Fire Soul escrita por BrunaNagorski


Capítulo 2
Capítulo 2 - Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o segundo. ¬¬



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Eu estava vendo todos na mesma estranha rotina de sempre. Wolverine estava no bar e o resto dos x-mens nas suas respectivas tarefas. Os alunos novos estavam em aula e os professores dando suas aulas. Alguns tinham horários vagos, como Hank McCoy, que estava na sua amada biblioteca.

Então do nada vieram lembranças de onde tudo começou.

Flashback on.

- Jean! Olha que chegou! — Minha mãe Elaine gritou do andar de baixo. E eu sabia muito bem quem estávamos esperando.

Desci as escadas correndo o mais rápido que pôde, e vi minha querida amiga Annie Richardson parada ouvindo a conversa de sua mãe com a minha, esperando, enquanto meu pai, John estava falando sobre o jogo de baseball que havia acontecido ontem com o seu pai.

Quando estava nos últimos degraus, Annie virou sua atenção para mim.

- Oi! — falamos juntas empolgadas, e começamos a rir.

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Devia fazer umas 2 horas desde que Annie havia chegado, e brincamos de tudo o que foi possível e imaginável. Então resolvemos jogar vôlei, que nós duas adorávamos, e como não havia freqüencia de jogos na TV, optávamos por nós mesmas fazer o jogo. Numa distração minha, a bola voou à rua, quicando pacientemente esperando alguém pegá-la.

- Eu busco. — Annie se ofereceu.

- Tudo bem, então. — Respondi. Distraidamente, olhei para meu all-star vermelho – que não estava mais vermelho, estava marrom, pela sujeira. Ouvi um barulho de carro que estava correndo em alta velocidade, e olhei para cima.

Todas as coisas que vieram depois sempre ficarão marcadas em minha memória. Annie se abaixou pra pegar a bola, e o carro, se dó nem piedade, atropelou minha amiga, freiando na hora errada. Annie foi arremessada um pouco a frente, sangrando na cabeça e nos braços encobertos.

Não conseguia me mexer. Minhas pernas estavam prestes a se romper, me jogando ao chão. Só que tudo o que eu queria era correr até ela, ajudá-la. Minha garganta inchou. Meus olhos embaçaram. Tudo que consegui fazer foi gritar o nome dela o mais alto possível, como se isso pudesse fazer as coisas melhorarem. Eu não sabia o que pensar. Não sabia o que fazer. Minhas pernas amorteceram, e eu senti a grama nas minhas mãos. Uma onda de dor terrível me possuiu, e tudo começou a rodar. Eu não percebi que estava gritando até o momento em que abaixei minha cabeça até a grama verde, que agora parecia estar em tons cinzentos, e a última coisa que ouvi foi o som do carro na estrada e os gritos de desespero atrás de mim.

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Eu acordei com o sol da pequena cidade de Salen Center na minha cara. O sol machucou meus olhos quanto eu os abri, e automaticamente coloquei minhas mãos em frente. Quando meus olhos começaram a se acostumar com a luz, olhei ao redor e reconheci o lugar. Estava no meu quarto. Me sentei.

- mãe? — Eu resmunguei. Apenas alguns segundos depois uma dor afiada e cheia de ódio atingiu meu cérebro, e eu pressionei minhas duas mãos nas têmporas, na tentativa de fazer a dor passar, o que não aconteceu. Me joguei novamente na cama, e vozes inundaram minha mente.

"ela vai melhorar?"

"oh, meu Deus"

"Foi só um susto, ela vai melhorar"

"karen, um copo d'água, por favor!"

"vai, ultrapassa ele, seu idiota"

"eu vi uma tal de Sandra, lá. Quem é Sandra?"

"Graças a Deus!"


Eu me contorcia freneticamente. Meu pulmão se encheu de ar, mas minha garganta estava inchada, então tudo o que saiu foi um engasgo ao invés de um grito. Enfim a tontura voltou junto com a escuridão, e eu estava agradecida pela dor sumir.

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O tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada tique do relógio faz sua cabeça doer como se fosse um fluxo de sangue passando por uma ferida. Ele passa desigual, em estranhos solavancos e levando a calmaria embora, mas ele passa. Mesmo pra mim.

