Only Fools Rush In escrita por Brier


Capítulo 1
Fools In Love


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Faz algum tempo desde a última vez que eu escrevi alguma coisa, e essa é a primeira vez que escrevo algo para o fandom, mas, mesmo assim, espero que mais alguém possa gostar disso.
Um agradecimento especial para @Anatnas_ (que infelizmente não tem uma conta no nyah), que além de ser a primeira a opinar sobre essa história, também teve que lidar comigo enquanto eu a escrevia durante a madrugada de ontem. Você sabe que é o amor da minha vida, não é?
Também postada no spirit.



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[Fools In Love]

[1. O momento em que tudo começou a desandar em minha vida]

Primeiro de tudo, uma coisa precisa ser deixada extremamente clara, não importa o quanto a situação pareça um problema enorme que só existe na minha cabeça, é tudo culpa da Rosé.

Afinal, se ela nunca tivesse me dito que iria se apresentar naquele dia, eu nunca teria insistindo em assistir ela cantando. E, claramente, se ela tivesse me arranjado um lugar na primeira fila – ao lado de duas terríveis amigas que são horrendamente perceptivas pra duas pessoas que mal conseguem tirar os olhos uma da outra – eu não teria tido a súbita realização que eu tive naquele cafezinho mal iluminado e lotado de jovens problemáticos ou arrogantes ou os dois.

Mas, apenas repetindo para que ninguém se esqueça, a culpa não é minha. E nem mesmo da dupla de psicopatas do amor, embora eu realmente queira jogar ela nelas também. A culpa é somente de uma pessoa.

E ela se chama Roseanne Park. Por que?

Porque ela nunca devia ter se atrevido a parecer tão deslumbrante em uma situação tão ordinária como aquela, e ela definitivamente não deveria ter a voz de um anjo ou uma personalidade tão incrível quanto, e o sorriso mais encantador do mundo, ou olhos que me fariam fazer qualquer coisa que ela me pedisse sem reclamar.

E ela definitivamente não deveria estar cantando Can’t Help Falling In Love, enquanto eu tinha a realização de que estava completamente ferrada, com o acompanhamento especial dos olhares debochados de duas velhas que por algum motivo agiam como se pudessem ler minha mente e, além de saberem exatamente no que eu estava pensando, também agiam como se aquilo fosse algo que elas já sabiam a séculos.

E, é claro, eu não posso esquecer do momento em que ela decidiu encontrar meu olhar entre o de todos os ocupantes daquele lugar semi-lotado e simplesmente decidir o mais brilhante e contagiante de todos os sorrisos, apenas para que eu soubesse com ainda mais certeza que se ela pedisse uma estrela qualquer do céu, eu inventaria uma milhão de maneiras de conseguir todas elas só para ter a chance de ver aquele sorriso mais uma vez.

— Lisa, se você continuar babando, eu acho que vamos todos nos afogar.

Mas, eu tenho que admitir. Parte da culpa pela minha fuga correndo dali foi pelo comentário desnecessário de Aquela Que Não Deve Ser Nomeada e o riso baixo e educado demais para a situação de Jisso, A Namorada Daquela Que Não Deve Ser Nomeada.

[2. Como sempre, as coisas pioram na escola]

Depois de minha fuga nem um pouco vergonhosa, eu me abriguei no conforto do meu lar e me perguntei como aquilo havia acontecido comigo. Logo eu, rainha quebradora de corações me deixando sofrer por causa de um sorriso fofinho. Isso era intolerável, mesmo que o sorriso pertencesse ao anjo perfeito... quer dizer à Roseanne, minha melhor amiga que eu amo de uma forma unicamente platônica.

Ou foi do que eu tentei me convencer durante o resto daquele fim de semana, em que eu usei a conveniente desculpa de tempo com a família para ignorar completamente as três traidoras que eu chamo de amigas – uma por ter jogado algum tipo de feitiço maligno em mim, e as outras duas por rirem de minha condição de amaldiçoada.

Na verdade, eu passei metade desse tempo pesquisando como exterminar sentimentos no Google e me perguntando para onde a Lisa completamente hétera de três dias antes havia fugido e como eu poderia recuperá-la. Basta dizer que ao anoitecer de domingo eu só tinha a certeza de que estava tudo errada em minha vida e ela simplesmente não podia piorar.

