Nunca tive a oportunidade conversar sobre ele com Tsunade,apesar de querer muito.

— Sim, ele era um homem incrível e um ninja excepcional — ela junta as mãos no parapeito e olha para o céu novamente. — Não me admira nem um pouco que você tenha herdado as habilidades dele — ela me olha e eu desvio o olhar para minha mão.

— Isso é bem irônico — abaixo minha xícara. — Ele era um dos melhores shinnobis que já ouvi falar e eu sou tão fraca... — sinto lágrimas pingando em minhas mãos agora.

— Você não é fraca, Akemi — ela diz, firme, e eu olho para ela. — Você só precisa... Se desprender do passado, sabe. Você precisa seguir em frente. Eles se foram e não foi culpa sua. Se sentir culpada por ter sido a única a ficar viva e ficar se martirizando por isso só vai te fazer mal cada vez mais.

— Eu sinto tanta faltadeles... — meu choro piora e eu cubro o rosto com as minhas mãos.

— Eu também sinto, todos os dias — ela me puxa para um abraço e isso me surpreende, pois nunca tínhamos trocado carinho nem nada. — Você vai conseguir passar por isso. Você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço, Akemi.

Tsunade acaricia meus cabelos enquanto molho a roupa dela com minhas lágrimas. Ela é a única família que eu ainda tenho, a única ligação com a minha mãe, por isso que sempre que estou com ela fico mais sensível que o normal. Me sinto grata pelo abraço, ele veio na hora certa.

Vemos o pôr do sol ali na varanda, mas acabamo mudamos de assunto e ficamos conversando banalidades para que eu me distraia um pouco. Nós duas rimos até nossas barrigas doerem e lágrimas se formarem em meus olhos. Esse fora o momento mais familiar que eu tive com Tsunade desde que a conheci. Quando já estou me preparando para ir embora, ela me dá dois presentes. É um quadro de foto, a fotografia dentro dele mostra minha mãe, Tsunade, Hashirama e Tobirama. Hashirama segura minha mãe no colo e Tobirama segura Tsunade, todos riem menos Tobirama que está tendo a bochecha apertada por uma mini Tsunade. Meus olhos recaem sobre minha mãe. Ela já era linda desde pequena. O outro presente é um cordão que ela me diz que pertenceu à Hashirama. Eu o coloco no pescoço e o pingente fica ao lado do pingente que contém a foto da minha família.

— É pra você se lembrarque nunca estará sozinha — Tsunade passa uma mão no meu cabelo.

— Obrigada, tia — digo, sinceramente.

Nós nos despedimos e eu volto para o meu apartamento. Faço uma lista do grupo que levaria para Sunagakure e depois vou tomar um banho. Enquanto seco meu cabelo na frente do espelho, eu penso no que aconteceu entre mim e Gaara mais cedo. Se os irmãos dele não estivessem no apartamento, eu não gosto de pensar que teríamos feito algo, mas teríamos sim. Eu fecho os olhos, respirando fundo. Tenho a sensação de que essa minha volta para a Areia ou vai nos aproximar mais ou nos afastar de vez.

Mais tarde, sou avisada de que Kakashi está me chamando em seu escritório. Sem muita vontade, me arrasto até o prédio do Hokage. Dentro do escritório encontro os filhos do Kazekage. Minhas bochechas coram violentamente quando Gaara me olha.

Kakashi diz à nós quatro tudo o que ele havia dito à mim, assegurando Temari de que eu não sou nenhuma mentirosa. A única opção dela é ter que aceitar. Por sorte, eu tinha enfiado no bolso da minha calça a lista que eu tinha feito dos ninjas que iam me acompanhar antes de sair do apartamento, então entrego logo à Kakashi. Ele diz que conversará com todos e que eles me encontraram amanhã. Sem ter mais o que falar, nós saímos. Gaara e eu não nos falamos.

Antes de dormir, eu faço uma carta para Neji. Às cinco da manhã, quando acordo, vou, silenciosamente, até o distrito dos Hyuga e entro no quarto de Neji, que está com a janela aberta. Deixo a carta na mesinha ao lado de sua cama. “AKEMI” é o que está escrito bem em cima e a primeira coisa que ele veria. Se ele vai ler ou não o que escrevi eu não sei, mas espero que sim.

— Me desculpe. Por tudo — digo baixinho, observando o garoto adormecido. — Eu amo você.

Chego ao portão de entrada da aldeia às 5:15 e todos já estão me esperando, até mesmo o grupo de ninjas que vão comigo. Ajeito minha mochila nos ombros e uma caixinha que eu havia colocado dentro dela parece ficar incrivelmente pesada. A caixa é uma das poucas lembraças que eu tenho da minha mãe e agora eu estou indo para o lugar que havia tirado sua vida. Observo Gaara enquanto caminho até eles, rezando para que eu realmente fosse forte o suficiente para passar por essa nova “fase” da minha vida.


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