Keybringer Pirates escrita por Kardio


Capítulo 19
Capítulo XVIII


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Fazia muito tempo que não aparecia por aqui não é? Primeiramente, peço perdão pela demora em atualizar a história, passei por altos e baixos nos últimos tempos e pensei em largar incontáveis vezes, mas estou me reestruturando e tentarei postar com mais frequência daqui em diante, espero que aproveitem o capítulo!



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Capítulo XVIII - Kobilica. 

— - Joy - -

Desci as escadas vagarosamente, com muito cuidado para não fazer qualquer barulho, a pistola escondida nas minhas costas conforme esgueiro-me pela mansão escura, já era madrugada quando comecei a ouvir barulhos vindos do térreo, no começo achei que fosse apenas algum animalzinho, mas comecei a suspeitar que pudesse haver algum invasor, afinal, as notícias de que nossa senhora havia falecido já se espalhavam pelos mares, e talvez algum ladrão tenha aproveitado essas notícias para tentar saquear algo de valor.

Ao chegar ao hall, noto uma leve iluminação, pela direção da luz, deduzo se tratar da sala de jantar, aproximo-me sorrateiramente, locomovendo-me encostada a parede para evitar chamar a atenção do possível invasor. Chego a parede que dividia o corredor da sala de jantar e, em um rápido giro de calcanhares, adentro o novo cômodo segurando a pistola com as duas mãos, apontando-a para o vulto que minhas pupilas captam.

Deparo-me com um homem educadamente sentado diante a mesa de jantar, possuía a sua frente um belo bife, a qual comia com modos impecáveis, longos cabelos verdes amarrados em um rabo de cavalo, seus olhos de mesma cor erguem-se em minha direção enquanto ele continua a cortar o bife.

— Oh, vejo que finalmente acordou. - Sua voz mantinha a calma, embora pudesse ser notado que minha pistola incomodava-o. - Desculpe a liberdade que tomei, mas comprei esse belo bife e me senti na necessidade de prepará-lo, acabei comprando mais do que eu precisava, então fiz para você também. - Ele sinaliza com a mão para uma refeição posicionada no extremo oposto da mesa. - Peço que por favor abaixe sua arma e me faça companhia nessa refeição, como pode ver, não possuo armas, então não sou uma ameaça para você nessa distância.

— Creio que você possa entender minha precaução em manter-me com minha arma. - Respondo e ele abre um sorriso sincero.

— De fato, mas pelo menos sente-se, quero apenas conversar. - Cautelosamente me aproximo da mesa, examinando a sala ao meu redor e a cadeira à minha frente, tudo parecia normal, ele também parecia não ter ninguém consigo. 

— O que quer?

— Como eu disse. - Continua o jovem, voltando a saborear a carne à sua frente. - Apenas conversar. - Ele faz uma breve pausa, saboreando bem antes de continuar. - Existe um homem a quem procuro, gostaria de saber se você pode me dar informações sobre ele.

— E quem seria?

— Seu nome é Luke Hardy. Creio que você o conheça. - Minha tensão ao ouvir o nome o faz ter certeza que ele estava certo, não que ele tenha parecido duvidar disso em algum momento. - Não se preocupe, só tenho algumas perguntas a fazer.

— - Lyon - -

Depois de um longo tour pelo navio, finalmente Koby, que fez questão de me guiar e me apresentar ao resto da tripulação como seu “recruta pessoal”, o que me deixou muito encabulado, visto que consegui sentir olhares de inveja recairem sobre mim a cada nova declaração daquelas, não sei ao certo por que.

Ao chegarmos junto à porta, Koby dirige a palavra à mim.

— O dia amanhã começa as 5:30. - Ele fala de maneira direta, não parecia disposto a abrir mão da pontualidade, o que só me faz imaginar que motivos o levaram a estender tanto assim esse tour e me manter acordado até depois da meia noite. - Acorde, levante-se e esteja na minha cabine às 6. Visto que treinamento físico é muito perigoso para pessoas com sua condição, começaremos uma sessão de estudos, minha vontade é que, no momento que encontrarmos uma maneira de curar você, já seja de seu conhecimento cada mínimo detalhe do funcionamento burocrático da Marinha, e que tenha memorizado os nomes, rostos e alcunhas de cada marinheiro e pirata conhecido. - Sua face encontrava-se mais dura do que de momentos antes, o que me faz perceber que naquele momento não era o Vice-Almirante Koby que falava comigo, mas sim a alcunha que recebera, era “Koby, o Herói da Marinha.” - Assenti com a cabeça, batendo continência.

