A linha tênue entre o amor e o ódio escrita por GomesKaline


Capítulo 4
Capítulo 04




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Emily acordou ofegante de sua sequência de pesadelos.

Alguns eram lembranças da época que ela fez o aborto, outro eram de revoltados religiosos a machucando com murros e chutes, em outras versões ela era esfaqueada no útero e ovários e em outros ela até morria.

Isso a assustou. Isso pode acontecer. Já aconteceu casos de políticos que defendiam o aborto receberem ameaça de morte, receber carta coberta de Antraz. Seu coração estava batendo forte, estava difícil conciliar o real e o falso. Tudo parecia verdadeiro seu útero estava queimando com as pseudo facadas. Suas costelas doíam dos chutes e ela podia jurar que estava entrando em choque por causa dos sangramentos. E acordar em um lugar não familiar não estava ajudando, ela não podia ir para o quarto de Ted ou de Mellie (Amelia, sua irmã caçula).

Mas tinha alguém no quarto ao lado, ela não pensou duas vezes antes de levantar da cama, ela não queria ficar sozinha. Ela caminhou até o quarto dele. Ela girou a maçaneta e a porta estava aberta, quando ela viu a figura adormecida dele, ela quase desistiu, mas aí lembrou dos seus pesadelos e não queria adormecer com eles na cabeça. Então ela caminhou para dentro do quarto e parou à meio metro da cama.

— Aaron.- ela sussurrou, e ele não fez nenhum movimento. Foi deveida ao sussurro assustado e inaudível. Ela chamou mais alto e ele só rolou na cama.

Ela olhou para ele por mais um momento, ele durmia tão bem que parecia um pecado acordá-lo. Novamente ela lembrou porque veio aqui, pesadelos. E ela só os teve porque ele revelou seu segredo em uma entrevista ao vivo. Era culpa dele e o mínimo que ele podia fazer era despertar de um sono aparentemente bom, era meio egoísta, ela sabia, mas ela não estava prestes a enlouquecer com aquelas imagens horrendas. Então ela caminhou até ele e colocou a mão em seu ombro. Só o toque suave fez ele acordar, ela não precisou chamá-lo.

— Emily? O que está errado? Você está com dor? Algum animal está tentando entrar?

— Não, é só que eu não consigo durmir.- então ela avaliou sua outra declaração- Os animais tentam entrar aqui?- ela perguntou assustada.

— Não se preocupe com isso, são animais inofensivo.- ele a tranquilizou- Da última que te verifiquei você estava durmindo como uma pedra.

Bom, a desculpa de não conseguir durmir não ia caber aqui. Merda, Aaron. Por que você tinha que verificá-la?

Oh. Ele a verificou. Isso diz muito sobre ele como ser humano, ele parece se preocupar com alguém além dele mesmo.

— Eu acordei e não consigo durmir.- ela ofereceu, torcendo para ele não perguntar o porquê. A verdade era que ela não queria voltar a durmir.

— O que te acordou?- perguntou com a voz ainda rouca do sono.

E ele perguntou o porquê.

Ela fez uma palestra em sua cabeça de como era uma má ideia revelar isso a ele. De como tal revelação é um salto de vinte anos de intimidade. E que eles não eram amigos para terem esse tipo de conversa. Mas mesmo assim, por algum motivo que ela não sabia explicar, ela não ouviu as vozes da razão em sua cabeça. O estranho era que a voz parecia com a de sua mãe.

Ele a observou hesitar. Ela ficou apertando as unhas das mãos antes de responder.

— Tive pesadelos e não quero voltar a durmir.- ela revelou rapidamente esperando que ele zombasse dela.

— Okay.- ele mais do que ninguém entende o que pesadelos podem fazer com você - Quer que eu te faça companhia até que tenha sono novamente?

— Você não se importa?- ela perguntou relutante.

Ele afastou as cobertas para que pudesse se arrastar para fora da cama.

— Claro que não, eu amo ser acordado de madrugada para fazer companhia para minha inimiga mais antiga.- ele falou e ofereceu um sorriso para ela.

— Idiota.

Ele riu. Se eles forem nesse ritmo, ela esquecerá os pesadelos rapidinho.

— Quer um copo de leite ou chocolate quente?

— Leite seria bom.

— Eu vou ficar com chocolate.

Ela rolou os olhos. Ela tem certeza que ele escolheu chocolate quente apenas porque ele sente prazer em discordar e contrariar ela.

Emily estava no sofá quando Aaron voltou da cozinha e lhe entregou um copo de leite quente, dizendo-lhe que a ajudaria com o sono. Ele já tinha acendido a lareira e o cômodo já estava aquecido. Ele sentou-se ao lado dela no sofá mantendo uma distância segura com sua própria bebida nas mãos. Emily ficou encarando a bebida de Aaron, parecia tão atrativa.

— Que foi?- Aaron perguntou vendo que ela olhava para a bebida quente nas suas mãos e não bebendo a dela.

— Nada.- ela deu o primeiro gole em seu corpo de leite.

Aaron tinha um palpite do que estava acontecendo, ele já teve algumas namoradas e amigas mulheres para ter 99,9% de certeza do que estava acontecendo.

— Você quer trocar, não quer?- ele arriscou dizer.

— Não, eu estou bem.

— Eu não me importo, vamos, troque comigo.- ele disse estendendo a caneca com chocolate quente para ela.

Ela olhou para ele e para caneca com chocolate, ela realmente queria a bebida, parecia tão atraente e saborosa, o cheiro invadindo suas narinas a entorpecendo. Mas era a bebida de Aaron, trocar com ele parecia uma linha perigosa para cruzar.

