Final Act escrita por Thalita DixBarchester


Capítulo 1
Final Act


Notas iniciais do capítulo

Olá Hunters!

Imagino que você esteja aqui por dois motivos principais;
Não engoliu o final de Supernatural
Gosta muito de Destiel

Começamos bem, então,
porque já temos duas coisas em comum...


Meu desejo de escrever essa fanfic veio da minha insatisfação total com o final, mas não apenas por causa de um ship, é mais sobre a mensagem final. A série nos disse que não importava o quanto alguém lutasse, ou os desafios que vencessem, no fim nada disso faria diferença e só seriamos capazes de alcançar a paz e a felicidade no paraíso. Com a morte. Além disso, ficou aquela sensação de que, se você não está dentro do padrão heterossexual sua verdade acabará silenciada.

Eu não acho que essa é uma mensagem positiva para passar ao público, principalmente nesse ano, e mais ainda com a audiência tão jovem que consome Supernatural...

Quem me acompanha há algum tempo sabe que eu escrevo longs com personagens originais, isso aqui é totalmente fora da minha zona de conforto. Mas eu precisava escrever, pra que dentro do meu coração o final fosse outro.

Então se você gastar um pouquinho do seu tempo pra ler esse devaneio fanfictional eu só quero que você saiba que independente de qual for sua luta, independente daquilo que oprime o seu peito agora, vai passar. Você vai passar por isso e ainda vai ter muita história pela frente pra desfrutar da felicidade que você merece. Em vida. Não desista agora. Encontrar paz e felicidade na morte é besteira, foda-se isso. Você merece mais, você merece a vida. Você merece a felicidade de amar e ser amado por quem você quiser, essa é a verdade, tenha fé em você, porque no fim do dia isso é o que importa.

Essa é a mensagem que eu quero passar com essa história.

Se você chegou até aqui, obrigada e boa leitura!
Vamos ao FINAL ACT



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Ele não se lembrava que o bunker era um lugar tão frio, não se lembrava que as paredes de concreto eram tão cinzas e que tudo ali parecia desprovido de cores. Se sentou na cama, era estranho, estava limpo e sem ferimentos, como se tudo que vivera fosse apenas um delírio dentro de sua mente, como se não fosse real.

Jack havia resolvido tudo.... Ou quase tudo.

— Dean? — As duas suaves batidas na porta fizeram com que erguesse a cabeça, Sam lhe deu um sorriso que era um misto de preocupação e compaixão e o Winchester mais velho se esforçou para parecer menos miserável.

— Algum problema, Sammy? — Ensaiou uma animação que não lhe chegou aos olhos realmente.

— Não, eu só... só queria saber se você está bem. — O mais novo deu um passo para dentro do quarto, seus olhos compassivos, como se entendesse bem mais do que as palavras pudessem explicar.

— Estou ótimo. — Dean afirmou e quase não pareceu uma mentira.

— Quer conversar? — Sam ofereceu, dando outro passo na direção do irmão, usando uma cautela calculada. — Não tivemos tempo de falar sobre o Cas ainda...

Dean engoliu em seco, o nome lhe trazendo o amargo ao céu da boca, a respiração ficando estrangulada em sua garganta e o coração batendo como se uma faca estivesse atravessada nele. Doía. Doía de forma física, de forma que palavras não eram suficientes para expressar...

E ele nunca tinha sido muito bom nisso. Em se expressar. Não quando se tratava daquilo que importava. Tudo que sentia ficava guardado, esperando palavras que nunca vinham, que algumas vezes lhe chegavam na ponta da língua, mas morriam ali.

Encarou o irmão mais novo com os olhos tristes, sentia que podia sufocar em suas verdades não ditas, abriu a boca para tentar se salvar daquilo, mas o toque do celular de Sam foi a única coisa a preencher o silêncio.

Dois toques e os olhos do mais novo focaram no visor, Dean viu o exato instante em que a felicidade alagou o semblante do moreno. Ergueu um pouco a cabeça e o nome na tela fez todo o sentido. Eileen...

Sam encarou o mais velho por um instante, como se tivesse em dúvida sobre o que devia fazer a seguir, já que tinha acabado de prometer uma conversa. Dean sorriu, ou ao menos tentou.

— Vai atender, Sammy, isso é importante. — Fez um gesto incentivador ao irmão, mas ele não se moveu. — Eu estou bem, vai lá. Temos que aproveitar quando a pessoa que amamos volta à vida, não é?

Sam respirou fundo como se fosse dizer alguma coisa, mas apenas assentiu, virando as costas enquanto atendia o celular e saía do quarto, ganhando o corredor para um pouco de privacidade em sua conversa...

Dean encarou o teto quando deixou que o corpo atingisse o colchão atrás de si. Eileen estava de volta, certamente Jack a tinha trazido junto com todos os outros que Chuck fizera virar pó. Isso era bom. Sam ficaria feliz, e ele merecia isso.

Pensou por um instante... Talvez.... Engoliu em seco, o coração batendo apressado no peito de repente, como se tivesse acabado de correr uma maratona, mas é claro que era isso!

Jack era Deus agora, ele podia fazer qualquer coisa, trazer qualquer um de volta.

Qualquer um.

Dean sorriu. Não tinham falado sobre isso no calor do momento, mas era Jack, e havia uma pessoa que Jack amava acima de todas as outras. Ele não esqueceria Castiel no Vazio.

Ele o traria de volta.

Era apenas uma questão de tempo, Dean teve essa certeza súbita, logo Castiel, seu anjo, atravessaria a porta do bunker com seu icônico sobretudo e seus celestiais olhos azuis e então... então finalmente diria tudo que estava guardado em seu peito naqueles últimos anos.

Respirou fundo, sentindo a ansiedade correr por seu sangue, enquanto sua mente ensaiava seu monólogo. Pensou em começar dizendo que sua criação o ensinara a ser forte, duro, viril. Que seu pai não queria um filho “maricas” e que Dean se tornou então tudo que John esperava que ele fosse, por seu amor, por sua atenção e aprovação. Que interpretou esse papel por tantos e tantos anos que sequer sabia mais se era apenas um papel ou se era tudo que ele conseguiria ser.

Onde acabava a mentira e onde começava Dean Winchester?

Pensou em dizer que sempre enterrou as dúvidas no fundo da mente, que calou seus desejos e afogou suas verdades com álcool, procurando algo que lhe completasse entre as pernas de muitas mulheres. Algo que elas só podiam dar a quem ele não era.

E queria, queria do fundo de seu coração dizer que Castiel estava certo, que Dean não era aquele que os outros viam, que ele não era quem parecia. Era uma fraude, uma mentira.

No fundo talvez sequer soubesse quem era.

Mas sabia quem queria ser. Sabia o que seu coração precisava para ser feliz e por mais que tenha negado isso por anos, por mais que tenha tentado disfarçar dizendo a si mesmo que queria aquilo que não era certo ter, talvez tenha sido um tolo com a felicidade ao alcance de suas mãos o tempo todo...

E estava cansado de ser um tolo. Estava cansado de ser o soldadinho de seu pai. Estava cansado de ser o assassino perfeito de Chuck.

Queria mais que isso. Queria... experimentar outras coisas e outros sentimentos pela primeira vez. Com outras pessoas.

Com apenas uma pessoa.

Alguém que Dean sempre imaginou estar fora de seu alcance. Porque, caramba, sequer acreditava que merecia ser salvo, como podia acreditar que merecia aquilo que mais queria?

Não era digno.

Era falho. Tinha raiva e ódio. Errava a todo momento. Magoava aqueles que amava. Deixava que partissem, quando tudo que queria era implorar que ficassem.

Mas estava farto disso, farto de todo o sofrimento que Chuck tinha colocado em seu caminho, farto do fardo das histórias escritas por um Deus mesquinho e egocêntrico.... Mas Chuck não era mais Deus, ele não controlava mais nada, ele não escrevia mais o futuro dos Winchester. Jack estava no controle agora e Dean... Dean estava livre.

Livre de verdade pela primeira vez.

Então dessa vez ele diria, não mais engoliria suas palavras com medo do que podiam significar, não mais se deixaria ser interrompido, não mais congelaria sem reação. Ele diria. Diria em alto e bom som.

Assim que Castiel estivesse de volta.

Esperou então, buscando uma paciência que não possuía, ficou exatamente onde estava, acreditando em seu novo Deus...