— Sim senhor, estarei lá às 6, sem falta. - Ele assente com a cabeça, virando-se. A capa branca da Marinha esvoaçando sobre seus ombros, as mangas soltas em suas costas, o imponente kanji de Justiça firmemente cravado nela. Engulo em seco. Essa é a primeira vez que parei pra pensar na magnitude de tudo o que eu estava vivendo. Mal consigo acreditar em tudo que aconteceu para que eu chegasse aqui.

Viro-me para a porta e abro, à esquerda do portal que dava para dentro do quarto, havia uma cama, com um jovem sentado sobre ela, ao me ver entrar, ele parece esconder algo atrás de si.

— O que faz aqui? - Ele pergunta rispidamente. Encolho os ombros, um pouco intimidado, olhando ao redor e vendo outra cama localizada no lado oposta da cabine.

— O Vice-Almirante Koby disse que essa seria a cabine onde eu dormiria… Acho que vamos ser colegas de quarto… - Ele pareceu emburrado, me olhando de cima a baixo.

— Agora sei por que o Capitão Zilei pediu um dos meus uniformes. - Ele deitou-se, de costas para mim, ainda escondendo algo em sua mão direita, que permaneceu distante de minha vista a todo momento.

Dirijo-me para a cama do outro lado do quarto, me sentando sobre ela. Sinto o colchão com as mãos. Duro e velho como um pão dormido. Um leve cheiro de maresia exalava dele, me fazendo perceber o balançar do barco que já começara a parecer imperceptível à medida que passo mais tempo no navio. Deito a cabeça sobre o travesseiro, liberando um cheiro nauseante de mofo no ambiente. Mas isso é algo que tenho que lidar. Eu sabia onde estava me metendo quando entrei aqui, não posso fraquejar…

Encaro o teto por um tempo, sentindo o leve solavanco do navio enquanto cortava as ondas do oceano. Suspiro profundamente, me virando para a parede, o que despeja uma nova onda de mofo no ambiente, o que parece irritar profundamente meu companheiro de quarto.

— Dá pra você se aquietar? - Ele grita, se virando bruscamente na minha direção, me assusto com o súbito esbravejar dele, me virando para ele.

— O que foi que eu te fiz? - Minha pergunta parece ter tirado-o de sua compostura, me dando coragem para falar novamente. - O que de tão mal te fiz pra ter me tratado mal desde o primeiro momento que me viu?

— Você estava lá! - Ele ergue novamente a voz, ficando em pé, me coloco sentado, observando-o meio assustado. - Você estava lá e do nada o Vice-Almirante escolhe você? Você sabe o quanto eu treinei? O quão longe fui para ter meu lugar aqui? Pra ter que disputar lugar com um moleque doente que vai morrer em dias e que não tem nada a oferecer pra Marinha?

— Eu não entendo, o que isso tem de mais?

— O que isso tem de mais? - Esbraveja Kaleb, agarrando-me pela gola. - Você tem noção de quem é esse homem? Koby é o homem que trocou socos com o Rei dos Piratas! Ele é o homem que prendeu o terrível Barba Negra! - Ele me solta de uma vez, me fazendo cair sentado sobre a cama, de onde ele havia me erguido levemente ao segurar a gola. - É uma perda de tempo e de recursos você estar aqui. - Ele diz duramente e podemos escutar a porta se abrir, ambos viramos para ver quem. Um marinheiro estava parado na porta, tinha as mangas da camisa dobradas até os ombros, uma das mãos segurava a bandoleira de seu rifle, que trazia sobre o ombro direito, a outra mão segurava a maçaneta da porta, diz com sua voz grave.

— Está tudo bem por aqui? - Kaleb se afastou, indo em direção a sua cama, voltando a se deitar de costas para mim. 

