Monstro do Armário escrita por Lolita


Capítulo 1
Monstro do Armário


Notas iniciais do capítulo

Mais um conto de terror inspirado em um dos meus pesadelos, espero que gostem



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Oak Park – Illinois

14 de Março 1999 – 20h 45min

         Primeira noite em uma nova casa não é nada fácil, principalmente para um adolescente de 16 anos que havia acabado de passar por uma crise familiar onde os pais se separaram.

         Sentado nas escadas de madeira escura com os olhos azuis fixos, meio perdidos, no carpete felpudo vermelho e cheio de manchas de poeira por conta da mudança estava ele, Luigi, a pessoa que vive perambulando como uma criança arteira estava, pela primeira vez, quieto, sentadinho e calado, não dando a mínima para sua mãe que corria feito uma barata tonta para lá e para cá carregando caixas em cima de caixas.

         — Luigi, querido, dá para me ajudar pelo menos um pouquinho? – Sua mãe perguntou parando em sua frente enquanto limpava as gotículas de suor que escorriam por sua testa.

         De princípio o garoto não falou absolutamente nada e nem se deu ao trabalho de olhá-la para no minuto seguinte se levantar e, rapidamente, correr para o segundo andar da casa. A mulher deixada para trás apenas deixou um longo e cansado suspiro sair de seus lábios para logo voltar ao que estava fazendo resmungando que logo, logo ele ficaria melhor.

...

         Não gostava de desobedecer a mãe, mas naquele momento não se sentia muito bem. Estava demasiado triste e não queria conversa com ninguém, mesmo que esse alguém fosse sua mãe.

Olhando para os próprios pés ele passou a andar pelo extenso e largo corredor divagando os últimos acontecimentos, desde a separação dos pais, a despedida dos amigos até a viagem para aquela casa enorme, velha e assustadora. Apenas voltou a realidade quando parou em frente à porta de seu quarto passando a olhá-la atentamente.

         Luigi já havia entrado ali, e a sensação de estar lá dentro não era nada boa. Aquele quarto era o cômodo mais frio da casa, na opinião do garoto, e o único que ele se sentia estranho, como se algo estivesse lhe observando o tempo inteiro.

         Com um leve suspiro Luigi estendeu a mão direita até alcançar maçaneta redonda da porta girando-a bem devagar, seus olhos passearam pelo quarto em pleno breu e com um enorme silêncio que chegava a lhe dar um calafrio dolorido na base da coluna. Com um pouco mais de coragem ele enfiou a outra mão para dentro e tateou a parede até encontrar o interruptor e, o mais rápido possível, acendeu a luz.   

         Enfiou a cabeça novamente para dentro do quarto e nada, não havia nada, tudo naquele cômodo parecia estranhamente normal. Lentamente ele empurrou a porta até ela encostar na parede, olhou para todo o quarto atentamente e com passos contados andou até sua cama deitando-se para o lado da parede.

         Luigi era um garoto medroso, ele mesmo sabia disso e até sentia-se um pouco envergonhado. Na sua antiga rua seus amigos o chamavam de Luigi Fujão, porque sempre que algo errado acontecia e Luigi sabia que daria uma bela de uma confusão, ele sempre corria para casa, se trancava no quarto e só saia no outro dia.

         Por breves segundos ele se permitiu rir daquelas lembranças. Sentia saudades dos seus velhos amigos e principalmente do garoto da casa 437. Pele negra, cabelos volumosos e cacheados, peitoral aparentemente firme e forte. Suas mãos já escorregavam para o meio de suas pernas quando...

         “Ei...” 

         Na velocidade da luz, Luigi se virou para o armário embutido do lado oposto onde estava. Com certeza era dali que tinha ouvido aquele sussurro. Não era a primeira vez que ele ouvia aquele sussurro, na verdade ele havia escutado todas as vezes que entrou naquele cômodo, que infelizmente era seu quarto.

         Olhou por um tempo indeterminado até que uma coragem, que só Deus sabia de onde tinha vindo, o fez levantar e, bem devagar, andou até ficar de frente a porta do armário branco. O mais assustador de tudo aquilo era os arranhões e as manchas vermelhas escuras que rodeavam todo o armário. “Que isso não seja sangue. ” Pensou.

