August escrita por BadMinnie


Capítulo 1
For the hope of it all


Notas iniciais do capítulo

Oi Foster,
espero que você goste do seu presente de amigo secreto!!



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for the hope of it all.

 

—Você tem certeza absoluta disso?

Encarei a tela brilhante do celular de Dominique, posto em frente à linha dos meus olhos, e soltei um suspiro. A palavra certeza já não tinha qualquer tipo de significado pra mim. Era difícil responder qualquer pergunta que a envolvesse, uma vez que nos últimos tempos tudo que venho tendo eram dúvidas infinitas, que eram mergulhadas na minha cabeça por outras questões complicadas.

—Só... Inicia, ok? – Eu dei de ombros.

Mas Dominique não o fez de princípio. Estávamos em um restaurante, ambas sentadas quase inclinadas sobre uma mesa distante, procurando a melhor posição para assistir a um conteúdo de vídeo. Vendo sua demora, encarei a loira com as minhas sobrancelhas erguidas.

—Rose, eu não acho que você esteja lidando com isso tudo muito bem. – Ela suspirou. Percebi pelo peso de suas palavras que ela finalmente estava soltando uma informação que havia guardado para si por muito tempo. – Acho que você está mergulhando de cabeça em um poço sem fim se for realmente ver esse vídeo... Além do mais, você já cortou o seu cabelo, então chega de fazer besteiras, ok? Ouve a sua prima uma única vez na vida-

—O que tem de errado com o meu cabelo? – Questionei, deixando a questão central ser esquecida. Coloquei a mão sobre os fios castanhos, esperando sua resposta.

—Você... Cortou ele.

—Sim, não foi uma besteira. Eu realmente quis cortar ele.

—Oh, então você gostou? – Ela parecia surpresa.

—Você não gostou?

Dominique ficou calada. Seus olhos azuis arregalados.

—Fala, Dominique!

—Gostei. É claro que eu gostei. Eu amei, ficou realmente incrível.

—Eu não acredito que você não gostou!

—Eu já disse que eu gostei, eu só teria... Deixado ele... Do tamanho que tava.

—Ah, quem liga pro que você pensa? – Revirei meus olhos, tomei o celular de sua mão e não continuei olhando para a loira até soltar as próximas palavras: - E no ano passado, quando você e Alice Longbottom¹ deram um tempo e você cortou o seu cabelo gigante sozinha? Pra sua informação, ele ficou torto. Eu pelo menos fui em uma profissional.

—Ei! Não adianta ficar destilando o seu veneno pra tentar fugir do assunto não, viu?

Era verdade, eu estava mesmo tentando fugir do assunto. Um assunto horrível e desagradável, daqueles que gostaríamos de esquecer.

Ignorei minha prima, sentindo seus olhos me queimando com o julgamento, mas também com a preocupação. Eu estava a um segundo de assistir um videoclipe de Scorpius Malfoy, um cantor de muito sucesso que costumava ser cliente da gravadora onde eu trabalho e também algum tipo de... Amante pra mim. Todos os tabloides indicavam que sua música fora inspirada em uma das mulheres de sua vida e eu precisava ter certeza de que não seria sobre mim.

Expliquei isso para Dominique com todas as letras e ela foi compreensiva, do seu modo.

—Tudo bem, então. – Ela concordou agora me puxando para encostar minha cabeça em seu ombro. Não importasse que estivéssemos em um restaurante público esperando o nosso jantar, ela iria me ajudar em qualquer lugar do mundo. – Vamos ver!

Meu dedo apertou o play e automaticamente os meus olhos encheram de lágrimas.

O vídeo e a música eram sobre mim, mas não da maneira que eu esperava.

Todo o conteúdo audiovisual despejado nos meus olhos durante os cinco minutos de duração de todo aquele circo eram irreparáveis. Dominique percebeu isso, porque ficou confusa e perplexa com a veracidade dos fatos, a representação da nossa história inteira em sua música e, principalmente no vídeo inteiro. Tudo. Tudo estava sendo retratado por ele e uma modelo tão parecida comigo, quanto eu poderia imaginar. Tudo, simplesmente tudo deixando a entender que eu fui apenas uma brisa de verão que bateu na sua vida. Um caso de verão.

Quando acabou e Dominique me encarou, minhas lágrimas já eram grossas e meu coração já estava partido.

Estava descobrindo agora o que fui realmente para Scorpius Malfoy.

—Rose... – Dominique tentou me abraçar. – Escuta, acho que a gente podia pegar o jantar e levar pra casa-

—Não. – Eu limpei as minhas lágrimas e neguei com a cabeça. Inconscientemente meu corpo se levantou da cadeira e eu ajeitei meu vestido negro no corpo. Apanhei minha bolsa sem demora. – Eu preciso ir até a gravadora.

—Rose! – Dominique gritou preocupada, chamando a atenção de outras pessoas. Eu deixei o dinheiro do meu pedido sobre a mesa e comecei a me agasalhar. Londres já tinha saído do verão a algum tempo e eu não queria pegar um resfriado. – Rose, pelo amor de Deus. Não é a hora de voltar pra gravadora. Por favor, o que você vai fazer lá?

—Eu vou trabalhar, Dominique. – Expliquei. Já tinha secado todas as minhas lágrimas, fechado o meu casado e estava pronta para partir. – Não se preocupe. Nos vemos quando eu sair de lá e voltar pra casa.

A gravadora era, talvez, o único lugar onde eu encontraria paz.

 Se eu pudesse ao menos colocar minhas mãos no teclado da minha sala de produção. Se eu tivesse condições de conseguir ficar sozinha, apenas segurando uma caneta e uma folha de papel, eu tinha certeza que conseguiria colocar tudo para fora.

Eles permitiram a minha entrada quando eu cheguei lá e disse que tinha uma nova composição para trabalhar e me deixaram sozinha, como sabiam que eu gostaria.

