Bloqueio criativo escrita por Aislyn


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo que vou postar esse ano, suponho...
Então, feliz Natal, feliz Ano novo e que 2022 me traga mais leitores, comentários, plots e surtinhos lol

Boa leitura!~



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A felicidade por ver seus personagens se entendendo foi tanta que Izumi decidiu escrever mais um capítulo da história. Já conseguia imaginar todo um plano de fundo para apresentar aqueles dois. Seria um romance tão lindo! Mas tranquilo, como combinado com Katsuya. Já bastava de fortes emoções para a vida de Mikaru. Ele merecia pelo menos um romance decente.

 

Quando Katsuya retornou para a sala, Hayato precisou se conter para não cantarolar na sua frente ou ser indiscreto, perguntando o desfecho do encontro. Era melhor deixá-lo assimilar o que aconteceu para depois pedir detalhes, porém, conforme continuou escrevendo sua história, notou que o silêncio estava um pouco pesado. Ao lhe direcionar a atenção, encontrou-o com o olhar fixo em um ponto na parede oposta, massageando a bochecha.

 

— Katsuya? Aconteceu alguma coisa? – Izumi salvou seu trabalho e foi se sentar ao lado do personagem, encarando-o preocupado. A proximidade deixou-o notar a pele com um leve tom avermelhado onde o rapaz tocava – Seu rosto…

 

— Ah… Mikaru me bateu.

 

— Bateu? Mas… por quê? – o que aconteceu depois do que viu no quarto? Eles não estavam se entendendo?

 

— Ah… eu… acho que fiz algo que ele não gostou…

 

Se corroendo de curiosidade, mas sem querer confessar que viu, Hayato tentou tirar mais informações do rapaz. Sabia que Mikaru não era fácil de lidar, mas se estavam indo bem, o que aconteceu para o empresário revidar daquela forma? Teria Katsuya avançado o sinal? Ele não fazia o tipo… caso contrário teria investido em Takeo, que iria topar praticamente tudo.

 

— O que você fez? Não tínhamos combinado que você ia contar que eu ia escrever um bom futuro pra ele? Uma vida tranquila, diferente do que ele já tinha sofrido antes?

 

— Bom, sim, eu contei. Ele não pareceu acreditar muito, disse que você não se importa com seus personagens, mas falei das suas ideias, do que discutimos no café… parecia que ele estava cedendo. Pelo menos estava me ouvindo e prestando atenção…

 

— E então…?

 

— Eu… Ele me contou o que você planejou pra família dele, detalhes que eu não sabia, coisas que ele aguentou sozinho… Eu estava consolando ele… E aí eu o beijei… Mas não forcei! Ele correspondeu!

 

— O que fez depois, Katsu? – aquele era o ponto decisivo! Alguma coisa tinha acontecido. Isso podia deixar Mikaru totalmente averso, não só a ele, mas também a Katsuya. Podia estragar seus planos de um romance entre os dois.

 

— Eu não fiz nada! Eu juro! Ele simplesmente me afastou com um tapa. Eu tentei conversar, me desculpar, mas ele não me deu ouvidos.

 

O que poderia ter feito Mikaru se afastar? Se antes ele parecia tão receptivo…

 

Ele o viu. Era a única explicação plausível.

 

Eles estavam próximos à janela, Katsuya de costas para a porta e Mikaru de frente, apoiado no batente da porta que levava à sacada. Mikaru o viu entrar, mesmo que tivesse sido silencioso ao sair, e então descontou em Katsuya, talvez por achar que estavam de complô. Mikaru havia deixado claro que não gostava de sua forma de levar a história.

 

Será que havia alguma forma de ajudá-los? Ou pelo menos fazer Mikaru entender que podia se envolver se quisesse, que a aproximação de Katsuya não tinha nada a ver com ele. Bom, não diretamente. Hayato pediu que ele fosse conversar para contar o que mudaria na história. Não havia sugerido um envolvimento amoroso, mas não ficaria chateado se acontecesse. Contudo, depois do que viu, estava com planos de desenvolver uma cena exatamente como aquela.

 

Ia conversar com Takeo a respeito e pedir ideias. Ele era o cara que sabia conversar e chamar para encontros. Podia dar algumas dicas, tanto para ele quanto para Katsuya.