As dores ficavam cada vez piores ao longo dos dias, até que, eu acho, ela chegou ao seu ápice. Eu estava isolada do mundo. Não podia pôr um pé pra fora de meu quarto, que as dores começavam. Já haviam se passado três anos desde...desde... aquele certo acontecimento. Mas mesmo assim, o tempo não curou. Meus pais já estavam ficando loucos com meu... problema. É. Uma filha que, ao invés de ser uma adolescente normal de 13 anos, birrenta, fanática por algum ator famoso, e que ouve músicas que estão em alta, é uma insana que fica ouvindo vozes do além. gff.

Certo dia, minha mãe me disse que viria um outro cara pra tentar resolver meu problema, como se isso fosse possível. Tomei um banho, e coloquei uma roupa descente. Sem esperança, fui a minha janela. Fiquei olhando o céu, as crianças brincando, um senhor lavando sua calçada e dando um banho em seu carro... Então um carro preto estacionou na frente de minha casa. Ele havia chegado. Meu caso era um beco sem saída, e meus pais não entendiam isso. Provavelmente este aí era só mais um psicólogo, que quando soubesse o que se passava comigo, sairia daqui imediatamente, assustado.

Saí de minha janela, mas de relance vi que não era só um. Eram dois. Dois que sairiam frustados – e assustados – daqui por não ser capaz de me ajudar. Sentei na minha cama, e fiquei olhando pra frente, com um olhar vazio. Nada para pensar. Nada para se resolver. Depois de um indeterminado tempo, ouço minha mãe me chamar lá de baixo.
- Jean?! Pode vir aqui em baixo? — Me levantei, e parei na frente da porta. Respirei fundo, e abri a porta. A dor logo começou, mas tentei lutar contra ela, e forcei meus pés a continuar em frente. Logo avistei minha mãe sentada ao lado de meu pai no sofá mais pequeno, e dois caras que eu não conhecia sentados no sofá maior.

Sentada na poltrona do meu pai, que ficava em frente aos dois, respirei fundo e encarei os dois homens.

- Vamos deixá-los.. a sós. — Meu pai surgeriu, e deixou a sala com minha mãe. A dor começou voltou a ficar por mais tempo em minahs têmporas, mas desta vez eu consegui ouvir os pensamentos dos dois. O que já era quase normal pra mim, se isso não fosse coisa de louco. Mas tudo bem. O careca, o careca de olhar sábio, seu nome era Charles. Charles Xavier, e parecia olhar através do possível para mim. O outro se chamava Erik Lehnsherr, de cabelos grisalhos, olhava pra mim como algo de interesse. Os dois estavam de ternos que me pareceu ser de alguma marca muito cara. Não tentei ligar pra isso. Não me interessava. Só estava esperando os dois me interrogarem.
Não era fácil, mas não era difícil. Com esforço, tentei ler um pouco mais da mente dos dois. Quem eram, o que faziam, e se poderiam resolver meu problema. Tudo o que eu pude ver foram flashes, e a maioria deles estavam uma mansão.

Erik interrompeu.

- Acha que é a única com dons especiais, mocinha? — O ele estava falando? Como ele sabia que eu estava lendo sua mente? O que.. eles eram?

- Somos mutantes, Jean, somos iguais a você. — Charles respondeu minha pergunta. Ele leu meus pensamentos?

- Será que são? Eu duvido. — Eu cuspi rapidamente antes que Charlie supostamente respondesse minha pergunta. Eles eram mutantes? Igual a mim? há-há. É claro que não eram. Eles tinham constantes dores de cabeça, e estavam aprisionados em seus quartos durante 3 anos? A resposta era óbvia. Não. Aliás, eu não era uma mutante, eu era uma louca. Tinha coisas que eles não iriam resolver. Ninguém pode resolver o meu problema. A dor de cabeça já estava ficando insuportável. Logo vi os dois olhando para a janela com um olhar impressionado. Não quis acompanhar seus olhares, mas li a mente de Erik. 'Olha isso. Impressionante o poder desta menina' e junto estavam imagens de coisas flutuando.. lá fora! Eu arfei. Vi que era eu mesma que estava fazendo aquilo. Meu coração estava batendo como asas de um beija-flor. Aquilo já era muito pra mim. O poder de ler mentes já estava me matando aos poucos, agora me aparece esse poder estúpido de levantar coisas com o poder da mente. Parecia que eu vi o destino rir da minha cara, sarcatismo em sua risada. Eu manti a minha cabeça erguida, tentando guardar meus pensamentos só para mim. Minha cabeça poderia explodir a qualquer momento.