Com a caneta em mãos, o teclado disponível... Tudo que eu precisava fazer agora era colocar meus sentimentos à mostra se as lembranças permitissem.

Sentei em frente ao teclado primeiro. Uma melodia dolorosa havia se instalado em minha cabeça desde que eu havia saído do restaurante e pegado um táxi para me trazer aqui. Algo triste, melancólico, que ao mesmo tempo também soava como uma oferta de esperança e de paz.

Dedilhei aquelas pequenas notas com cautela e minha mente viajou. Quase que no automático, uma frase saiu de meus lábios e eu sabia que ela já fazia parte de uma música:

you’re never mine.

Depois que eu colocasse todas as palavras que eu precisava em uma música, deixaria ela no estúdio onde Scorpius trabalhava agora, como um presente. No mais, ainda escreveria um bilhete dizendo que essa música dizia mais sobre nós e sobre o que realmente aconteceu do que a versão dele.

 

 

“Então, eu sei que não é muita coisa, mas eu realmente acredito nesse projeto. Eu acredito que esse álbum possa ser um dos melhores que eu já tenha feito em toda a minha carreira, porque eu trabalho sempre com essas convicções. Sempre melhorar”.

Lembro naquele dia, quase seis meses atrás, que Scorpius Malfoy terminou sua apresentação de projeto para um novo álbum musical esperando ser aplaudido.

Ele foi surpreendido quando os executivos da gravadora começaram a se levantar de suas cadeiras, na grande sala de conferência, sem se dar ao trabalho de o observarem ou dizer qualquer coisa sobre a sua oferta e as suas ideias. Eu entendi que eram boas, mas que ele ainda não tinha posto praticamente nada em ordem e que sua mente estava pensando em tantas ideias absurdas que poderiam mudar o rumo do cenário musical e da sua preferência de estilo, que nada do que ele dizia fez sentido.

“O que foi isso?” – Ele perguntou sobre os executivos saírem sem dizer nada ao seu empresário, que estava sentado ao seu lado.

“Eu não sei” – Anthony Zabini, se parecendo mais com seu melhor amigo do que empresário, deu de ombros. “Acho que você deveria ter vindo quando a ideia já estivesse madura”.

Não acredito que os dois tenham ignorado a minha presença, uma funcionária da gravadora, do outro lado da mesa, arrumando as minhas coisas.

“Não, eu não devia. Na gravadora antiga eu tinha espaço pra trabalhar mesmo sob essas condições. Eu sou assim. Passo mais tempo no estúdio do que em qualquer outro lugar, desenvolvendo um trabalho. Aqui eles só me dão isso quando eu tiver um projeto inteiro pronto? Isso é... Terrível”.

“Podemos melhorar o estúdio da sua casa e você desenvolve a ideia melhor lá, Scorpius. Eu não acho que eles gostaram da sua proposta. E a outra gravadora era horrível, tomavam o nosso dinheiro”.

“Oi” – Resolvi me manifestar. Peguei todos os meus papeis, segurando-os em meus antebraços e andei em direção aos dois. Naquela época eu sequer sabia... A melhor opção teria sido simplesmente ir embora, mas eu tinha essa mania de querer mergulhar de cabeça em projetos impossíveis e confusos. “Sou Rose Weasley, produtora”. – Estendei a mão em direção a Scorpius.

Depois estendi para Zabini, que ergueu suas sobrancelhas para mim em dúvida.

“Eu consegui ver o seu projeto” – expliquei ao cantor loiro. “Eu consegui enxergar a ideia”.

Os dois ficaram em silêncio.

“Ah, que ótimo!” – Zabini sussurrou. “A estagiária foi quem gostou do seu trabalho”.

“Você sabe que eu posso ouvir o que você tá sussurrando, né?”

“Ah” – O empresário ficou constrangido. “Olha, com todo o respeito do mundo, acho que a gente precisa de alguém um pouco mais... Profissional. Sabe, alguém, um pouco mais... Como eu posso dizer isso sem soar arrogante... Alguém um pouco mais experiente”.

“Eu acho que tenho toda a experiência necessária, senhor Zabini. Trabalho aqui desde os meus 19 anos, fui engenheira de diversos artistas. Participei da produção do último álbum do Coldplay, do Arctic Monkeys, The 1975. Ajudei na composição de algumas músicas do Ultraviolence, da Lana del Rey e de muitos outros artistas do cenário Indie e folk. Como um dos meus maiores orgulhos, fui convidada pelos estúdios Abbey Road pra dirigir um projeto de homenagem aos Beatles, quando diversas edições comemorativas de cinquenta anos dos garotos de Liverpool surgiram”.

Ele ficou calado, assim como Scorpius que ficou impressionado.

O que eu posso dizer? O mundo da música é sempre cheio de oportunidades para jovens como eu, apesar de ser mais difícil quando você tem uma vagina. Mesmo assim, eu cheguei lá.

“Era a reação que eu imaginava” - Sorri, deixando os dois mais relaxados. “Como eu ia dizendo, eu consegui enxergar a sua ideia. Apesar de ela ainda estar muito embaralhada”.

“Eu só preciso de tempo e espaço pra desenvolver ela melhor” – O loiro explicou. “Eu só pedi essa reunião, porque acreditei que teria essa liberdade aqui”.

“E você vai ter”. – Eu garanti. “Pode acreditar nisso. Eu vou conseguir liberar o estúdio pra você e nós vamos trabalhar nesse novo álbum e ele vai ser o seu melhor trabalho”.

Scorpius sorriu encorajado. Zabini, apesar de ainda estar um pouco envergonhado pela maneira como havia me tratado, respirou de uma forma mais aliviada. Eu não tirei meus olhos castanhos dos incrivelmente azuis de Scorpius, no entanto, porque naquela época eu já estava vendo toda a sua criatividade sair dali e, além do mais... Ele era deslumbrante.

