The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 12
Sayuri: primeiro contato.




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Faço calmamente o caminho de volta até a casa construída por Akemi. Fui a primeira a acordar e aproveitei para ir atrás de algo que pudéssemos fazer de café da manhã. Só achei algumas frutas, mas já está de bom tamanho, não estamos em condição de exigir nada.

Enquanto refazia o caminho, aproveitei para pensar um pouco nas coisas que tem acontecido desde o momento em que coloquei os pés na Vila da Folha. É meio óbvio que eu não esperava que acontecessem muitas das coisas que aconteceram e beijar Sasuke está no topo dessa lista. A única coisa que eu esperava quando cheguei lá era ir em um dia e voltar no outro. Mas não. Aquele ataque tinha que acontecer, Sasuke tinha que me reconhecer, Akemi tinha que ficar em perigo e nós quatro tínhamos que vir nessa missão que está um fracasso. Porém, me recuso a pensar no momento em que aquele beijo aconteceu simplesmente porque não posso me dar esse luxo. Não aqui, não agora, não com ele estando tão perto.

Quando chego a casa, me surpreendo com o que vejo. Akemi, Gaara e Sasuke já estão acordados e estão do lado de fora discutindo sobre algo — bem, na verdade, Akemi e Sasuke estão discutindo, Gaara está apenas alternando o olhar entre um e outro. Levo uma maçã a minha boca e dou uma mordida, vou de mansinho para que não me escutem, pois estou bem interessada em saber do que isso tudo se trata. Tento chegar sem ser notada, mas isso é quase impossível quando se trata de três shinobis experientes como os que tenho como companheiros de equipe. Institivamente eles viram a cabeça na minha direção. Paro a maçã antes de ela chegar à minha boca e faço uma cara de quem acabou de ser pega fazendo algo proibido.

A primeira pessoa a vir correndo em minha direção é Akemi. Ela não se importa com as frutas que estou carregando e me surpreende com um abraço que teria me levado ao chão se eu não tivesse feito um esforço para manter meu equilíbrio. Não sei como nos tornamos amigas nesses dias, mas fico feliz em sabe que ela se preocupa comigo. Enquanto Akemi me abraça não posso deixar de sorrir. Entendo porque Gaara gosta dela, essa garota tem um bom coração. Akemi finaliza o abraço e me segura pelos ombros, olhando em meus olhos.

— Onde você estava, Sayuri? — seus olhos exigem uma explicação. — Você quase nos matou de susto.

Abro a boca para responder, mas sou interrompida por Sasuke. Ele chega perto de nós duas tão silenciosamente que só percebo o que acontece quando já é tarde demais. Ele faz um movimento rápido, colocando o cotovelo em meu pescoço e me jogando em direção a uma árvore. Deixo as frutas caírem no chão. O impacto com o tronco me faz perder o ar por alguns segundos. Ele vem em minha direção e estou tão atordoada que se não fosse por Akemi se meter entre eu e ele, não sei o que Sasuke teria feito.

— O que você pensa que está fazendo, Sasuke? — Akemi está visivelmente alterada, está em posição de ataque, segurando duas kunais em suas mãos. Me pergunto se ela seria capaz de machucar Sasuke para me proteger.

— Essa imbecil! — Sasuke vocifera, olhando para mim. Ele tenta empurrar Akemi para longe, mas ela bloqueia o braço dele com o próprio. Sasuke nem se abala.  — O que você pensa que está fazendo, sua inútil? Acha que a gente está em um parque de diversões? Você não pode sair assim sem mais nem menos! Nós pensamos que você tinha sido sequestrada ou que tinha sido morta! Que merda você tem na cabeça, garota?

Akemi faz um movimento rápido com as mãos e tenta empurrar Sasuke para trás, mas, assim como ela fez, ele bloqueia seu golpe rapidamente. Ela levanta a cabeça e os dois se encaram.

— Se esse é o seu jeito de dizer que estava preocupado com ela, você tem um jeito muito estranho de fazê-lo — Akemi diz.— É melhor você se afastar, Sasuke.

— Eu não estava preocupado com ela! — Sasuke diz, se afastando.

— Tanto faz — escutamos a voz de Gaara. Nós três viramos o rosto para olhá-lo. Ele vem até mim segurando as frutas que eu trouxe, estende a mão para me ajudar a levantar e me devolve as coisas que eu trouxe. — Tanto faz o que acontece entre vocês dois. A única coisa que eu peço a vocês é que se aturem pelo bem dessa missão. Akemi precisa disso, então tenham um pouco de consideração.

Ao meu lado, o rosto de Akemi fica vermelho. Arrisco olhar para ela pelo conto do olho e percebo que está surpresa com o que Gaara acabou de falar. Sasuke passa uma mão no rosto, visivelmente irritado. Tentando seguir o que Gaara disse, faço um esforço para controlar minha raiva e começo a dar as frutas que eu trouxe para Akemi e Gaara. Bato com uma maçã no peito de Sasuke e me afasto pisando duro. Nós comemos as frutas em silêncio e depois que terminamos combinamos de continuar a nossa viagem.

Para apagar os vestígios de que estivemos por aqui, Akemi destrói a casa que construiu apenas tocando no chão. Ela limpa as mãos e nós subimos nas árvores. Sasuke diz em que direção devemos seguir e já estamos nos movendo quando sinto algo. Sasuke diz em que direção devemos seguir e já estamos nos movendo quando penso em algo. Peço para que todos parem.

— Vocês já pensaram que talvez nós estejamos indo para um lugar que não tenha nada? — pergunto.

— Como assim? — Gaara cruza os braços.

— Eu não estou querendo duvidar do Hokage, mas ele disse que talvez quem estamos procurando seja da Vila dos Artesões. Ele se baseou por boatos de que eles já passaram por lá, mas e se ele se equivocou e essas pessoas nunca nem tiveram pisado lá? Pode acontecer, ele é humano também.

