Sublime escrita por Paulie


Capítulo 2
II. dezembro - "winter break" / férias de inverno


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo!

Muito obrigada pelas leituras no último capítulo, espero que continuem gostando da história.

Boa leitura!



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II

dezembro – “winter break” / férias de inverno

Se Katie achou estranho voltar para casa em novembro, voltar agora, então, era a coisa mais estranha que poderia estar acontecendo. A umidade – ou melhor, a falta dela, em comparação com Nova York – e o frio mais intenso, junto com as primeiras espinhas no rosto de Jack – ela definitivamente não estava acostumada com nada disso.

Já estava ali há alguns dias, aproveitando o recesso para as festas de fim de ano, ainda que tivesse de ensaiar sozinha na maioria dos dias (e às vezes convencer Alexa ou Jack de ler as falas de Romeu e do Frei Lourenço para ajudá-la a trabalhar no timing).

Sua mãe e Joe tinham saído em uma tentativa de fazer compras de Natal, Jack estava na casa de um amigo que ela não sabia o nome, e Alexa estava na casa de Spencer. Inquieta, ansiosa e não suportando ficar apenas dentro do seu quarto, Katie colocou um cachecol em torno do pescoço e resolveu caminhar pela cidade – talvez alguma coisa tivesse mudado nesses quatro meses e meio.

Ela acreditava estar andando sem rumo, até estar na rua da Wired e perceber para onde, inconscientemente, estava indo. Ainda poderia mudar de ideia, poderia dar meia volta e ir para casa, ou, quem sabe, mudar completamente a rota e ir até a escola, ou ver como estava a árvore bonita da rua torta.

 A questão era mais relacionada que ela não queria mudar de ideia: queria ir até a Wired, queria ver Aiden de novo, queria saber como ele estava. Estava com saudades dele, estava com saudades do cheiro de café característico de lá e, sendo sincera, estava com saudades até mesmo de Barry.

Abriu a porta com o soar do sino – o mesmo som que passou anos ouvindo – e o sentimento de nostalgia preencheu seu peito com um calor gostoso. Não havia muita gente ali: um garoto jogado no sofá, lendo um livro e com uma xícara já vazia à sua frente; uma menina em uma das mesas do canto no meio de várias pilhas de papel – uma veterana, Katie chutaria, desesperada pela proximidade das respostas das faculdades e tentando fazer tudo ao seu alcance para garantir uma boa universidade (Katie não sentia a menor saudade desse sentimento de incerteza e impotência da época).

Foi até o balcão, e estranhou ao não ver ninguém atrás dele. Se debruçou para dentro, tentando ver se Aiden estava na despensa – talvez tivesse chegado um carregamento de café, costumavam vender mais nessa época fria do final do ano.

— Ei, posso ajudar? – Katie ouviu a voz atrás de si, se virando de repente, tentando disfarçar que estava toda contorcida sobre o balcão.

Katie não reconhecia a garota, mas, a julgar pelo avental bege que ela usava, era uma nova funcionária. E, juntando isso com a vassoura que trazia na mão e o cabelo um pouco descabelado, podia adivinhar que ela tinha estado no beco de trás da cafeteria derrubando algum ninho de vespas – eles misteriosamente insistiam em aparecer de tempos em tempos.

A garota era miúda, bem baixa e bem magra, com os cabelos cacheados e volumosos emoldurando o rosto. Passou por Katie, entrou na área do balcão, guardou a vassoura na despensa e voltou a encara-la.

— E então – ela insistiu – Posso ajudar?

— Ah, claro, sim – Katie pareceu acordar de um transe – Um mocca. Com chantilly extra. E, também, Barry está por aí hoje?

— Acho que saiu, mas deve voltar logo.

— Ele saiu e te deixou aqui sozinha? – Katie franziu as sobrancelhas. Ele apenas confiou a loja apenas para ela depois de um tempo, quando já tinha sido promovida a gerente assistente.

— É – a garota deu de ombros, virando-se e indo preparar o café dela, deixando claro que não queria continuar aquela conversa.

Katie se sentou em uma das mesas mais próximas ao balcão, mexendo a perna ritmicamente e batendo o pé no chão. Tudo bem, talvez Aiden estivesse de folga hoje. Grande coisa, não é como se ela tivesse vindo até ali apenas para vê-lo. E Barry poderia chegar daqui a pouco, apenas por isso ela iria se sentar ali e aproveitar o seu mocca.

Ela já tinha acabado seu café, a barista já tinha lhe perguntado duas vezes se ela não queria mais alguma coisa, e, mesmo assim, ela ainda não havia se convencido a levantar da cadeira e ir embora. Não iria ver Aiden, afinal.