Não fui embora naquela noite, passei 27 horas na gravadora. Eu precisava garantir que quando Scorpius fosse trabalhar comigo pela primeira vez, ele teria uma pessoa para confiar, alguém que não fosse controladora, que deixasse sua criatividade trabalhar sem estipular um prazo de entrega, ao mesmo tempo em que esse prazo se desenvolvesse da forma correta. Eu poderia forçar aquilo e ainda fazer parecer natural.

No meu cronograma tudo era bem certeiro. O tempo máximo daquela produção, estipulado pelo meu chefe, foi de três meses. Tempo para que a ideia estivesse completamente formada e encaminhada, assim Scorpius ganharia quanto tempo precisasse para produzi-lo. Seu álbum.

Com todas essas informações, eu separei dias para que discutíssemos as ideias, dias em que ficaríamos presos no estúdio até de madrugada, dias para que ele apresentasse suas letras, dias para melhorarmos elas, horas para a produção de cada uma, horas de estudos, horas, dias, semanas... Tudo estava planejado. Quem sabe terminaríamos antes do verão.

A única coisa que não estava planejada era... Bem... Eu me apaixonar por ele.

Scorpius era uma pessoa incrível de se trabalhar, descobri isso com o tempo. Ele era novo na gravadora, já que havia tido problemas com direitos autorais na antiga e queria ter mais liberdade, não apenas com a música, como também em relação as suas opiniões políticas e sociais. Apesar disso, já se dava bem com todos por causa da sua simpatia tímida.

Foram semanas e semanas pensando em diferentes ideias, até que eu tive uma, quando abordamos a estética do trabalho.

“Scorp, eu acho que nós devíamos tentar imaginar o álbum como uma coisa só” – Comecei a explicar, gesticulando com minhas mãos. Naquela situação, estávamos sentados em um sofá de couro que ficava no estúdio. “Eu acho legal quando um trabalho é sólido e ao mesmo tempo se apresenta de formas diferentes, mas eu gosto também de um trabalho com estéticas parecidas, com cores iguais. Vamos tentar pensar nisso, ok?”.

Ele assentiu:

“Eu gosto de...”.

“Não tão depressa” – Eu o parei. Nesses ímpetos, que eu descobri que ele tinha essa mania de fazer as palavras saírem da sua boca com um milhão de coisas sem sentido, então eu precisava o guiar nessa tarefa. “Vamos conhecer os seus gostos primeiro, ok? Vamos conhecer você e ver como você se encaixa nessa nova fase”.

“Tá bem”. – Ele concordou.

“Ótimo. Qual é a sua cor favorita?”.

“Verde, sem dúvida verde.” – Scorpius respondeu. “Acha que o álbum devia ter uma estética verde?” – Ele questionou rapidamente. Vi em seus olhos a ideia se formando.

“Não! Qual é sua comida favorita?”.

“Eu gosto de pizza. Ah” – Seus olhos brilharam de novo. “Já pensou a capa de um disco desse jeito: um pedaço de pizza solitário em um prato com uma única mordida”.

“Não! Tirando a Inglaterra, qual é o seu país favorito?”.

Antes que ele pudesse responder a pergunta, percebi que ele pensava em uma resposta criativa e que não estava sendo sincero.

“Eu amo o Brasil. Já pensou na estética de um trabalho todo mirando na Amazônia-

Se Scorpius não fosse tão difícil, talvez eu não tivesse me apaixonado. Se ele fosse fácil, se tivesse a cabeça no lugar, eu não teria que tê-lo convocado para o conhecer melhor. Não através de perguntas, como eu tinha pensado em fazer primeiro, mas passando mais tempo com ele, fazendo as coisas que ele gostava de fazer, conhecendo ele de verdade...

Eu passei um fim de semana inteiro ao seu lado, descobrindo coisas que a princípio pareceriam estranhas e sem significado. Depois continuei nesse trabalho, por mais dias, mais semanas e mais tempo.

Descobri que ele gostava de tomar banho de banheira por quase duas horas, no seu banheiro de mármore em tons pasteis. Descobri que ele só comia duas rosquinhas no café da manhã e tomava um gole de chá, porque sua cabeça divagava nesses momentos. Ele sonhava acordado quando ficava tempo demais parado olhando pra um só lugar. Só gostava de ler livros no celular, pra sua mão não se cansar de segurar livros pesados e quando lia livros físicos ele não parava apenas quando o capítulo terminava, mas sim em qualquer lugar, em qualquer parágrafo. Por isso, ele sempre tinha que reler páginas inteiras de novo.

Não era só isso. Scorpius tocava piano de qualquer jeito, não passava tanto tempo pensando em tocar direito ou tocar música, na maioria do tempo ele só tocava o instrumento para alongar seus dedos. Ele era tão tímido, que chegava a ter vergonha de ligar para um serviço de atendimento pra pedir uma pizza ou um fast food.

Ainda sobre Scorpius, descobri que ele só sabia cozinhar doce. Qualquer coisa que fosse salgada ele achava trabalhoso demais, porque não envolvia abrir uma lata de leite condensado e juntá-la com uma fruta ou com chocolate. Ou seja, ele não sabia cozinhar, só sabia misturar ingredientes. O que, aliás, não era má coisa, já que eu também não sabia fazer nada disso. Assim, fui percebendo as coisas que tínhamos em comum a partir disso.

Nós dois gostávamos de filmes. Eu sei que isso parece genérico, já que todo mundo gosta de filmes. Não era só isso. Nós gostávamos dos mesmos filmes e, antes que a gente percebesse, já estávamos conversando sobre eles por horas, enquanto ele me mostrava a varanda de seu quarto na sua própria mansão.

“Realmente, O Poderoso Chefão é um dos melhores filmes já feitos. Eu concordo com isso, mas não é o melhor filme já feito. Pelo amor de Deus, máfia italiana? Isso é muito clichê!” – Ele revirou os olhos, rindo.