Eu estava errada, é claro. E a escola não demoraria nem até o primeiro horário para me lembrar disso.

Afinal, como alguém pode parecer tão linda com um uniforme escolar e porque eu nunca tinha percebido isso antes? Roseanne Park definitivamente estava fazendo algo de diferente propositalmente para acabar comigo. Esse foi meu pensamento imediato quando ela se aproximou comigo, completamente alheia ao fato de que eu não conseguia parar de pensar em qual seria o sabor do brilho dela e como beijá-la seria a melhor maneira de descobrir esse fato muito importante para minha sobrevivência.

E então ela me olhou nos olhos, com um sorriso claramente falso. E eu soube que havia muito errado com o equilíbrio do mundo, porque Rosé, um raio de sol em pessoa, não podia estar triste. Ela simplesmente não podia, e eu faria questão de matar pessoalmente o responsável por roubar o brilho animado dos olhos dela.

— Como você está? Eu estava tão preocupada com você, mas a Jennie insistiu que você estava bem e eu não deveria ir te visitar...

Então, talvez agora eu tivesse a missão de matar a mim mesma, mas tudo bem, acontece toda semana. E talvez eu devesse um favor Àquela Que Não Deveria Ser Nomeada, pelo simples fato de que eu teria tido um colapso ainda maior se eu tivesse visto a fonte de meu gay panic durante meu período de luto pelo meu coração de gelo.

— Lisa?

Ela me chamou, com a mesma voz que fazia quando mal estava controlando sua preocupação, e eu não pude evitar pensar que eu daria tudo para poder apertar as bochechas dela e tocar em seus cabelos, mas simplesmente não podia mais fazer isso. Tanto porque aparentemente eu havia cometido o pecado mortal de deixa-la triste, quanto por ter consciência de que minhas intenções por trás de tal ato não seriam mais puras como antes.

— Eu estou bem. Eu juro. Podemos conversar depois da aula? Tchau.

Talvez eu tivesse juntado algumas dessa palavras.  E definitivamente falado mais rápido do que precisava, mas eu não podia suportar mais um segundo diante daquele olhar. Então talvez eu tivesse tentado correr para longe em uma saída triunfal.

E talvez eu tivesse tropeçado nos meus próprios cadarços, e caído prestes a uma queda fatal. Que só foi impedida pela demonstração de Roseanne de uma força que eu não sabia que ela possuía naqueles braços fininhos.

Talvez eu tenha aproveitado um pouco demais o momento que nós ficamos de mãos dadas graças ao meu resgate emocionante. E fugido de perto dela para o fundo da sala assim que eu notei esse fato.

Mas, todas essas são só possibilidade, nem perto da realidade. O único fato concreto é que é tudo culpa da Rosé, e da escola.

[3. Jennie só está aqui para semear a discórdia]

Fugir da Rosé e consequentemente do meu lugar usual, causou discórdia entre os demais estudantes da sala – para os quais eventualmente eu vou revelar que a culpa reside em somente uma pessoa, que não sou eu.

Mas já que um professor sem paciência chegou, os conflitos por lugares foram encerrados e eu acabei sentada onde jamais imaginaria. Um local pior do que qualquer tortura imaginável pela mente humana, tão frio e desolador que é capaz de levar qualquer um à insanidade. Ao lado Daquela Que Não Deve Ser Nomeada, um monstro das profundezas que tomou a forma de uma garota injustamente bonita e conseguiu através de algum ritual de magia negra se integrar ao meu grupo de amizades.

— Você está encarando. Caso não lembre eu sou alguém comprometida.

Sim, Ela é o tipo de monstro que ousaria falar algo assim para mim no meio de uma aula de matemática. Não em voz alta o suficiente para que o professor escutasse, mas propositalmente audível para as duas pessoas sentadas à frente dela, que seriam Jisso – a alma corajosa ou ingênua o suficiente para namorar com ela – e Roseanne. Ambas olharam para trás imediatamente, com olhares bem semelhantes de que não estavam felizes com o que haviam escutado.