— O que você sugere que nós façamos? — Akemi pergunta, interessada.

— Eu podia tentar rastreá-los usando um jutsu — sugiro.

— Só não nos faça perder tempo — Sasuke diz, encostando-se a uma árvore.  

Ignoro Sasuke e tento me concentrar. Diante do olhar atento dos três, fecho os olhos e começo a fazer meus sinais de mãos. Quando meu kekkei genkai é ativado, abro os olhos imediatamente. Akemi e Gaara ficam surpresos quando veem que meus olhos mudaram de um humano para os de um gato, Sasuke nem se abala e eu não esperava algo diferente. Olho para as palmas das minhas mãos e vejo o simbolo do clã Dobutsu ali com algumas mudanças. São dois círculos, um grande e um pequeno dentro deste, entre os dois estão os kanjis de vários animais; no meio fica o kanji do gato “neko”; em cima e embaixo deste ficam duas pequenas esferas; e, para finalizar, duas linhas nas laterais.  Agacho-me no chão e começo a farejar o ar. Para minha infelicidade, depois de alguns minutos, eu não encontro nenhum sinal de alguém meramente suspeito, porém sinto algo que me deixa bastante feliz.

— Sayuri? — Akemi se aproxima de mim, cautelosa. — Você sentiu alguma coisa?

Não respondo sua pergunta, pois começo a me mover, com os três em meu encalso. Vou parar em uma casinha onde vende leite. É feita de bambu e quando meus olhos encontram aquelas garrifinhas de leite que são vendidas para a população eu não hesito em pegar uma. Começo a beber, deliciando-me com o conteúdo. Escuto meus companheiros de missão chegarem alguns segundos depois, eu aceno para eles e vou em sua direção. Eles me olham incrédulos, mas o que eu posso fazer? Não é como se eu pudesse controlar minhas vontades. Paro ao lado de Gaara e começo a, inconscientemente, me esfregar nele. Não é algo que eu esteja fazendo por vontade própria, claro. Gaara arregala os olhos quando meu corpo entra em contato com o seu e tenta me empurrar da melhor forma que consegue para longe de si.

— Ela está... Ronronando? — Akemi pergunta, erguendo uma sobrancelha. Percebo que ela ficou um pouco incomodada por eu estar encostando em Gaara. — Sayuri?!

— Hum? — digo, sem olhar para ela. Estou muito ocupada com meu leite.

— Eu sabia que ela só ia fazer a gente perder tempo — Sasuke aperta a ponte do nariz. — É bem típico dela.

— Sayuri! — Akemi me segura firmemente pelos ombros. Eu volto a minha consciência e meu kekkei genkai é desativado. Eu olho para minha mão segurando a garrafinha e depois para a expressão de tédio de Sasuke e as de confusão de Akemi e Gaara. — E então? Encontrou algo?

— Err — coço a nuca, sem graça. — Eu escutei algo vindo daqui. Uma conversa, acho. Mas acho que as pessoas já foram embora pelo visto. Eles estavam falando sobre pessoas com capas vermelhas terem passado por aqui. — Akemi solta meus ombros. — Não se isso vai ajudar, mas eu encontrei leite. Vocês querem?

Sasuke abre a boca para falar alguma coisa — provavelmente para brigar comigo e me xingar —, mas ele é interrompido quando é atingindo por um cabo de vassoura. Ele se encolhe diante da agressão e eu, Akemi e Gaara tentamos entender o que está acontecendo. Abaixo meu olhar e me surpreendo com o que vejo. Ao lado de Sasuke uma idosa está de pé, segurando a vassoura como se fosse uma espada, lançando um olhar cheio de raiva para o Uchiha. Provavelmente ela é dona do lugar onde peguei o leite. Me seguro para não rir.

— Eu sabia que você ia voltar — a mulher diz. — Finalmente vou poder matar o Demônio da Folha!

— Você enlouqueceu? — Sasuke olha para a mulher incrédulo. — Eu não sou esse tal Demônio da Folha.

— Como você ousa gritar com os mais velhos? Moleque insolente! Demônio da Folha! — ela cerra os punhos e ergue a vassoura para bater mais uma vez em Sasuke.

Porém, ela não bate de novo, pois Akemi segura o cabo da vassoura antes que entre em contato com Sasuke. A idosa tira os olhos de Sasuke e observa Akemi. Sua boca forma um perfeito ‘O’ e seus olhos se arregalam. Akemi ergue uma sobrancelha, confusa diante da expressão da mulher.

— Senju... — a idosa sussurra.

— Como você sabe meu sobrenome? — Akemi parece desconfortável.

— Você é parente de Asami Senju — a mulhe afirma, depois franze o cenho. — Não é?

— Ele é minha mãe — Akemi responde.

— Graças a Deus — a mulher deixa a vassoura cair e abraça Akemi, pegando-a de surpresa. A garota fica sem reação por uns segundos, mas depois começa a dar tapinhas nas costas da idosa. — Ela me salvou do Demônio da Folha na última vez. Você irá me salvar agora. 

— Salvar... Do Demônio da Folha? — percebo que Akemi ficou mexida com o que ouviu.

Antes que alguém tenha tempo de falar mais alguma coisa, outra mulher, um pouco mais nova que a primeira, aparece. Ela tira a idosa dos braços de Akemi e começa a tagarelar sobre como a família da senhora fora massacrada pelo Demônio da Folha quando era mais nova, que ele a submeteu a um tipo cruel de tortura mental e que só sobreviveu porque foi salva pelo pai de Akemi. Nós quatro escutamos a história atentamente e parece surreal demais para ser verdade, mas Akemi está tão perplexa que imagino que seja verdade. Será que a mãe dela já tinha falado algo sobre o Demônio da Folha que ela não havia escutado na Anbu? Tenho que me lembrar de perguntar mais tarde.

— Acho que foi uma péssima ideia tirar a senhora de casa — a mulher mais nova diz à idosa. — Vamos voltar. A senhora precisa descansar.

