Eclipse Lunar escrita por jujuba


Capítulo 5
O grande lobo da floresta




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O dia seguinte foi um pouco diferente do anterior. Como a minha patrulha seria na parte da noite, para cobrir Seth, Finn foi o único que precisou acordar cedo para atender ao chamado de Sam. Consegui dormir até umas nove horas da manhã, meu corpo aceitando o descanso de forma bem-vinda. Esticar os braços e as pernas pareciam necessitar de um esforço tremendo. Eu sabia que essa dor ia passar até o meu corpo se acostumar com a transformação, mas nesse momento parecia que duraria para sempre.

Eu não tinha ideia do que o Velho Quil fazia durante o dia. Quando decidi levantar, a casa estava silenciosa. Parecia que morar com ele seria como morar sozinha, pelo menos para mim. Finn estava construindo uma relação com o nosso avô que não se estendia à mim (muito por falta de receptividade minha e tentativa dele). Tomei um banho mais demorado dessa vez, novamente deixando que a água quente desfizesse os nós de tensão em meus ombros e costas. Sentei-me por um momento no chão do banheiro e deixei a água correr por mim.

O meu conflito era constante. A batalha que eu travava intimamente era sobre de fato sentir que eu pertencia nesse lugar, com essas pessoas e com esse... Lobo dentro de mim. Mas a razão, anos e anos sendo criada em uma cidade grande e sem conhecimento e apego nenhum por minhas raízes quileutes entravam em contradição ao sentimento anterior. Era uma batalha entre a antiga Raven e essa nova que estava em formação.

Desliguei o chuveiro e fui me trocar. Coloquei uma mom jeans azul clara, uma camisa xadrez preta e cinza por dentro da calça e então amarrei meus tênis. Dobrei a manga da camisa algumas vezes para liberar minhas mãos, já que era oversize. Penteei os cabelos e amassei os cachos com um pouco de creme, eles pendiam úmidos abaixo de meu peito.

Emily tinha pedido no dia anterior para que tomássemos o café da manhã na casa dela hoje – e sempre que quiséssemos – porque ela sempre recebia os jovens do bando em sua casa. Eu imaginava que se fosse para estar lá, esse momento seria o mais seguro. Jacob e os outros deviam estar na escola.

Antes de sair, no entanto, retornei a ligação dos meus pais. Quando chegamos ontem depois da patrulha, estávamos tão cansados e saciados que não conseguimos retornar à ligação quando Velho Quil avisou. Eu sabia que essa hora meu pai estaria indo para a sua primeira aula, mas minha mãe estaria em casa cuidando de tudo enquanto todos estavam fora.

A conversa não demorou muito. Depois de assegurá-la dez vezes de que nós estávamos bem, que o vovô (eu me obriguei a usar o termo para ela) realmente precisava de ajuda e que não, não me importava em ficar aqui até eles resolverem tudo. Finn e eu íamos voltar à escola na semana seguinte, segundo minha mãe comunicou. O seu tom de voz deixou claro que ela estava contrariada em relação a isso, mudar assim de ambiente escolar no final do ano letivo não era inteligente. Porém, depois do dia que eu tive ontem, tempo para mim se tornou extremamente relativo. Eu tinha mais tempo do que minha mãe poderia supor, mais até do que eu poderia compreender.

Não estava chovendo hoje, embora o tempo continuasse nublado. Encarei o céu por alguns minutos, pensando se algum dia o veria azul de novo. Caminhei até a casa de Emily, dessa vez mais atenta a tudo ao meu redor. Nada passava despercebido pelos meus sentidos aguçados. Sentia cheiros diferentes a todo o instante trazidos pelo vento, inclusive dos lobos dependendo da direção. A casa de Emily principalmente cheira aos meninos do bando. Ela estava lavando a louça quando bati na porta.

— Entre, Raven! – saudou. – Guardei um pouco do café para você, está ali no balcão.

— Obrigada, Emily. – falei. – Deixe-me ajuda-la primeiro.

— Ah, não precisa! Deixe essas coisas aí, depois eu arrumo. – ela falou.

Não lhe dei ouvidos, peguei um dos panos de prato e comecei a secar a pilha de louça que os meninos do bando faziam. Trabalhamos em silêncio durante um tempo. Era agradável. Emily não parecia ser muito mais velha do que eu, ela tinha o rosto jovem como todos os outros. Eu sabia, pelo o que Sam havia contado no dia anterior, que os lobos eram algo recente na comunidade, por isso todos eram tão jovens.

— Vocês parecem estar se adaptando bem – Emily disse depois de algum tempo. – Principalmente Finn.

— Finn se dá bem com todo mundo por natureza – eu disse sorrindo de canto – Ele é uma dessas pessoas que não pode andar na rua sem dar bom dia para todo mundo que passa.

Entramos em um novo silêncio enquanto eu terminava de guardar a louça e então finalmente me sentava para comer um pouco. Emily me fez companhia enquanto puxava uma pilha de papeis cheios de formas e traçados finos infantis. Olhei com curiosidade. Pareciam lições de casa.