O que me fez chegar a um milhão de terríveis conclusões. A mais aterrorizante de todas sendo que um anjo puro como Rosé pudesse estar com ciúmes do próprio Demônio, o que não faz sentido algum, já que eu mesma teria que tomar coragem para matar a Jennie se algo do tipo acontecesse Ou talvez ela só quisesse preservar a paz temporária que pairou em volta do grupo desde que J&J começaram a namorar.

— Você esqueceu que eu só sou capaz de me interessar por humanos Jennie. E isso é uma coisa que você definitivamente não é.

— Você está dizendo que eu não faço o seu tipo, Lalisa?

A esse ponto eu tenho certeza que o até o professor já havia notado a tensão criada por nossa interação, mas se ele preferiu fingir insanidade, quem sou eu para julgá-lo, faria o mesmo se pudesse.

— Não. Nem um pouco.

 Eu juro que isso não foi uma mentira total, só parcial. Talvez, em mundo diferente, em que ela fosse mais humana e menos mostro, e não fosse a namorada de uma das minhas melhores amigas.

— Eu só acredito nisso porque eu sei que seu tipo tem nome, sobrenome e está sentada um pouco a nossa frente.

Se eu engasguei em plena sala de aula sob os olhares perplexos de um monstro, a namorada de um monstro e um anjo? Talvez. Mas, quando, o professor enfim notou e praticamente me expulsou da sala por ter percebido que, além de não estar respirando direito eu também estava mais vermelha que o sangue do qual a Jennie provavelmente se alimenta, eu fingi que era tudo apenas consequência de um resfriado mal curado com o qual eu estive lidando por todo fim de semana.

É definitivamente uma resposta mais aceitável do que dizer que eu quase fui empurrada para fora do armário por um demônio bem aos pés do amor da minha vi... quer dizer da culpada de grande parte de meus atuais problemas.

[4. Confissões para a pessoa errada são sempre as melhores]

Ser forçada a ir para a enfermaria como se eu tivesse alguma doença terrivelmente contagiosa foi, muito provavelmente, a melhor coisa que aconteceu comigo naquele dia. Exceto pela companhia obrigatória da representante de sala, que não parecia assim tão feliz em estar ao meu lado. Dessa vez – e somente dessa – não por culpa da Rosé, mas sim da namorada dela.

— Você sabe que eu e a Jennie estávamos só brincando, não é? Você não me odeia ou pensa que eu estou tentando roubar o demônio que você chama de namorada, né?

Eu usei sim minha voz mais desesperada. Talvez Jisoo fosse a única aliada que me restasse, e eu não poderia perde-la por causa das atitudes malignas de minha inimiga mortal/amiga nas horas vagas. Eu morreria antes que algo assim pudesse acontecer.

— Você quer me explicar o que acabou de acontecer Lisa, ou eu vou precisar perguntar para a Jen?

Primeiramente, eu preciso lembrar que ainda que Jisso ainda tenha praticamente a altura de uma criança, ela pode ser incrivelmente assustadora, simplesmente porque eu acho que posso contar nos dedos de uma mão as vezes que eu já a vi irritada antes, então sim, talvez eu tenha estremecido até a alma. E segundo, eca. Jen não é um apelido que combina com o monstro cruel a quem ela se referia, e Jisso tinha que ser capaz de perceber isso.

— Eu juro que não foi o que pareceu. Você sabe que eu te amo mais, e se fosse pra tentar acabar com esse namoro, eu provavelmente tentaria te atrair primeiro...

— Você não está melhorando muito a sua situação.

— Além disso, o problema definitivamente é de Kim Jennie e a tendência dela de falar tudo como se estivesse ou flertando com você ou lhe ameaçando, você não pode me culpar por entender mal...

— Você está escutando a si mesma, não é?

— E, é claro que eu jamais faria isso com você. Ou com a Rosé, porque honestamente que tipo de idiota seria eu para abandonar o anjo da minha vida por um ser tão demoníaco.

— O anjo da sua vida? Não, o amor?

— Amor não é uma palavra forte o suficiente. Ela é o mais belo dos anjos que decidiu abençoar esse mundo com sua presença, uma benção divina do qual nenhum de nós é merecedor, mas Deus sabe que eu faria de tudo para manter em minha vida.

— Por que?