Esperou quando Sam saiu para encontrar Eileen, esperou nas horas seguintes e nas outras que vieram. Esperou quando a noite caiu e o silêncio se tornou opressor. Esperou quando o Sol veio e nada.

Eram dez da manhã quando algo fez barulho na porta da frente, havia uma mensagem de Sam dizendo que almoçaria fora e perguntando se Dean estava bem mesmo, mas ele ignorou isso e correu escada a cima com o coração aos saltos, almejando ver seu tom de azul preferido quando chegasse na entrada do bunker.

Não foi o que encontrou, ao invés disso, ao abrir a porta um latido empolgado lhe cumprimentou. Dean analisou o cachorro de pelagem bege e o reconheceu logo; Era o Miracle, Chuck tinha feito o pobrezinho virar pó. Deu um passo para trás e deixou que o animalzinho entrasse, tratando se servi-lhe água e algumas sobras da geladeira.

Parado na cozinha, Dean encarou o cachorro por um longo tempo, provavelmente Jack o trouxera de volta junto com todos os outros, talvez tinha até mesmo guiado o animal perdido até o bunker. Suspirou, queria ficar feliz com isso, porque é claro que adotaria o bichinho, mas naquele momento só pareceu um tapa buraco...

Uma lágrima teimosa escorreu por seu rosto sem aviso e outra e então outra, como se Dean estivesse desabando bem ali, mais ainda lutasse para permanecer de pé, sua única opção foi se apoiar na raiva.

— Sério, um cachorro?! — Gritou com o nada, enquanto a voz travava em sua garganta. — Pensa que isso vai tomar o lugar do Cas? Pensa que isso é o bastante? Que tipo de Deus você se tornou, Jack? Então você vai apenas esquecer o Castiel no Vazio? Isso é justo? Ele acreditou em você! Ele fez um acordo pela sua vida! O mínimo é trazê-lo de volta! Ele merece isso. Ele merece mais...

O choro veio então, esmagador e intenso, assim como a tristeza que oprimia o peito de Dean. Tinham vencido Chuck, mas ele não se sentia um vitorioso. Podiam ser felizes, mas ele não sentia que a felicidade estava ao alcance de duas mãos.

Ele também queria aquilo que não podia ter.

— Por favor, Jack... — Seus soluços eram doloridos e as lágrimas nublavam sua visão. Era apenas a imagem de um menino com os joelhos prostrados no chão, como se o peso do mundo fosse demais para carregar sozinho. — Eu estou implorando. Eu... eu... preciso dele.

Dean ainda chorava compulsivamente quando sentiu que não estava mais sozinho.

— Essa é uma oração muito irritada. — A voz conhecida se espalhou pelo bunker e o Winchester mais velho limpou o rosto de qualquer jeito enquanto se colocava de pé e virava para o recém chegado. — Olá.

— Jack... — O garoto estava ali de pé, com a aparência inocente de sempre, e uma das mãos erguidas em seu cumprimento característico.

Dean se esforçou para arrumar a postura e não parecer tão devastado e desesperado como estava. Uma coisa era rezar sem saber se seria ou não ouvido, outra coisa era ficar cara a cara com um Deus que tinha a aparência de um menino...

— Você precisa trazer o Cas de volta, ele não merece ficar no Vazio. — Não tinha a intenção de ser tão direto, mas não conseguiu evitar.

Da última vez Jack tinha ido embora e Dean não teve coragem de pedir, não deixaria a oportunidade passar de novo.

— Eu sei... — O garoto respondeu, dando um longo suspiro que parecia decepcionado. — E eu queria trazê-lo de volta.

— E por que não traz? — Dean retrucou como se fosse a coisa mais óbvia de todas.

— Não posso. — Jack ergueu o olhar e foi perceptível o quanto estava chateado.

— Como assim, não pode? Você já trouxe o Cas de volta uma vez quando era só um filhote de anjo. Você é Deus agora, esqueceu? — O Winchester mais velho não sabia se ficava indignado ou se ria. Jack só podia estar brincando.

— Eu não trouxe o Cas de volta, eu o acordei e o Vazio o mandou de volta. É diferente. — O garoto explicou e seus ombros cederam, quase como se a decepção fosse pesada demais para suportar. — Eu venho tentando trazer o Cas de volta desde que consegui esses poderes, mas... nada.

— O que você está dizendo? Você é Deus agora. Deus pode fazer qualquer coisa. — Dean se aproximou alguns passos, sua indignação dando lugar à preocupação.

— Não isso.  — Jack balançou a cabeça de um lado para o outro e era visível o quanto ainda parecia um menino desamparado.

— Mas Chuck trouxe Lúcifer de volta do Vazio, você estava aqui. Você viu. — Dean usou uma voz mais branda, não queria agir como um escroto outra vez, as vezes ele esquecia que Jack era apenas uma criança que fora obrigada a crescer rápido demais.

Talvez tivessem isso em comum, a diferença é que Jack teve que crescer de forma literal...

— Eu vi. — O garoto assentiu. — Mas não acho que ele usou os poderes pra isso. Porque Deus não tem poder sobre o Vazio.

Ambos se encaram por alguns segundos, o silêncio deixando claro que partilhavam da mesma saudade e da mesma decepção com o rumo que as coisas estavam tomando.

— Eu achei que quando vencêssemos Chuck eu poderia fazer qualquer coisa, eu consertaria tudo, mas isso... Está fora do meu alcance. Todo poder e conhecimento que adquiri quando me tornei Deus é inútil nesse caso. — Jack lamentou e por um instante pareceu apenas um garotinho prestes a cair no choro. — Está bravo, não é?

Dean o encarou de forma compassiva. Sim, estava bravo, mas não com Jack. Aquela raiva latente e corrosiva que sentia em todos os momentos de sua vida não estava mais lá, talvez parte dela fosse apenas a influência de Chuck e talvez fossem as coisas que o Winchester guardava em seu peito. E se antes Dean achava que aquilo o comeria vivo, tomaria conta de todas as suas ações e envenenaria tudo de bom ao seu redor, naquele instante ele apenas aceitou que era parte de si e de sua criação, mas era ele quem controlava a raiva e não o contrário.

A raiva não o controlaria mais. Não era quem ele era. Não era quem seria dali em diante. Ele seria a pessoa que Castiel via. Era quem Dean queria ser.

— Não... Estou feliz que veio me ver. — Disse, puxando uma cadeira para se sentar ao lado de Jack. — Agora que sabemos qual o problema podemos resolver.

O garoto ergueu a cabeça, as sobrancelhas franzidas em confusão:

— Como? Eu sou Deus e não achei uma solução pra isso.

— Vamos deixar toda essa coisa de “Deus” de fora. Vamos resolver tudo à moda Winchester. Como nos velhos tempo. — Dean foi prático, oferecendo um sorriso compassivo a Jack, como se tudo estivesse bem. — Além disso, era meio estranho e desconfortável ver você como esse ser onipotente que sabe de tudo. É bom ver que as velhas técnicas ainda são uteis. — Ele deu alguns tapinhas amigáveis nas costas do mais novo. — Vai ficar tudo bem, garoto. Vamos dar um jeito.

Dean ainda não sabia como, na verdade ele sequer sabia se era possível, mas nada disso importava. Ele traria Castiel pra casa, essa era sua única certeza.

⍟ ⍟ ⍟ ⍟ ⍟

Dean não dormia mais, tinha apenas um foco e objetivo e todo o resto havia ficado em segundo plano, só tinha se alimentado porque Sam praticamente havia obrigado e mesmo assim o fez em cima do notebook e dos livros...

Sim, Dean Winchester estava fazendo pesquisa em livros, vários deles, todos empilhados sobre a mesa comprida da biblioteca do bunker, pouco importava seu gosto pouco requintado quando se tratava de leitura, aquilo era sobre Castiel, e Cas valia a pena.

Porém não estava pesquisando uma forma de trazer o anjo de volta sozinho, todos os amigos estavam envolvidos naquele projeto, cada um de sua casa. Jack estava no céu, porque claro, tinha seus assuntos de Deus para lidar, mas bastaria uma oração para que aparecesse e com certeza também estava buscando uma solução. Sam e Eileen estava ali mesmo no bunker, debruçados sobre livros, teorias e hipóteses. Donna, Jody e Garth, estavam colaborando de suas respectivas casas, assim como o Bobby e a Charlie alternativos, junto com alguns dos outros que tinham passado pela fenda, todos prontamente haviam se voluntariado para ajudar. Porque era Castiel, e de uma forma um de outra ele era querido por todos.