— Trabalho meio período na escola da reserva como professora de arte. – ela explicou. – Alguns dias fico no infantil e nos outros dias no fundamental.

Isso me surpreendeu. Ela parecia ser uma presença sempre tão constante em prover para o bando que eu imaginei que ela fosse dona de casa. Entretanto, lembrei-me de que o cargo de Sam como alfa do bando e um dos líderes do conselho tribal provavelmente não eram remunerados.

— O que você acha de tudo isso? – perguntei. Estava conversando pela primeira vez com uma pessoa que não explodia em um cão gigante.

Emily sorriu para mim. – Acho fascinante.

— Precisa ter a mente muito aberta para ter acreditado que tudo isso existe. – assinalei.

— Ah, sim. – e riu – No início foi difícil de acreditar, mas nunca duvidei do que Sam me contou. Sou parte Quileute no lado da minha mãe, mas cresci na tribo Makah. Superstições e lendas são familiares a mim, cresci ouvindo lendas e no seio de uma tribo. O dom que vocês têm é maravilhoso.

Fiquei imaginando o porquê eu não fui criada em um ambiente assim, o porquê meu pai decidiu se afastar das origens dele e nos criar de uma forma completamente diferente dos demais. Nunca, em toda a minha vida, eu soube das lendas ou até mesmo da reserva. Sabia que a descendência do meu pai era Quileute, mas nunca encontrei em mim a curiosidade para ir procurar saber o que isso significava. Cresci muito mais próxima à família da minha mãe, que morava em Boston, mas que vinham nos visitar com muito mais frequência.

Se eu tivesse sido criada como Emily foi, quão diferente teria sido a minha vida? A minha percepção de comunidade?

— Você aprende a amar a comunidade e o bando. – Emily falou depois de um momento em silêncio me observando. – Não é fácil, mas desde quando é? É assim que famílias são, confusas, cheias de conflito, mas no final do dia todos estão ali pelos outros.

A imagem de Jacob veio involuntária em minha mente. Só de pensar nele fazia o meu coração acelerar em resposta, tanto em apreensão quanto em ansiedade.

— Colin e Brady parecem ser tão novos. – comentei forçando a imagem sair da minha cabeça ao direcionar para um novo assunto.

Emily suspirou, era um suspiro de preocupação.

— Sim. – disse – É o efeito por trás da presença dos Cullen novamente. Sam deve ter te falado sobre a Fria que apareceu no verão. A presença dela desencadeou muitas consequências. Sam tenta os deixar fora de perigo, a patrulha deles não é tão longa quanto a de vocês, mas ao mesmo tempo precisamos de quantidade e quanto mais cedo eles souberem se controlar e estar com o bando, melhor no futuro.

— Os pais deles sabem?

— Não, com exceção de Billy, Sue e o Velho Quil, nenhum pai sabe sobre o bando... Bom, com exceção de Elan agora, claro. – ela se corrigiu. – Quanto menos pessoas souberem, melhor.

— Deve ser complicado mentir o tempo inteiro para os pais. – murmurei.

— Sim. Embry é o que mais tem sofrido com isso, tadinho. Sam até lhe deu permissão especial para contar à Joy, mas Embry está comprometido com o segredo, não quer. – ela olhou preocupada. – Enquanto isso, ele fica de castigo dia sim e dia não, e mesmo assim precisa quebrar os castigos para estar com o bando.

Eu entendia o motivo de Embry não contar à sua mãe sobre o segredo. Imaginei-me sentada à frente de Catherine, falando com ela sobre o segredo dos lobos, talvez até mostrando à ela para que não ache que a filha enlouqueceu. Mamãe provavelmente não aguentaria conviver com aquele segredo. Ele era apenas para pessoas de coração forte.

— Eu reparei que no bando só tem eu e Leah de mulher. – falei após mais um momento de suave silêncio entre nós.

— Bom... Até o verão realmente os anciões acreditavam que apenas os homens herdavam o gene do lobo. Em nenhuma das lendas é dito sobre mulheres fazerem parte. A teoria de Sam é que com os Cullen tão próximos e os últimos acontecimentos do verão, é como se tudo isso estivesse puxando a herança ao extremo. Lobos mais jovens se transformam e até mulheres com o gene Quileute mais forte também. – ela explicou. – Mas é tudo uma teoria, claro. Não tem como comprovarmos nada disso.

Pensei a respeito, mas não consegui concordar. Tudo bem, o clã dos Cullen tinha residência fixa na região. Mas Finn e eu estávamos a quilômetros de distância, sãs e salvos em Seattle – no caso salvo do sobrenatural. Não tinha como a influência da presença dos Cullen nos afetar até lá. Não tinha um motivo muito claro por trás da nossa transformação... Bom, pelo menos da minha já que o acesso à herança lobo é mais forte nos homens.

Tudo isso era meio louco, meio místico e inteiramente confuso. Eu estava sentada na mesa da cozinha de Emily conversando claramente sobre coisas de bando, lobos gigantes e vampiros. E, ao mesmo tempo, eu não conseguia não falar a respeito. Era como se a caixa de Pandora tivesse sido aberta dentro de mim. Diferente de ontem, eu estava ávida para mais informações.