— Você realmente vai me perguntar isso? Você já olhou para ela? Para o modo como tudo parece simplesmente fantástico quando refletido nos olhos dela? Para o sorriso que seria capaz de iluminar toda a escuridão do mundo? Você já escutou o modo como tudo soa simplesmente perfeito na voz dela? Você já sentiu a pura energia que ela emana? Como só estar perto dela faz com que qualquer um queira ser uma pessoa melhor, para mostrar-se digno da companhia dela?

Meu discurso emocionante, que vale dizer eu nem tinha percebido que estava fazendo até ser interrompida, foi abruptamente parado pelo som do riso da garota a minha frente.

— Você não me odiava cinco segundos atrás?

— Você sabe que eu nunca vou ser capaz de te odiar. Mas, é sério, foi tão difícil assim admitir?

— O que?

— Eu estou falando da sua linda confissão de amor. Ela foi pra pessoa errada, mas tudo bem. Pelo menos agora eu sei que você é capaz de fazer isso de um jeito fofo.

— Eu não faço ideia do que você esteja falando...

— Eu estou falando da declaração de amor para a Rosé que você acabou de fazer. A que acabou de me fazer ganhar uma aposta com a Jennie, então muito obrigada Lisa.

— Eu não fiz declaração de amor nenhuma. Principalmente não para a Rosé. Ela é minha amiga, que tipo de pessoa se apaixonaria pela própria melhor amiga? E que história é essa de aposta?

— Eu preciso voltar para a sala agora, mas você pode ficar aqui mais um tempo para aceitar sua nova realidade. E, respondendo suas perguntas, você. Além disso que aposta? Nunca ouvi falar.

[5. Um Acordo Com O Diabo E Sua Namorada]

No intervalo, aproveitando a feliz coincidência de que Rosé estaria bem longe de mim por causa de um dos ensaios da banda da escola, eu me dirigi diretamente para a Dupla Profana – que estavam sentadas em uma mesa no centro do jardim da escola, rodeadas por uma aura de superioridade que praticamente expulsava qualquer que sequer considerasse sentar perto delas – me contentando a triste realidade de que teria que ficar à mercê delas caso quisesse sua ajuda no meu atual problema. Que continua sendo Roseanne Park.

E me arrependi instantaneamente, assim que senti o olhar de puro ódio dado pelo próprio Diabo em minha direção. Eu realmente deveria ter levado a sério o que Jisoo havia dito sobre apostas perdidas. E lembrado que Jennie odeia perder, mesmo que para sua própria namorada.

Eu poderia ter tentando fugir discretamente e me contentado com o passar o resto dos meus dias me lamentando pelo meu amor não correspondido que eu nunca tive coragem de confessar, mas Jisso foi mais rápida e me puxou para sentar ao lado dela, me impedindo de continuar a fantasiar com meu sofrimento futuro.

— Deixe-me adivinhar, você percebeu que é um desastre enorme quando o assunto envolve certa neozelandesa e sentimentos, e decidiu implorar rastejando por minha ajuda.

— Na verdade, Jennie, eu estava pensando bem mais na ajuda da Jisoo, sabe... ela é mais...

 Eu teria continuado com um par de argumentos excelentes, mas o fogo do inferno continuava a queimar no brilho dos olhos dela, então eu preferi apenas calar a boca e aceitar que eu teria que escutar a frustração dela antes de conseguir o que eu queria ali.

— Você não está ganhando nenhum ponto positivo comigo agindo assim, Lalisa.

— Eu não vou pedir desculpas por te fazer perder uma aposta sobre minha vida. Eu só queria alguns conselhos sobre como...

— Nós vamos te ajudar. Mas com a condição de que, antes de qualquer coisa, você vai pedir desculpas pra Rosé por ter magoado ela.

— Eu... o que?

Ambas as garotas se entreolharam, como se estivessem comunicando uma com a outra mentalmente. Provavelmente falando sobre o quão lerda eu sou, mas eu vou fingir que elas devem estar usando umas palavras melhores pra me descrever

— Primeiro de tudo, nós vamos continuar essa conversa em casa, através de um grupo privado sem a Rosé, mas até lá você tem que ter tomado noção sobre o porquê precisa se desculpar, ok?

