Mistérios escrita por Lucylara


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Esse é uma reflexão minha sobre os verdadeiros mistérios entre a vida e a morte.
Para quem lê, advirto que tenho ideias totalmente fora do contexto social comum, então não se espante com as palavras aqui ditas.

Boa leitura.



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Quando nós fomos perguntados na sala qual o maior mistério de todos, a maioria, senão 90% da sala, respondeu que era a morte. Eu pelo contrario respondi que para mim era a vida.

– Por que você acha que é a vida e não a morte, um dos maiores mistérios, Suzannah? – perguntou minha professora de filosofia, Cristina.

– Por que ela é sempre do contra professora. – disse Renata, uma das poucas garotas da sala que eu adoraria que se desse mal.

– Acho que a Renata já respondeu por mim professora. – eu disse, continuando a escrever em meu caderno.

– Eu fiz uma pergunta para Suzannah, Renata, quando for a sua vez eu digo seu nome. – disse a professora, e depois de silenciar os murmúrios que haviam começado na sala, me fez a pergunta novamente.

– Acho melhor deixar pra lá professora, todos vivem me perguntando sobre minhas ideias, mas ninguém aceita o que eu penso, então sinceramente é uma perca de tempo. – eu disse olhando brevemente para ela e depois voltei a escrever.

– Mas eu quero saber, e eu sei bem que você não se importa com a opinião dos outros com relação ao que você pensa. – ela disse, pegando um dos meus pontos fracos. Eu adorava contradizer meus colegas.

– Tudo bem. – eu disse, e peguei outra folha em branco e comecei a riscar-la, sem nenhum traço comum. –Veja bem professora, a maioria das pessoas diz que a morte é um mistério. Bom, para mim elas são simplesmente pessoas de pouca fé.

– Ei, isso não tem nada a ver com o assunto. – disse Renan, um dos meus colegas metido a sabe tudo.

– Renan, é a vez de a Suzan dar a opinião dela. – disse a professora para ele e pediu que eu continuasse. Pelo menos a intromissão de Renan havia me dado uma boa idéia.

– Renan, você é cristão protestante, não é mesmo? – perguntei só por perguntar, pois já sabia o óbvio.

– Sim. Cristão fiel. – nossa como eu odeio esse jeito metido dele. Não tenho nada contra os cristãos, mas é que eu detestava essa mania do Renan de pensar que era santo so por ser o que é. Aff’s.

– E você acha que a morte é um mistério por quê? – continuei perguntando.

– Por que nós não sabemos o que nos espera depois da morte. Isso é obvio. – ele disse olhando para sala e depois pra mim novamente. – Mas o que isso tem a ver com a sua explicação?

– Tudo. Você é um exemplo perfeito de pouca fé. – eu disse, e antes que ele me interrompesse eu o cortei. – E não me interrompa.

– Continuando, se você se diz mesmo um cristão fiel, deveria saber que sua religião diz muito bem o que o aguarda depois da morte. – adorei ver a forma como ele ficou sem palavras. – Segundo a bíblia, ou talvez não já que nunca a li, então só ouvi falar, quando uma pessoa morre, ela vai para o purgatório, e de lá será decidido se ela vai por “céu” ou pro “inferno”. – fazendo aspas nessas duas palavras, já que eu não acredito nessa teoria. – Então, segundo seus ensinamentos se você for bom e obedecer fielmente as suas leis, depois do purgatório seu destino final será o céu, ate mesmo se você fizer algo errado e depois se arrepender é assim. Agora, se você foi um “pecador” provavelmente seu lugar será o inferno. Viu é simples e claro, nada de misterioso nisso. Você é que vai ditar se vai pro céu ou pro inferno.

Dei uma pausa pra que eles absorvessem aquilo tudo. Eu nunca dava minhas opiniões nas aulas de filosofia e tinha um bom motivo pra isso. As pessoas se impressionam fácil demais.

– Já para os ateus, a vida é como um caderno, e a morte é como o final da história. – eu disse, rabiscando um pouco a folha a minha frente para por meus pensamentos em ordem. – Para eles, assim que nascem um caderno em branco lhes e dado, onde escreverão sua historia, sua vida. O que fizeram, e coisas assim. E quando eles morrem, o caderno é deixado lá, onde eles pararam, com a próxima pagina em branco a mostra. – parei novamente, já que estava fugindo um pouco do que eu pretendia dizer. – O que quero dizer é que eles na maioria, não acreditam que haja algo depois da morte. Eles acham que a alma e o espírito simplesmente somem, assim como o corpo. E o caderno da vida, a pagina em branco, representa as paginas que eles não vão mais escrever, a prova de suas insistências. A única coisa que sobra, são os relevos das paginas escritas no passado, relevos esses que representam as memórias daqueles que o conheceram, e o amaram, e que nunca vão esquecê-lo.