— Sam disse que Jacob Black é o segundo em comando. – eu não sei porque comentei sobre ele, não tinha nem percebido a direção que meus pensamentos estavam. – Ele parece meio novo.

Emily riu e um brilho de afeto cobriu seus olhos. Era claro que ela nutria um profundo carinho por Jacob.

— Bom, tecnicamente ele deveria ser o alfa. Por causa da linhagem dele. Ephraim Black foi o último alfa, há mais de sessenta anos. Está no sangue de Jacob o direito. – ela disse. – Mas ele não quer a responsabilidade. Sam até tentou passar a ele, mas Jacob recusou. Então Sam o fez seu segundo em comando.

Fiquei em silêncio, pensando sobre o assunto. Essa coisa de linhagem era complexa, cheia de detalhes que eu sabia que não conhecia por inteiro e que mesmo assim se faziam presentes no meu dia. Não consegui depois disso tirar a imagem de Jacob da cabeça, da sua presença calma ao meu lado, mas também conflituosa; do olhar atento e cheio de significados que eu não tinha acesso; do sentimento que ele causava em mim...

— Jacob pareceu bastante consciente em você ontem. – Emily disse calmamente. Ela me olhou por cima dos papeis de desenho e sorriu leve. – Nunca o vi reagir assim antes com outra menina que não fosse Bella.

— Bella? – perguntei. Era um nome novo para mim. Repassei as pessoas que conheci na casa de Billy Black e as pessoas que haviam sido mencionadas até então, não me lembrei de nenhuma Bella.

— Ela não mora aqui. Mora em Forks, é filha do xerife, Charlie Swan. – Emily explicou. – Bom, é mais complicado do que isso. Bella namora um dos Cullen, não sei qual deles. Ela passou um bom tempo aqui na reserva com Jacob quando os Cullen foram embora no final do ano passado, mas quando eles voltaram há alguns meses parou de vir.

A informação girou em minha. – Ela namora com um dos Cullen? Achei que... Eles não fossem permitidos entrar em La Push.

— E não são. Ela não é uma Fria. É humana, como eu e... Bom, não tanto como você. – Emily sorriu como quem se desculpa. – Eu não sei a história direito, Jacob nunca contou. É difícil de acreditar, não é? Estar tão perto assim de um deles e se relacionar com eles. É preciso muita coragem.

Eu não conseguia encontrar parâmetros para entender onde o repúdio de Emily existia. Nunca tinha encontrado um vampiro, até então eles faziam parte de lendas góticas no meu mundo e a minha mente não conseguia produzir a mesma aversão que todos do bando. Experimentei algumas sensações através de algumas lembranças que eles tiveram ontem, mas nada que eu pudesse me identificar. Agora, uma história de romance com um deles era de fato algo que eu nunca poderia imaginar ser possível, pelo menos não com as informações que eu tinha sobre eles.

Minha atenção se voltou para outra parte do que Emily havia falado.

— Ela... Trocou Jacob por um Frio? – perguntei hesitante. Na minha cabeça isso, sim, eu conseguia entender como inconcebível uma vez que conhecia Jacob... Bom, o máximo que ele me permitia conhece-lo na realidade.

— Hm, não sei se chegou a ser uma troca. – Emily disse. – Eu sei que ela namorou um dos Cullen ano passado, então depois que eles foram embora e ela ficou e depois de um tempo passou a frequentar a reserva. Charlie sempre foi um grande amigo de Billy, ela e Jacob se conhecem desde crianças. A gente achava que algo estava rolando entre eles até uma integrante do clã voltar e então Bella sumir por uns três dias. Quando voltou trouxe todos os Cullen de volta. Desde então não veio mais aqui, mas sei que sempre procura falar com Jacob. Ele, porém, não fala sobre.

Fiquei em silêncio, sem saber o que fazer com esse tipo de informação.

— Mas ontem percebi que eu estava muito atento a você. – ela disse de novo e sorriu para mim. – Você também parecia muito consciente dele.

Eu senti as minhas bochechas ficarem extremamente vermelhas e em um movimento leve da cabeça tentei fazei com que o meu cabelo cobrisse um pouco mais rosto, para evitar que Emily visse o rubor. Eu achei que ninguém tinha reparado.

— Eu acabei de chegar. – murmurei brincando com a faca de manteiga. – Não quero nenhum drama.

Emily riu e deu dois tapinhas na minha mão em solidariedade. – Não precisa ser um drama.

Então ela se levantou e guardou os desenhos dentro de uma pasta marrom. - Você já terminou? Vou precisar ir trabalhar, mas pode ficar por aqui se quiser.

— Ah, não. Tudo bem! – eu falei me levantando.

— Venha comer algo aqui antes de fazer a sua patrulha. É muito mais fácil correr de noite com o estomago cheio – ela disse e então parou – Bem, é o que os meninos dizem.

Eu dei risada e agradeci o convite. Não sabia se de fato viria porque não queria cruzar com Jacob novamente, mas ela não precisava saber dessa última parte. Dali, decidi conhecer um pouco mais a comunidade, entender como era o fluxo dela.