A mais velha a abraça a outra, mas antes de ir lança um olhar mortal para Sasuke e diz:

— Dêmonio — logo depois pisa com toda a força que tem no pé dele.

— Mas o que...? — Sasuke range os dentes.

Ignoro o Uchiha para prestar atenção em Akemi. Ela está pensativa, encarando o chão como se algo muito interessante estivesse acontecendo ali. Me sinto na obrigação de perguntar se está tudo bem, mas não o faço, não acredito que seja o momento certo. Deve ser difícil para ela falar sobre o pai, talvez ele a tenha abandonado ou, quem sabe, morrido. Ao meu lado Gaara se mexe desconfortável, ele limpa a garganta, tentando quebrar o silêncio que se instalou e viro o rosto para encará-lo.

— O jutsu que você usou — diz. — É algo bem diferente. É um kekkei genkai?

— Sim, é — respondo. — Um kekkei genkai do clã Dobutsu da Vila da Névoa. Basicamente, eu posso com ele invocar animais, até mesmo os mais raros que existir em caso de extrema necessidade. Quando eu o ativo posso adquirir qualquer parte do animal em meu corpo como uma metamorfose, se eu quiser posso até me tornar o animal. Além disso, tenho a habilidade de me comunicar com qualquer animal, para pedir informações e coisas do tipo.

— Parece ser um kekkei genkai que exije um quantidade absurda de chakra — Akemi diz, chamando minha atenção. Não percebi que ela estava escutando a conversa.

— E é — respondo. — Mas tive muitos anos de treinamento para saber como usá-lo sem me levar ao limite — dou um longo suspiro. — Bem, acho que precisamos continuar.

— Só um minuto — Sasuke se aproxima de nós. Ele fica frente a frente com Akemi. — Sua mãe conheceu o Dêmonio da Folha?

— Sim — ela responde, a voz fraca.

— Ela falou com você sobre ele? — Sasuke franze o cenho.

— Comigo não. Eu era muito nova para entender alguma coisa sobre o mundo ninja, mas eu ouvia a conversa dela com meu pai, então sei de uma coisa ou outra.

— E você não pensou em mencionar isso quando o Kakashi falou sobre ele? — Sasuke assume uma posição ofensiva. Quero acreditar que ele não vai partir para cima dela, mas, só por precaução, eu pego uma kunai.

— É que... — Akemi abaixa a cabeça. Ela sabe que Sasuke tem razão e por isso não tem argumentos para contra-atacar. — É que eu não gosto muito de falar sobre meus pais e... Eu falei o que eu escutei sobre ele na Caçada!

— Você só pode estar de brincadeira! — Sasuke joga as mãos para cima. Parece não acreditar no que ouviu. — Você é idiota ou só burra mesmo? Qualquer informação que você tenha sobre o Dêmonio da Folha pode ser útil já que ele conheceu as pessoas que estamos atrás — Sasuke aperta a ponte de seu nariz. — E ainda te chamam de líder Anbu... Faça-me o favor, você não passa de uma garotinha, Akemi.

— Já chega — Gaara se mete no meio dos dois. O ruivo fica de frente para Sasuke, deixando Akemi atrás de si de uma forma protetora. — Você não tem o direito de falar esse tipo de coisa, Uchiha. Akemi se tornou líder Anbu porque mereceu o título. Ela não é nenhuma garotinha indefesa, é mais forte do que você pensa, e deve ter tido seus motivos para não ter falado.

— Como você sabe disso tudo? — Sasuke está com uma expressão cheia de raiva. — Ah, é claro. Você anda comendo ela, então é natural que fique puxando o saco. Entendo.

Gaara cerra os punhos e avança para dar um soco em Sasuke, mas eu me meto no meio, segurando o punho do ruivo no meio do ato. Não gosto nenhum pouco do que estou fazendo, pois acho que Sasuke realmente está merecendo uns tapas, mas não posso deixar que eles dividam esse grupo. Nós precisamos terminar essa missão da melhor forma possível.

— Escute, Gaara, não vale a pena — digo, olhando em seus olhos. — Sasuke é um imbecil. Tente ignorá-lo, nós precisamos terminar essa missão vivos.

Sinto a mão de Gaara tremendo na minha, ele está com os dentes cerrados e o cenho franzido, sinto toda sua raiva emanando na minha direção como se eu fosse um imã e entenderia se ele me tirasse do caminho e voasse em cima de Sasuke, mas, contrariando meus pensamentos, ele faz o que eu digo e dá um passo para trás. Dá as costas para mim e Sasuke e troca um olhar com Akemi. Não entendo o que se passa entre eles, mas depois disso os dois parecem prontos a voltar para a missão mais focados do que nunca.

— Vamos embora — Sasuke diz, começando a caminhar para a direita.

— Espere — digo, fazendo-o parar. — Eu acredito que chegaremos mais rápido se formos por aqui — aponto para a direção oposta.

— Por quê? — Sasuke cruza os braços.

— Porque meus instintos dizem que será mais rápido por aqui. E eu costumo confiar nos meus instintos, pois eles nunca erram.

— O mapa diz que o caminho é por aqui, Sayuri — ele aponta por outra direção. — E contra fatos não há argumentos.

— Bem, se você me deixar olhar o mapa eu vou poder ver se não tem um atalho ou algo assim até a Vila dos Artesãos.

Sasuke me surpreende quando ele tira o mapa de dentro do bolso de sua calça. Ele desdobra o papel e faz menção de me dar, porém, antes que minha mão alcance o objeto, ele o segura com sua outra mão e faz algo que me deixa boquiaberta. Ele rasga o mapa. Sim, rasga. Simples assim. Ao meu lado Akemi e Gaara ficam chocados com o que presenciam. Depois que a minha surpresa passa, começo a sentir raiva. Uma raiva tão grande que tenho vontade de gritar até ficar sem voz. Quem esse cara pensa que é? Ele por acaso acha que iria conseguir terminar essa missão sozinho? Sem pensar duas vezes, me coloco em movimento e o soco que não deixei Gaara acertar nele minutos atrás eu acerto agora com minhas próprias mãos. Sasuke cambaleeia para trás, mas não parece surpreso. Ele não parece ter sentindo nada e isso apenas me enfurece ainda mais.