         — A-alguém... – “Que coisa idiota” Pensou ele. – Alguém está ai? – Perguntou alto o suficiente sem tirar os olhos do armário, mas a sua única resposta foi o silêncio.

         Luigi ainda parado em frente à porta deu um longo suspiro e com um pouco mais de coragem, que já havia virado uma grande burrice no seu ponto de vista, ele abriu a porta com rapidez e.... nada. Eram apenas roupas e mais roupas e poucas caixas espalhadas aleatoriamente. 

         “Droga, eu estou ficando louco ou que? ” - Pensou ele enquanto perambulava as mãos dentro do armário. “Ah... Que droga! ” – Pensou novamente enquanto virava de costa para o armário e voltava para sua cama. Luigi queria mesmo era dormir e desejava que quando acordasse tudo aquilo fosse apenas um sonho louco.

...

         Com os olhos arregalados, Luigi olhou atentamente para o relógio digital em cima da mesa de cabeceira que marcava 03h00min em ponto. Estava completamente encharcado de suor, sua garganta estava seca e ardia, parecia que tinha engolido pedaços minúsculos de vidro. Seus olhos azuis se direcionaram para o teto de madeira escura tentando tirar as imagens de seu pesadelo.

         Parecia tão real que ele estava até tremendo e com lágrimas acumuladas nos cantos dos olhos. Nunca havia tido um pesadelo tão assustador e tão horrível como aquele, era como se fosse um recado, ou melhor, um presságio.

         Com um só movimento, o garoto tirou todas as camadas de pano de cima de si e levantou-se rumando vagarosamente para o banheiro, precisava urgentemente de um banho para tirar aquela sensação como se tivesse entrado em uma banheira gigante de melado.

         Abriu a porta bem devagar e estapeou o interruptor fazendo com que a luz fluorescente machucasse suas retinas. Mesmo com os olhos meio apertados, por causa da luz forte, Luigi tirou lentamente o pijama listrado azul e entrou debaixo do chuveiro sentindo água quente cair por sua cabeça e deslizando por suas costas.

         Após terminar, ele puxou uma toalha branca de algodão de um gancho metálico e a enrolou em volta dos quadris e mesmo no escuro, ele caminhou até o armário onde suas roupas estavam. Levou sua mão direita até os puxadores, mas antes de abri-lo, ele parou rapidamente dando dois passos para longe.

         As imagens de seu pesadelo vieram como flashes rápidos em sua mente. Gritos, choros, passos, batidas, vozes; tudo em sua cabeça martelando sem parar. Com passos largos ele foi até o interruptor do quarto e com uma palmada a luz acendeu. 

         Antes de virar novamente para o armário ele respirou profundamente enquanto passava as mãos pelos cabelos loiros, ainda encharcados, e desliza pelas bochechas que se encontravam rubras por conta do leve frio. 

         Estava com medo, a tremedeira de suas pernas denunciava isso. Então dois estalos vindos de trás dele o fez congelar no lugar. Sua respiração estava acelerada e seu coração palpitava sem parar, parecia que ele iria sair de sua boca.

         Luigi fechou os olhos lentamente e com um suspiro ele girou sobre os pés. O seu desejo era correr até o quarto de sua mãe e pedir para dormir com ela, mas seu orgulho de “macho” seria completamente ferido.

         Bem devagar ele abriu os olhos e primeira coisa que notou foram as portas do armário abertas. Luigi se lembrava bem de que elas estavam fechadas. “Então... o barulho veio dali? ” Pensou ele ainda parado.

         — E-eu... Tenho um... – Olhou para os lados até avistar o guarda-chuva pendurado em um dos ganchos da porta. – Eu tenho uma arma! E... E eu não tenho medo de usá-la, é melhor você sair daí antes que e-eu... – Parou em um suspiro. - Tá, isso é completamente estúpido. – Sussurra para se próprio.

         “Ei!”