E o pior é que o anjo talvez sequer soubesse disso... Mas Dean garantiria que ele ficasse sabendo. Estava decidido a isso.

O novo mascote, Miracle, estava ali deitado aos pés da cadeira enquanto o Winchester mais velho se dividia entre digitar no notebook e ler tudo que estava ao seu alcance, até aquele instante as pesquisas não eram muito promissoras, mas ele não estava sequer pensando em desistir. Traria Castiel de volta, não importava o que custasse.

— Eu estive pensando... — Sam começou, usando um tom que indicava cautela, algo que fez com que Dean se colocasse alerta no mesmo instante. — Tem uma fonte que ainda não pensamos em consultar.

Os olhos verdes vasculharam o rosto do irmão mais novo por alguns segundos.

— Por favor, não diz “Chuck”... — Pediu, já sabendo o que se passava na cabeça de Sam.

— Tudo bem, então eu não digo... — O moreno ergueu as duas mãos em rendição. — Mas você sabe que ele é o único que conhece o jeito de tirar alguém do Vazio.

— Se procurarmos por ele, essa ajuda vai sair caro... — O loiro ponderou, entendendo no mesmo instante que, não importava qual fosse o preço, quando se tratava do Castiel, Dean estava disposto a pagar. — Mas você está certo, aquele idiota deve saber de alguma coisa...

Eileen chamou a atenção dos irmãos de repente, movendo as mãos para se comunicar com Sam enquanto balbuciava as palavras.

— Não precisamos falar diretamente com o Chuck, se ele escrevia as histórias, deve ter...

— Um livro que conte exatamente o que ele fez pra tirar Lúcifer do Vazio. — Sam completou o raciocínio dela e sorriu orgulhoso e satisfeito. — Essa é uma ótima ideia Eileen.

— Mas como vamos saber onde ele guardou as histórias? — Dean questionou, se colocando de pé e alternando seu olhar entre o casal.

— Acho que vamos precisar de uma ajudinha... — O Winchester mais novo declarou e estava claro que tinha um plano.

Dean ouviu com atenção; era simples, primeiro chamaram Jack para saber o paradeiro de Chuck, era de se esperar que ele guardasse seus escritos com ele, talvez em um notebook. Com a localização, os irmãos dirigiram até o local, teriam que esperar a oportunidade perfeita, então entrariam na casa e procurariam pela informação que queriam.

Deixaram o Impala em um lugar estratégico e passaram a vigiar a entrada de uma residência, Dean não gostava do que via, na verdade queria que Chuck tivesse ficado na rua da amargura, não com um lar confortável no subúrbio, mas o idiota tinha sido Deus por tempo demais, era obvio que acumulara algum conforto durantes os anos.

Uma parte de Dean ainda achava que devia ter acabado com tudo aquilo, mas pensou em Castiel quando desistiu de ser quem Chuck queria que ele fosse. Um assassino...

Demorou cerca de meia hora para que vissem o homem deixar a casa e dobrar a esquina no fim da rua, não sabiam quanto tempo teriam até que ele voltasse, por isso Dean entrou sozinho, deixando que Sam continuasse vigiando no carro. Combinaram de se comunicar por telefone caso o mais novo visse Chuck voltar.

Dean não teve qualquer dificuldade para destravar uma das janelas e pular para dentro. O cheiro de azedo foi a primeira coisa que lhe corroeu as narinas, então ele olhou ao redor, a casa, apesar de confortável estava uma bagunça completa, conforme andava pelos cômodos o loiro pode notar que todos eles se encontravam em péssimo estado, principalmente a cozinha, cheia de louça suja na pia e comida velha por toda a parte, incluindo frutas estragadas. Era dali que o cheiro azedo vinha.

Fazia pouco menos de uma semana que haviam visto Chuck pela última vez, e aos olhos de Dean parecia que o homem não tinha movido um só musculo para cuidar da casa desde então. Como Deus ele provavelmente estralava os dedos e tudo estava impecável... mas cuidar de serviços domésticos sem truques e poderes não era tão fácil assim.

Não poderia negar, sentiu uma certa satisfação em saber que o idiota do Chuck estava se ferrando de alguma forma, mas procurou deixar isso de lado e focar no que fazia ali. Encontrou o escritório e passou a vasculhar o cômodo em busca do que procurava.

Haviam anotações por toda a parte, todas de possíveis finais para os irmãos, alguns previsíveis como eles se matando, virando monstros, cedendo seus corpos para serem possuídos por Miguel ou Lúcifer e assim causando o fim do mundo. Dean teve vontade de colocar fogo em tudo, mas se conteve, deixou a papelada de lado e abriu o notebook que estava sobre a mesa, levou algumas tentativas para acertar a senha, apenas para descobrir que era algo óbvio “Supernatural”.

Começou a passar depressa por arquivos e pastas, uma delas lhe chamou a atenção assim que bateu os olhos nela: “Castiel”. A mão de Dean tremeu sobre o mouse antes que ele desse dois cliques e se deparasse com uma pasta cheia de rascunhos e arquivos de texto, tentou dar uma olhada em todos, mas eram um compilado de coisas que nunca tinham acontecido, um deles era um arquivo apenas com críticas; Castiel não seguia mais o roteiro, não fazia mais as vontades de Chuck há um tempo, algo tinha dado a ele livre-arbítrio. Segundo as notas, Chuck tinha pensado que era sobre a humanidade como um todo, sobre ele se importar demais, porém não era isso, posteriormente o escritor descobriu a razão pela qual o anjo não mais seguia o enredo programado tinha um único nome: Dean Winchester.

Precisou de um segundo para se recuperar. Embora o próprio Castiel tivesse dito que havia mudado por causa dele, Dean não entendia a magnitude disso até ler nas palavras de Chuck, até perceber que muitas e muitas vezes o final perfeito de Deus estava a um passo de acontecer, mas Castiel interveio e tudo mudou...

O anjo estava certo... quando Dean duvidou de tudo que tinham vivido, quando achou que nada em sua vida era real, Castiel tinha dito a verdade. Eles eram. Acima de todas as coisas, de todos os planos e enredos, eles dois eram reais.

Uma lágrima pesada escorreu dos olhos verdes, emoção e um pouco de arrependimento por todas as oportunidades perdidas, talvez se Dean tivesse escutado o próprio coração desde o começo Cas ainda estaria ali com eles... Esse pensamento só fez com que ficasse ainda mais obstinado. Traria Castiel de volta, consertaria as coisas.

Teriam o final que mereciam.

Dean deixou aquela pasta para trás, a verdade é que todas as palavras ácidas de Chuck sobre aquele anjo não importavam, Cas era mais que aquilo, ele era mais que a criação de um escritor retrógrado e cruel, que só queria usá-lo como um personagem sem importância, um meio para seus fins sórdidos.

Castiel era mais que isso. Ele era maior que sua própria criação. Todas as pessoas que ele ajudara no caminho diriam isso. Dean diria isso.

Castiel merecia mais. E ele teria.

Mais motivado do que nunca, Dean ajeitou a postura e voltou a vasculhar pastas e arquivos, outro deles lhe chamou a atenção “Supernatural – o final”. Abriu esse arquivo, pensando que encontraria algo sobre o trato de Chuck com o Vazio, mas o que seus olhos leram não faziam menção a isso, falavam apenas sobre os devaneios do escritor para o fim dos irmãos Winchester, algo que ele havia colocado em palavras como se tivesse realmente acontecido.

Nesse final revoltante os irmãos ainda derrotavam Chuck exatamente como aconteceu, Jack ainda se tornava Deus, mas a vitória era apenas aparência, ela não significava felicidade real, naquelas linhas Dean e Sam tinham uma vitória vazia, desprovidos de emoção viviam seus dias como se as pessoas que passaram em seu caminho nunca tivessem existido. Sam não citava Eileen, Dean não sofria por Castiel em nenhum momento. No ato final, totalmente anticlimático, Dean morria em uma caçada irrisória, preso em um ferro, com um monólogo extenso enquanto Sam simplesmente ouvia sem se mover para chamar uma ambulância. E era isso, um irmão morto e o outro vivendo uma vida pseudo-feliz, até que os dois se encontravam no paraíso, um prêmio de consolação...

Dean pôde sentir a revolta, naquele final Castiel mal era citado, sua importância diminuída a nada, e o próprio Dean não parecia se importar com os sentimentos confidenciados pelo anjo.