 

Infelizmente, o restante da noite foi um pouco tenso. Takeo continuou pela varanda e ignorou seu convite para jantar, o que supôs que fosse pela presença do personagem novo, enquanto Mikaru aceitou, mas ignorou qualquer tentativa de manter uma conversa.

 

Quando pegou para escrever o restante de um capítulo antes de dormir, uma chuva começou a cair, obrigando Takeo a procurar abrigo dentro do apartamento. Ele estava um pouco molhado, o que sugeria que havia cochilado na varanda e por isso não viu quando começou.

 

Trocando olhares com os outros personagens, cada um ocupando um sofá e talvez procurando um lugar para sentar, Takeo acabou desistindo de ficar pela sala, resmungando um ‘boa noite’ enquanto seguia para o quarto. Izumi achou que devia ter oferecido um chocolate quente ou uma toalha, além de reforçar sua promessa de não trocar seu protagonista, mas deixou a oportunidade passar.

 

Era melhor provar com um capítulo pronto do que com palavras. Ia terminar aquela cena e mostrar para Takeo, assim como para sua editora. Talvez isso acalmasse o rapaz. O próximo passo seria trabalhar na história de Mikaru. Resolver as pendências do passado e mostrar que ele teria um futuro tranquilo e seguro.

 

E por falar no empresário, talvez para irritá-lo ou notando que era o foco de seus pensamentos, Mikaru começou a fumar, preenchendo toda a sala com o cheiro de seus cigarros mentolados. A fresta que Takeo deixou na porta da varanda não era suficiente para o aroma sair, afinal de contas a chuva e o vento o traziam de volta.

 

Com um suspiro pesado, salvou o arquivo antes de fechar o notebook, perguntando se os dois precisavam de algo e, após duas negativas, se encaminhou para o quarto, se surpreendendo ao encontrar Takeo acomodado na poltrona.

 

— Você dormiu na cama ontem, por que está aí? Eu não revoguei a autorização. – Izumi pegou uma toalha e separou a roupa de dormir, pensando em tomar um banho antes de ir pra cama, mas parou seu trajeto ao ver que Takeo não se moveu do lugar.

 

— Eu peguei chuva agora a pouco. Não queria molhar o colchão.

 

Hayato levou um instante para entender a situação, mas preferiu não comentar enquanto mordia o lábio para tentar conter a ansiedade. O estofado da sua poltrona ia manchar, com certeza. Preferia que fosse o colchão, mas não tinha como Takeo saber disso. Ele não tinha culpa.

 

— Ah… você viu onde estão as toalhas, não é? Pode pegar uma, se quiser. – Hayato ofereceu, sorrindo sem graça – Eu já volto.

 

* * *

 

Katsuya abriu a boca e tentou iniciar uma conversa diversas vezes, mas não sabia o que dizer. Mikaru ainda parecia chateado consigo. Ele não olhava em sua direção, a cabeça apoiada no encosto do sofá, encarando o teto enquanto terminava mais um cigarro.

 

Talvez fosse melhor desistir de uma vez. Ele era só um coadjuvante.

 

Por mais que o escritor tivesse dito que lhe daria um desenvolvimento melhor, não queria forçar nada. Não queria que Mikaru sentisse que era obrigado a interagir com ele, não queria ser a única opção dele. Se fosse para dar certo, queria ser escolhido por ele.

 

— Se importa se eu fech- – Katsuya se dirigiu até a porta da varanda, quando um raio caiu lá fora e um grito foi ouvido do lado de dentro, seguido dos resmungos e xingamentos de Izumi após a luz acabar, deixando-o debaixo de um banho frio.

 

As risadas de Takeo preencheram o ambiente à medida que o escritor parecia mais chateado.

 

— Pode fechar, se quiser. – a voz de Mikaru veio baixa, abafada pela chuva que aumentava gradativamente, mas foi o suficiente para sobressaltar Katsuya, ainda parado no meio da sala, no escuro.

 

— Ah… ok… – olhando para o chão parcialmente iluminado, Katsuya caminhou devagar até a saída para a varanda, olhando um instante para fora antes de fechar a porta, o ambiente se tornando um pouco menos barulhento e frio.