Charlie estava a toda hora tentando entrar em minha mente, mas eu não suportava a idéia de um cara desconhecido e que achava que eles eram igual a mim ler minha mente. Eu criei uma 'barreira', mas ele era muito mais forte do que eu. Eu podia ver dentro de mim uma barreira vermelha, e pontos de luzes baterem nela. Ela vacilava, mas continuava lá. Então a luz, o ataque voltava no mesmo lugar, e a barreria tremia, e fraqueava. A minha força se esgotava. Eu voltava a por a barreira de volta, e a luz batia na barreira, fazendo-a desaparecer, desaparecer...

Minha cabeça queimava, ardia, e eu não sabia quanto tempo a mais aguentaria acordada.

— Você viu isso? — Erik disse sussurrando para Charlie — Eu gostei dela! — Surpresa acompanhava sua voz.


Charlie se virou para mim, com uma cara de convicção.

- Você tem mais poderes do que imagina, Jean. A pergunta é: Vai conseguir controlar o seus poderes? Ou vai deixar que controlem você? — Da resposta eu já estava convicta. Agora, se você não me ajudar, eles irão me controlar. Sussurrei na minha mente, enviando a resposta quietamente para Charles.

---

Os dias passaram. Charlie fez constantes visitas no mês. Ele realmente era bom. Ele entendia sobre meus poderes, sobre mim. Charlie era um leitor de mentes – Telepático, como ele dizia – muito poderoso, bem, na verdade o mais poderoso da terra. Ele e seu amigo de infância, Erik, eram mutantes que contruíram uma escola para mutantes, aqui perto, em Salen Center. Lá eles treinavam poderes de estudantes para o bem próprio e da humanidade. Eu já falei que o Erik pode controlar metais? Yeah, ele ajudou na construção da escola, e esse poder foi bem útil. Quando ele disse que com o tempo as coisas iriam se resolver, pensei que ele só estava blefando, mas era verdade. Durante os dias de tratamento, as dores latejantes passaram, e minha mente estava leve com uma pena. Eu também começei a ganhar a liberdade de sair de casa. A sensação foi muito boa, poder pisar na grama aparada que tinha na frente de casa, sentir a brisa fresca batendo contra o meu rosto, ver as crianças brincando e os idosos sentados na varanda, lendo jornal e tomando uma xícara de café. O pensamentos das crianças brincando trouxe memórias de 3 anos atrás, de eu e Anne. Como ela estava? Ela se superou do acidente? Ou não? Estremeci com o pensamento de Anne morta.


Não deu muito tempo, e Charlie ofereceu uma oferta para mim, de eu ir ao Instituto Xavier para Jovens Superdotados, a escola para mutantes, e se hospedar lá.

Tinha quarto suficiente para abrigar muitos mutantes, e a escola ainda estava em fase de 'construção'. Eu hesitei, e pedi pra pensar. Meus pais conversaram comigo, e disseram que não teria nenhum problema, e que eles só queriam meu bem. Depois de pensar loucamente nisto, eu aceitei. Iria sentir saudades da minha casa, de meus pais. Mas era uma boa idéia.

Eu mal consegui dormir ao longo dos dias, até chegar o grande e difícil dia em que largaria tudo. Na última noite, eu não conseguia pregar os olhos. Tirava sonecas de curto tempo. Quando amanheceu, eu estava exausta.