Jennie me ofereceu sua mão, como se estivéssemos prestes a selar um contrato importantíssimo, e a expressão séria de Jisso apenas fez com que meu nervosismo aumentasse. Mas, mesmo assim eu acabei aceitando o aperto de mão.

Afinal fazer um acordo com o Diabo não pode ser tão ruim assim, pelo menos quando a metade mais doce e humana dela está apoiando esse evento.  

Agora só bastava esperar as tortuosas horas até que a escola acabasse, e enquanto isso, pensar sobre tudo que eu posso ter feito de errado para magoar meu anjo. Prosseguindo para colocar meu nome mais uma vez na lista de pessoas que eu tenho de matar por terem machucado a Rosé.

[+1. Algumas coisas foram feitas para ser (desastrosas)]

Depois de dois dias de planejamentos magníficos, de estresse e bem mais indiretas do que eu deveria ser obrigada a lidar, eu finalmente tinha algo perto de um plano para como lidar com a Situação Rosé.

Que teria, obviamente, que começar pela enorme e vergonhosa explicação sobre o porquê eu estava evitando-a desde sexta passada. Com a leve ajuda de duas românticas anônimas, eu encontrei o lugar perfeito para fazer isso, e consegui planejar minhas palavras o suficiente para garantir que eu não me perderia e acabaria falando algo errado na hora H. Tudo o que me restava para garantir o sucesso de minha confissão – já que eu continuo imaginando que receber uma resposta positiva é sonhar alto demais – era garantir que meu anjo estaria lá na hora certa.

Então é claro que esse passo – que de acordo com o Demônio era o mais fácil de todos – tinha que ser completamente arruinado. Por culpa de quem? Você adivinhou, Roseanne.

Tudo começou a dar errado quando, logo após chegar em casa de mais um longo e estressante dia na escola evitando a luz da minha vida – porque caso o contrário eu provavelmente faria alguma besteira tipo tentar beijar ela no meio de uma sala de aula lotada – eu enviei uma mensagem para ela, convocando-a para um conversa importante no maldito cafezinho que deu início à minha ruína.

Eu sabia que meu plano estava destinado a falhar no instante em que eu percebi que a mensagem havia sido lida, mas nenhuma resposta apareceu na minha tela por tortuosos minutos. Nesse ponto eu já tinha certeza que ela me odiava total e completamente e me dispensaria antes mesmo que eu tivesse a chance de me humilhar publicamente por ela.

E então meu telefone havia começado a tocar, com o toque que eu havia designado especialmente para o número de Rosé durante o período da minha crise existencial no fim de semana anterior. Basta dizer que eu nunca odiei tanto a mim mesma, a Rosé e a Elvis Presley de uma vez só.

A súbita vontade de jogar meu celular pela janela e fingir loucura foi muito tentadora, mas lembrando das suaves ameaças de Jennie e Jisso caso eu continuasse sendo covarde por sequer mais um dia – palavras delas, não minhas –, eu apenas respirei fundo e cliquei no sádico botão verde da destruição.

— Oi Rosie.

Voz de inocente e apelido carinhoso são sempre o melhor jeito de começar um diálogo que vai me levar à depressão, não é?

— Eu sinto muito.

Duas coisas bastante importantes tomaram minha mente naquele instante. A primeira, e definitivamente mais coerente, foi o que? Se alguém devia estar se desculpando claramente deveria ser eu. E, em segundo lugar, com a função única de destruir minha alma e coração, eu também notei que ela estava com a voz que sempre ficava após chorar.

Eu realmente tinha arruinado tudo.

— Rosé? Você está bem? Me desculpa, eu não queria....

— Você pode me deixar falar? Por favor. Eu sei que você está desconfortável, mas eu prometo que vou ser rápida.

— O que?

— Eu sei que não deveria ter feito aquilo. Eu sabia que era arriscado, e é claro que alguém como você nunca gostaria de alguém como eu daquele jeito, mas eu realmente tinha que tentar. Eu sinto muito por isso, eu devia ter pensado mais em você e menos nos meus sentimentos egoístas...

— Rosé, eu realmente não faço ideia sobre o que você está falando...