“Não era clichê até que O Poderoso Chefão surgiu”. – Eu rebati, sensata. “Mas ok, se quer mesmo falar do melhor filme já feito, que tal Um Corpo que Cai?”.

O céu estava nublado naquela noite. Em sua varanda tinha um enorme telescópio, e a sua ideia era me mostrar saturno. Quando chegamos e vimos a situação do céu, eu o tranquilizei dizendo que já tinha visto saturno um milhão de vezes a olho nu e com o meu próprio telescópio. O convenci a deitarmos no chão e olhar o céu nublado mesmo. Eu ainda não tinha uma estética para o seu projeto e precisava de mais informações.

Eu tinha gostado do céu nublado, pra falar a verdade. Seria uma boa estética.

“Um Corpo que Cai?” – Ele rebateu. “Hitchcook? Ok, acho que eu concordo”.

Deitada no chão duro, finalmente olhei para ele e abri um sorriso.

“Ele é o mestre do suspense, sabe fazer um filme como ninguém” – Exaltei o diretor de cinema e Scorpius virou sua cabeça para mim também, sorrindo animado. “O que você achou de Donnie Darko?”.

“Só consegui entender depois que vi a explicação em um programa de televisão”.

“Sério? Você não sabia que tem literalmente um livro explicando tudo sobre o filme?”.

“Tem ele disponível em ebook?” – Scorpius indagou. Eu soltei um riso pelo nariz. Ele era tão preguiçoso.

“Acho que esse só tem o livro físico, mas explica tudo. Fala sobre o universo tangente e sobre o receptor” – Dei de ombros. Era um livro muito bom.

“Fala sobre todas as teorias? Por exemplo, eu tenho certeza que o livro não fala sobre o Frank e como ele aparece até no início do filme, com o carro vermelho. Sabe? Aquela cena onde o Donnie tá andando de bicicleta?”.

“Ele não aparece dirigindo. O carro vermelho que atropela e mata a Gretchen que aparece, Scorpius”.

“Hum. Enfim, nada disso importa. Se te ajudar...” – Ele continuou falando, mas naquele momento virou seu corpo deitado em direção ao meu, ficando de lado. “o meu ator favorito no mundo inteiro é o Keanu Reeves. Depois dele, eu gosto muito do Leonardo Di Caprio. Esse último por causa de O Lobo de Wall Street”.

“Di Caprio?” – Perguntei retoricamente. Minha mente tinha viajado por algumas opções que relembrassem os anos 90. Essa era uma boa ideia também. Céu nublado, anos 90.

“Qual é o seu ator favorito?” – Ele perguntou.

Uni minhas sobrancelhas e não encarei o homem parado na minha frente. Apesar de Scorpius conseguir estabelecer boas conversas e saber manter um assunto de pé, ele ainda não tinha demonstrado um real interesse pelas minhas preferências. Não daquela forma. Eu já tinha lidado com outros artistas antes e já tinha acompanhado a vida deles, até conseguir essa tão importante estética. Nenhum, no entanto, era tão interessado em conversar quanto ele.

“Bem... Ator eu não sei. Eu gosto da Audrey Hepburn. Não do tipo ‘ah, eu gosto da Audrey Hepburn’ e sim do tipo ‘a Audrey Hepburn é a minha vida’”.

“Ela é linda. Sabe se o álbum fosse seu, não seria interessante uma estética Audrey Hepburn em A Princesa e o Plebeu?”. – Ele disse e me fez rir.

“Ou Charada”.

Rimos.

Naquelas noites as horas e o tempo não importavam. Era trabalho. É só que durante algum momento, deixou de ser só isso. Pelo menos pra mim...

Lembro principalmente de quando ele me mostrou os primeiros rascunhos de suas composições, já no estúdio. Antes que tivéssemos decidido toda a estética e qualquer outra coisa.

“Eu pensei em criar uma história, que falasse sobre experiências. Eu sei, você sabe e o resto mundo também sobre a minha reputação de escrever sobre relacionamentos passados e sim, eu tenho essa ex mais atual e sim eu tenho músicas e inúmeras letras de coisas que eu vivi com ela, mas eu queria fazer algo que fosse fora dessa realidade. Algo que fosse sobre outra pessoa e não sobre mim. Você entende isso?”.

“Tipo Tommy² do The Who? É uma Opera Rock onde todas as músicas contam a história de Tommy, o garoto cego, mudo e surdo”. – Eu questionei confusa.

“Não” – Scorpius riu, balançando a cabeça negativamente. “Tipo... Me colocar no lugar de outra pessoa, da história dessa pessoa e pensar como ela pensaria e colocar em uma canção”.

“Vai ser legal”. – Eu concordei, sem olhar com muita atenção enquanto ele falava. Estava pedindo para que a lanchonete da gravadora nos levasse comida.

“Você acha mesmo? Acha que vai ser legal? Eu posso até fingir ser uma pessoa que lida comigo mesmo”.

“Uhum. Vai ser super legal”.

“Posso escrever fingindo ser o meu pai falando sobre mim”.

“Uau, é super incrível”.

“Ok. Você quer jantar lá em casa amanhã?” – Scorpius perguntou. Olhei para ele daquela vez, dando de ombros, o vendo tocar no piano uma melodia que grudava na cabeça e parecia bem divertida. “Me-e-e-e uh-uh-uh-uh, tananan only one of me, tananana fun me” – Ele soava com a canção. “Meus pais vão estar lá”.

Assenti mesmo assim. Seria interessante.

E então eu conheci o quanto a sua família era incrível. Eu até tentava e infelizmente não conseguia esconder o quanto aquele clima familiar estava me deixando animada e divertida.

 O senhor Malfoy costumava ser um jogador de futebol, ídolo do Manchester City com passagem pelo Liverpool. A mãe, Astoria, ex bailarina famosa. Agora tinha uma escolinha de ballet em Londres e também participava uma vez por ano das produções de espetáculos grandes como O Lago dos Cisnes.