- Jean! Hora de levantar! Desce logo, vem tormar o café da manhã. Seu pai logo estará chamando o táxi! — Minha mãe gritou lá de baixo.
Levantei cambaleando e estava meio grogue. Eu não tinha dormido esta noite, mas minhas pernas estavam dormentes.
Fui me apoiando no corrimão da escada, me arrastando para a cozinha. Tudo o que eu precisava fazer era tomar café, e me arrumar. As malas já estavam prontas.
Após o café, subi me arrumar.
Entrei no banho, e me enfiei em baixo do chuveiro, deixando a água escorrer em meu rosto, na esperança de me acordar. Funcionou. Sai do banho mais alerta, e minha cabeça estava funcionando mais rápido.
Peguei uma calça jeans skinny clara e uma blusa básica de manga comprida preta. Então amarrei um lenço de seda azul que vovó Claire deu pra mim de aniversário no pescoço. Era simples, mas quando eu o tocava, eu lembrava de vovó e seu abitual cheiro de lavanda. Vovó Claire sempre foi uma pessoa em quem eu podia confiar. Ela morava um pouco longe, em Oklahoma, na cidade quase-sempre ensolarada de Tulsa. Eu era a neta favorita dela, e sempre que chegava as férias de verão, ou de inverno, eu pedia pra meus pais pra eu ir passar alguns dias na casa dela. Habitualmente ela me chamava de Pequeno Pássaro, ou Redbird – que significa Pássaro Vermelho, talvez por eu ser ruiva. Ela sempre dizia que não importa o que acontecesse, eu deveria confiar nela. Ela me conhecia bem, então eu não podia esconder muita coisa dela.

Não importa o que acontecesse, eu deveria confiar nela.

Então me olhei no espelho, encarando a imagem que eu considerava ser a velha Jean Grey, a garota em que passou por problemas na adolescência, e que iria 'abandonar' sua casa, seus amigos, sua família. A partir de agora, eu estava determinada a mudar, e não importa o que acontecesse, esse negócio de estranhos poderes iriam se resolver e eu iria tentar ter uma vida normal, okay, uma vida quase normal.

Me encomodei em pensar que não pude ligar pra vovó neste período de 3 anos conturbado. Mas ligaria assim que chegasse na Escola Mutante.

Ajeitei meu cabelo liso e desci as escadas. O taxi já estava do lado de fora, aguardando. Minha mãe e meu pai estavam me acompanhando até o lado de fora, e minha mãe passava a mão nas minhas costas de uma forma confortadora dizendo que tudo iria ficar bem, e que eu iria sair desta loucura.
Quando chegamos no fim da calçada, meu pai abriu a porta e eu me virei para mamãe.

- Oh, querida, eu vou sentir tantas saudades! — As lágrimas estavam se acumulando em meus olhos tornando a visão fosca.

- Eu também vou sentir saudades, mamãe. — Eu não lutei contra as lágrimas que caiam de meus olhos. Minha mãe logo me tornou em seus braços. Eu aspirei seu perfume, esperando que ele me desse forças para continuar, e também para não esquece-la.

- Eu te amo, Jean. — Mamãe disse meio grogue, e deduzi que ela estava chorando também.

- Eu também, te amo muito. — sussurrei. Eu desfiz me abraço, e abracei meu pai. 

- Papai.. Promete que não vai se esquecer de mim? — Sussurei.

- Prometo. Você estará em meu coração, Jean, sempre sempre sempre. Não esqueça disso. — Quando desfiz o abraço, vi que uma lágrima escorreu dos olhos dele, e ele estava piscando com força para impedir das lágrimas escorrerem. Meus pais me amavam, e eu os amavam. Eu era feliz. Muito, muito feliz. Apesar de todos os fatos não muito legais que aconteceram nestes últimos 3 anos, eu tinha que lembrar que meus pais estavam lá, me ajudando. Eles não me abandonaram, apesar de tudo, e o mais importante: eu era amada. Mas será que nesta nova morada para onde eu iria, seria a mesma coisa? Eu seria aceita? Eu poderia ser considerada uma aberração. Esses pensamentos me fizeram sentir um arrepio interno, e meu estômago revirou. Minha mãe me tirou de meus pensamentos.
- Lembre-se, vai ficar tudo bem, tudo ficará bem, eu prometo.
Eu já estava entrando no carro, e quando meu pai estava prestes a fechar a porta, papai adicionou:
- Me ligue quando chegar lá, querida. Nós te amamos.
- Eu também, amo vocês.

Eu acenei um 'tchau' pra eles quando a porta foi fechada e o carro começou a partida. Papai já tinha cuidado de tudo. Mais lágrimas escorriam em meu rosto enquanto via minha família acenando tristemente pra mim, e a velocidade do carro aumentando, deixando-os para trás, junto com uma parte do meu coração.

Flashback off.


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