— Não precisamos de um mapa. Eu sei o caminho — ele diz.

— Qual é o seu problema, Sasuke? — quase grito. — Você se acha melhor que todos aqui? Bem, deixa eu te dizer uma coisa, você não é! Se você é alguma coisa, então só pode ser arrogante e isso vai acabar te matando algum dia!

Sasuke não diz nada apenas me dá as costas e começa a andar pelo caminho que ele acha que é o certo. Meu corpo inteiro treme de raiva, sinto raiva de tudo relacionado a ele, até o fato dele existir. Sinto uma mão em meu ombro e vejo nos olhos de Akemi que ela está quase implorando para que eu mantenha a calma. Mesmo com as dificuldades, ela inda é líder dessa missão e faço o que ela quer, tentando me acalmar. Gaara, Akemi e eu seguimos atrás de Sasuke, voltando para o nosso caminho inicial.

Não paramos em nenhum momento. Não almoçamos e a vontade de fazer nossas necessidades não se faz presente. Sinto que estamos nos aproximando cada vez mais da Vila dos Artesões e isso começa a me deixar nervosa. E se encontrarmos alguém dessa organização? E se nós... Morremos? Um frio percorre minha espinha. Morrer não é uma opção. Olho para os meus companheiros e percebo que não sou a única nervosa. Porém, dos três, quem mais me chama atenção é Akemi. Enquanto pulamos de árvore em árvore, Akemi fica tremendo mais que vara verde. Entendo porque ela está assim e sei que, se algo acontecer conosco, ela vai se culpar pelo resto da vida. Afinal, estamos nessa missão não apenas por causa do ataque que ocorreu na Vila da Folha, mas por causa dela também. Porque quem quer que tenha causado aquele tumulto, está atrás dela.

Sinto vontade de falar algo encorajador para ela, mas nunca fui muito boa com as palavras, então permaneço em silêncio para não piorar ainda mais as coisas. Dou uma espiada atrás de nossa líder e vejo Gaara. Ele não tira os olhos de Akemi, está tão concentrado nela que me pergunto se ele acha que ela sumiria caso desviasse o olhar. A preocupação dele para com ela é quase palpável e, ainda que eu não entenda o relacionamento deles, acho legal da parte dele se preocupar assim. À minha frente enxergo apenas as costas de Sasuke. Ele é o que menos parece nervoso ou preocupado, mas sei que só está escondendo seus sentimentos. Ele sempre foi assim, afinal. Suspiro. Que a gente consiga voltar com vida, penso.

É quando a lua já está alta no céu que fazemos a nossa primeira parada a mando de Akemi. Ela para subitamente e grita para que façamos o mesmo. Nós vamos para o chão e no momento em que meus olhos encontram seu rosto, sinto meu coração começar a acelerar. Lembro que ela disse que tem a habilidade de sentir o chakra de qualquer pessoa. Não importa a que distância esteja, ela consegue sentir a pessoa, seus sentimentos e o que está fazendo. Pelo o jeito com a qual ela olha para todos os lados como um gavião procurando sua presa concluo que sentiu algo. Ou alguém. Nós quatro nos agrupamos, ficando de costas um para o outro. Não nos movemos e não nos atrevemos a dizer uma palavra, apenas deixamos Akemi se concentrar no que quer que ela esteja fazendo. Ela fecha os olhos.

— Dois à esquerda, três à direita, um na frente e quatro atrás — Akemi sussurra, parece estar falando consigo mesma. De repente ela abre os olhos, me pegando de surpresa. Usando seu chakra ela da um pulo e fica pairando no ar. — Estilo madeira — diz. — Técnica da Floresta Oculta!

Akemi abre seus braços e dos dois saem uma massa de pregos de madeira, indo diretamente para o chão. Ela sabe exatamente a direção que seus braços têm que seguir, os pregos atingem o chão em vários pontos diferentes e a única coisa que Gaara, Sasuke e eu escutamos são os gemidos de dor daqueles que foram atingidos. Do mesmo jeito que a ouvi sussurrar: pessoas foram atingidas à nossa direita, esquerda, frente e trás. Quando Akemi volta para o chão, eu não podia estar mais perplexa, seus braços voltaram ao normal, mas seus olhos ainda estão alertas. O que está acontecendo aqui?, penso.

— Será que eram apenas esses? — Akemi fala sozinha. Abro a boca para falar algo, mas sou interrompida quando ela erregala os olhos. — RÁPIDO, DISPERSAR!

Sem pensar muito, nós quatro pulamos para lados opostos. Não entendo o porquê dela ter falado isso até ver, segundos depois, uma chuva de agulhas voando na direção em que estávamos antes. Não acredito que ela foi capaz de sentir isso. Apesar de usar chakra, agulhas são algo tão pequenos e finos que seria quase impossível prever um ataque que não fosse de perto. Entendo porque ela se tornou líder Anbu. Parece que você realmente sabe escolher líderes, Kakashi, penso. Akemi aparece ao meu lado segundos depois, eu a encaro.

— O que está acontecendo? — pergunto.

— Estamos sendo atacados — ela responde o óbvio, olhando ao redor como um passáro.

— Isso eu sei — digo. — Mas você não tinha cuidado deles quando foi lá para cima usar seu jutsu estilo madeira?

— Eu pensei que sim, mas aparentemente tem mais deles. Bem mais.