Que tipo de final era aquele? Que felicidade havia em lutar a vida toda para morrer daquele jeito? Sua morte não fora heroica, ele não salvou Sam ou o mundo, ele apenas se foi por nada.  A narrativa dizia que havia felicidade, mas o próprio Dean não se sentia feliz ao ler aquilo.

Era revoltante.

— Ora, ora, ora... — A voz conhecida fez com que Dean desse um pulo da cadeira e se colocasse em posição de alerta. — O bom filho a casa torna.

Chuck estava bem ali, parado na entrada do escritório, a surpresa em seu semblante pouco a pouco dava lugar a um sorrisinho irônico.

Por um segundo Dean ficou na defensiva, mas logo lembrou que aquele homem não era nada mais que isso, um homem, ele não podia fazer mais nada em um estralar de dedos... Enquanto dava a volta na mesa o loiro espiou o celular e viu que Sam tinha ligado mais de cinco vezes.

— Parado! — Dean nem bem tinha pensado no irmão quando o moreno surgiu com uma arma em punho logo atrás de Chuck.

O Winchester mais novo lançou um olhar nada satisfeito para o mais velho, que se limitou a erguer as duas mãos em rendição.

— Silencioso. Desculpa. — Mostrou o aparelho, fazendo com que Sam revirasse os olhos.

— Então, vieram me matar finalmente? — Chuck olhou para a arma apontada para si e sorriu. — Eu sabia, está na natureza de vocês.

Encarou um irmão depois o outro, medindo a fisionomia deles como um arquiteto que conhece cada pequeno pormenor de seu projeto.

— Ah não, vocês vieram por outra coisa, não é? — Ele leu os dois bem demais, fazendo com que Dean se sentisse desconfortável de estar ali. Como se todas as suas fraquezas estivessem expostas. — Castiel, eu suponho...

— Você vai nos contar como tirar o Cas do Vazio. E vai contar agora. — Dean sacou a própria arma, apontando para o rosto de Chuck que não deu a mínima para a ameaça.

— Me desculpem garotos, não há o que contar. Castiel não pode ser salvo, esse é o fim. — Ele moveu os ombros de forma simples e prática, como se estivesse falando de um brinquedo velho que quebrou e foi jogado no lixo. — Deviam ter me deixado escrever, pelo menos ele estaria no céu com Jack, era um bom final.

Sam franziu as sobrancelhas sem entender, mas Dean sabia muito bem do que aquele idiota do Chuck estava falando.

— Era um final de merda! — Retrucou irritado, lembrando das bobagens que tinha lido.

— Era um final perfeito! — Chuck perdeu um pouco de sua calma aparente. — Todos veriam que sem mim vocês não são nada. Sem mim vocês não são heróis, são apenas idiotas que morrem para a primeira barra de ferro, e não importa o quanto lutassem e se sacrificassem, no fim sua felicidade só seria encontrada na morte. Era um final que os fãs amariam e que seria lembrado! Poesia pura! O ciclo perfeito, os dois irmãos juntos, acabando exatamente como começou.

— Dane-se o seu final ridículo! Nossa família cresceu, não estamos mais sozinhos. Fazemos o nosso próprio final agora. — Dean deu mais dois passos pra frente por puro impulso, porém sua voz irritada e desafiadora não parecia intimidar Chuck em nada.

— Fazem? — O escritor debochou. — Fazem mesmo?

Sam se moveu pelo cômodo, como se antevisse um rompante do irmão. Seu olhar preocupado alternava entre os dois, enquanto Chuck prosseguia:

— Porque do meu ponto de vista você está fadado ao meu final. Um final solitário, sem nunca poder dizer o que está entalado na sua garganta! Um final onde você nunca vai experimentar coisas, pessoas e sentimentos diferentes dos que você já experimentou antes. Não vai haver uma primeira vez pra você, Dean Winchester.

Dean sentiu as palavras perfurarem seu peito e seu orgulho como adagas, sabia muito bem quando tinha dito aquelas mesmas palavras, sabia exatamente sobre quem e ao que as palavras se referiam.

Com o orgulho ferido e a raiva correndo quente em suas veias, Dean fez o que lhe era natural, reagiu, quando se deu conta seu punho já havia atingido o nariz de Chuck, que desabou no chão como um saco de batatas podre. Sam até tentou impedir, mas era um tanto tarde pra isso.

— Desembucha! Como você tirou Lúcifer do Vazio, seu filho da puta sádico?! — Era óbvio que Dean tinha perdido toda a paciência, enquanto gritava com a bota apoiada no tórax de Chuck.

— Isso não vai fazer diferença pra vocês, eu fiz um acordo, dois pelo preço de um, Vazio me dava Lúcifer por uns minutinhos e eu dava o Miguel pra ele no fim do dia. Sempre foi assim desde o começo dos tempos, quando eu precisava de um anjo eu dava dois em troca, como acha que eles foram extintos? Achou mesmo que vocês eram quem tinha matado todos? — Ele ria, como se nada realmente importasse ali, a não ser impedir o Winchester mais velho de ter o que realmente queria. — Felizmente pra mim, vocês não têm nada que o Vazio queira mais do que se vingar do Castiel. Você perdeu Dean, você perdeu e eu venci. Não importa que Jack seja Deus agora, eu ainda sou o autor dessa obra.

Sam focou os olhos no irmão, estava claro que não o impediria de fazer o que fosse, mas Dean encarou Chuck ali por mais um tempo e notou a verdade, viu o desespero no olhar do antigo Deus. Ele queria morrer.

Uma semana como humano e ele já queria desistir.

— Quer saber? Que seja então, seu autorzinho de merda. — Dean se afastou alguns passos e olhou para o homem com desprezo. — Publica as suas migalhas de criatividade nesse final horroroso. Ninguém vai gostar. No final não importa se você é o autor. Nós vivemos nossa própria vida agora, além disso pelo que eu saiba seus fãs preferem fanfics...

Deu as costas, deixando a casa para trás, com Sam em seu encalço.

— Acho que estraguei tudo e acabamos não descobrindo nada. — Lamentou, enquanto se aproximavam do impala.

— Na verdade, Dean, a gente conseguiu o que precisava. — Sam sorriu satisfeito, ganhando um olhar confuso do irmão. — Chuck disse uma coisa que faz muito sentido, então eu entendi que não precisamos vencer o Vazio, ou tirar Castiel de lá a força, podemos fazer um acordo também.

— Mas você ouviu o idiota. Não temos nada que o Vazio queira mais que se vingar do Castiel. — O gesticular efusivo de Dean mostrava sua frustração. — Cas começou tudo isso, foi a primeira a acordar lá dentro e agora Jack acordou todo o resto com a explosão e...

— Exatamente. — Sam concordou satisfeito, como se tivesse achado uma peça do quebra-cabeças que Dean sequer sabia que existia. — Tem uma coisa que o Vazio quer mais que tudo: que todos eles voltem a dormir, pra que ele possa dormir também.

— E então vamos fazer o que? Dar uma maçã da Branca de Neve pra ele? — O loiro parou em frente a seu carro, sem conseguir evitar o comentário um tanto sarcástico.

— Quase isso. — O mais novo declarou e sua animação era encorajadora. — Eu tenho uma ideia, mas vamos precisar de ajuda.

— Ajuda de quem? — Dean olhou para o irmão por cima do capô enquanto abria a porta.

— De uma bruxa. — Sam sorriu. — Ou melhor, de uma rainha.

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Dean ainda não conseguia acreditar que tinha concordado com aquela ideia tão facilmente, mas o fato é que ali estavam frente a frente com Rowena Macleoid, depois de terem pedido a Jack que desse passe livre para a Rainha do Inferno andar na Terra.

— Bom, eu comando demônios agora. — Ela disse toda pomposa, depois de escutar o que os irmãos tinham a dizer. — Não faço mais feitiços.

— Você não faz, mas com certeza conhece muitos deles, sei que pode nos ajudar. Não tem ninguém melhor nisso que você — Sam foi cordial e puxa-saco, talvez Dean tivesse que agradecer por ele massagear tanto o ego de Rowena.

Ela pareceu lisonjeada e convencida, muito típico de seu comportamento.

— Nisso você tem razão. Mas não sei...

— Por favor Rowena. — Dean pediu antes que Sam se pronunciasse. Nunca pensou que estaria prestes a implorar, mas a cada segundo que pensava em Castiel sofrendo no Vazio ele sentia o peito pesar e doer, como se o ar pouco a pouco se tornasse mais denso e corrosivo. Precisava de Cas de volta. — É o Castiel, não podemos deixá-lo lá. Eu não posso deixa-lo lá.