— Está sim, não há problema algum aqui. - Diz ranzinza. O marinheiro olha para nós por alguns segundos, saindo momentos após, provavelmente para continuar sua ronda, e nos deixando sozinhos no mais profundo silêncio, silêncio esse que durou todo o resto da noite.

— - Torui - -

Logo após chegarmos a Ulzah, nos separamos, visando seguir os planos que definimos ainda durante a noite anterior, o sol já começava a chegar próximo ao seu ápice de meio dia quando nós chegamos à sede da Kobilica, uma enorme construção, tão grande que mesmo chegando pelo mar no lado oposto da ilha, era possível ver o topo da mesma. Sua estrutura era uma amálgama de madeira, concreto e mármore, com diferentes materiais presentes em partes diferentes da construção, dando uma impressão robusta, Luke parece ficar muito admirado com a magnitude da estrutura e devo admitir que eu mesmo fiquei impressionado, mas não podemos deixar isso nos distrair.

Adentramos o lugar, vimos então um espaço que mais se parecia um porto, vários barcos parados e presos à amarradores, várias embarcações ainda em construção alinhadas uma ao lado da outra, quase todas com as pinturas azul-esverdeadas da Marinha, mas havia um ou outro navio já em processo avançado de construção com cores diferentes. É então que uma pessoa nos chama a atenção, um senhor por volta dos 60 anos e baixinho, era careca e possuía diversas tatuagens nos braços fortes, em seu pescoço havia duas tatuagens que chamam a atenção, um parecido a um galo e outro se assemelhando a um peixe, ambos pareciam duelar um com o outro, a cabeça brilhando com o suor, ele enxugava o suor do rosto enquanto esbravejava em um sotaque carregado.

— EI, SEUS IMBECIS, CUIDADO COM ESSA MIERDA, OS NAVIOS DEVEM ESTAR EM PERFEITAS CONDICIONES! QUEREM SUJAR O NOME DE KOBILICA? - Ele então começa a cruzar o pátio, julgo ser ele o homem encarregado de todas as construções. - SHERRIGAN! MALDITO CABRÓN! NECESSITO SIETE TRABALHADORES MÁS. - O sotaque dele parecia a ponto de trocar de idioma quando nos notou, vindo com passos fortes em nossa direção. - Perdão, hoje não é permitida a entrada de visitantes.

— Não somos visitantes. - Digo rapidamente.

— Queremos comprar um navio! - Completa Luke.

— Vocês têm alguma reserva feita? - Seu tom ao lidar conosco é bem mais calmo e controlado do que o de segundos atrás. Olhamos para ele sem entender. - A Kobilica mudou para um processo de construção por reservas nos últimos meses, só podemos atendê-los caso uma reserva tenha sido feita com o número de barcos desejado. - Outro homem aproxima-se dele, cabelos azuis, corpo magricela e pálido, usava óculos redondos, trazia em mãos uma prancheta e parecia consumido de estresse.

— Perdão, senhor, houveram alguns problemas com os cordames e tive que lidar com a situação.

— Não temos uma reserva. - Falo por fim, puxando novamente a atenção de ambos para nós.

— Lamento, senhor, mas não podemos atendê-los sem uma reserva. - Diz o homem magricela, que desconfio que seja o tal Sherrigan que o baixinho careca mencionou.

— Mas nós temos dinheiro! Podemos pagar. - Se exaspera Luke.

— Não podemos aceitar. - Diz o careca em voz profunda. - É necessário ter uma reserva, e acabamos de receber um pedido imenso vindo da base da Marinha daqui, estaremos sem aceitar novas reservas por pelo menos meio ano.

— Meio ano? - Sinto minha postura esmorecer e encaro Luke. Não temos todo esse tempo, mas, antes de podermos falar qualquer coisa, escuto uma voz falar atrás de mim.

— Jorge! Sherrigan! Eu faço. - Atrás de nós surge um homem que nunca vimos antes, um jovem adulto de cabelos cinzentos e olhos verde-esmeralda, ele era um pouco mais alto do que eu, usava calças jeans e uma regata vermelha.

— Seth. - O careca fala, seu nome aparentemente era Jorge.