Antes que possamos falar mais alguma coisa, as pessoas que estão nos atacando finalmente aparecem. São tantos que nem consigo contar. Procuro Gaara e Sasuke com o olhar e vejo que eles já estão em posição de ataque. Quem está nos atacando são nada mais nada menos que ninjas. Eles usam roupas pretas de diferentes estilos e cada um deles tem uma espada. Entretanto, o que mais me chama atenção são os olhos deles. Estão completamente vermelhos como se eles tivessem presos em algum tipo de genjutsu ou algo assim.

Acredito que estamos em desvantagem, pois o único aqui que tem espada é Sasuke e Gaara, por causa de sua areia, luta mais com defesa do que ataque. Os ninjas ficam em posição de ataque, Akemi e eu trocamos um olhar. Nós vamos ter que nos defender com o que temos. Pegamos nossas kunais e rezamos para que isso seja suficiente. Nós quatro atacamos sem esperar nenhum tipo de aviso.

Nos saímos melhor do que eu imaginei. Já tínhamos matados muitos e já tínhamos recebido muitos machucados também. Sasuke, Akemi e eu estávamos trabalhando apenas com ataque enquanto Gaara usava sua areia para nos proteger. Seria um trabalho de equipe impecável se não existe ali mais ninjasdo que conseguiríamos dar conta apenas com duas kunais e uma espada. Em um certo momento, nós nos reagrupamos novamente, ficando de costas um para o outro. Estamos ofefagantes e surpresos com o fato de que, quanto mais matamos, mais deles aparecem. Como isso é possível? Vou para o lado de Akemi.

— Há muitos deles — digo. — O que nós vamos fazer?

— Além do chakra que emana desses ninjas, eu estou sentindo um mais forte... — Akemi diz, confusa. — Nós precisamos continuar atacando ou iremos morrer.

— Eu já pensei em algo, mas preciso que vocês três se afastem se não poderá afetar vocês também — digo.

Rezo para que Akemi confie em mim — e ela confia. Na primeira oportunidade que encontra, Akemi pede para Sasuke e Gaara a acompanharem. Eles voltam para cima das árvores e eu fico sozinha ali embaixo. Os ninjas se reúnem ao meu redor, respiro fundo, tentando me concentrar. Vamos lá, Sayuri. Você consegue. Puxo uma etiqueta de dentro da minha mochila e, com um lápis, começo a desenhar um selo nela. Quando termino, jogo a etiqueta no tronco de uma árvore, quando tenho certeza de que ela se fixa lá, começo a fazer meus movimentos de mãos.

— Técnica do Destacamento da Alma! — digo.

Segundos depois que falo isso, os ninjas ficam estáticos. Eles reviram os olhos e caem de joelhos no chão. Como esperado, suas almas começam a ser sugadas para dentro do selo que criei. Não é uma coisa bonita de se ver e não me sinto bem em fazer isso com outras pessoas, mas foi a única coisa na qual consegui pensar em tão pouco tempo. Quando a alma do último ninja é sugada, a etiqueta começa a se tornar invisível. A única pessoa que pode vê-la sou eu.

Meus companheiros descem da árvore em que estavam, Akemi olha para mim perplexa, Gaara não demonstra nada e Sasuke me observa como se pudesse descobrir onde eu aprendi esse jutsu. Ele está desconfiando, penso. Ignoro o Uchiha e nos preparamos para atacar caso algum deles ainda esteja vivo, mas somos impedidos quando escutamos uma risada. Sim, uma risada. Franzo o cenho. Akemi começa a olhar para todos os lugares possíveis tentando encontrar o(a) dono(a) dessa risada. Ela se encolhe um pouco para perto de mim e isso não me deixa mais tranquila. Será que... Arregalo os olhos. Não pode ser.

Como se lesse meus pensamentos, duas pessoas pulam de uma árvore, parando bem na nossa frente. São dois homens e provavelmente são eles quem estão controlando os ninjas. Eles têm uma aparência um pouco distinta, o mais alto e, aparentemente, mais velho tem cabelos cor de areia e seus olhos são de um tom de vermelho; o outro, mais baixo e, aparentemente, mais novo tem cabelos brancos e lisos que vão até a sua nuca e estão amarrados em um rabo de cavalo, tem os olhos azuis pele branca e um rosto bonito. Porém, o que mais chama atenção são as capas que eles estão usando. É toda vermelha com aspirais pretas.

— Foram vocês que atacaram a Vila da Folha — Sasuke diz, pondo-se em posição de ataque.

— Talvez sim, talvez não — o homem mais velho diz. — Quem sabe?

— Nós temos provas! — Sasuke vocifera.

— E daí? — o mais novo provoca. — Como se nós nos importássemos.

— O que vocês querem? — Akemi vai para frente de nós três. Sinto vontade de puxá-la de volta para o seu lugar e mandá-la fica quieta, mas não faço. — Onde estão os outro?

— Ora se não é a Senju — o homem mais velho ri de novo. — Estávamos a sua procura, garotinha. Ouvi falar muito de você, só coisas boas. É um prazer finalmente te conhecer. 

— Onde estão os outros? — Akemi insiste.

— Como você sabe que tem mais de nós? — o mais novo pergunta.

— Eu sei que vocês são uma organização — ela responde. — Agora respondam!

— Você acha que só porque é líder Anbu manda em todo mundo? — o mais velho ri e percebo que a risada que escutamos minutos atrás era dele. — As coisas não são bem assim, Akemi. Fiquei surpreso quando vocês começaram a procurar pela gente, vocês não vão achar nada na Vila dos Artesões, então resolvemos nos apresentar só para vocês não voltarem de mãos vazias para casa — o mais velho aponta para o garoto ao seu lado. — Este é Kyohei e eu me chamo Ryou. Vocês estão certos sobre a organização, há mais de nós por aí, mas não cabe a mim e nem ao meu amigo aqui apresentá-la a vocês.

— Ora, seu... — Akemi tenta avançar para cima deles, mas eu coloco um braço na sua frente, fazendo-a parar.

— O que vocês querem com a Akemi? — pergunto. — Por que estão atrás dela?