Foi nesse jantar que eu tive um tempo de diversão e descontração. Scorpius até deixou que eu tocasse no seu lindo piano de calda branca, tão clássico quanto sua casa maravilhosamente linda.

 “Querido, desde a época do Manchester City que não vemos esse piano velho” – Astoria recordou. Eu já tocava alguns acordes.

“A última vez que o vi foi quando ganhei a Premier League”. – Ele sorriu. “Bons tempos. E você, Rose, torce para algum time de futebol?”.

Decidi mostrar para eles o meu time de futebol da melhor forma possível: tocando nossa música favorita e hino ao piano.

When you walk through a storm”Cantei a primeira frase, com a ajuda do piano sob meus dedos. A família Malfoy inteira riu. Eu era uma torcedora do Liverpool, afinal. Diferente de todos eles. “Hold your head up high”.

“Eu não acredito que ela tá cantando You’ll never walk alone” na casa de torcedores do City.” – Scorpius reclamou, rindo.

And don’t be afraid, of the dark. At the end, cantem comigo”. – Pedi as gargalhadas. “Qual é? Todas as torcidas adversárias amam cantar o hino. Vamos. “Of the storm there’s a golden sky…and the sweet silver song of a lark.”.

 Os três estavam quase se rendendo ao hino. Eu tinha que continuar:

Walk on through the wind, walk on through the rain. Though tour dreams be tossed and bloooooown”.

“Walk on! Walk on”! — Todos finalmente se renderam. “With hope in your heart and you never. Walk. Alone. You’ll neeeeeeeeeever walk alone… Walk on! Walk on! With hope in your heart…. And you’ll never walk alone. You’ll nee-eeeever walk aloooooooooooone”.

Todos bateram palmas diante o fim da minha pequena apresentação. Eu não aguentei ficar sem rir um segundo depois disso, quando nós sentamos no tapete e os pais de Scorpius me contaram tudo que eu podia saber sobre a sua infância e sobre como ele sempre soube que viveria de música. Desde muito pequeno.

O loiro ouvia seus pais contando as histórias enquanto olhava pra mim. Ele era tão bonito, eu podia perceber agora, tão sensível, tão bonito com seus olhos da cor do oceano e o jeito tímido que me olhava, eu fiquei sem graça. Não daquele jeito horrível quando não estamos gostando, mas do jeito que deixa borboletas na boca do seu estomago e te faz ficar embaraçada.

Eu dormi no quarto de hospedes aquela noite. No dia seguinte Scorpius me levou para conhecer o seu lugar favorito da casa: um lindo jardim de orquídeas com um ótimo lugar para fazer um piquenique.

Ele me mostrou como cuidava de suas plantas e enquanto eu o observava fazendo isso, decidi que aquela seria a estética de seu álbum.

Quando contei a novidade, ele me deu uma de suas flores como forma de agradecimento.

“Eu acho que com isso o seu projeto está muito bem encaminhado” – Falei, por fim, ainda segurando a flor entre meus dedos. Scorpius parado bem a minha frente sorrindo genuinamente.

“Ah, Rosie” – Ele se aproximou, me deixando sem ar e envolveu minha cintura em seus braços. O seu abraço apertado me tirou do chão e me fez soltar uma gargalhada vergonhosa.

No final do terceiro mês apresentamos todo o projeto, nos mínimos detalhes para o chefe e ele liberou um orçamento gigante para que esse álbum de Scorpius fosse aproveitado. Isso acarretou em uma pequena festa de comemoração na casa do cantor, com seus amigos e eu fui convidada.

Foi um pouco estranho, nesse ponto. Lembro de uma cena onde eu segurava uma taça de vinho e observava a comemoração de longe, sem demonstrar tanto ânimo. As coisas estavam... Estranhas. Quando eu olhava Scorpius, naquela festa, seus olhos estavam sempre em mim e eu tinha que fingir um sorriso ou precisava desviar os meus olhos o mais rápido que conseguia.

Era uma sensação estranha que eu sentia, conforme tomava meu vinho lentamente. Eu podia sentir os olhos de Scorpius em mim, podia senti-lo me olhando, me encarando e isso me queimava de uma forma intensa. Mordendo meu lábio inferior, eu comecei a andar pela grande casa de Scorpius, deixando minha taça em uma mesa qualquer. Eu sentia que precisava de ar, que poderia ir até o local do jardim de Scorpius em que ele deixava suas orquídeas e respirar ar puro lá.

Mas eu estava enganada...

Eu não ia conseguir respirar lá, porque quando estava ali há poucos minutos, ouvi passos atrás de mim e me virei receosa.

Era Scorpius. Alto, loiro, parado com as mãos no bolso me encarando.

Ele não disse nada, apenas se aproximou e juntou nossos rostos.

Acho que já era uma verdade universal, a de que tudo que fazíamos se encaminhava para aquele momento. Eu já tinha percebido olhares que não eram normais, tinha entendido alguns flertes e seu pequeno interesse sobre como eu funcionava e como gostava das minhas coisas. Além do mais, tinha essa... Coisa... que eu sentia toda vez que ele olhava pra mim.

A música ao fundo soou ainda mais distante e um vácuo se instalou no meu ouvido quando nossos lábios tocaram. Se parecia muito com uma sensação de pressão e o fato de um de seus braços fortes terem passado por volta da minha cintura fizeram meu coração explodir.

Os lábios de Scorpius eram frescos como menta e eu também sentia o gosto de álcool.

Sua língua me invadiu com mais propriedade e intensidade, enquanto eu tomava as rédeas para deixar o beijo lento. Passei minhas mãos por seu pescoço e deixei um carinho desajeitado na base de seus cabelos loiros.