— Você está atrasado. - Fala Sherrigan, em tom repreensivo. - E não vá escolhendo onde você vai trabalhar ou não, temos muitos navios para construir.

— E quem é que vai me impedir de escolher? - Ele se aproxima, parando do nosso lado, um sorrisinho desafiador surgindo em seus lábios, o que parece irritar Sherrigan, porém, antes que o mesmo possa se manifestar, Jorge se pronuncia.

— Como quiser, mas não designarei um único homem para lhe ajudar. - O forte homem responde duramente, pegando a prancheta que estava nas mãos de Sherrigan, vira algumas folhas e a entrega para Seth junto de uma caneta, fitando-o nos olhos. O jovem de cabelos cinzentos pousou sua bolsa, que só agora percebo que estavam sobre seu ombro, pegando a caneta e assinando a folha com seu próprio nome, percebo ele escrevendo “Seth K.” antes de devolver a mesma prancheta para Sherrigan.

— Eu rejeitaria mesmo que mandasse alguém. Trabalho melhor sozinho. - O funcionário magricela examina a prancheta, erguendo o olhar para nós em seguida.

— Nome do solicitante? - viro para Luke, que parece entender o que ele estava perguntando.

— Luke, Luke Hardy. - O homem parece preencher mais algumas lacunas antes de finalmente erguer novamente o olhar em direção a nós três, à essa altura, Jorge já havia se afastado e gritava com alguns carpinteiros ao fundo.

— Muito bem, por hora, a parte burocrática está pronta. - Seu olhar foca-se no de Seth. - Deixarei os detalhes da construção, de preços e pagamentos com você, tente não perder esse cliente também. 

— Eu? Nunca faria algo assim. - A ironia na voz do mesmo parece incomodar Sherrigan, que apenas assente e se afasta de vez, finalmente, Seth se vira para nós. - Perdão por isso tudo, eles tendem a ser um pé no saco.

— Ele disse que você perdeu clientes. - Luke fala rapidamente, focado no jovem. - Você é ruim? - A objetividade de Luke me deixa desconcertado, não é exatamente o tipo de pergunta que se faça desse jeito, mas Seth não pareceu vacilar nem por um momento, respondendo prontamente.

— Muito pelo contrário, sou o melhor. - Sua face não demonstrava nada além da mais absoluta confiança, ele não duvidava das próprias palavras. - Justamente por isso, não me rebaixo a trabalhar para qualquer um. - Ele se afasta alguns passos, tirando um maço de cigarros do bolso, que nos é oferecido por pura educação e, logo que ambos rejeitamos, ele retira um dos cigarros, pondo-o na boca e em seguida acendendo com o isqueiro que tinha no bolso. Após uma longa tragada, ele expulsa a fumaça, tomando cuidado para não mandá-la em nossa direção. - Quando me aproximei, senti que vocês não são uns qualquer. - Com o indicador, ele dá duas batidinhas no topo do cigarro, derrubando um pouco de cinzas pelo chão do estaleiro. - Normalmente minha intuição não falha, então me digam… - Seus olhos, que desde que se afastou passeavam pelo lugar descompromissadamente, se focam em nós, parecendo ler até mesmo nossa alma, e, finalmente, ele pergunta. - Para quem e para quê construirei esse navio?

— Você estará construindo um navio que dará a volta ao mundo inteiro, pois eu serei o Rei dos Piratas! - O capitão fala em alto e bom tom e, mesmo na imensa balbúrdia de madeira sendo martelada e ferro sendo cortado, Seth captou rapidamente a seriedade e o tamanho da vontade de Luke, abrindo um sorriso antes de dar mais uma longa tragada.

— Muito bem, Rei dos Piratas. - Ele apaga o cigarro envolvendo-o com a própria mão e jogando-o em uma lata de lixo próxima. - Você acabou de encomendar seu navio. 

— Sério? - Deixo escapar, ainda um pouco incrédulo sobre como as coisas se desenrolaram.