Os olhos vermelhos do Ryou se voltam na minha direção. Ele me observa por um tempo antes de responder e isso me causa calafrios.

— Acredito que isso não é da sua conta, Sayuri.

Por um momento não posso acreditar em meus próprios ouvidos. Ele realmente falou meu nome? Eles me conhecem? Não é possível. Minhas pernas vacilam por um momento e me afasto de Akemi. Não tenho forças nem para me manter de pé quem dirá para impedi-la de ataca-los. Porém, Akemi tem bom senso e fica parada em seu lugar. Agradeço mentalmente.

— Não fique tão surpresa, líder Anbu da Névoa — o mais novo diz. — Nós conhecemos todos vocês. Akemi, Gaara, Sasuke, Sayuri... Sabemos tudo sobre vocês, é como se fossem da família — ele abre um sorriso.

Nós quatro ficamos completamente abalados com o que ouvimos, porém Sasuke é o primeiro a tomar alguma atitude. Ele aperta o cabo de sua espada e se coloca em posição de ataque, logo depois Gaara repete o movimento, espero que Akemi faça a mesma coisa, mas ela apenas continua parada assim como eu. Neste momento percebo que Gaara e Sasuke são bem mais forte psicologicamente do que nós duas e isso me frustra.

— Oh, vocês querem nos atacar — Ryou diz. — Que fofo da parte de vocês acharem que têm alguma chance contra a gente. É uma ideia idiota, mas aprecio a força de vontade.

— Vamos mostrar a eles um pouco do que somos capazes — Kyohei diz.

Ryou olha para cima, para o céu, como se estivesse vendo as horas, depois abaixa a cabeça e solta um suspiro.

— Acredito que temos tempo, mas tente não matar a Senju, tudo bem?! Eu não quero ter que me envolver em uma briga com aquele idiota, você sabe como ele pode ser temperamental.

— Idiota? — Akemi sussurra. — De quem vocês estão falando? É o chefe de vocês?

— Como você é irritante, Akemi — Ryou massageia as têmporas. — Isso deve ser coisa de...

Ele não termina de falar. Algo o interrompe, algo que só ele e Kyohei podem escutar, pois trocam um olhar. Os dois deixam os ombros caírem, como se tivessem sido derrotados, depois lançam um olhar de “me desculpe” para nós quatro. Ergo uma sobrancelha. Será que eles receberam um chamado? Seria o chefe deles? Cerro os punhos.

— Sinto muito, mas não vamos poder ficar para ver algum de vocês morrer — Ryou diz. — Estamos sendo chamados para algo mais importante que isso aqui. Como eu ia dizendo antes, chatice deve ser coisa de família — ele lança um olhar incisivo para Akemi. Entendo que ele está falando diretamente para ela.

— Deixa eu só fazer uma coisa, por favor — Kyohei diz.

— Só não se empolga muito — Ryou diz.

Kyohei abre um sorriso demoníaco e desembainha sua espada. Não é como a katana de Sasuke, é mais curta, com a lança com pouco mais curvada e vermelha. Como se saíssemos de um transe, Akemi e eu adotamos a mesma posição de Gaara e Sasuke. Entretanto, não temos tempo de fazer nada, pois as coisas acontecem em questão de milésimos. Em um minuto ele está parado na nossa frente, no outro está atrás de Akemi. Gaara, Sasuke e eu viramos rápido nossas cabeças, tentando entender o que aconteceu. O rosto de Akemi está com uma expressão de pavor, mas acredito que ela parece bem. Grande engano. Segundos depois, dois cortes aparecem no braço dela. Cortes profundos, o sangue começa a escorrer por seus braços e ela cai de joelhos no chão, gritando de dor. É a minha vez de ficar com uma expressão de pavor. Que diabo esse garoto acabou de fazer? Sasuke é o segundo a se mover. Ele tenta ir com a maior velocidade que consegue para cima de Ryou.

— SASUKE, NÃO! — grito.

Mas falo tarde demais. Ele para subitamente no meio do caminho. Suas costas se retesam e ele deixa cair a espada. Será que Ryou o atingiu de alguma forma? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Estou desesperada por estar tão impotente aqui. Ryou se aproxima de Sasuke, coloca uma mão em seu ombro e diz algo em seu ouvido. Ele se afasta rindo e isso me deixa em pânico. Sasuke vira de frente para mim e vejo que ele está com os mesmos olhos daqueles ninjas, completamente vermelhos. Não pode ser, penso. Sasuke pega sua katana e começa a andar em nossa direção.

Do outro lado, escuto o grito de Akemi. Viro a cabeça para ver o que está acontecendo e não posso acreditar em meus próprios olhos. Ela está deitada no chão, seus braços estão presos pelo seu próprio... Sangue. Arquejo, tropeçando em meus pés. O sangue que escorria do braço de Akemi se transformou em duas correntes presas diretamente ao chão. Ao meu lado Gaara está tão perplexo quanto eu. Tiro os olhos de Akemi e olho para Kyohei, suas mãos estão só sangue, provavelmente de Akemi. Ele lambe um delas e começa a rir. Será que... Será que foi ele quem fez isso com o sangue dela? Como isso é possível?

Sasuke passa por mim. Ele vai direto em Akemi. Tento segurá-lo pelo braço, mas ele me empurra para longe. Sua força parece ter duplicado de intensidade, pois sou praticamente arremessada no chão. Ele continua andando e quando chega a centímetros de Akemi, segura sua espada com as duas mãos. Ele ergue o braço e quando entendo o que vai fazer, é tarde demais.

— NÃO! — Gaara grita.

Sasuke abaixa os braços e consequentemente a espada, enfiando a ponta dela em algum ponto do abdômen de Akemi. Ela berra de dor, enquanto o sangue se acumula em sua barriga. Sasuke continua parado lá, sem esboçar nenhum tipo de expressão. Eu levo uma mão à minha boca, chocada demais para emitir qualquer som. Kyohei dá alguns passos para longe e acena com a cabeça para Ryou. De alguma forma Sasuke saiu de seu transe e quando percebe o que está fazendo, arregala os olhos.