         “Mas que diabos…” Pensou ele com olhos arregalados olhando diretamente para as portas do armário. – Ah... Santa mãezinha. – Sussurrou.

         Bem devagar, Luigi andou até chegar de frente para o armário. O olhou atentamente sem nem mesmo piscar. Ele estava com medo, um medo nunca sentido antes em sua vida, sua cabeça doía por causa da tremedeira que corria por todo o seu corpo, parecia até um bambu.

         Engolindo em seco, ele ergueu as mãos e as percorreu lentamente por entre as roupas, se aprofundando mais, e mais, e mais um pouco até que encostar em algo extremamente gelado que o faz recuar rapidamente.

         — Mas que merda foi essa?! – Luigi olhou para suas mãos para depois direcionar seus olhos para o armário. “A-aquilo... Aquilo era... Era um...” – BRAÇO. – Ele gritou colocando forças nas próprias pernas para que conseguisse movê-las.

         Luigi correu até a porta e em movimentos rápidos tentou abri-la, mas mesmo que botasse força o bastante o trinco não girava e aquilo já estava lhe desesperando. O medo tinha se espalhado rapidamente e pequenas gotículas de suor escorriam por sua testa dando sinal de nervosismo.  

         O quarto ficou frio como se estivesse dentro de um refrigerador, a luz da lâmpada começou a falhar incessantemente e por fim apagou-se deixando o quarto em um breu total fazendo com que Luigi parasse com os movimentos bruscos deixando apenas o som falho de sua respiração se propagar por todo o quarto.

         “Mas que merda tá acontecendo? ” Pensou Luigi ao sentir uma leve brisa fria acariciar sua nuca e um toque em seus braços, desde os ombros até os pulsos, mas mesmo assim o garoto se manteve como uma estátua de mármore.

         E por um breve segundo ele pensou em pular a janela de seu quarto até se lembrar que ele estava no segundo andar e que para alcançar a janela precisava passar por qualquer coisa que estivesse atrás de si.

         “Está com medo Luigi?” 

         Aquela voz... Luigi conhecia aquela voz!

...

Lincoln - Califórnia

27 de Dezembro de 1993

 

         — Vem logo Luigi! - Simon gritou com toda força possível enquanto ria alegremente.

         — Espera! – Gritou Luigi – Eu já estou cansado de tanto correr!

         — A gente já tá chegando! – Avisou ainda rindo.

...

         — Nossa... – Luigi sussurrou. Aquele lugar era enorme. – O que viemos fazer aqui? – Perguntou sem tirar os olhos do lugar.

         — Uma aposta. – Simon revelou com um leve sorriso travesso.

         — Aposta?

         — É. Me segue! – Simon gritou e logo estava correndo em direção a uma escada que levava para o segundo andar daquele estábulo. – Aqui. – O garoto apontou para uma tábua de espessura grossa, uma largura razoável e uma aparência envelhecida que ligava o local de onde estavam para o outro lado. – Meu pai ainda está reformando aqui em cima, e as vezes eu venho aqui. – Comentou. – Eu te desafio a chegar do outro lado e voltar. – O garoto falou sorrindo olhando diretamente para o amigo.

         — Tá maluco!? – Luigi gritou assustado. – Aqui é muito alto...

         — Está com medo Luigi? – Simon perguntou com um leve sorriso de canto, dando um ar de desafiador.

         — C-claro que não, eu não tenho medo de NADA. – Falou o maior com um vinco formado no meio das sobrancelhas.

         — Então vai. 

         Luigi olhou aquela tábua meio envelhecida pensando se, realmente, era uma boa ideia aceitar aquele desafio, no mínimo, idiota. 

         — Eu vou, mas com uma condição. – Luigi proferiu ainda com os olhos grudados na taboa.

         — Qual? 

         — Você também vai ter que atravessar.

         — Ok – Simon concordou revirando os olhos.

         Luigi se posicionou em cima da tábua e, ainda que nervoso e em pequenas passadas de perna, foi seguindo reto. O coração não parava de bater tão acelerado, parecia que ia sair pela boca junto com os pulmões. Logo seus pés pousaram na parte segura.