Percebi que era muito fácil ficar fechada e reclusa naquele mundo estranho que eu agora fazia parte, sem ter nenhum contato com ninguém de fora. Caminhei sem um rumo certo. A saída da reserva dava logo para a First Beach. As ondas quebravam fortes na praia, dali eu conseguia ver o movimento constante do porto de La Push, dos pequenos barcos pesqueiros indo em vindo. Caminhei até a praia e me sentei na areia escura e cheia de pedras e conchas. Seu eu fechasse os olhos e me concentrasse, podia ouvir de uma vez só o barulho da cidade como um todo.

Vozes, passos, barulhos de carros e portas, pessoas entrando e saindo de estabelecimentos, a agitação do porto e do descarregamento de mercadorias, da falação agitada dos pescadores, de televisão e música ligada em algum lugar, o sino da escola tocando em algum lugar distante... Era como submergir dentro da cidade e deixar todos esses sons passarem por mim, fazendo-me parte do lugar. Como toda cidade, pulsava de vida, mas de uma maneira menos intensa do que as cidades grandes, mais em harmonia em seus sons e a natureza ao redor.

O cheiro do mar era convidativo. Fiquei curiosa para saber como sentiria a água e a maré agora com esse novo e poderoso corpo. Eu não sentira frio, estaria mais forte para aguentar o repuxe do mar... Até quanto o meu corpo poderia aguentar?

Não entrei no mar, no entanto. Não com tantas pessoas podendo me ver. Por isso levantei-me e fui caminhando até o centro da cidade. Os estabelecimentos eram casas simples, mas muitas lojas Quileutes se faziam presentes.

Entrei em uma loja de suvenires que tinha de tudo, tapeçaria, símbolos entalhados em madeira, chaveiros, colares, anéis... A atendente estava atrás do balcão lendo uma revista. Ela tinha os cabelos lisos presos em duas tranças e era um pouco mais velha que eu, mas não muito. Talvez uns vinte e poucos anos. Um amuleto entalhado em madeira chamou a minha atenção. Era redondo e os detalhes eram impressionantes. Parecia uma versão tribal do teste de Rorschach. De forma intrínseca era possível ver um lobo no centro, mas também dois lobos uivando para a Lua se separasse a imagem. Comprei por um preço simplório.

Caminhava de volta para a casa do Velho Quil, admirando o amuleto, quando escutei o meu nome.

— Hey, é a Raven. – era a voz de Seth.

As aulas já deviam ter acabado, eu passara mais tempo na praia do que tinha me dado conta. O clima ali fazia com que o tempo parecesse parado.

— Ela é tão bonita – escutei Brady dizer. – Parece uma Amazona, não parece?

— Garoto, ela pode te escutar. – Embry disse e escutei quando deu um tapa estalado na cabeça de Brady e riu.

— Ah, droga – ele murmurou constrangido.

Eu olhei para trás e os encontrei caminhando para a direção da reserva, provavelmente alguns indo para casa e outros indo iniciar a patrulha. Sorri para eles. Brady tinha o rosto vermelho, o que quase não era possível ver por conta de sua pele marrom avermelhada. Ele evitava me encarar. Quil, Embry, Seth, Colin e Jacob caminhavam juntos saindo da escola. Eu senti meu coração acelerar ao olhar para Jacob. Vi Jared se afastar em uma direção oposta com uma jovem ao seu lado, de mãos dadas.

A gente achava que algo estava rolando entre eles até uma integrante do clã voltar e então Bella sumir por uns dois dias...”. A voz de Emily veio em minha mente.

Hm, drama, drama, drama. Era algo que eu queria evitar no momento.

Deixei que eles me alcançassem para não dar margem para perguntas, mas me sentia desconfortável com Jacob tão perto e sem poder de fato estar ao lado dele.

— E aí, garotos. – falei.

— Você tem sorte de ainda não estar frequentando a escola. – Quil disse – Eu daria tudo para o ano letivo acabar de uma vez. – e então bocejou.

 - Bom, não falta muito. – falei andando ao lado de meu primo e os seguindo de volta à reserva.

— Mas falta o suficiente – ele disse colocando os braços atrás da nuca enquanto andava.

— Está gostando de La Push, Raven? – Seth perguntou, reduzindo o seu passo e passando a andar ao meu lado. Seu espírito sempre alegre e positivo eram contagiantes.

— Bom... – comecei e olhar ao redor. – É, é legal. Eu acho.

— Espere para ver as piscinas naturais. – Ele disse – A gente pode mostrar para você algum dia do final de semana, quando não estivermos em patrulha. Com o tempo gelado, as pessoas não vão ir lá mesmo. Pode ser divertido.

— Claro. Eu gostaria muito de conhecer. – falei só porque Seth parecia realmente animado com a possibilidade.

— E podemos pedir para Emily fazer uma grande cesta com comida para levarmos – Embry disse passando a mão na barriga.

— Cara, você só pensa em comer! – Quil disse trombando com ele.

— Vai me dizer que você não pensa também, Ó Sr. Não Deixo Sobrar Muffins Para Ninguém. – Embry o empurrou de volta. – Você devorou todos os muffins de Emily hoje de manhã, quase não sobrou para mim.