— Não se mexa, Sasuke — digo, correndo até ele. — Não sabemos até onde a espada entrou. Se você puxar a espada pode matá-la.

— Isso não nem metade do que podemos fazer — a voz de Ryou cheaga até meus ouvidos. Eu viro de frente para ele. — É tão fácil pega um Uchiha no meu jutsu — ele ri. — Seu irmão, Sasuke, foi tão imbecil quanto você. Talvez até mais já que ele matou o próprio clã.

Dito isso, eles começam a se afastar e simplesmente desaparecem floresta adentro. Em um piscar de olhos eu os perdemos de vista em meio às árvores. Que merda acabou de acontecer aqui? Como eles foram capazes de fazer isso com a gente em questão de minutos? Penso em seguí-los, mas tenho prioridades e uma delas é cuidar para que Akemi não morra de hemorragia. Gaara e eu corremos até onde Sasuke ainda está com a espada enfiada nela e nos agachamos. Akemi está chorando e sei que não é só de dor. Olho para Sasuke, ele está de olhos fechados, mas seu corpo inteiro treme. Sei que ele ficou abalado depois do que escutou sobre o irmão. Por favor, não faça nada imprudente, penso. Mas minhas preces não são atendidas. Sasuke abre os olhos e vejo que estão tomados de raiva. Ele olha diretamente para Akemi.

— Eu espero que você me perdoe — ele diz à menina. — Mas eu preciso fazer isso.

Assim que ele acaba de falar puxa a espada e, no momento em que sai do corpo de Akemi, ela dá um grito. Não posso acreditar que ele fez isso. Simplesmente não posso. Sasuke começa a correr atrás dos homens e Gaara coloca a cabeça de Akemi em seu colo. Ela está quase para perder a consciência, mas isso não é o que mais me preocupa, é o sangue que não para de sair. Gaara me ajuda a tirar as mochilas das costas dela e pego uma toalha lá dentro, coloco na mão do ruivo.

— Pressione isso no ferimento até o sangue estancar — digo. — Eu vou atrás de Sasuke — Gaara não diz nada, apenas assente. Eu sei que ele está transtornado. — E Gaara — chamo, levantando. Ele levanta o rosto para me olhar. —, não a deixe morrer.

Dou as costas à eles e começo a correr. Ele vai tão rápido que mal tenho tempo de pensar se é uma boa ideia segui-lo. De qualquer forma, eu vou atrás dele. Sei que aqueles caras mexeram com ele no momento em que mencionaram Itachi — mexeu até comigo —, mas vou atrás dele apenas para trazê-lo de volta, pois não posso deixa-lo agir de uma forma tão imprudente. Aqueles caras são fortes demais e no estado em que nos encontramos não vamos conseguir fazer nada além de morrer.

Em alguns segundos consigo manter o mesmo ritmo da corrida de Sasuke e acabo o alcançando. Ele está tão transtornado que nem parece perceber que estou ao seu lado. Até o momento em que, usando toda a força que ainda tenho, ergo meu braço e o empurro em plena corrida. Sasuke perde o equilíbrio e colide com uma árvore. Isso serve para pará-lo, mas a única coisa que recebo em troca é um olhar demoníaco. Ele se recupera rápido do impacto com a árvore e avança para cima de mim. Ele me segura pelo pescoço e é a minha vez de ficar contra uma árvore. Ele teria me enforcado até a morte se eu não tivesse chutado seu abdômen. Ele se curva com a dor do chute e afrouxa a mão em meu pescoço. Isso me dá uma oportunidade de me mover para longe dele e é o que eu faço. Tento ir para longe dele, mas não chego muito longe, pois escuto um grito de Sasuke. É um grito cheio de tristeza e isso me pega de surpresa. Paro de andar e viro para ele. O Uchiha vem em minha direção, como eu já esperava, ele tenta me ataca, mas eu o bloqueio de todas as formas que eu posso. Estamos perto o suficiente para que eu veja a dor estampada em seu rosto. Seu rosto até cheio de arranhões e seus olhos negros parecem cansados como se ele não dormisse há meses. Tento toca em seu rosto, mas Sasuke desembainha sua espada e, por eu ter me distraído, ele consegue me prensar contra uma árvore de novo. A katana roçando em meu pescoço.

— POR QUE VOCÊ ME PAROU? — ele grita. Seus lábios tremem e me pergunto se ele vai começar a chorar. — QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA, SAYURI? AQUELES CARAS ESTAVAM FALANDO DO MEU IRMÃO! DO MEU IRMÃO! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA ME IMPEDIR DE IR ATRÁS DELES?

O calo quando dou um tapa em seu rosto. Seus olhos ficam arregalados e ele leva uma mão à bochecha. Estou ofegante, cheia de machucados e dores pelo corpo, mas estou pronta para me defender caso ele resolva me atacar. Como ele não faz nada, me ponho a falar.

— EU CONHECI O ITACHI TAMBÉM, SASUKE — grito de volta. — ELE TAMBÉM ERA MINHA FAMÍLIA, DE CERTA FORMA. Mas... — diminuo o volume da voz porque não tenho mais forças e nem motivação para ficar gritando. – Mas o que você fez com a Akemi... Foi horrível, sabia? Imperdoável. E se ela morrer? Você pensou nisso? Você arrancou a espada do abdômen dela como se ela não passasse de uma boneca de pano! O que eles falaram mexeu comigo também, mas eu vim até aqui parar você porque não podia deixar você ir. Simplesmente não podia. Mesmo você sendo um ser humano horrível — fecho os olhos e abaixo o rosto. Sinto a lâmina fria da espada em contato com meu queixo.