— Você? — Rowena devolveu erguendo uma sobrancelha e encarando Dean de cima a baixo enquanto ele desistia de disfarçar o óbvio e apenas assentia. — Minha nossa, graças a Morgana, pensei que as portas desse armário nunca iam abrir!

Dean cruzou os braços irritadiço, enquanto Sam tentava esconder a risadinha.

— Deixem as piadinhas pra depois. Tem algo que possa ajudar ou não, Rowena? — O loiro tentou fazer os outros focarem no que importava.

— Bom, vai ter que ser um feitiço e tanto pra dar conta de demanda... Mas eu sou a melhor, por isso tenho uma ideia... — Rowena gesticulou toda presunçosa e Dean sentiu os lábios se moverem em um sorriso. Seu primeiro sorriso de verdade naqueles últimos dias.

Havia esperança. Logo Castiel estaria em casa.

⍟ ⍟ ⍟ ⍟ ⍟

Levou muito mais do que Dean desejava para que tudo estivesse pronto, mas finalmente aconteceu, Rowena tinha desenvolvido um dispositivo mágico com a ajuda de Sam e Jack. Era uma pequena caixa de música encantada, que colocaria todos dentro do Vazio em um sono profundo. Tudo que precisavam fazer era convencer a entidade cósmica a trocar o dispositivo por Cas e torcer para que o feitiço realmente funcionasse...

— Só tem mais uma coisa. Não é tão fácil assim encontrar alguém no Vazio. — Jack se pronunciou. Estavam reunidos no bunker, cuidando dos últimos preparativos para que o garoto finalmente abrisse uma fenda para o Vazio. — Estive lá o lugar é infinito, ninguém a vista.

— Na verdade eu e Sam já tínhamos pensado nessa possibilidade. — Rowena apontou para o Winchester mais novo, antes de se voltar para o mais velho. — Tem algo do Castiel por aqui? Quanto mais significativo for melhor, se for um pouco de conexão entre ele e algum de vocês vai gerar um feitiço de localização ainda mais poderoso.

Dean não precisou pensar mais que alguns segundos para saber exatamente o que poderia ser tão importante daquele jeito, apenas assentiu e correu até o próprio quarto. Sobre sua cama, dentro de um walkman muito bem conservado, havia algo que o loiro pegara no quarto de Castiel naqueles últimos dias. Um presente.

Abriu o aparelho e encarou a fita, “Dean’s top 13 zepp traxx”, lembrava do exato instante em que fizera aquela gravação, lembrava de escolher cada música a dedo, de decidir que queria fazer aquilo à moda antiga, nada de pendrives ou internet, queria dar a Castiel um presente que fosse significativo. Queria que fosse como as histórias que John contava sobre Mary.

Mas é claro que Dean ainda era Dean, e fez parecer que a fita não era grande coisa quando a deu para Castiel. Teve até que reforçar que era um presente em uma ocasião que brigaram, e desde então o anjo guardava aquilo como se fosse um tesouro...

Naquele instante Dean não podia deixar de imaginar se ainda estariam naquela situação, se tudo que cercasse os dois não fosse tão cheio de coisas não ditas.

Castiel podia estar ali. Sem problemas com Vazio para resolver...

Dean soltou um suspiro constrito, prometendo a si mesmo que não cometeria os menos erros dos últimos anos. E com a fita firme entre os dedos voltou até Rowena, lhe entregando o objeto com um tanto de dor no coração.

— Não vou estragar. Não precisa ficar todo emocional. — Dean apenas revirou os olhos para a provocação e deixou que a ruiva e Sam lidassem com o feitiço.

O Winchester mais velho sabia que aquela ajuda de Rowena vinha com um certo preço, ela continuaria com seu passe livre do inferno para a o plano terrestre sempre que quisesse, porém, depois de tudo que ela tinha feito pelos dois irmãos, Dean achava até justo.

Não era como se a bruxa — ou ex-bruxa — tivesse se tornado sua pessoa preferida no mundo, mas no fim, de uma forma ou de outra, ela era parte do grupo.

Quando tudo ficou pronto Dean guardou a fita no casaco, junto com sua inseparável arma e uma lâmina angelical, por vida das dúvidas. Estava combinado que Jack abriria a passagem para o Vazio e todos iriam juntos, mas o Winchester mais velho tinha seu próprio plano.

— Eu vou sozinho. — Declarou decidido, enquanto Jack se posicionava para fazer sua parte.

— Nem pensar! — Sam rebateu, se colocando no caminho. — Eu vou com você.

— Não, Sammy. Você tem que ficar, porque não sabemos o que vai acontecer lá dentro. — Dean devolveu, dando um sorriso calmo ao irmão.

— Por isso mesmo eu tenho que ir junto. — O mais novo retrucou no limite da irritação.

Dean o olhou com carinho, sabia que aquilo podia ser um adeus definitivo.

— Você tem algo bom aqui, Sammy. — Ele moveu a cabeça na direção de Eileen, que sentada em uma das mesas da biblioteca e sorriu para ela. — Você tem o futuro todo pela frente, se algo acontecer lá dentro eu te quero aqui vivendo a vida que você merece.

Sam tentou interromper, mas Dean prosseguiu passando os olhos pelos amigos. Sua família, mesmo que não fosse de sangue.

— Rowena é a rainha do inferno agora, ela tem que ficar, porque honestamente não acho que vão achar alguém melhor pra colocar ordem naquela bagunça. — Ele sorriu para a ruiva e se virou para Jack logo depois. — E você, Jack, você é Deus agora, você tem bilhões de pessoas pra cuidar aqui, não podemos arriscar que entre em um lugar onde seus poderes podem não funcionar.

Ele se aproximou alguns passos do mais novo e pousou a mão no ombro dele:

— Eu sei que você vai fazer um bom trabalho. Estou orgulhoso de você, garoto. — Ergueu então a cabeça para os demais na sala. — Estou orgulhoso de todos vocês. De nós.

Dean se despediu de todos, e os irmãos Winchester ainda trocaram um abraço apertado antes que o mais velho se afastasse e fizesse um sinal para que Jack abrisse a passagem para o Vazio.

— Agora eu vou lá buscar o Cas. Porque nossa família não vai estar completa sem ele. — Foram suas últimas palavras, antes que pulasse de encontro ao breu infinito.

 ⍟ ⍟ ⍟ ⍟ ⍟

Quando seus pés bateram no chão já não havia mais entrada o que significava também que não havia qualquer saída...

Tudo ali estava escuro e silencioso, definitivamente não era o que Dean estava esperando, ele tinha uma caixa de música ali que devia fazer uma multidão sem fim dormir, mas ninguém parecia acordado.

Será que todos estavam errados e o plano seria inútil? Será que o Vazio já tinha resolvido tudo por conta própria?

Dean caminhou sem rumo no preto infinito, era como não se mover, andar, andar e estar sempre no mesmo lugar, por sorte tinha conseguido a fita que fora enfeitiçada, tirou o objeto do bolso e no mesmo instante as letras escritas a caneta começaram a se mover, formando uma seta que apontava a direção conforme o Winchester se movia.

Não saberia dizer por quanto tempo andou, podiam ser segundos ou horas, podiam até mesmo ser anos, ali dentro o conceito de tempo parecia irrelevante. Dean focou então apenas em seguir as direções datas pelo feitiço. Em dado momento as instruções apenas sumiram, deixando de novo apenas o título da gravação, ele olhou ao redor uma vez e ainda não havia nada, olhou ao redor outra vez e sentiu uma presença atrás de si...

Se virou devagar, o sobretudo inconfundível fazendo com que seu coração batesse tão forte que parecia prestes a sair pela boca. Castiel. O anjo estava de costas, parado olhando para todo o nada do qual aquele lugar era composto.

— Cas? — Dean deu um passo na direção dele, suas pernas ameaçando ceder a qualquer momento e sua voz embargada pela emoção.

Castiel se virou devagar, as sobrancelhas franzidas e a incredulidade estampada em seus lindos olhos azuis.

— O que você...? — Dean não deixou que o anjo terminasse a frase, se precipitou o espaço restante e envolveu Cas em um abraço.

O apertou forte contra seu corpo, como se prometesse que nunca mais o deixaria partir. Dean nunca era aquele que abraçava primeiro, era sempre o que levava dois segundos para corresponder, mas não daquela vez... Foi ele quem deu o primeiro passo, foi ele quem segurou Castiel como se o anjo fosse seu mundo todo. Porque talvez fosse mesmo.