Sempre podia voltar amanhã, ela se lembrou. Estaria na cidade por mais uma semana e meia, não seria complicado voltar ali, e era perfeitamente explicável uma vontade repentina de beber um café.

Foram precisos mais dez minutos, mas finalmente ela apoiou as mãos em suas pernas e se impulsionou para cima. Estava enrolando novamente o cachecol no pescoço quando o sino da porta balançou novamente. Se virou com mais animação do que alguém normalmente faria.

— Barry! – ela exclamou um pouco alto demais, chamando atenção da garota que ainda estudava ali.

Ele a encarou, com aquele seu jeito sem muita expressão.

— Vai querer o emprego de novo?

— Não, estou aqui só pras festas – ela riu – Voltando pra Nova York em janeiro.

— Hum – ele deu de ombros, já entrando para o balcão.

— Então... – ela se debruçou de novo no balcão, antes que ele fosse para a despensa – Como estão as coisas por aqui? Como Aiden está lidando como novo gerente assistente?

— Claro que você ia querer saber sobre ele. Ele não é mais gerente, Bianca é a nova gerente – ele apontou com o queixo para a garçonete que a havia atendido antes – Ele não é mais um funcionário aqui, na verdade.

— Como assim ele não é mais funcionário aqui?

— Do tipo “pediu conta” e “não trabalha mais na Wired desde o início do mês”.

— E pra onde ele foi?

— Não sei. Não que eu me interesse – ele disse, indo para a despensa e deixando-a sozinha a encarar a parede.

Um desenho que ele havia feito ainda decorava a parede com a textura de um quadro negro ali. Katie encarava sem reação esse desenho. Aiden havia pedido demissão, não trabalhava mais ali. Será que algo havia acontecido?

*

Ela estava em sua janela, ansiosa e olhando para o quarto de Alexa. Ela não deveria demorar muito mais para chegar, estava na casa de Spencer desde de manhã e já estava quase na hora do jantar. Ela realmente precisava de conversar com ela agora, seria um dos momentos que mandaria o emote da sirene, com certeza.

A luz mal se acendeu no quarto da amiga e ela já estava no meio da passagem pela árvore entre o quarto das duas. Abriu a janela dela e entrou no quarto.

— Eu fui no Wired hoje – ela começou a falar antes mesmo de cumprimentar Alexa (ou Spencer, que também estava ali com ela) – E, adivinha só, o Aiden pediu demissão no início do mês. Barry não sabe o que aconteceu. Eu devia me preocupar? Eu devia mandar uma mensagem?

— Boa noite pra você também, Katie – Alexa brincou, se sentando na cama e sendo acompanhada por Spencer – Ele deve estar bem, só pediu demissão. Não é como se ele tivesse de te dar alguma satisfação, Katie. Você sabe disso.

— Eu sei. Eu só... Fico preocupada.

— E está com saudades?

— Talvez.

— É claro que você tá – ela revirou os olhos – É a vida, alguns vão e outros vêm.

— Alexa! – os três ouviram Lori gritar do andar debaixo.

 — Ela deve estar querendo ajuda com o jantar. Tudo está bem, Katie, não se preocupe com isso, tudo bem? – ela passou a mão pelo braço da amiga, antes de ir ver o que a mãe queria.

Spencer não foi atrás dela, não imediatamente. Ele ainda estava sentado no mesmo lugar, na cama de Alexa, e olhava para Katie.

— Eu também não conversei com ele desde que vocês dois terminaram, Katie, e acho que ele está bem – Spencer começou, despertando a garota de uma espécie de transe em que ela estava, refletindo consigo mesma – Mas, você sabe, você sempre pode mandar uma mensagem, ou ligar. Não é como vocês tivessem deixado de ser amigos, ou se tivessem brigado, ou algo do tipo.

Ela acenou em resposta, recebendo um sorriso dele em retribuição. Spencer deu um impulso com o corpo e em um instante estava em pé, indo em direção à porta do quarto de Alexa.

Katie ficou sozinha no quarto da amiga. Spencer tinha razão, não é como se ela não pudesse mandar uma mensagem para ele. Mas, também, não é como se ele não pudesse entrar em contato com ela, ele também tinha o seu número.

Foi com esse pensamento que ela voltou para seu quarto, decidida a não mandar a mensagem: se ele estivesse precisando dela, ele tinha seu número, afinal.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Katie é um pouco insegura, todos sabemos disso, e a tendência do movimento seguro guiou a decisão final dela nesse capítulo.
O próximo capítulo passará em abril, na páscoa. Deve sair no final de semana que vem, ou daqui quinze dias, a depender de como as coisas vão ir na faculdade.

Obrigada por terem lido até aqui. Me diga o que acharam!

Beijinhos e até o próximo,

Paulie



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