         — Ufa! – O garoto respirou profundamente antes de gritar - Agora é a sua vez! 

         Simon sorriu largamente antes de subir na tábua. Estava ansioso por aquilo, era tanta adrenalina para uma criança de apenas 9 anos. Seu coraçãozinho parecia que iria sair pela boca. Por outro lado, Luigi o olhava de maneira ansiosa, como se quisesse que aquela “brincadeira” acabasse logo para que fossem para casa o mais rápido possível.

         Após alguns segundos, Simon conseguiu finalmente passar por aquele abismo, ainda com um sorriso largo nos lábios finos.

         — Viu, foi fácil, fácil. – Falou gabando-se.

         — Hurf. – Luigi bufou– Podemos voltar? – Perguntou o loiro já atravessando a taboa rapidamente. 

         — Tá né. – Simon respondeu com uma expressão de desgosto por conta do fim da brincadeira. – Você é muito chato Luigi, nem sabe brincar. – Simon, falou antes de subir na tábua, mas ao pisar na beira da estreita passarela a tábua acabou virando levando pequeno garoto a desequilibrar-se e por fim cair.

         — SIMON! – Luigi gritou, mas não havia mais nada do que fazer. O corpo de Simon estava imóvel naquele chão cheio de feno, poeira e sangue, muito sangue. 

         Luigi desceu pelas escadas, quase tropeçando nos degraus. Ao chegar no primeiro andar, foi até Simon. “O que eu faço? ” Foi seu primeiro pensamento. Luigi, realmente, não sabia o que fazer, era uma situação que nunca havia passado e que nunca pensou em passar. Ele estava com medo e se sentindo culpado, uma culpa tão grande que o fez chorar baixinho enquanto ajoelhava-se perto do corpo do primo.

         — LUIGI! SIMON! – Ouviu os gritos de seu tio ao longe. – SIMON! – A voz se aproximava ao mesmo tempo em que seu choro ficava cada vez mais alto e mais dolorido. “Que dor era aquela? ” “É insuportável”. – Luigi? – Ouviu a voz atrás de si. – O que houv... -  A voz de seu tio parou bruscamente ao ver o corpo do filho envolto de tanto sangue. - NÃO! – E aquele foi o grito mais cheio de dor que Luigi havia ouvido.

Após aquele dia Luigi nunca mais foi o mesmo, o mesmo teve crises de pânico recorrentes, a culpa e medo ainda corriam em suas veias, o trauma manchava seus sonhos e o assombrava até hoje.

...

         — Simon? – Falou.

         — Oi priminho. Que tal a gente brincar um pouquinho antes de eu... Sei lá, matar você? – Falou aquele ser que parecia e dizia que era seu primo falecido. – Sabe, não é nada pessoal, é só o meu... trabalho. – Sorriu macabramente.

...

Com os olhos arregalados, Luigi olhou atentamente para o relógio digital em cima da mesa de cabeceira que marcava 03h00min em ponto. Estava completamente encharcado de suor, sua garganta estava seca e ardia, parecia que tinha engolido pedaços minúsculos de vidro. Seus olhos azuis se direcionaram para o teto de madeira escura tentando tirar as imagens de seu pesadelo.

         Parecia tão real que ele estava até tremendo e com lágrimas acumuladas nos cantos dos olhos. Nunca havia tido um pesadelo tão assustador e tão horrível como aquele, era como se fosse um recado, ou melhor, um presságio.

         Com um só movimento, o garoto tirou todas as camadas de pano de cima de si e levantou rumando vagarosamente para o banheiro, precisava urgentemente de um banho para tirar aquela sensação de que tivesse entrado em uma banheira gigante de melado.

         Abriu a porta bem devagar e estapeou o interruptor fazendo com que a luz fluorescente machucasse suas retinas. Mesmo com os olhos meio apertados, por causa da luz forte, Luigi tirou lentamente o pijama listrado azul e entrou debaixo do chuveiro sentindo água quente cair por sua cabeça e deslizando por suas costas.