— A culpa não é minha se você está sempre atrasado. – Quil disse. – Dá próxima vez não deixo sobrar nenhum.

Eles continuaram a implicar um com o outro durante todo o caminho. Seth olhava animado de um para o outro, rindo livremente. Colin e Brady andavam mais atrás, dessa vez eles fariam a patrulha da tarde ao invés da noite e conversavam sobre qual videogame iam jogar depois na casa de Colin, estavam indecisos entre World at War e Fallout 3.

Eu me deixei conduzir pelo grupo sem precisar interagir muito, ocasionalmente me pediam para favorecer um ou outro, mas eu apenas dava risada. Quil e Embry agiam como irmão... Na verdade, todos eles agiam dessa forma entre si, mas a conexão entre os dois parecia ser mais forte.

— Você parece melhor hoje.

Olhei para o lado surpresa em encontrar Jacob ali, caminhando perto de mim e puxando conversa. Minha garganta ficou seca de repente, incapaz de produzir nenhum som. Na minha cabeça, eu podia ouvir Verônica gritar: “Vai, garota, desembucha e aproveita pra perguntar se o abdômen dele é tão trincado quanto o dos outros”. Corei só de pensar em Veronica.

— É. As coisas estão começando a fazer mais sentido – respondi e desviei o olhar, voltando a encarar o caminho. – Nem parece que há três dias eu era completamente normal.

— Entendo o que quer dizer. Mas pelo o que me falaram, você se adaptou muito bem ontem. – Ele continuou.

Eu ri sem humor e balancei a cabeça. Tudo parecia um grande sonho às vezes.

— É bizarro isso ser tão natural e tão estranho ao mesmo tempo. É como se duas pessoas estivessem se chocando o tempo todo dentro de mim. Quem eu era e agora quem eu sou, ou quem estou me tornando.

Percebi que era fácil conversar com ele, estar ao lado assim. Os meninos pareceram nos dar mais espaço, mesmo que de forma inconsciente. Começamos a ficar um pouco mais para trás.

— Vai ficar mais fácil com o tempo. – Jacob disse, sua voz rouca soava quente para mim, aconchegante. – A maioria de nós teve um tempo difícil para aceitar tudo, mas não tanto quanto você e Finn porque fomos criados aqui... Embora todos nós acreditamos durante muito tempo que nossos pais e avôs eram completamente loucos.

— Não entendo o porquê meu pai nunca nos contou sobre as lendas, nem mesmo sobre a existência delas. – murmurei – Ele nos manteve alheios de toda a nossa parte Quileute... Não que eu me pareça uma Quileute de qualquer forma – e olhei para os rapazes e então para as minhas mãos.

— Você vai se encaixar. – Jacob disse, havia certeza na sua voz.

— Não sei quantas vezes já ouvi isso desde a noite no beco – comentei – Poderia escrever um livro com a quantidade de variações da frase “você vai se acostumar”. Seriam tantos sinônimos que as pessoas iam ter que criar um dicionário a partir do livro.

Jacob riu. O som era quente e profundo, me fazendo sorrir.

— Mas não seria um livro muito animador. – ele disse.

— Não, mas eu escreveria de uma forma diferente. Para cada sinônimo da frase, colocaria uma reação exata a ela. Assim quem ler nunca vai passar pelo mesmo constrangimento em não saber como reagir que eu passo toda vez que escuto isso. Eu seria milionária, uma fábrica de dinheiro. Livros de auto ajuda são extremamente rentáveis. – continuei.

— Mas o dinheiro não ia servir de nada se no fim do dia você ia estar correndo pela floresta como um grande lobo – Jacob contrapôs.

— Ia sim. Eu ia poder me transformar sem a preocupação de ficar sem um armário de roupas no final do mês. Ia colocar pontos de troca de roupa por toda a floresta. Nunca mais ia precisar ficar pelada por aí. – balancei a cabeça em constrangimento – Você devia ter visto a conversa com o meu pai logo que voltamos do beco. Nunca imaginei que ia me sentar ao lado do meu pai vestindo só o casaco do meu irmão mais velho. Finn tinha a jaqueta rosa da minha irmã de sete anos enrolado na cintura. E ninguém nem pareceu notar.

Jacob gargalhou. – Esse seria um dinheiro gasto com inteligência. Quando você ficar milionária então, não se esqueça de que outras pessoas também ficam por aí pelados na floresta e correm o risco de encontrar com os pais em situações delicadas.

— Não se preocupe, não vou esquecer de vocês. – eu ri também – Ninguém precisa passar pelo o que eu passei.

Os meninos começaram a se dispersar, alguns indo descansar e outros correndo para a floresta. Tomei o rumo da casa do Velho Quil, que também era a mesma direção da casa de Jacob, só que a parada dele era antes da minha. Então estávamos sozinhos, caminhando lado a lado.

— Sam te liberou da patrulha hoje? – ele perguntou depois de um tempo em silêncio.

— Não. Seth precisou trocar para resolver algumas coisas da escola. Vou patrulhar de noite.