— Eu disse, não trabalho para um qualquer. - Responde o carpinteiro firmemente. - Se é para sonhar, sonhe o mais alto que puder, pois onde quer que queira chegar, meu navio vai te levar lá. Caso me dissessem algo medíocre ou que não me interessasse, eu simplesmente iria embora e vocês ficariam sem nada. - Sinto o peso do mundo sair dos meus ombros, meus olhos lacrimejam à medida que, depois de tudo que deu errado nos últimos dias, termos finalmente tido a sensação: Nós conseguimos. Viro-me para Luke, que parecia exultante de tão feliz, mas alguns marinheiros passam por nós e ouvimos eles papearem.

— Então, a prisão foi efetuada? - Diz o primeiro.

— Sim, o Demônio Ruivo, Sofie Ciero, foi encontrada, cercada e devidamente presa, capitão.

— Muito bem, coloquem-na no último andar, deixemos ela apodrecer lá por uns 2 meses antes de decidirmos o que fazer com ela.

— Senhor, mas esse não é o procedimento padrão. - O segundo marinheiro retruca, que claramente é de uma patente abaixo.

— Eu não estou nem aí qual o procedimento. - Finaliza o superior. - Você sabe quantas pessoas nesse mar PAGARIAM para ter a chance de se vingar dela? - Ele solta uma risadinha à medida que se afastam e, finalmente, ficam distantes demais para escutarmos o resto da conversa, com o canto dos olhos percebo as veias da mão  de Luke bem visíveis conforme ele aperta o punho. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele mesmo fala.

— Existe algum outro momento que possamos encontrar você? Apareceu um assunto que temos que resolver. - Seth estranha, mas parece entender o que estava acontecendo.

— Como quiser, à noite, vá em direção a floresta, eu moro em uma casa lá, você vai achar o caminho. - Ele se virou, acenando com a mão enquanto nos despedimos dele e rumamos para fora do estaleiro, não sabíamos direito o que estava acontecendo, mas chegou o momento que tanto temíamos: vamos ter que lidar com a Marinha.

— - Zodick - -

— Você tem certeza de todas essas compras? - Pergunto à medida que nossos sapatos ecoam contra os ladrilhos do chão, o mercado abarrotado de pessoas não impede Sofie de escutar minhas reclamações, os cabelos ruivos ondulando a minha frente enquanto os olhos da navegadora caçam a próxima loja que iremos visitar.

— Mas é claro! As viagens a partir daqui serão cada vez mais longas, com grandes distâncias entre uma ilha e a próxima. Precisaremos de tudo aquilo que pudermos estocar. - Seus pés param de se mover à medida que ela avalia algumas bijuterias sobre um tablado que parecia ser administrado por uma velha senhora. - Não sabemos quando vamos ter uma oportunidade tão boa como essa de novo - a ênfase dela na palavra oportunidade serve como um código para a quantidade de dinheiro que temos à nossa disposição neste momento. - Quando estivermos novamente no mar, tudo que não seja nossos recursos é completamente inútil.

— Eu entendo isso, mas… Tem certeza que gastar metade em uma loja de roupas é a melhor coisa a se fazer? - Ela parecia levemente distraída, tentando pechinchar uma pulseira com a velha senhora, que parece muito feliz em ter a oportunidade de negociar com alguém. Suponho que os negócios não estejam necessariamente indo bem para ela por aqui. 

— Roupas também são importantes! - Ela fala um pouco mais alto do que parecia desejar, logo ajustando o próprio tom. - Uma troca regular por roupas limpas é essencial para manter nossa higiene e, por consequência, nossa saúde em alto mar. Isso é muito importante. - A ruiva parece chegar a um acordo, entregando uma nota para a senhora e provando a pulseira.

— Mas você comprou só uma muda de roupas para cada um de nós e dezenas para você! - Ela me olha com uma falsa confusão em sua expressão.

— Realmente não entendo seu ponto. 

 

Nossas compras se estenderam por mais uns bons 40 minutos, conseguimos alguns bons descontos em diversas lojas, presumo que graças a presença da Marinha na ilha, os mercadores não tenham uma grande variedade de clientes com os quais negociar, já que piratas evitam passar por aqui. É então que percebemos, embora tenha sido tarde demais, que estávamos sendo seguidos.

— Quanto tempo? - Questiono em um murmúrio.