Ele era tão bonito, tão bonito e deslumbrante, maravilhoso, esplêndido com aqueles olhos azuis, o sorriso tímido, o cabelo beijado pelo sol, que eu podia ver sua beleza mesmo de olhos fechados e isso revirava o meu coração. Imagens suas se instalavam em minha cabeça, no meu pensamento, enquanto ele passeava com suas mãos pelo meu corpo e com sua língua em minha boca.

Eu tremi quando nos separamos com medo e ansiedade do que estava a vir pela frente.

Scorpius ainda deixou nossos rostos colados, com sua mão fazendo um carinho em minhas bochechas. Nossos olhos se encarando fizeram com que soltássemos uma gargalhada.

“Por favor não me diz que você se arrependeu e por isso tá rindo” – Ele falou nervoso, me fazendo gargalhar mais alto.

Então a música voltou alta e a pressão em meus ouvidos passaram e eu beijei ele daquela vez.

Tudo isso terminando em uma noite inteira que passamos aos beijos na varanda de seu quarto. Não apenas beijos é claro, como também sexo. Naquela noite eu tinha descoberto mais uma informação sobre ele e uma que eu não usaria para o projeto de seu trabalho. Não, não teria como descrever nem em música a sensação que eu senti quando ele beijava meu pescoço, deixava marcas em mim e me penetrava.

Então, agosto chegou e eu desejei que ele jamais acabasse.

Todos os dias com Scorpius pareciam dias de verão. Isso em parte porque só fiquei com ele durante o verão mesmo, mas vocês compreendem o que eu quero dizer com isso.

Era mais sobre a sensação. Era sobre a sensação de que eu via o mar, o sol quente, o céu azul limpo sem nuvens, todas as malditas vezes que eu olhava pra ele.

O trabalho não era nada. Nós produzimos cerca de cinco músicas juntos de seu álbum antológico e cheio de músicas incríveis e, enquanto fazíamos isso, nos divertíamos vivendo em uma espécie de “relacionamento” secreto, rindo, trocando beijos escondidos nas salas do estúdio, no sofá de couro.

Não era só sobre o sexo. Não pra mim.

O sexo também era impressionante, já que nossos corpos pareciam se encaixar de uma forma romântica. Eles tinham uma sintonia que eu nunca tinha sentido com ninguém e me faziam delirar. Lembrar disso dói um pouco e dói porque não era só isso, também tinham as nossas conversas malucas e sem sentido quando o sexo acabava e tudo que restava intacto eram nossas mentes.

“Você acredita em vida fora da terra?” – Ele perguntou, numa dessas noites.

“Mas é claro”. – Respondi. “Acredito que existem inúmeros universos, como eu não acreditaria em vida fora da terra? Talvez tenha vida em marte, talvez em saturno, independente das leis da física disserem do que precisa pra existirem essas condições. Nós não conhecemos sequer tudo que existe no nosso oceano, imagina em outros planetas e estrelas espalhadas por todo o cosmos”.

“Acho que isso tudo um dia vai acabar” – Ele soltou, melancólico, mas de uma forma divertida.

“Se levarmos em conta que bem no centro da nossa galáxia existe um buraco negro engolindo ela e que a Via Láctea viaja direto para o encontro explosivo com outra galáxia... Sim, vai acabar, mas isso vai gerar mais vida”. – Eu expliquei, me alinhando em seu peito nu e deixava minha cabeça castanha ali. “Às vezes eu me sinto tão triste por saber que nunca vou presenciar nada assim”.

“No fundo a gente presencia”. – Scorpius beijou o topo da minha cabeça, e fez em mim um cafuné. “Tem uma estrela sendo engolida por um buraco negro nesse exato momento e quem sabe um trilhão de planetas, estrelas, asteróides, meteoros se formando”.

Eu sorri e simplesmente soube que estava perdida. Estava apaixonada por ele, por sua sensibilidade, suas ideias, sua crença no universo, seus gostos, jeitos, manias e preferências. Nada nele podia me fazer gostar menos dele.

Agosto foi passando, o trabalho foi passando e nossos momentos incríveis juntos também.

Na terceira semana da produção do álbum eu tive que me desligar. Convite especial novamente da Abbey Road, o primeiro álbum dos Beatles iria completar sessenta anos e eu participaria da produção. Por mais que eu estivesse apaixonada por Scorpius, eram os Beatles me chamando e ele entendia.

Isso diminuiu um pouco o nosso tempo juntos, mas não teve qualquer interferência. Eu achava...

No entanto eu cedia demais por ele. Posso ver isso agora, eu cedia demais por ele e isso não é tão certo e romântico quanto parece. Às vezes eu precisava trabalhar em casa no projeto sobre os Beatles e precisava de tempo, mas ele me convidava pra ir até a sua casa, pra me divertir, para ficar comigo e eu deixava todos os meus planos pra trás.

Isso é tão idiota de se pensar agora. Deixar suas obrigações para ficar com alguém.

Dominique, minha prima e melhor amiga, já percebia isso:

“E quando vocês vão assumir essa história de vocês?” – Ela perguntava curiosa.

Eu dava de ombros. Não tinha qualquer interesse nisso.

“Rose, eu só espero que você não se magoe... Homens... Eles... São pessoas ruins e os cantores e famosos vêm com a fórmula em dobro porque sentem que podem fazer tudo”.

Não, eu disse, Scorpius não era assim. Dominique não conhecia ele, não sabia como ele era diferente de todas as outras pessoas do universo.

E, no final das contas, ele não era diferente de ninguém.

O pior é que ele não era bem resolvido e eu, literalmente, passei dias conhecendo e colhendo TODAS as informações possíveis sobre ele. Como eu não pude perceber que ele não era resolvido? Que vivia em uma margem irrealista entre seus próprios sonhos e a realidade? Que se afastava todas as vezes que sua cabeça loira entrava e se fechava, deixando ele preso a ele mesmo?