— Você... Você não devia estar aqui, Dean. — Castiel se afastou um pouco, apoiando uma das mãos no ombro do Winchester. — Esse não é um lugar pra você.

— Mas eu já estou aqui. — O loiro devolveu, sentindo que podia sofrer um ataque cardíaco a qualquer momento. — Acho que era minha vez de te agarrar firme e te tirar da perdição.

Os olhos azuis ainda estavam alagados de preocupação, mas Castiel não pôde evitar sorrir. Dean engoliu em seco e umedeceu os lábios.

— Cas... eu... — As palavras entalaram em sua garganta, mas ele respirou fundo em busca de coragem. — Eu tenho que dizer que...

— Ah, mas que espetáculo mais adorável. — A voz debochada interrompeu os dois. Dean se virou e deu de cara com Meg, ou com alguém que parecia muito com a demônio. — Só tem um problema. Eu odeio intrusos.

— Deixe-me adivinhar: Vazio? — O Winchester se colocou em alerta e notou que Cas deu um passo para frente, se posicionando como um escudo.

— Bingo! — O ser com a aparência de Meg gesticulou efusivamente. —  E você deve ser o famoso Dean Winchester...

O loiro apenas assentiu, pensando no que diria a seguir. Se todos tivessem mesmo voltado a dormir, o que ele usaria de barganha para levar Castiel de volta?

— Depois do que ouvi, pensei que esse lugar seria um pouco mais barulhento, todo mundo acordado dando uma festa, enchendo o seu saco.... — Ele tentou conseguir alguma informação. — Teve uma explosão aqui, não teve?

— Isso não foi nada pra mim, já resolvi. — Vazio deu de ombros casualmente, mas Dean viu algo naquela resposta que não lhe convenceu realmente.

— Mentira. — Castiel acusou certeiro. — Todo mundo está acordado. Ou pelo menos a maior parte.

Vazio revirou os olhos em um gesto de descaso e tédio, mas o anjo não se calou:

— Acontece que esse lugar é infinito e cada alma está infinitamente longe uma da outra, por isso você não pode ver ou ouvir mais ninguém, Dean. Mas o Vazio pode, cada pequena coisa que acontece aqui ele pode ouvir e pode sentir.

Castiel e a figura com a aparência de Meg se encararam por um tempo, até que o Vazio deu de ombros com o desdém de uma criança mimada.

— E aí está você... sendo irritante como sempre. — Apontou irritadiço e Dean só conseguia agradecer que o plano ainda estivesse de pé.

Ele deu alguns passos despreocupados pelo lugar, enquanto analisava tudo.

— Então basicamente todas essas almas são como piolhos na sua cabeçona... Deve ser um saco. — Soou compadecido, parando um pouco mais perto de Vazio e abrindo a mão direita, onde estava repousada a pequena caixinha de música. — Por sorte eu trouxe a solução perfeita pra isso.

— O que acha que eu vou fazer com essa coisinha barata? — O desdém na voz de Vazio não acompanhava seus olhos curiosos, que analisavam o objeto com cautela.  

— Isso é um feitiço. Vai colocar todo mundo aqui pra dormir outra vez. — Dean fez um gesto amplo com a mão livre, para mostrar todo o entorno. — Vai arrumar toda a bagunça.

O brilho de interesse transpassou os olhos do Vazio, e Dean viu a mão feminina seguir rapidamente de encontro a sua, por isso fechou a palma antes que tivesse o objeto arrancado de si.

— Você só tem que deixar o Castiel voltar. — Deu seu ultimato e recebeu um olhar de profundo ódio como resposta.

— Dean... — Castiel advertiu preocupado, mas foi interrompido pelo Vazio.

— O anjo fez um acordo comigo. Ele é meu agora. — A voz irritada assumiu um tom mais potente e o Winchester mais velho pôde sentir o lugar tremer.

— E eu estou aqui pra fazer outro acordo com você. Ninguém está quebrando a palavra, só apareceu uma negociação melhor. — Ele tentou um tom apaziguador e diplomático. Não era muito seu estilo, mas era evidente que uma luta direta com o Vazio terminaria em derrota. Teria que pensar, não agir, assim como tinha feito com Amara. — Eu te dou a caixinha enfeitiçada. Castiel volta comigo.

— Volta com você? — Vazio caiu na risada como quem acaba de ouvir uma ótima piada, então no instante seguinte focou os olhos em Dean e assumiu uma postura ameaçadora. — O que te faz pensar que você vai sair daqui? Eu posso tirar essa coisinha de você e te colocar pra dormir aqui dentro como todos os outros.

Dean casualmente colocou a caixinha de música de volta no bolso e moveu a cabeça de um lado para o outro sem se deixar intimidar.

— Você pode, mas não vai durar muito.... — Ele deu de ombros como se estivessem falando de um assunto casual. — Jack é Deus agora, acha que ele vai desistir de nós? Acha que meu irmão vai desistir de nós? — Sorriu, tão ameaçador quanto o próprio Vazio. — Somos Winchesters, sempre damos um jeito. Do meu ponto de vista, você pode aceitar esse acordo, ou você pode prender a gente aqui e continuar sendo incomodado e acordado até o fim dos tempos.

Foi perceptível que a figura de Meg se irritou com toda aquela ousadia, ao mesmo tempo em que seus olhos não deixavam o local onde Dean guardara a caixinha enfeitiçada. O Vazio sabia que tinha uma solução para seus problemas bem ali, mas ao mesmo tempo não queria dar o braço a torcer.

— Mas o Castiel...

— Cas vai comigo. Eu não vou desistir dele. — Dean deixou claro, cortando qualquer objeção do Vazio antes que fosse formulada. — Não é apenas um acordo por uma vida, é um acordo pela sua paz. Você aceita e vive feliz do jeito que quiser aqui no seu mundinho infinito. Você não aceita e nós lutamos. Podemos até perder das primeiras vezes, mas nós não desistimos. — Ele deu um de seus sorrisos de canto, enquanto se mostrava relaxado com o destino vindouro, seja ele qual fosse. — Vamos encher bastante o seu saco, pode apostar.

Vazio cruzou os braços, era possível ver o quanto estava furioso por ser colocado contra a parede. Dean, por sua vez, apenas esperava que suas palavras fossem o bastante, aquele não era seu “modus operanti” tradicional, então era quase como dar um tiro no escuro e rezar para que atingisse o alvo.

Mas considerando que o céu agora era responsabilidade de Jack, rezar talvez finalmente resultasse em uma resposta satisfatória....

— Você insuportável, Dean Winchester! — Vazio resmungou contrariado, fazendo com que o loiro desse de ombros casualmente.

— Sou mesmo.

Os olhos verdes seguiram para Castiel por um segundo, que parecia muito surpreso com tudo que estava acontecendo ali. Dean deu um sorriso verdadeiro e voltou a focar no Vazio.

— E aí, qual vai ser? — Perguntou com a casualidade de um balconista de pizzaria. — Paz, ou amolação?

Era como se pudessem ouvir os dentes do Vazio trincando de ódio, por um segundo Dean pensou que ele e Castiel seriam engolidos pelo nada que os cercava e tudo acabaria ali, sem chances para palavras não ditas serem finalmente colocadas às claras. Mas não foi isso que aconteceu, com as sobrancelhas franzidas feito um adolescente mimado, Vazio moveu a mão direita no ar e uma passagem para fora dali se abriu.

— Deem o fora daqui! — A entidade cósmica apontou enquanto estendia a mão livre para pegar aquilo que Dean tinha colocado no bolso. Assim que a caixinha de música pousou em sua palma Vazio agarrou o pulso de Dean. — E eu juro que da próxima vez...

— Não vai ter próxima vez. — O Winchester mais velho declarou calmo e firme.

Os olhos do Vazio passaram por Castiel e depois por Dean.

— Odeio vocês! Todos vocês. Humanos enxeridos e esse anjo idiota. — Mais um movimento de mão no ar e os dois foram jogados longe, em direção a saída.

Talvez Vazio não fosse terrível como Chuck, ele não tinha apetite por destruição, era apenas uma entidade cósmica muito, muito velha querendo paz em sua existência e que as coisas fossem como tinham que ser...

Não era um inimigo, era mais um contratempo.

⍟ ⍟ ⍟ ⍟ ⍟

A aterrisagem de Dean não foi suave, ele colidiu com a superfície dura e sentiu as costelas reclamarem. Não era mais tão novo quanto antes.