– Nossa, você ta inspirada hoje, né Suzannah? – brincou a professora.

– A senhora não viu nada professora. – escutei meu amigo Raphael dizendo. – Isso é só uma idéia, precisa ver são os textos dela.

– Talvez outra hora. Tem mais alguma observação Suzannah? – perguntou a professora.

Ainda faltavam quinze minutos para o sinal do intervalo, e eu tinha sim uma ultima coisa a falar. Eu sou do tipo de pessoa que quando começa um debate, ele tem que ter um fim, não importava o que iriam dizer.

– Só mais duas comparações professora.

– Então diga. – ela falou.

– Bem, falei dos cristãos e dos ateus, mas não podemos nos esquecer daqueles que acreditam na vida após a morte. – eu falei e respirei fundo antes de continuar, dessa vez larguei a folha e comecei a mexer em uma estrela de cinco pontas que eu carregava comigo dentro da bolsinha de canetas. – Para muitos povos de cultura islâmica, hindu e outros, e ate mesmo para nós wiccanos, ou pagãos, como preferem nós chamar, acreditamos na vida após a morte. – eu sabia que tais palavras iriam causar murmúrios, mas quer saber, o problema era deles. – Nós acreditamos que não há morte, e sim transformação. – falei isso olhando para professora.

– Interessante. Continue. – preciso dizer que minha professora de filosofia adorava murmúrios e debates. É, ela adora por lenha na fogueira.

– Assim. Acreditamos que quando morremos, nossos corpos se fundem a mãe terra, e posteriormente passaremos a fazer parte de um novo ciclo de vida. O ciclo da vida Elemental, ou da natureza, como preferir. – mais murmúrios. Acho que o Rapha ficou meio chateado com os murmúrios, por que puxou sua cadeira e se sentou do meu lado, desenhando na minha mesa, enquanto eu continuava minhas teorias. – Com isso, passamos a viver através das plantas, e depois disso através dos animais da qual seremos alimentos.

– Isso quer dizer que “vocês” acreditam que vivem apenas do corpo, não acreditam na alma ou no espírito. – pergunto o irritante do Renan, e eu pude perceber muito bem o tom hostil com o qual ele disse “vocês”.

– Já disse pra não me interromper, senhor cristão. – eu falei irritada, respirei antes de continuar. – Pelo menos eu acredito que o corpo e a alma formam um. O corpo e o que a alma deseja que seja, então a morte do corpo leva a morte da alma. – mais murmúrios. Como esse povo adora fofocar. – Mas já com o espírito é diferente. Acredito que nosso espírito entre em um estado de inconsciência, onde flutuamos no inconsciente ate que seja necessário o nosso retorno a esse mundo. Ou não, talvez nossa missão tenha terminado, e precisemos repousar de uma longa jornada que tivemos. – falei, girando minha estrela, e logo completei. – Mas acredito que aqueles que não completaram sua missão precisam retornar a esse mundo, tanto como humanos, como qualquer forma de ser vivo. Talvez o que você não conseguiu fazer como ser humano, tenha mais sucessos como um pássaro, ou ate mesmo um animal terrestre. E viu, a morte é simples e clara. Para cada crenças a uma resposta, acreditar ou não nela é que a torna valida. Por isso eu acho a vida e não a morte um  grande mistério.

– Mas porque você acha que a vida é um mistério? – perguntou Regina, uma das meninas do fundão.

– Não é obvio. – perguntei sentando-me de lado, e apoiando os pés na cadeira de meu amigo. Era uma pergunta que eu mesma responderia. – Veja bem, um único botão pode ter infinidades de destinos, dependendo do que seja e de quem o comande.

Respirei. Sempre tive a mania de esquecer-me de respirar quando me empolgo. Um perigo, segundo meu medico.

– Se eu sou um comandante e aperto um botão posso estar lançando mísseis contra um país, que logo também mandara seus mísseis e assim começaremos uma guerra, matando milhões de inocentes. – falei deixando a palma da minha mão esquerda para cima, e depois mostrei à direita. – Agora eu sou um comandante e aperto um botão, e nesse exato momento selo um acordo de paz com um país vizinho que logo se mostrara muito grato, e terei muito benefícios com isso, alem da gratidão do meu povo.