Às vezes ele ficava distante, mesmo no auge do verão, e eu ficava só observando essa distancia. Sobre essa distancia, ela parecia maior do que os milhões de quilômetros que separavam a Terra do Sol e dos outros planetas, só que ele estava bem do meu lado.

É difícil conviver com alguém assim, mas eu não me importava. Eu era assim também, tinha muitas semelhanças com ele. Talvez a principal diferença entre nós era que eu conseguia externar bem as minhas ideias. Infelizmente com sentimentos isso não funcionava da mesma maneira.

Acho que ele não percebeu em nenhum momento que eu estava preocupada ou louca de amores por ele e pelo seu jeito encantador. Se ele me pedisse para desenvolver um projeto em duas horas eu faria, mas se me perguntasse o que eu estava sentindo eu entraria em colapso.

“Rose” – Ele falou meu nome um dia. Estávamos na rua debaixo do meu apartamento, onde ele tinha ido me visitar. Por sorte, Zabini tinha despistado os paparazzi e mandado todos para outro lugar, assim Scorpius teria privacidade. “Adoro a rua da sua casa”. – Me segredou.

“Por quê?” – Eu perguntei rindo e confusa. “É tão normal...”.

Era só uma rua de paralelepípedos que Scorpius chamava de pedrinhas.

“Eu só gosto... Gostaria de poder ficar mais tempo aqui, mas eu preciso ir embora. Bem, vou ficar fora por um tempo, pra aparecer em alguns programas e divulgar que vem esse no trabalho por aí”.

“A produção já acabou? Está tudo certo?”.

Eu ainda estava com os Beatles.

“Já” – Scorpius assentiu. “E ficou perfeito, graças a vocês, mas o verão vai chegando ao fim e eu preciso retornar á realidade”.

No fim das contas, aquela frase não era apenas sobre trabalho.

Eu sei” – Eu assenti. “Sei como é, trabalho com isso o dia inteiro. Viagens até a América, dias inteiros nos bastidores de um programa, gravações de vídeos. Eu sei exatamente como é”.

“Que bom” – Scorpius sorriu.

O clima era agridoce agora em minha memória, mas naquele dia não era assim. Naquele dia o máximo que eu senti foi um aperto no coração de intuição. Sabia que eu sentiria falta dele e eu só sentia isso.

“Tchau, Rosie”. – Scorpius deu um doce beijo em meus lábios e em seguida entrou em seu carro vermelho conversível, um Mercury Comet vermelho de 68, para desaparecer por um longo tempo.

Depois disso ele sumiu. Não trocou mais mensagens comigo, não foi solicito nem nada parecido. Simplesmente sumiu e toda notícia que eu tinha sobre ele eram de tablóides sensacionalistas que diziam que ele estava triste, que estava com saudades da antiga namorada e que sentia que sem ela ele não poderia viver. Falavam que todo o seu álbum tinha sido feito pensando nela.

Eu não sabia nada sobre isso. O máximo que Scorpius me falou sobre sua ex namorada foi que ela gostava de cheirar cocaína e que gostava de quebrar jarros de vidro carro, além de ser narcisista.

Talvez tudo aquilo fosse verdade, afinal e ele realmente ainda gostava da viciada em cocaína e eu nada poderia fazer. Também não mandei mensagem, tentando preservar o pouco de orgulho que tinha em mim.

Agosto foi embora.

Por todos os anos da minha vida eu imaginei que aquele mês era lento, passava tão lentamente que eram três meses dentro de um mês só, mas naquele ano ele passou tão depressa quando um meteoro, muito mais depressa do que a descompressão que sofre uma estrela quando é engolida por um buraco negro e se torna nada além de uma escuridão infinita.

Dominique não disse em nenhum momento “eu te avisei”, exceto por duas ocasiões. Três, na verdade.

Eu merecia.

Merecia estar passando por tudo aquilo e agora, depois de todo o sexo, as conversas existenciais, crises de identidade, troca de informações sobre nós mesmos... Depois de tudo isso, Scorpius Malfoy simplesmente colocava uma modelo chinfrim no meu lugar para fazer um clipe contando todos esses momentos e diz nas letras de sua música que eu era um caso de verão, sem importância, sem muito significado e que ele estava arrependido.

Eu digo... Arrependido por quê?

Por que eu trabalhava com ele? Por que eu dei tudo de melhor que eu tinha para colocar as ideias estúpidas e embaralhadas dele em uma mesa e transformá-las em um projeto sólido e com futuro? Ou por que eu fui sua amiga, ouvi tudo sobre ele pacientemente e ainda falei sobre mim?

Eu não podia entender, mas fui forçada.

Agora tudo que restou dele em mim eu coloquei nessa espécie de música, que dei de presente pra ele. Quem sabe ele não a usa em outra ocasião? Em outro projeto? Quem sabe ele não goste de saber que vive perdido em minhas memórias, que eu vivi com esperanças de que tudo desse certo e eu fosse feliz, que eu desejei que agosto não acabasse e que durasse pra sempre?

Agora tinha ido embora, mais rápido que uma das inúmeras garrafas de vinho que já tínhamos bebido.

Acabado.

Terminado.

Finalizado.

Deixei a música dentro de um envelope e ele dizia: minha versão dos fatos.

 

But I can see us lost in the memory

August slipped away into a moment in time

'Cause it was never mine

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No dia seguinte a toda aquela confusão eu fui pra casa e dormi até ás três da tarde. Assim que acordei decidi ir até a padaria, comprar alguma coisa para comer e beber como café da manhã/almoço/café da tarde.

Andei menos de dois metros até ouvir o barulho de um carro antigo.

O barulho eu conhecia e vinha de trás. Olhei por cima dos ombros até ver o Comet vermelho de Scorpius adentrando nessa rua de pedrinhas onde meu apartamento ficava.

Deus o que ele quer agora?