— Ah. – ele disse e então ficou brevemente em silêncio. – Eu também.

Eu imaginei mesmo de que Jacob fazia as patrulhas de noite, uma vez que Sam sempre fazia a de manhã e à tarde. Alguém responsável precisava ficar no turno noturno. Eu tentei não imaginar durante o dia como seria correr ao lado dele, mesmo que eu não estivesse fisicamente ao seu lado. Seria a primeira vez que teríamos acesso a mente um do outro desde que nos conhecemos pessoalmente.

Chegamos próximo da casa de Jacob e reduzimos o passo de maneira inconsciente.

— Eu te vejo hoje de noite, então. – falei parando ao lado dele.

Jacob me encarava de uma forma estranha. Parecia perdido em pensamentos enquanto me olhava profundamente nos olhos. Eu inspirei pesado aquele ar que nos rodeava, como se a gravidade estivesse exercendo um poder poderoso sob nós, mantendo-nos naquele lugar, presos naquele momento e naquela proximidade. Ele parecia querer chegar mais perto, conseguia enxergar em sua expressão o quanto ele lutava contra o sentimento. As mãos tremeram por um instante, como se ele quisesse me tocar o tanto quanto eu queria tocá-lo.

Eu não sabia qual era o dilema que ele estava enfrentando, não sabia até onde isso me envolvia e até onde envolvia a outra menina, a Bella. Infelizmente eu não podia ajuda-lo a descobrir, porque eu mesma estava enfrentando a minha própria resistência naquele momento. Mas algo em mim sabia que eu ia perder. Ia perder essa batalha, ia chegar em um ponto no qual resistir ia ser inútil. Eu cederia. E ele também.

Porém, por enquanto, resistíamos; cada um com os seus motivos para tal.

Sem dizer mais nada eu me virei e continuei o meu caminho, agora com o passo mais apressado, quase correndo. Eu sentia aos poucos a minha força de vontade ceder para esse sentimento inexplicável que sentia por ele. E era só por ele. Não me sentia assim da forma mais remota em relação aos outros.

Entre as novas funções com os lobos, toda a mudança física e todo esse novo mundo que eu tinha que fazer parte e compreender, ainda tinha os meus sentimentos para lidar. Isso estava se tornando mais pesado do que eu imaginava.

* * *

Antes de ir para a patrulha, fiz o jantar para Velho Quil e Finn. Comemos em silêncio, Finn completamente cansado da nova e puxada rotina. Ele falou pouco, não teve tanta movimentação e, como no dia anterior, Sam tirou o dia para treiná-lo. Perseguir cheiros não era algo do qual Finn dominava e ele precisava melhorar nisso de acordo com Sam.

Eu estava inquieta enquanto trocava a calça jeans e a camisa pelo mesmo vestindo de algodão creme do dia anterior e os tênis para andar até a orla da floresta. Meu coração batia acelerado com a perspectiva de em alguns minutos estar junto de Jacob, principalmente da exposição que isso acompanhava. Eu teria que me manter em cheque o tempo todo, porque nunca seria apenas eu e ele, havia todos os outros integrantes do bando conscientes daquilo.

Finn me abraçou brevemente antes de eu sair e então foi descansar.

— Obrigado pelo jantar, Raven. – Velho Quil disse com a sua voz grossa. – Fazia tempo que eu não comia em casa.

Eu me surpreendi com a emoção contida na voz dele. Ele me olhava de maneira diferente – ou talvez eu quem não tinha percebido antes. Era um homem contido, de poucas demonstrações de afeto, mas parecia feliz de ter Finn e eu ali.

— Claro. Podemos fazer isso sempre... Até os meus pais chegarem. – eu propus.

— Seria muito bom. – ele disse e então se virou para a televisão encerrando o assunto.

Velho Quil era um homem interessante.

Ainda pensava nele e em sua reação quando me transformei na floresta, as roupas seguras em cima de um galho de árvore. Eu não tinha ideia de onde a nossa relação se estabelecia, porque nunca houvera uma relação antes, mas com tantas mudanças acontecendo na minha vida por que não abraçar essa também? Não seria tão ruim ter um avô paterno e, principalmente, uma pessoa para quem eu não precisaria mentir sobre a minha estranha natureza.

Vovô Quil é na dele, mas se preocupa com a gente. Quil disse. Estava correndo pelo perímetro Norte naquele momento. A profundidade do respeito e veneração em seus pensamentos me pegou de surpresa.

Eu não respondi ao comentário porque não tinha o que falar a respeito. Eu não o conhecia da forma como Quil conhecia.

Raven, você corre comigo. Nos encontramos perto do penhasco. Jacob disse. Ele estava diferente, extremamente reservado e cauteloso em sua forma de pensar.

Corri a toda velocidade para lá. Nunca tinha corrido de noite na floresta e era uma experiência diferente. Os animais noturnos eram mais reservados e reclusos, tínhamos mais liberdade para correr livremente pela vegetação sem temer encontrar com nada. Ali, não existia reservas, cautela, discrição. Eu acelerei o passo conforme a excitação da corrida se tornava maior. Na patrulha conosco, estavam Quil, Embry, Jacob e Jared. Eles se divertiram com a minha animação. Quando cheguei ao penhasco, Jacob já estava lá.