— E POR QUE NÃO, SAYURI?— ele grita, fazendo meus tímpanos vibrarem. — SE EU SOU TÃO HORRÍVEL ASSIM PELO QUE EU FIZ COM A AKEMI POR QUE VOCÊ NÃO ME DEIXOU IR? POR QUE VOCÊ SE METE TANTO NA MINHA VIDA, CARAMBA?

Não consigo mais me conter e seguro a lâmina da espada de Sasuke, fazendo pressão nela para baixo. Não me importo o quão profundo vai ser o corte que ela fará em minha mão, não me importo se ficará uma cicatriz. Simplesmente não me importo com nada porque não consigo sentir nada além de tristeza e desespero. Percebo que não estou tão diferente de Sasuke. Estou desesperada por respostas, estou desesperada para saber o que diabos eu tenho feito da minha vida, qual é o meu propósito aqui. Sasuke não parece se abalar com o fato de que eu estou segurando sua espada, mas se assusta no momento em que eu abro os olhos e o encaro. Eu sei que ele deve estar surpreso com o fato de que meus olhos estão cheios de lágrimas, mas não me importo. Preciso falar algo antes que eu perca completamente a coragem.

— EU NÃO DEIXE VOCÊ IR PORQUE EU NÃO POSSO TE VER MORRER, SASUKE — grito. Sim, grito, porque preciso que ele entenda isso de uma vez por todas. — Eu sei que os seus motivos são nobres, Itachi era seu irmão, afinal. Mas não posso te deixar correr para os braços da morte e ficar sentada sem fazer nada. Não dá, Sasuke. Simplesmente não dá.

Sasuke deixa sua espada cair no chão. Ele me observa com assombro, como se tivesse visto um fantasma. Espalmo minhas mãos em seu peito e amasso o tecido de sua blusa em meus dedos. Sasuke está duro como uma pedra, fico com medo de que ele possa desmaiar ou ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Mas ele não faz nada disso, apenas fica me encarando. Respiro fundo e tomo coragem para continuar falando.

— Nós precisamos cuidar da Akemi. Ele é nossa parceira, faz parte desse time. Não podemos simplesmente deixa-la morrer para ir atrás de respostas, Sasuke! Você precisa esperar até nos recuperarmos. Essas pessoas não vão desistir fácil assim e vão aparecer de novo. Você terá outras oportunidades. Só, por favor, até lá, dê mais valor a sua vida e a vida das pessoas que te cercam.

Quando termino de falar estou ofegante e não sei por que. Não tem mais nada a ser dito, pelo menos não de minha parte e espero que Sasuke reaja de alguma forma, mas não crio expectativas. Ele provavelmente vai tirar minhas mãos de sua blusa e vai sair andando como se nada tivesse acontecido. Me recomponho e começo a agilizar o processor, deixo minhas mãos deslizarem de seu peito e já me preparo para me afastar. Porém, antes que meus braços caiam ao lado do meu corpo, Sasuke me surpreende quando segura minha mão machucada e a deixa de volta em seu peito. Eu olho para ele surpresa e Sasuke faz algo que me deixa chocada. Ele fecha os olhos e se inclina na minha direção, encostando sua boca na minha segundos depois. Demoro alguns segundos para fechar meus olhos, mas quando o faço retribuo o beijo com uma intensidade incrível. Nossas mãos se soltam e as minhas vão parar em sua nuca enquanto as dele vão parar em minhas coxas. Ele me ergue e acaba me carregando. Entrelaço minhas pernas em seu quadril e abro minha boca para receber a língua dele. Aperto a blusa dele entre meus dedos e, neste momento, posso sentir que Sasuke está tão machucado quanto eu. Não fisicamente, mas internamente. O jeito com o qual nos tocamos... É como se quiséssemos arrancar nossas dores através de um beijo. Eu preciso dele do mesmo jeito que ele precisa de mim. O corpo dele grita pelo o meu assim como o meu grita pelo dele.

A falta de ar começa a se fazer presente quando me dou conta de algo. Sasuke e eu não podemos ficar assim apenas para esquecer nossos sofrimentos, pois apenas sofreríamos ainda mais. Nós não podemos usar um ao outro para acabar com o vazio que sentimos dentro de nós mesmos. Nós precisamos vencer nossos demônios primeiro para depois começar a pensar em coisas como essa que estamos fazendo. Meus pulmões começam a protestar e nós nos separamos. Estamos ofegantes, mas ainda conseguimos ver algo nos olhos um do outro: tristeza. É um sentimento que vem nos perseguindo desde que éramos crianças.

— Nós não podemos... eu não posso... — Sasuke se enrola com as palavras.

— Shh — digo, passando uma mão em seu rosto. Ele me deixa no chão. — Eu sei, não precisa dizer. Eu entendo o que você quer dizer porqueeu me sinto da mesma forma.

— Nós precisamos... — ele segura a cabeça com as mãos. — ARGH! POR QUE EU SIMPLESMENTE NÃO CONSIGO FALAR?

— Nós precisamos destruir o que nos destrói se quisermos ter algo como isso que acabou de acontecer — digo, completando o que ele ia dizer. Sasuke me olha. — Como eu disse, eu sei o que você sente. Você não precisa se esforçar tanto.

Sasuke assente e dá alguns passos para trás. Ele embainha sua espada novamente e começa a se afastar. Eu o sigo de longe. Não tem mais nada para ser dito entre nós dois, pois tudo o que precisamos falar não terá sentido se for falado agora. Refazemos nosso caminho em silêncio tento em mente que precisamos odiar um ao outro por enquanto porque é a única maneira de continuarmos vivos. Sasuke e eu temos nossas fraquezas, mas vamos fazer o possível e o impossível para não criarmos mais uma. “O amor torna as pessoas fracas, Sayuri. Então tenha certeza de que é a pessoa certa quando você amar alguém, se não esse sentimento será sua destruição”, a voz de meu pai invade meus pensamentos. Eu era pequena quando ele me falou isso, mas me marcou de uma forma tão profunda que lembro até hoje. Mas eu não o amo, pai, penso comigo mesma. Não é?


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