— Creio que uns 10 minutos, cerca de 20 indivíduos. Marinheiros. - A voz dela era séria e, embora disfarçadamente, sua mão já estava sobre uma de suas adagas caso precisasse de alguma ação.

— O que devemos fazer? - Questiono-a, olhando as entradas de duas ruelas, em direções opostas, poucos metros à nossa frente. 

— Fugir e separar, mais fácil escapar e se esconder dessa forma. Ponto de encontro nas docas, não perca minhas roupas. 

— Não morra.

— Se for entre entregar sua vida e minhas roupas. Entregue sua vida. - Ela, em uma explosão de velocidade, toma a ruela da direita, que mulher diabólica, penso enquanto minhas pernas se viram para a ruela da esquerda.

 

Corri por uns bons 8 minutos, mas por causa das compras eu estava muito pesado, perdendo tempo a cada curva e não conseguindo uma arrancada máxima em momentos de reta. Já conseguia ouvir as botas e os gritos no meu encalço. Por ainda ser uma área residencial, eles estavam evitando atirar, mas suponho que seus dedos não seriam freados por muito mais tempo.

 

É então que vejo uma curva como uma boa oportunidade para virar o jogo. Viro seguindo o caminho da rua, mas paro de correr, rapidamente colocando as várias sacolas que carregava no chão, tomando algum cuidado para não quebrar nada. Me escorei na parede, ficando atento à medida que os passos parecem ficar mais altos e próximos. Então, no momento certo, ergo minha perna em um chute lateral, acertando o primeiro dos marinheiros que cai no chão desacordado, os outros parecem se assustar com a queda do companheiro, ficando sem reação por meio segundo, todo o tempo que necessito. Avanço sobre eles, fazendo um movimento lateral com o braço direito, acertando um deles e jogando-o contra a parede oposta, com o outro braço realizo um Lion’s Paw, acertando-o em cheio no estômago de um terceiro e fazendo um strike e derrubando mais alguns. Penso rápido e pego a arma derrubada pelo primeiro marinheiro, bem a tempo de ver o último deles escapar de ser nocauteado pela pilha de corpos que arremessei contra ele. Vejo-o começar o movimento para erguer a arma, mas arremesso à que coletei contra ele, chocando-a contra sua própria enquanto avanço. O impacto da arma o deixa desequilibrado e me dá tempo para alcançá-lo e, com uma mão em seu pescoço, derrubá-lo no chão. Chuto sua arma para longe, checando uma última vez os marinheiros caídos ao meu redor, cerca de 6 deles, um nocauteado pelo chute, um desacordado por ter batido a cabeça contra a parede, mais três desabilitados no chão pelos choques um contra os outros, o sexto imobilizado pela minha mão. 

— Comece a falar, por que estão me seguindo? - O marinheiro era bem jovem, cerca de 25 anos, provavelmente tinha acabado de sair do treinamento, ainda parecia “verde”. 

— Vo-Você foi visto com aquela mulher. - Responde ele aterrorizado e ofegante, minha mão ao redor de seu pescoço não parecia acalmá-lo de qualquer forma. - Ela tem uma recompensa pela cabeça dela de 3 milhões de berries! Quando ela foi vista, nos ordenaram que capturasse-a viva, quando vocês se separaram nosso tenente nos mandou vir atrás de você por ser cúmplice. - Então é a Sofie. Com um soco de esquerda nocauteio o marinheiro antes que ele pudesse fazer qualquer coisa que chamasse atenção de outros, corro até a sacola, as colocando sobre os ombros.

 

Se eles querem a Sofie, e se a recompensa dela for alta como o marinheiro mencionou, provavelmente devem levá-la de volta à base da Marinha, para pedir um transporte que a leve à uma prisão mais segura, esse seria o procedimento padrão. Preciso voltar e checar as docas, se ela não estiver lá, tenho que achar Luke e avisá-lo do que ocorreu. 

Respiro fundo e me concentro, preciso ser rápido e objetivo, a vida de uma de nossas companheiras está em risco a partir de agora.

 

— - Continua - -


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido o novo capítulo e o início desse novo arco, me digam o que tem achado até aqui e até a próxima!



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