         Após terminar, ele puxou uma toalha branca de algodão de um gancho metálico e parou estático com os olhos arregalados. Baixou a cabeça ainda com a incredulidade estampada em seus olhos e olhou a toalha em suas mãos como se estivesse olhando para um fantasma. “O que tá acontecendo? QUE MERDA TÁ ACONTECENDO? ” Gritou em seus pensamentos.

         Respirou profundamente tentando reorganizar seus pensamentos aos poucos enquanto enxugava o próprio corpo bem devagar. Tentou achar algo racional para aquele “surto de déjà-vu”.

         Saiu do box do banheiro e ficou de frente a pia dando de cara com seu reflexo. Se deparou com um rosto assustado, pele levemente vermelha, pelos do rosto eriçados por conta dos arrepios constantes que passavam por todo seu corpo e olhos ainda arregalados.

         — Foi apenas um sonho Luigi, apenas um sonho. – O falou fechando os olhos na tentativa falha de se acalmar. – Foi apenas um sonho, só um so-

         — Acho que não! – Um sussurro alto se fez ouvir rente aos seus ouvidos.

         O corpo do garoto paralisou pela milésima vez aquela noite e por conta do medo eminente decidiu deixar os olhos fechados. Sentiu algo metálico e gelado tocar a base de suas costas e uma leve carícia iniciou-se. Aquele objeto gélido subia e descia devagar pela sua coluna enquanto uma risada que começou baixa, agora estava tão aguda que doía-lhe os ouvidos.

...

15 de Março de 1999 - 10h 40min da manhã

 

         — Luigi acorda! Você precisa me ajudar a ajeitar o resto das caixas. - Marta, mãe de Luigi, falou dando leves socos na porta do quarto do filho.

         Esperou por uma resposta rápida ou algum resmungo por parte de Luigi, mas a única coisa que veio foi o completo silêncio. Marta odiava ser ignorada e por conta disso invadiu o quarto do filho, não se importando com qualquer reclamação que o garoto fosse fazer.

         Para a surpresa da mãe de Luigi, o quarto estava vazio, as janelas abertas e as cortinas voando sem parar; o armário estava aberto e as roupas e caixas espalhadas por todo o cômodo.

         — Mas o que... – Parou ao ver um líquido vermelho sair pela fresta da porta do banheiro.

         Rapidamente a mulher andou até o banheiro com um teor de nervosismo e angústia em seus movimentos, até porque tinha sangue no banheiro do seu filho, e de maneira brusca ela escancarou a porta.

          Os olhos azulados da mulher giraram por todo o pequeno cubículo e a única coisa que viu foi uma mancha escura no chão e notou que o banheiro cheirava a algo podre como carniça. 

        Com uma careta que se formou em seu rosto por conta do mal cheiro, ela saiu de lá às pressas e gritando por Luigi, mas após andar por toda casa a mulher não encontrou um rastro que pudesse indicá-la onde estaria seu menino. Então, em desespero, a mulher pegou o telefone e discou o número da polícia enquanto voltava para o quarto do garoto afim de procurar alguma mensagem que o próprio poderia ter deixado.

 

—A-alô, me chamo Marta e me-meu filho sumiu. - A mulher falava enquanto seu olhos passavam pelo cantos do quanto de seu filho, com esperança de encontrar algo. - Ele estava em casa, mas agora não está mais e tem sa-sangue no banheiro.     

...

Campinas - São Paulo

25 de Abril de 2017 – 01h 30min

 

   Já era tarde da noite e ainda podia-se ouvir pessoas conversando baixo no meio da rua e carros passando. Em uma pequena casa de dois andares, uma garotinha olhava para as casas vizinhas de modo curioso, na verdade a mesma vigiava os novos vizinhos da frente que chegaram 2 semanas atrás naquele bairro e no qual eram estrangeiros. Pela janela podia perceber que com eles trouxeram várias mobílias velhas de madeira e alguns estofados que pareciam ser de séculos atrás, nada parecido com móveis que se conhecia no Brasil.

   A garota havia ficado curiosa da forma como eles se comunicavam e a língua desconhecida que eles usavam, sua mãe disse-lhe ser inglês quando a perguntou.