Quando conseguiu um pouco de clareza para se apoiar nos cotovelos, notou que estavam em um tipo de celeiro e já havia uma mão estendida para ajudá-lo a levantar.

— Dean... — Castiel estava ali de pé com a perfeição que só um anjo poderia ter.

— Cas... — O loiro aceitou a ajuda, se colocou de pé, mas não soltou a mão que um dia havia lhe agarrado firme e tirado da perdição. — Eu...

As palavras travaram em sua garganta, as ideias e frases se amontoando na ponta de sua língua, mas nenhuma delas despontando para fora de sua boca.

— Obrigado por... — Castiel começou, mas Dean, sem soltar a mão do anjo, negou rapidamente para interrompê-lo.

— Cas, eu tenho que dizer... — Também não conseguiu terminar, foi sua vez de ser impedido de falar.

— Você não tem que dizer nada, Dean. — Castiel declarou com seu tom dócil e compreensivo, fazendo menção de se afastar a qualquer momento. — Eu entendo, eu só precisava que você ouvisse porque...

— Cala a boca, Cas. — Dean cortou bruscamente, apertando o pulso do anjo, como se temesse que ele escapasse por entre seus dedos. — Eu preciso dizer. Estou cansado de das coisas não ditas, das palavras subentendidas, das orações enigmáticas e do silêncio oportuno. — Tentou ordenar suas ideias e lembrou de algo que tinha aprendido com crianças do colegial anos antes. — Já chega de tanto subtexto na nossa história, Cas.

Castiel franziu as sobrancelhas, daquele jeito que tinha quando estava confuso e que Dean secretamente achava adorável.

— O que isso quer dizer? — Ele com certeza não entendia nada de enredo e coisas assim, muito menos das fanfics que os adolescentes tanto amavam, mas aquela coisa de “Destiel” e subtexto ficara gravada por tempo demais na mente de Dean...

— Quer dizer que você é meu melhor amigo, você é minha família, e eu te amo. Eu te amo também, Cas. — As palavras saíram como pássaros que procuram a liberdade, mas dado o olhar ainda confuso e surpreso de Castiel, Dean teve medo que seus sentimentos pudessem ser interpretados da forma errada. Teria que ser mais claro. — Mas não é como eu amo o Sam, ou como eu amo minha mãe ou meu pai, nem mesmo como eu amo a Charlie, ela era minha melhor amiga também, mas era diferente, tá certo?

— Certo...? — Castiel definitivamente estava confuso, seja pela revelação em si, ou pela forma desconexa e atropelada que Dean tentava dizer as palavras todas de uma vez.

— O que eu estou tentando dizer é... Eu e você... Nós... — O loiro apontou de um para outro e respirou fundo, tentando achar uma forma de explicar tudo que ele vinha sentindo mudar dentro dele naqueles últimos anos. — Aquele vinculo profundo de que você tanto fala, é diferente de tudo que eu já senti. Você me faz sentir diferente, você me faz querer coisas diferentes, coisas novas. Você me faz querer ser melhor. E isso é diferente de qualquer outra coisa que eu já tive na vida.

— Diferente como? — O anjo questionou e por um segundo Dean achou que viu medo nos olhos azuis. — Diferente ruim?

O Winchester mais velho sorriu, porque a inocência de Castiel era uma de suas virtudes mais encantadoras e talvez isso nunca mudasse.

— Diferente assim... — Disse, antes de soltar o pulso do anjo e segurar-lhe o rosto entre as duas mãos, para selar os lábios dos dois, da forma que já desejava há muito tempo.

Não era a intenção de Dean que aquele beijo fosse mais que um toque entre suas bocas, apenas para deixar claro o sentido de suas palavras, no entanto, assim que seus lábios cobriram os de Castiel uma corrente elétrica percorreu seu corpo e tudo mais sumiu de sua mente. Assim que os dedos do anjo deslizaram por seu braço e subiram por sua nuca o mundo deixou de existir, o passado se tornou pó e o futuro pouco importava, Cas era o centro do universo de Dean, como se cada pequeno átomo deles se atraísse e completasse. Nada poderia ser mais perfeito.

E ele soube que era mútuo, soube melhor do que as palavras já haviam deixado claro, soube com a mente, o coração e o corpo, Dean e Castiel se amavam da mesma forma. Algo puro e incondicional, mas também intenso e físico. Se amavam como um casal.

Castiel tinha gosto de algodão doce, o que era bastante curioso e inusitado, mas ao mesmo tempo se encaixava com ele de alguma forma. Ele não era como outras bocas que Dean tinha beijado pelo caminho, não era como ninguém mais. Castiel era único. E dentre tantas outras coisas talvez esse fosse o motivo principal pelo qual Dean tinha lenta e irremediavelmente se apaixonado pelo anjo...

Quando se separaram minimamente, azuis e verdes se encontraram ansiando pela reação oposta como uma criança anseia por seu presente na manhã de natal.

— Ah... — Castiel balbuciou, parecendo finalmente decifrar um grande enigma. — É diferente bom.

Dean sorriu finalmente, uma tonelada de peso saindo de seus ombros.

— Diferente ótimo. — Corrigiu, abrindo ainda mais o sorriso.

Se encararam por alguns segundos, mas não era estranho ou constrangedor, talvez porque já tinham trocado aqueles longos olhares tantas e tantas vezes naqueles últimos anos, que havia se tornado algo muito deles...

Dean respirou e umedeceu os lábios, antes de mover a mão no ar nervosamente, ainda haviam coisas a serem ditas:

— Então... digamos que aquilo que você falou antes, sobre querer algo que não pode ter, também é o que eu quero e sempre pensei que não fosse certo ter.

Castiel voltou a franzir as sobrancelhas, a expressão confusa de uma criança de cinco anos que é apresentada a aritmética pela primeira vez.

— Você sempre quis... a si mesmo? Bom... inusitado, mas...

A risada alta de Dean cortou as palavras do anjo.

— Ai, Cas... — O loiro deu um tapinha amigável no ombro de Castiel e o puxou para perto de si, enquanto caminhavam para fora do celeiro. — Realmente precisamos trabalhar na nossa habilidade de comunicação. — Virou os olhos verdes na direção dos azuis e sorriu de canto. — Mas veja pelo lado bom... a química já está perfeita.

Nunca imaginou que veria Castiel corar, mas foi exatamente isso que aconteceu quando o anjo entendeu o sentido daquela frase. Era impossível não sorrir com isso, com toda a imensidão de felicidade que lhe dominava naquele momento, Dean não se lembrava de alguma vez em que realmente tivesse acreditado que o futuro poderia ser algo mais que uma morte banal dentro de uma caçada aleatória... Mas ali, mergulhado na imensidão azul dos olhos do anjo que amava, ele tinha esperança.

Castiel fazia com que Dean acreditasse que havia algo mais na vida que esperar pela morte e pelo conforto da paz eterna...

Quando foram saindo dali, o Winchester se deu conta de uma coincidência curiosa, estavam em um celeiro, um lugar muito parecido com aquele em que tinha visto Castiel pela primeira vez. Literalmente havia faíscas entre eles desde o começo.

Instintivamente a mão de Dean deslizou em busca da de Castiel e ele sentiu a necessidade de se afogar nos olhos azuis que tanto lhe hipnotizavam.

— Eu me apaixonei por você, Cas. Sinto muito não ter dito antes. — Declarou, firme e decidido, sabendo que ainda repetiria aquilo muitas e muitas vezes para compensar todo o tempo perdido.

— Pra mim agora pareceu a hora perfeita. — Castiel respondeu calmo e pacifico, um porto seguro que sempre esteve ali e que, se dependesse de Dean, sempre estaria...

Ainda estavam olhando um para o outro, compartilhando uma felicidade plena apenas deles quando Dean ouviu um som no fim da estrada. Reconheceria o ronco daquele motor em qualquer lugar.

— Acho que nossa carona chegou. — Apontou e Castiel virou o rosto naquela direção bem no instante em que o Impala despontava no fim de uma curva com Sam no volante.

Não precisavam questionar como o Winchester mais novo sabia onde procurar, porque afinal Jack estava ao lado dele, no banco do passageiro. E Jack sabia de tudo.

— Cas! — O garoto acenou assim que o carro estacionou.

— Jack! — O anjo se precipitou naquela direção para que os dois trocassem um longo abraço.