— Lisa. Você não precisa continuar fingindo, ou me evitando. No fundo eu já sabia que algo assim aconteceria, mas eu queria tanto acreditar que meus sentimentos poderiam ser retribuídos, que eu não parei pra pensar no que eu estaria pondo em risco ao fazer algo tão irresponsável. Eu te amo, e por mais que você não me ame da mesma forma, você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, e eu simplesmente não posso te perder, então por favor, por favor não me odeie...

Eu juro que ter derrubado o celular no chão nessa parte da fala dela não foi apenas para criar um efeito dramático na cena que já parecia tirada de um drama romântico adolescente. Foi realmente culpa da Rosé, das palavras dela e do possível ataque cardíaco que tinha quase certeza que estava tendo naquele momento.

Quando eu consegui resgatar meu pobre celular, eu ainda podia escutar a voz dela, no que realmente já havia decaído para algumas palavras interrompidas pelo que eu tinha certeza ser choro, mas nada poderia tirar suas palavras anteriores de minha mente.

— O que você disse?

— Eu... sei que isso provavelmente é muito desconfortável para você. Mas eu juro que... eu sinto muito. Eu não posso evitar me sentir assim, mas se você me der uma chance de voltarmos ao normal, eu prometo que vou fazer ao máximo para fingir que esses sentimentos não existem. Eu não me importo o que eu tenha que fazer, eu só não posso te perder.

— Você disse que... tem sentimentos por mim?

— Lisa você pode parar de fingir agora. Eu sei que você odiou a minha... confissão. E eu sei que é por isso que você tem me ignorado e me evitado pelos últimos dias, mas eu realmente prometo que faço qualquer coisa para que possamos continuar pelo menos amigas...

— Você quer... que sejamos mais que amigas?

Um minuto de silencia seguiu minha pergunta, conforme o qual eu imagino que Roseanne Park tenha intendido que houve um grande mal-entendido e muita falta de comunicação entre nós pelos últimos dias.

— Lisa, desculpa...

— Eu também tenho sentimentos por você. Que não são sentimentos que uma amiga sentiria por outra. E eu também quero muito ser mais do que só sua amiga.

Eu decidi que, se já estávamos as duas chorando mesmo, e a situação já parecia completamente bizarra e perdida, aquilo não poderia piorar as coisas tanto assim, então eu só soltei aquela frase do jeito mais apressado e estranho que podia. Esquecendo completamente do lindo discurso que eu mesma produzi.

— Você? O que?

— Naquele dia, em que você cantou aquela maldita música, eu percebi o quanto eu te amo. Não só como uma amiga, e é claro que eu não soube processar meus sentimentos como um ser humano funcional, e achei que fugir era a melhor opção. Eu achei que você me odiaria se soubesse.

E então, em meio ao barulho de choro que quebrava meu coração, a mais suave das risadas ecoou pelo telefone e eu juro que nunca escutei nada mais belo em toda minha vida.

— Eu cantei aquela música para você. Eu não sabia se deveria me declarar, ou como fazer isso, então eu pensei que talvez uma música fosse um bom jeito de...

— Você esqueceu completamente do fato de que eu sou a mais lerda de nós duas para sutilezas, não é?

E então eu comecei a rir também, porque aquela situação só poderia ser visto de dois jeito àquele ponto, cômica ou trágica, e eu preferia muito mais o lado mais positivo a ser tomado.

— Então...

— Então... isso aconteceu.

— Você não me odeia então. Isso é um alívio enorme.

— Você me notou, antes mesmo que eu te notasse, isso é um alívio de verdade Roseanne. Você só precisava ter sido um pouco mais espe...

— Eu te amo Lalisa. Especifico o suficiente para você?

E mais uma vez, meu celular vai ao chão e meu coração passa de um milhão de batidas por minuto, mas eu vou sobreviver. Ou pelo menos eu acho.

— Eu também te amo, Roseanne Park. Mas, não, isso não é suficiente. Eu preciso de mais uma serenata para superar o fato de que eu não entendi o que você quis dizer com a outra. A esse ponto estávamos as duas e chorando e rindo, de nós mesmas e de toda aquela situação. E, embora eu ainda possa garantir que continuo tendo pouquíssimas certezas sobre a vida, algumas delas ainda são que é tudo – ou quase tudo – culpa da Rosé.

E do Elvis, por que ele não tinha direito algum de estar tão certo sobre nós.


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