Eu nunca o havia visto na forma de lobo até então e me surpreendi com o seu tamanho. Ele era só um pouco menor que Sam, quase nada, mas ao invés de preto, o seu pelo era castanho-avermelhado. Havia cautela em seu olhar e em sua postura, desconforto. Sem dizer nada, ele começou a andar em direção ao oeste em um passo lento, sem pressa. Eu o segui um pouco mais atrás, minha mente zunindo um pouco embora eu tentava me manter atenta à floresta.

À noite é o momento mais favorável para sermos quem somos. Jacob disse para mim depois de um momento. Como você pode perceber, ficamos mais livres do que durante o dia. Mas os Frios também.

Pensei nas lendas que sabia sobre vampiros, sobre a exposição a luz do dia e imaginei se era a isso que ele se referia.

Embry deu risada. Quem me dera, disse.

Eles podem sair durante o dia e na luz do sol se quiserem, isso não os afeta. Mas de noite possuem tanta cobertura quanto a gente, às vezes até mais. Quil disse.

E é por isso que precisamos estar sempre atentos de noite. Jacob disse enquanto continuava o seu caminhar lento e calmo pela floresta. Se Sam parecia ser o dono da floresta quando caminhava assim, Jacob era a floresta. E, o mais importante, a ser tão silenciosos quanto eles.

Eu podia te ouvir a quilômetros de distância. Jared interveio, direcionando os seus pensamos para mim. Ele estava deitado em um ponto da trilha, descansando por um momento.

Senti-me um pouco envergonhada. Não sabia que tinha feito tanto barulho assim.

Jacob riu. Não se preocupe. Todo mundo extravasa um pouco nas primeiras vezes. Vem, vou te mostrar como andar por aí sem parecer que estão derrubando a floresta.

Diferente das lições de Sam, que eram mais verbais e mais detalhadas em um passo a passo quase teórico, Jacob deixava que suas ações mostrassem como realizar a tarefa. Eu tinha que estar completamente consciente de sua mente e de seu corpo. Como ele fazia para manter o passo leve, cadenciado e quase inaudível. Ele pouco interferia com conversas mentais. Ensinava dando exemplos.

Confie em seu corpo para manter o ritmo e o passo suave. Ele responde aos seus comandos com mais rapidez do que você pode imaginar. Ele disse depois de um tempo correndo na minha frente de forma silenciosa.

Eu me concentrei em como manter o passado leve na terra fofa e não perder o ritmo que Jacob tinha determinado. Era difícil. A floresta tinha elevações, caminhos com árvores caídas, com folhas secas... A corrida não era plana. Eu precisava em cada aterrisagem e cada pulo manter o controle da queda ou do salto. Era estar completamente consciente da minha forma como um todo.

Você precisa sentir a floresta ao invés de apenas estar nela. Jacob disse conforme avaliava o meu esforço para executar o que ele havia pedido. Exemplificando o que tinha acabado de dizer, ele parou por um minuto e fechou os olhos.

Jacob estava absorvendo tudo ao seu redor. Todos os sons, todos os cheiros. Sua mente não se fixava em nenhum lugar em específico, mas estava alerta para o que o rodeava em um grande raio de onde estávamos. Ele sabia que há alguns quilômetros dali cervos descansavam tranquilamente em suas tocas mais adentro da floresta; sabia que uma coruja acabara de descer em um voo silencioso, mas certeiro, ao capturar um pequeno roedor; sabia que uma raposa tinha acabado de iniciar uma breve corrida atrás de uma lebre mais ao norte. Não só isso, ele fazia parte daquela estrutura viva.

Era muito parecido com o que eu tinha feito mais cedo ao me sentar na praia, só que mais orgânico para ele. Fechei os olhos também e me concentrei... Então me lembrei que não era uma questão de concentração, muito pelo contrário. Eu precisava soltar as amarras e deixar meus sentidos me levarem. De forma curiosa, foi mais fácil realizar isso do que eu previra. Conseguia escutar o caminho calmo de um riacho que desaguava em um pequeno lago ali perto, dos peixes nadando calmamente dentro; conseguia ouvir os morcegos a quilômetros de distância; os pássaros dormindo no topo das árvores... Conseguia sentir a minha própria presença. E ao praticar isso, parecia que meus sentidos se expandiam ainda mais. Meu senso de olfato e audição se tornaram mais aguçados, mais afiados.

Quando Jacob se moveu, foi natural apenas segui-lo. Quando ele começou a correr e eu logo atrás, a minha passada estava mais quieta, mais suave. Meu corpo era mais leve que o de Jacob, discrição e leveza não deveriam ser um problema para mim. E agora que eu aprendera a respeito, não eram mais. Jacob foi em direção ao riacho que corria ali perto, o mesmo que eu tinha ouvido antes. Ele parou por um momento e abaixou a grande cabeça, bebendo da água fresca. Admirada pela facilidade com que ele se mesclava na floresta, com a naturalidade que o instinto lobo agia sobre ele, abaixei a cabeça também para experimentar como era tomar água fresca assim.