   Curiosamente a menina olhava para a grande janela que dava para um quarto grande e bem iluminado e com cortinas brancas que voavam seguindo a leve brisa da noite. A garotinha conseguia ver tudo que tinha dentro do local e sua atenção estava direcionada para um guarda-roupa branco e velho que ficava perto de uma porta, na qual a garota acreditava ser a entrada daquele salão.

    Fazia 4 noites que ela vigiava a casa vizinha mais especificamente aquela sala, pois estranhamente as luzes acendiam e apagavam sozinhas e as portas daquele móvel velho abriam sem explicação. Contou para sua mãe os ocorridos, mas a mesma sempre lhes dizia que eram imaginação infantil, então a garota decidiu fazer suas próprias investigações. 

         O plano da pequena garota de 12 anos era observar aquele salão com o binóculo rosa choque que seu pai havia lhe dado no natal do ano passado e anotar em seu diário todos os eventos estranhos que acontecia. Até agora 6 eventos estranhos vinham acontecendo repetidamente como se fosse algum tipo de rotina sobrenatural:

1º Luzes acendendo e apagando sem parar ocorrendo sempre as 1:30h da manhã;

         2º Guarda-roupa mexendo freneticamente como se acompanhasse o baile de luzes;

         3º Luz se apagava completamente;

         4º Luz acendia repentinamente no mesmo horário 3h da manhã;

         5º Armário abria as portas;

         6º Armário fechava as portas 

 

         Nessa noite em específico as luzes não piscaram como de costume e nem mesmo o armário se mexeu, na verdade tudo parecia estranhamente calmo, mas mesmo assim a garotinha ficou ali, parada e vigilante com os olhos grudados naquele salão grande e a meia luz.

         Em dado momento uma das portas do armário abriu sozinha permanecendo assim por um longo período, mas novamente a garotinha continuou a espreitar, estava curiosa com os novos eventos sobrenaturais.

 Após quase 1 hora, dois balões, um amarelo e outro rosa, saíram de dentro do armário fazendo com que as sobrancelhas da menina apertassem e um pequeno vinco formou-se entre elas. “Ue, o armário sempre tá vazio.” Pensou a pequena enquanto anotava os acontecimentos em seu diário.

Novamente seus olhos foram em direção a grande janela vizinha e os balões continuavam lá, mas com uma mão enluvada os segurando mantendo os balões perto do armário branco. Inesperadamente a segunda porta se abriu revelando um palhaço grande e gorducho, mas sua aparência em nada era convidativa e fofa. Os olhos enegrecidos daquela criatura exalavam malícia e maldade, o sorriso cheio de dentes pontiagudos escorria uma baba espessa e esbranquiçada e suas roupas coloridas estavam manchadas de algo que parecia uma mistura de sangue e lama. 

A garota paralisou com aquela figura assustadora que sorria-lhe, a pequena tinha aversão a palhaços desde muito nova, mas pelo menos a aparência não eram tão horripilantes e bizarras; aquela criatura era a personificação dos seus piores pesadelos. 

Ainda paralisada, pôde ver a criatura andando até a grande janela e parando bem perto do vidro brilhoso, uma das mãos do palhaço levantaram em direção a janela e o dedo indicador tocou gentilmente a vidraça, logo em seguida, com a mancha do líquido vermelho que escorria por seus dedos longos e gorduchos, a criatura desenhou um coração grande com a letra E dentro dele e fazendo um traço fino bem no meio do desenho, como uma alusão um coração partido.

Um grito infantil fino e alto cortou aquela madrugada fazendo os vizinhos acordarem, mas principalmente os pais da pequena garotinha que correram rapidamente para o quarto da pequena encontrando a mesma caída  em cima do grande tapete roxo felpudo, boca e olhos arregalados e a pequena mão em cima do coração. 

— EMILY! Não… minha filhinha, não. - A mãe gritou em prantos enquanto ajoelhou-se diante do corpo magro da criança.

Por muitos e muitos anos aquele armário de aparência inofensiva ficou passando de família em família, matando e se alimentado de almas puras e frágeis de crianças, tendo como arma principal o seus medos e sua curiosidade.

FIM


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