– Outro exemplo. Com a minha mão eu posso dar um tapa em alguém, bater, rabiscar paredes, ser agressiva, hostil e grosseira, porem com a mesma mão eu posso ajudar alguém a pegar as coisas que caíram no chão, dar um tchau, cumprimentar um amigo, assim estarei sendo amigável, agradável e prestativa. – parei novamente para respirar e Guilherme, um dos meninos mais inteligentes na sala perguntou.

– Mas o que isso mostra que a vida é misteriosa?

– Você não prestou atenção? Com uma única coisa eu posso criar varias situações ou varias atitudes. Tudo vai depender de quem e das intenções. A vida é um mistério por que você nunca sabe o que vai acontecer. Por mais que você diga que sabe exatamente o que faria, um pequeno detalhe pode mudar todo um destino. – falei olhando para ele, que parecia ter entendido onde eu queria chegar. – Por mais que controlemos nosso destino, ele esta consequentemente ligado ao daquele comandante que poderia ter apertado o botão da guerra, assim, poderíamos ser mortos daqui algum tempo, ou ser feitos reféns. É tudo muito misterioso, por isso é sobre a vida que temos que refletir e caçar uma resposta e não sobre a morte.

Assim que terminei, graças aos deuses o sinal tocou. Poxa, nunca falei tanto em uma aula, e sinceramente não queria mais discutir o tema. Porém abri uma exceção para Guilherme. Ele é um dos melhores amigos de Renan, mas ele não era desagradável quanto o outro. Ele me disse que tudo o que eu tinha falado tinha sentido pra ele, e que agora ele poderia ser melhor, já que ele também era cristão como Renan. Terminamos comentar a aula e ele foi se juntar aos os outros lá fora, e então parei pra ver o desenho que Raphael estivera desenhando na minha mesa e não pude deixar de rir.

De um lado algumas pessoas olhavam para cima, espantados com uma cena pouco comum: um general apertava um botão e mísseis saiam de trás dele, e iam para o outro lado da mesa, mas de repente aparecia uma garota, que com uma estrela na mão, fazia com que os mísseis voltassem e atirassem no general novamente. Eu ri mais foi com os nomes nos desenhos. O general tinha o nome do Renan e a garota tinha o meu nome.

– Que interessante, fico feliz que me vê como uma bruxa boa. – sorri, dando um cascudo na sua cabeça.

– Não tão boa assim, mais ainda sim legal. – ele falou e começamos a rir.

– Quer ir lá pra casa mais tarde? – perguntei.

– Claro, não tenho nada de mais pra fazer mesmo.

– Ótimo, e aproveito pra você me ajudar com um novo projeto. – eu disse sorrindo para ele.

– Ii. Do que se trata? – disse ele fingindo medo.

– Ah, nada de mais, mas se pretendo ser uma boa bruxa acho melhor me acostumar a cozinhar coisas estranhas. – disse brincando.

– Que nada, do jeito que você cozinha já esta ótimo, já que você e um desastre. – riu ele se lembrando da minha ultima tentativa de criar um pão caseiro.

– Ah, é mesmo. E por acaso você sabe cozinhar melhor? – eu o desafiei.

– Claro, e hoje, será sua vez de provar dos meus dotes culinários. – ele falou, dando uma ultima assinatura no desenho a mesa. – Por falar nisso, espero que você goste de macarrão instantâneo. É minha especialidade.

Nos caímos na risada com esse ultimo comentário. Logo passamos pela duas ultimas torturantes aulas e fomos para casa nos divertir. Mas pude perceber que as pessoas me olhavam diferente agora. Não sei exatamente o que elas estavam pensando, mas também não importava já na semana seguinte me mudei de cidade.


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Notas finais do capítulo

Esse debate foi feito pela nossa professora de filosofia, na ultima aula dela antes das provas, e acho que só disse tudo o que disse por que já estava de mudança marcada para minha terra natal.
Foi um debate muito legal. Adorei mesmo. Peço desculpas pelas incoerências, mas já tem mais de dois meses, então não me lembrava muito bem dele.

Ps.: Os nomes foram mudados para preservação, já que não tinha como eu pegar o consentimento de todos. Só o meu e o do Rapha que continuam os mesmo, já que ele me deu permissão. Deu o que falar o fato de eu ser adepta ao wiccanismo. Faz pouco tempo, mais eu adoro. Pelo menos o Raphael pode se aproveitar da situação e passar medo em algumas pessoas supersticiosas. Foi uma semana de provas bem legal.

Obsimp: Ser wiccana é um orgulho. Sou iniciante ainda, mais foi nessa crença que finalmente cresci e amadureci, então, por favor, se é contra, pelo menos não fale mal.