Era diferente. Eu me atrapalhei um pouco para pegar a água, espalhando mais do que bebendo, os dentes até batendo como se eu tentasse morder a água. Jacob riu e eu ri junto. Observei como ele fazia, a cabeça baixa bem próxima da minha, angulada para me olhar a minha reação. Tentei de novo, dessa vez criando uma concha com a ponta da língua. Funcionou. A água fresca bebida direto da fonte tinha um sabor diferente do que eu tinha experimentado até então. Criou dentro de mim uma outra possibilidade, um outro olhar que eu não tinha percebido que poderia ter sobre essa nova forma. Até aquele momento eu só tinha usado essa forma com um propósito muito específico, mais como uma espécie de armadura do que de fato pelo o que ela era. Eu era um lobo, independentemente de ter ou não o instinto animal sob controle. Com Jacob, estávamos sendo lobos. Simples assim.

Ele me olhou sem levantar a cabeça, enquanto eu bebia água. Podia ver a minha imagem refletida em sua mente. Um grande lobo branco como a neve bebendo água em um riacho. O pelo ao redor de meu pescoço era mais grosso, cheio e mais longo. A forma do lobo era esbelta, possuía uma postura majestosa mesmo parada, uma graciosidade rara que finalizava na longa cauda que era quase tão cheia quanto o torso. Era como ver um lobo do ártico em tamanho ampliado. Os meus olhos, ao invés de cor de mel, eram âmbar. Eram lindos.

E então percebi que era através do véu dos pensamentos de Jacob que essa análise era feita. Por um momento, por uma pequena brecha na cautela dele, eu consegui ver como ele me via. Eu consegui descobrir que como eu me sentia, era como ele se sentia também.

Ergui a cabeça, surpresa.

Uh-uh. Embry pensou, surpreso. Ah, Jake, cara. Por que não falou antes?

Cale a boca, Embry. Jacob disse com um rosnado. Sua grande forma se virou e me deu as costas. Ele começou a correr pelo perímetro. Silenciosamente eu o segui. Não tinha entendido a reação de Embry, não conseguia compreender por que Quil parecia tão feliz por Jacob e nem porque Jared parecia surpreso e imediatamente lembrou-se de sua namorada, a menina que eu tinha visto com ele mais cedo naquele dia.

Eu não queria piorar a situação. Na realidade não sabia nem se queria compreender o significado daquelas reações. Jacob estava fechado em si mesmo naquele momento, parecia remoer algo, mas fazia um esforço tremendo para não compartilhar. De fato, Jacob parecia quase envergonhado.

A patrulha da noite era um pouco mais furtiva do que de dia, por mais que tivéssemos espaço e liberdade para correr à vontade por aí. Era uma patrulha que exigia constante atenção no cheiro que o vento trazia, nos barulhos da floresta e no que nossa visão captava de movimento. Em um momento, me deitei abaixo de uma grande árvore quando Jacob decidiu descansar um pouco. Curiosamente eu senti a necessidade de lamber a parte de cima das minhas patas dianteiras, que estavam um pouco sujas. Percebi que era uma ação natural uma vez que Jared tinha feito isso algumas vezes.

A madrugada prosseguiu e continuamos a nossa ronda, farejando, parando para escutar atentamente e então voltando a correr. Não houve nenhuma agitação na noite a não ser quando Jared, que estava pensando em sua namorada, acabou escorregando em seus pensamentos e revelando mais detalhes do que eles tinham feito na parte da tarde do que eu gostaria de saber (e todos nós nos encolhemos mentalmente) e Quil ter pego Embry de surpresa quando a rota dos dois se cruzaram e então voado em seu pescoço em uma brincadeira perigosa que envolvia dentes, garras e rosnados de brincadeira.

Eu me encontrava em um estado de cansaço e atenção ao mesmo tempo. Sabia que para os meninos era ainda pior, porque eles teriam que sair daqui e dormir só três horas até ir para a escola na manhã seguinte de novo. Mesmo assim estava cansada, nunca tinha ficado acordada a noite inteira antes de forma tão ativa.

Quando a patrulha acabou, fomos saudados pelos sonolentos Paul, Leah, Sam e Finn. Finn veio na minha direção, porque provavelmente não nos veríamos durante o dia também. Sua enorme forma de lobo, com o pelo cor de ouro, veio até onde eu estava. Nos abraçamos da forma que pudemos, esfregando o rosto um no outro. Fiquei um momento embaixo de seu pescoço de olhos fechados, sentindo como era bom tê-lo por perto. Ele queria saber se tinha sido tudo bem a patrulha, eu compartilhei o meu sentimento de cansaço, porém tranquilidade. Era o suficiente para nós dois.

Durma bem, ele disse enquanto eu me afastava e corria de volta para a casa do Velho Quil.

Quando cheguei na casa, mal consegui dar bom-dia para de tão cansada que estava. Não consegui chegar até o quarto, então desabei no sofá mesmo, adormecendo quase que antes de me deitar completamente.


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