A noite estava fria para aquela primavera, mas isso não impedia a pequena Rose de correr escada abaixo para implorar a sua mãe que lhe contasse uma história.

Seus longos cabelos balançavam enquanto ela pulava, muito cheia de energia estando aquela hora da noite para total desânimo de Hermione.

"Mamãe, vamos, hoje é a sua noite de contar histólia. Eu quelo saber sobe o grande dagão de novo."

Hermione sorriu para a empolgação de sua pequena flor. Um suspiro cansado sendo substituído por um sentimento quente em seu peito. Ela era exatamente como ela quando criança e a Granger-Weasley nunca imaginou que conseguiria criar sua filha tão bem até aquele momento. Hermione adorava Rose e era uma boa mãe. 

Realmente boa.

E se existia algo em que Hermione era tão boa quanto estudar, era ser mãe. Ela nunca pensou seriamente que a maternidade combinaria tanto com ela, mas combinou.

No entanto, isso não quer dizer que Hermione estava livre das inseguranças da maternidade, pelo contrário. Ela ainda se lembra com constrangimento da primeira vez que seu bebê teve febre e Molly teve que cuidar da criança para que ela pudesse se acalmar. Ela quase teve um surto de ansiedade naquele dia. Parecia séculos atrás.

Ela foi puxada de seus devaneios quando sua pequena Rose com seu pijama de unicórnios agarrou-a pelos dedos e a arrastou escada acima.

Em seu quarto, a pequena deitou-se na cama com rapidez surpreendente para uma criança de pouco mais de quatro anos.

Parecia muito rápido para Hermione, que tinha sua gigantesca barriga de oito meses limitando seus movimentos.

Rose olhava para ela com entusiasmo enquanto sua mãe se acomodava numa poltrona ao lado da cama. 

"Qual história você quer, Rosie?"

"Dagão, mamãe. Dagão!"

Rose amava essa história e, apesar de tê-la ouvido tantas vezes, não se cansou. Hermione se recostou na poltrona, pousando as mãos em sua barriga em um movimento inconsciente e começou:

"Era um vez um gigantesco banco cheia de duendes. Lá existia um objeto muito perigoso que dava vida a um mago terrível…"

Rose escutava tudo com um ar de curiosidade herdada dela. Seus ouvidos atentos a cada palavra proferida. 

Em algum momento durante o desfecho da história ela fechou os olhos, mas Hermione continuou mesmo assim. 

Ela estava tão distraída com Rose e seu sono (ou não sono) tranquilo que só percebeu a aproximação de Ron quando ele beijou sua cabeça em saudação silenciosa. 

"Então eles conseguiram roubar o objeto e fugiram no Dragão que a mamãe libertou das profundezas das cavernas do banco."

Eles passaram alguns momento esperando algum pequeno movimento de Rose, mas logo decidiram sair, talvez ela estivesse dormindo. Seria considerado um dia de sorte sua pequena dormir tão facilmente. Ron ajudou Hermione a levantar silenciosamente, ambos implorando que Rose estivesse em um sono profundo e se dirigiram à porta. 

Antes de alcançarem o batente, porém, o gemido suave e sonolento de sua filha os chamando fizeram com que parassem sua saída.

"Papa, me conta uma histólia?"

Ron segurou um suspiro e virou-se sorrindo para ela. Sei cabelos ruivos caindo para frente em sua testa.

"Nosso acordo era de uma história antes de dormir, patinho, lembra?"

Aqueles grandes olhos claros de sua filha, tão parecidos com os dele, já o tinham enrolado no dedo. Ele sabia que era uma causa perdida quando ela fez um beicinho e implorou com voz sonolenta:

"Mais uma, por favor, papa."

Ele cedeu e Hermione deu-lhe um tapinha gentil nas costas e voltou para a sua cadeira,  Ron sentou-se no chão ao lado da cama baixa de sua filha e disse:

"Apenas hoje, certo, Rosie? O que você quer ouvir?" 

Ela sorriu para eles e se aconchegou mais em sua colcha rosa.

"Um histólia de amor, papa." 

"Uma história de amor… uma história de amor…" Ron coçou o queixo e fingiu pensar. 

Ele fez uma pausa curta e seu rosto se iluminou com uma ideia, o que fez Rose rir.

"Hum, que tal a história de como me apaixonei por sua mamãe?"

Rose fez um gesto de negação com a cabeça. "Eu já ouvi sobre isso."

"Tem certeza? Sua mãe já te contou sobre o trasgo?" 

Rose acenou.

"E sobre as aranhas?"

Novamente um aceno. "Até sobre o xadrez gigante, papa."
 