Sam e Dean fizeram o mesmo, sorrindo um para o outro, sabendo que finalmente a luta havia chegado ao fim. Eles tinham tudo que podiam querer.

— Eu consegui! — Jack falava com Castiel e sua inocência era tão pura que mal parecia que estava falando de derrotar Chuck e se tornar o novo Deus.

— Eu sei, eu consigo sentir. — O anjo apoiou as duas mãos nos ombros do garoto e era explicito o quão orgulhoso estava.

— Eu não teria conseguido sem tudo que fez por mim. — Jack sorriu em gratidão pura e verdadeira — Obrigado, pai. Eu te amo.

Quando Castiel abraçou o garoto novamente era óbvio o quão emocionado estava. Dean teve que passar as costas da mão direita pelo rosto rapidamente.

— Você está chorando? — Sam sussurrou, lhe cutucando com o cotovelo discretamente.

— É só poeira do Vazio. Não enche, Sammy. — Dean rebateu contrariado, esfregando os olhos com exasperação. Sim, ele estava chorando.

— Estou orgulhoso de você, irmão. — O moreno deu-lhe um tapinha nas costas e sorriu.

— Disse o irmãozinho mais novo. — Claro que o loiro fingiu que aquilo não lhe abalava em nada.

Mas também estava orgulhoso; deles e de si mesmo.

— Eu sou maior que você. — Sam retrucou, entrando na brincadeira do irmão.

— Isso aí foi sorte. — Dean moveu a mão no ar de forma displicente. — Mas e aí, cada a bruxa ruiva?

— O nome dela é Rowena, sabia? — O Winchester mais novo corrigiu, ganhando nada mais que um revirar de olhos divertido como resposta.

Um deles ainda tinha que implicar com a ruiva, mesmo que fosse só de brincadeira.

— Rowena estava aqui? — Castiel questionou, enquanto todos eles se aproximavam do impala.

— Ela ajudou com o seu resgate. Agora deve estar por aí em algum hotel cinco estrelas antes de voltar para vestir a coroa de rainha dela no inferno. — Sam respondeu, dando um abraço de boas-vindas no anjo enquanto ele perguntava:

— Acha que teremos que nos preocupar com ela?

— Não. — Foi Jack quem respondeu, categórico e certeiro, muito mais Deus que menino.

— Parece que ela é uma de nós agora. — Dean moveu os ombros enquanto explicava. Se fosse honesto já fazia um bom tempo que Rowena havia deixado de ser uma ameaça para se tornar uma das maiores aliadas que eles tinham.

As coisas mudavam. E Dean estava aprendendo que nem sempre isso era ruim.

— Mas falando de “nós”. — Sam emendou, olhando para os outros três, em especial para o irmão. — O que vamos fazer agora?

— Bom eu só vim ajudar e tenho que... — Jack começou, mas foi rapidamente interrompido.

— Corta essa, garoto. Você não vai sair rapidinho igual da outra vez não. — Dean ergueu um dedo em riste e se aproximou alguns passos. — Goste ou não somos família, apesar dos absurdos e das idiotices que eu disse quando estava furioso, somos todos família aqui.

Respirou fundo, tinha muitas coisas pra consertar com o menino. Felizmente tinha uma oportunidade de fazer melhor. De ser melhor.

— Olha, me desculpa ter dito aquilo. — Apoiou a mão no ombro de Jack. — Eu sou um grande idiota as vezes.

— As vezes? — Sam lançou incrédulo e divertido e ganhou um olhar enviesado do irmão, que logo voltou a falar com Jack:

— O que importa agora é: Deus ou não, somos sua família, então trate de aparecer nos fins de semana e de separar os feriados na sua agenda, principalmente o de ação de graças que é quando a comida boa está na mesa.

Jack sorriu, assentindo brevemente e fazendo com que Dean o puxasse para um abraço e sussurrasse bem baixinho no ouvido dele: Obrigado, garoto.

Em seguida o Winchester mais velho se virou para os outros novamente.

— Não importa o que vamos fazer de agora em diante, ou onde estejamos, somos família e isso não vai mudar. — Sorriu para Sam, porque sabia que não era justo ficar prendendo o irmão com ele.

Ele devia ser livre para viver a vida da forma que queria.

— Além disso, ainda temos muito o que caçar por aí. — Sam deu de ombros.

— Sobre isso... — Jack interveio. — Eu não quero que se preocupem com isso. Quer dizer, não como um trabalho de tempo integral, se ainda quiserem caçar as vezes eu entendo, mas eu quero que tenham uma vida feliz, todos vocês, e todos os humanos também. Vocês não deviam ter que lidar com o sobrenatural, isso não é certo.

Dean e Sam se viraram para o garoto, ele falava calmo e cheio de certeza, sua sabedoria divina escorrendo por suas palavras.

— Eu vou fazer mais anjos e vou treiná-los com as crenças certas, eles farão o que deviam fazer desde o início, protegerão as pessoas, cuidarão de qualquer ameaça sobrenatural. — Prosseguiu, mostrando que a humanidade teria um bom futuro pela frente. — Os humanos terão que lidar apenas com as consequências de suas próprias ações. Eu vou garantir que as ameaças sobrenaturais não interfiram mais no curso de suas vidas.

— Então eu vou voltar para o céu, pra te ajudar com isso. — Castiel se voluntariou no mesmo momento e Dean sentiu o estômago embrulhar.

De repente todas as suas inseguranças vieram à tona e o medo fez com que toda a esperança desaparecesse. Cas tinha um grande senso de dever, se Jack pedisse sua ajuda permanente ele nunca mais voltaria do céu.

— Não, Cas. Seu lugar é aqui na Terra. Seu lugar é onde sua felicidade estiver. Eu não quero que viva preso no céu. — O garoto respondeu, dando uma olhada nada sutil para Dean antes de continuar. — Se quiser me dar umas ideias eu com certeza vou ouvir, porque vou sempre ter algo a aprender com você.

O Winchester mais velho quase suspirou aliviado, mas preferiu focar na resposta de Castiel primeiro.

— Na verdade eu estava pensando nisso mais como um emprego de meio período mesmo, não em uma estadia permanente. — O anjo explicou, então ajeitou o sobretudo de forma distinta. — Eu vou ficar honrado em ajudar. Por exemplo, acho que o paraíso devia ser um lugar mais feliz. Ao invés de memorias devíamos deixar as pessoas...

— Não, não, não. — A animação repentina de Dean fez com que ele interrompesse uma conversa que certamente seria bem longa. — Nada de trabalhar hoje. Temos algo muito importante pra fazer.

— E o que seria? — Castiel questionou, franzindo as sobrancelhas de seu jeito habitual.

— Primeiro vamos voltar ao bunker pra buscar a Eileen... — O loiro apontou para o irmão. — Então vamos direto pra praia, colocar nossos pés na areia e comemorar.

— Eu sou Deus, não posso ir pra praia. — Jack devolveu já em tom de desculpas.

— Claro que você pode, o mundo não vai colapsar em um fim de semana, além disso chame de trabalho de campo. Você nunca foi a praia, pelo que eu sei, e esse é seu mundo agora, você tem que conhecer cada partinha dele, principalmente as boas. — Dean retrucou, abrindo a porta para que o garoto entrasse.

— Se você está dizendo... — Ele concordou com o argumento e assumiu seu lugar no banco de trás.

Assim, no fim daquela mesma tarde estavam com os pés na areia. Sam e Eileen deitados em suas toalhas de praia, Jack observando curiosamente as crianças fazendo castelos de areia, enquanto Dean e Castiel admiravam o mar e o Sol que lentamente se escondia no horizonte.

Ambos não tinham muita certeza do que viria a seguir, mas sabiam em seus íntimos, que seja o que fosse eles ficariam bem. Porque eles estariam juntos.

— Acho que eu posso me acostumar com isso... — Castiel comentou e Dean admirou o sorriso se formar em seu rosto angelical.

— Que bom... Porque eu não desejaria nada diferente do que temos agora. — Respondeu e ambos trocaram um olhar cheio de significados. — E vai ficar ainda melhor quando a gente ficar sozinho de noite, acredite...

Dean riu enquanto Castiel levava dois ou três segundos para entender a insinuação por trás daquela frase, então apenas entrelaçou as mãos com a do anjo, deixando aquela promessa no ar, enquanto o céu se coloria com os tons de laranja e roxo do pôr do sol. Eles finalmente estavam felizes e em paz.

Exatamente como que eles mereciam.

 

 


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