 

Com o mesmo cuidado retornou para o sofá, suprimindo um arquejo ao ouvir outro trovão. A noite prometia ser agitada. Deitou-se no estofado, ocupando os dois assentos do móvel, uma almofada sendo apertada contra o peito. Os estalos vindos de fora o incomodavam, mas não podia fazer nada para abafá-los. Sentia os pêlos dos braços arrepiarem cada vez que os clarões inundavam a sala.

 

— Quer parar de choramingar?! – Mikaru ralhou do outro lado da sala, fazendo-o se encolher.

 

— Não estou choramingando… – Katsuya resmungou em resposta, mas cobriu os lábios com a mão. Se Mikaru estava reclamando era por estar ouvindo, mesmo que ele não tivesse noção dos barulhos que fazia.

 

— Está rindo, então? Cantando? – puxando a coberta por sobre a cabeça, Mikaru se virou para o canto, tentando dormir.

 

Temendo uma nova reprimenda, Katsuya se levantou e, reunindo uma coragem que não sentia ter, se dirigiu para a cozinha, ocupando um lugar na mesa. Pelo menos ali não ia atrapalhar Mikaru. Poderia dormir durante o dia, quando a chuva passasse.

 

O problema é que o tempo parecia não passar. Ele não sabia as horas, não sabia quanto tempo a chuva ia durar, não sabia se seria seguro voltar depois de um tempo para a sala, já que, pelo menos lá não estaria sozinho. Também pensou em ir para o quarto do escritor, mas se Takeo ainda estivesse acordado, talvez brigasse consigo.

 

Era melhor ficar ali…

 

Junto com um novo estrondo veio um facho de luz em sua direção, sobressaltando-o.

 

— O que está fazendo?

 

— Ah… só pensando… – com uma mão impedindo que a luz incomodasse seus olhos, Katsuya conseguiu distinguir a figura de Mikaru segurando uma lanterna. Será que ele ainda conseguia ouvi-lo reclamar? – Desculpe… ainda estou te atrapalhando, não é?

 

— Tsc… volte pra sala. Não pode passar a noite aí.

 

Ele não entendia: por que Mikaru foi procurá-lo?

 

— Melhor não…  eu poss-

 

— Você tem medo dos trovões, não é? – Mikaru estendeu a mão livre, deixando-o mais confuso. Ele não estava chateado? Pelo que houve mais cedo… – Anda, vem.

 

Aquilo soou mais como uma ordem do que um pedido, mas Katsuya não conseguiu negar. Ele estava assustado com a chuva intensa e mais ainda com a perspectiva de passar a noite toda na cozinha e sozinho.

 

Era uma cena perfeita para um filme de terror.

 

Deixou-se ser guiado pelo empresário até a sala, parando em frente ao sofá que ele ocupava anteriormente.

 

— Você fica no canto.

 

— Mas… – ia ficar apertado. Iam acordar doloridos. E se Arata-sensei os visse, Mikaru ficaria mais furioso.

 

— Anda logo.

 

Com um longo suspiro, talvez de conformação ou de alívio, Katsuya se acomodou, prensando as costas contra o encosto do sofá, tentando deixar a outra metade para o empresário. Não ia dar certo… mas ficou observando enquanto ele se sentava, desligava a lanterna, deixando-a no chão, para então deitar ao seu lado, a cabeça apoiada contra seu ombro, ignorando a divisa imaginária que criou para invadir totalmente seu espaço pessoal. E Katsuya não achou aquilo nem um pouco ruim.

 

— Confortável? – era apenas um sussurro, mas o ar quente que saiu com a voz de Mikaru e bateu em seu pescoço lhe causou arrepios. Ele não era o que se podia chamar de uma pessoa sexy, mas esses pequenos detalhes…

 

— Ahm… acho que se eu esticar o braço… – ambos se moveram, devagar, encaixando até ficar agradável. Mikaru puxou a coberta sobre os dois e fechou os olhos. Katsuya nem lembrou que estava chovendo.

 

Na manhã seguinte, Hayato seguiu para a cozinha para preparar seu café, ignorando os dois dormindo abraçados em seu sofá. Takeo não teve o mesmo tato, decidindo que era uma boa ideia fazer música com as tampas das panelas.


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Notas finais do capítulo

E até o próximo~



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