Ron fez uma cara triste para ela, mas seu sorriso voltou quase imediatamente.

Hermione assistia a troca divertida, seus dedos acariciando as mechas ruivas de seu marido com cuidado.

Ron era tão bom pai quanto ela era boa mãe. Hermione se perguntava porque demoraram tantos anos para ter filhos, pois ambos tinham um certo dom com Rose.

"E sobre a poção do amor, ela te contou?" 

Os olhos de Rose ficaram maiores de curiosidade. Isso foi toda a resposta que ele precisava.

Hermione assistiu ainda mais divertida quando ele criava uma narrativo baseada numa parte boba de sua adolescência. 

Era até engraçado como eles eram alheios jovens, até mesmo a pequena Rose riu quando Ron suavizava sobre sua mãe perder a paciência e o atacar com pássaros.

"Você era tão bobo, papa." Disse Rose quando Ron finalmente terminou sua história.

Não era inteiramente real. Ele juntou muitos acontecimentos em uma grande sopa e misturou até que não fosse mais que um conto infantil, sem envenenamento, sem risco de morte, sem magia negra. Apenas ele se apaixonando por ela.

Rose já abria a boca com intuito de pedir mais uma história, mas Ron a parou antes dela continuar:

"Já quebramos o nosso trato hoje, Rosie. Vamos, vamos. Eu e sua mãe precisamos dormir também." Ele enrolou os cobertores nela e beijou sua testa.

Ela fez beicinho, mas não insistiu. 

"Boa noite, mamãe. Boa noite papa."

"Durma bem, querida." Hermione disse. Ela nem chegou ao batente antes de olhar para trás e ver sua pequena dormindo.
 
Ron a esperava na porta com um olhar feliz. Eles desceram as escadas e sentaram na mesa da cozinha. 

"Vamos ficar sem histórias de amor muito rapidamente se ela continuar assim."

Ron riu quando ela falou, seus braços dobrando sobre a mesa enquanto ele descansava a cabeça neles. Hermione levantou-se e abriu um armário, seu sorriso contente no lugar.

"Match ou black?" Perguntou ela indicando os chás em sua mão.

"Black" Seu marido escolheu. 

Era uma rotina muito boa para eles. Hermione com sua licença maternidade se afastou do ministério no início do mês, passou o dia em casa cercada pela família que ia e vinha para saber se ela precisava de algo. (Fazendo um pouco de seu trabalho, também, afinal ela era um pouco viciada em trabalhar) Ron levando Rose para a escola, saindo do trabalho para buscá-la por insistência própria e chegava em casa às seis. Eles jantavam brincavam com Rose e depois de banhá-la, Ron tomava banho e deixava a tarefa de dormir com Hermione.

Ela quase sempre conseguia que Rose dormisse antes dele terminar o banho e ambos sentavam na cozinha para desfrutar sua xícara de chá.

Como se lesse sua mente, Ron falou:

"Vou sentir falta dessas horas." 

Ela nem pensou antes de responder:

"Eu também." 

Apenas relaxar sozinhos durante a noite, sem um bebê por perto. Eles passaram pelos momentos iniciais de Rose com tranquilidade, sendo ela um bebê calmo durante a maior parte do tempo.

Hugo, seu garotinho, dava sinais de agitação desde muito jovem. Seus chutes e movimentações não davam descanso à Hermione. Ela já podia imaginar as muitas noites em claro vindo.

Mas Hermione estava tão exultante por ter um bebê novamente que os momejtos ruins que teriam não eram nem de perto capazes de apagar o brilho em seu rosto. 

"Rose vai odiá-lo no início quando perceber que ele vai chorar de madrugada."

Hermione concordou "Ela tem um humor quando não dorme o suficiente." 

Ambos sorriram. Ela entregou sua xícara com seu chá escolhido e voltou para sua cadeira.

Ambos ficaram daquela forma um tempo, os dedos de Ron puxando seus cachos rebeldes de forma inconsciente e ela acariciando sua grande barriga. 

Quando terminaram, Ron levantou e levou suas xícaras para a pia e esperou até que ela levantasse para que pudessem subir as escadas juntos. 

De mãos dadas e um sentimento pacífico em seus peitos, eles sabiam que podiam lidar com mais bebê.

Enquanto estivessem juntos, eles podiam criar todos os contos de amor que Rose pudesse imaginar, pois seus dias eram repletos de momentos como aquele, onde nada mais importava exceto sua companhia, seu companheirismo, seu entendimento mútuo de que se amavam e que eram capazes de construir um lar e serem felizes.

Eles poderiam lidar com um bebê, eles eram Ron e Hermione, afinal.