Ignorei e continuei andando normalmente.

O comet passou a andar lado a lado comigo. Scorpius com o teto do carro abaixado e me encarando, enquanto também encarava a estrada em sua frente, que não tinha movimento nenhum. A rua era bem deserta, eu tinha escolhido ela justamente por me trazer paz, conforto e sossego. Agora Scorpius estava aqui atrapalhando o meu plano com esse carro vintage ridículo e esse olhar que me derretia por completo.

—O que você quer, Scorpius? – Perguntei sem paciência.

—O que foi aquela música que você deixou pra mim?

Então ele a viu? Ótimo!

—Você não sabe ler? – Fui grossa.

—Eu sei, mas eu não entendi nada. – Ele explicou. Parou o carro naquele momento e eu me obriguei a parar também, por ser burra e fácil demais. – O que você... O que aconteceu desde que... Desde que eu fui divulgar o álbum?

—Você sumiu. Isso que aconteceu.

—Eu sumi?

—Não, Scorpius. Eu. – Fui irônica.

—Mas é isso mesmo. Você sumiu. — Ele continuava falando sem parar de dentro do carro e eu continuava respondendo do lado de fora. – Você não mandou mensagens, não perguntou como tudo estava, o que estava acontecendo e como as coisas iam. – Eu franzi minhas sobrancelhas. Agora ele estava ficando louco de vez. – Você basicamente só se importava com o projeto, né?

Eu não sabia do que ele estava falando.

—Scorpius...

—Não. Não, não, não. Você ter ficado chateada com o vídeo que saiu ontem e com a música só mostra com todas as provas possíveis que você realmente só me via como um trabalho.

—Eu não sei do que você tá falando, Malfoy.

—Sabe sim, Weasley. – Ele rebateu. – Aliás, isso significa que você também não se importou muito com o meu trabalho. Porque, se tivesse mesmo se importado, se tivesse me ouvido, se não estivesse só interessada em realizar o seu desafio pessoal, teria se lembrado do que eu disse sobre esse álbum e do que eu disse sobre essas músicas.

Eu não sabia do que ele estava falando, diretamente. Fiquei um pouco vermelha com toda a confusão, já que agora Scorpius fazia parecer que eu não era a pessoa mais triste e revoltada naquela situação.

—Do que está falando?

—Estou falando do fato que eu deixei bem óbvio quando ainda estávamos discutindo o álbum, antes de eu te convidar pra jantar na casa dos meus pais. – Ele segurou o volante com força. Não força devido a raiva e sim ao nervosismo. Seu rosto estava ficando vermelho. –Você lembra do que eu disse que seria esse álbum? – Ele viu a confusão em meus olhos, então explicou logo de uma vez. – Eu disse que escreveria as músicas sob outras perspectivas e não somente músicas sobre mim. Que eu me colocaria no lugar das outras pessoas e escreveria pensando que sou elas.

—Então, a música do vídeo de ontem era sobre mim?

—A música era você. A música era você, Rosie. Você deixando claro que eu fui um trabalho, que fui um projeto, um caso de verão.

Meus olhos se encheram de lágrima de novo. Coloquei a mão sobre meus cabelos e suspirei, sem saber o que fazer. Então, no fim das contas, Scorpius pensou que eu tivesse me interessado por ele apenas pelo trabalho? E eu pensei que não passei de uma diversão de verão, quando na verdade ele... Gostava de mim?

—Eu senti a sua falta. – Dei de ombros e deixei escapar. – Porque... Gosto de você, Scorpius. Não foi só um trabalho. No começo eu perguntei tudo que tinha que saber para o projeto, sim, mas depois disso eu simplesmente me interessei em você de verdade.

Ele soltou os ombros relaxados. Em seus olhos eu pude perceber que ele estava tirando um peso de suas costas, por esclarecer aquela história absurda e de confusão que ambos fizemos. E ele sorriu, gargalhou na verdade, me levando a fazer o mesmo com ele.

Scorpius fez um movimento com a sua cabeça, pousou uma das mãos no volante, e encostou o outro braço na porta de seu conversível. Com um movimento de cabeça convidativo disse:

—Vamos! Entra no carro!

 

 

AUGUST

de BadMinnie,

para Foster.


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Notas finais do capítulo

¹ Foster, só uma pequena homenagem a sua história do Pride Month, afinal, foi isso que nos trouxe até aqui. Eu quis citar esse casal da Alice com a Dominique, porque realmente amei a sua história e eu poderia ler ela mais um milhão de vezes em enjoar.

² “Tommy” é um álbum do The Who, por sinal, um dos meus favoritos. O álbum inteiro só tem músicas que falam sobre o Tommy: um garoto surdo, mudo e cego. Todas as músicas sobre ele, todas as letras. É fantástico e lembra The Wall do Pink Floyd, pra quem tem mais proximidade com eles do que com o The Who, mas o The Who foi o pioneiro nesse estilo ?“pera Rock e foi incrível.


Então, quando eu vi que tirei você, amiga, quase entrei em um surto. Acho as suas fics incríveis, sempre cheias de criatividade e coisas novas, personagens interessantes e com personalidades fortes. Você também é uma autora super detalhista, que consegue escrever até sentimento com tanta precisão, então tirar você foi um desafio e tanto. Fiquei super nervosa da história não estar a sua altura. Espero que você tenha gostado, mesmo que seja só um pouco.

Escolhi Scorose porque era a sua primeira opção, e porque eu queria muito escrever a Scorose com esse “elenco”. Procurei colocar elementos que talvez você gostasse em uma história e tentei fazer dela uma one. Era pra ser menor, mas eu fui gostando cada vez mais de escrever sobre esses personagens, mas gostei tanto, que tive que me segurar pra não esperar mais e não transformar em uma long ou coisa assim.

Enfim, eu realmente espero que você tenha gostado.

Beijinhos e ótimas festas de fim de ano!!!!!



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