— Pegue logo a maldita bebida, Emily.

— Okay, mas não é porque você praticamente está me obrigando, e sim porque eu realmente quero o chocolate.

Ele revirou os olhos. Ela realmente sabe quais botões apertar para irritá-lo.

— Por que vocês mulheres não podem ficar satisfeitas com as bebidas e comidas que pedem?- Aaron falou em um bufo.

— Não fazemos isso!- ela disse com um pouco de indignação.

— Você acabou de fazer!- ele atirou de volta.

— Por que você não cala boca?!

— Por que você não admite que estou certo?

— Isso não vai acontecer.- ela falou escárnio.

É por isso, ele falou para si. É por isso que ele a odeia, ela é irritante, teimosa e pertinaz. Nessas horas ele realmente esquece que ela é uma pessoas com um coração e sentimentos reais. Nessas horas ele só consegue vê-la como uma megera que merece o pior desse mundo. Ele se forçou a respirar, ele lembrou porque ela estava aqui, ela estava sofrendo, ela estava quebrada, por causa de uma atitude idiota dele. Por um momento ela permitiu que ele visse a tristeza e dor dos olhos dela.

Ela é capaz de sofrer. Então é muito cruel da parte dele desejar o pior desse mundo para ela, por mais que ela o tire do sério.

— O que você quer fazer? Meu notebook está aqui, podemos assistir um filme ou você pode escolher um livro da minha estante para ler. Ou podemos ficar sentados aqui até que você sinta sono de novo.

— Acho que vou ficar com a leitura, mas você tem que escolher um livro para ler também. Eu não gosto de pequeno barulho irritantes quando estou lendo.

Ele revirou os olhos.

— Okay.

— Quais livros você tem?- ela já tinha espiado anteriormente, mas ela não ia dizer a ele que estava observando o lugar, bisbilhotando era uma palavra melhor.

Ele se levantou para ir à estante de livros, ela levantando logo após para segui-los.

— Eu tenho bastante livro de fantasia e ficção científica. Se você não gosta desse tipo de leitura, eu tenho muitos livros de romance policiais, suspense...

— Oh meu Deus!- Emily o interrompeu e ele a olhou curioso, porque não foi uma expressão de choque, foi de diversão- Você tem Jane Austen, oh meu Deus, Aaron.- ela ria, a risada dela preenchendo o lugar silencioso.

Ela não tinha notado quando espiou antes.

— Ei, por que você está rindo? Orgulho e Preconceito não é um romance qualquer e não é qualquer edição, é uma edição capa dura antiga.- ele estendeu a mão para puxá-lo, mas acontece que ela também estendeu. Então sua mão cobriu a dela e eles olharam.

Eles puxaram a mão quase imediatamente, mas ainda podiam sentir o calor do contato. Eles não lembravam se alguma vez já tiveram um contato pessoal assim. No ensino médio, em eventos sociais ou nas entrevistas de TVs não era necessário esse tipo de interação.

Emily sentiu uma queimação estranha no estômago quando a mão de Aaron cobria a sua. A mão dele era grande e calorosa, ela era estranhamente áspera, mas também possuia uma maciez. Ela pode jurar que seu coração pulou uma batida quando suas mãos se tocavam.

Os dedos de Emily eram grandes, finos e sua mão era macia e estranhamente pálida. Ele deu seu melhor para não apertar levemente seu dedos e sentir ainda mais a maciez deles. Ele culpa sua vida amorosa por andar tão parada no último ano. É isso. É apenas seu lado solitário querendo uma companhia.

Aaron finalmente deixando o que aconteceu a poucos segundos de lado. Puxando o livro cuidadosamente e alisando com carinho a capa desgastada.

— Essa é a versão de 1813.- ele falou com um tom da voz apaixonado.

— Oh, Aaron, é lindo.- ela disse encantada. Ela o olhou e ele pôde ver um brilho nos seus olhos, um brilho de só quem é amante de livros tem - Posso pegá-lo? - ela olhou para ele suplicante.

— Claro.- disse ele e em seguida entregou cuidadosamente o livro para ela.

Abriu o livro e as páginas estavam envelhecidas e gastas. O que ela ama mais que livros, é livros velhos. Eles são perfeitos. Ele tem toda um história o acompanhando.

— Eu tenho um, mas é um versão recente.- ela disse deslizando o dedo de cima para baixo em uma página - Você é 1% menos idiota para mim agora, Aaron. Seu gosto por livros é melhor do que por mulheres.

— Eu não namoro com aquelas mulheres que saem nos sites comigo, elas são só acompanhantes. - ele viu os olhos dela se arregalarem - Não! Eu não pago por elas. Você realmente acha que sou tão medíocre?

— Sim, eu acho.

Ele revirou os olhos.

— Sim, claro que você acha.

 

Eles acabam sentados lendo no sofá, cada um apoiado no braços oposto, somente suas panturrilhas se tocando, como nenhum fez menção de se afastar, não acharam errado o que estava acontecendo. Só se escutava os barulhos da lenha queimando e o das páginas sendo passadas. Emily optou por ler a edição mais recente de Orgulho e Preconceito, pela sei lá sabe Deus quantas vezes. Ela disse que a edição antiga era muito frágil para uma leitura noturna, ela poderia acabar dormindo e estragando o livro. Aaron optou por terminar a leitura que já havia começado, um romance policial que o cativou desde início, mas ele não teve a chance de terminar porque ele não conseguia ler na casa de seu pai.

— Ei.- Aaron chamou Emily que estava entretida em sua leitura, como se tivesse lendo pela primeira vez.

— O que?- disse ela suavemente, tirando o olhar do livro e olhando para ele.

Ele tinha uma aparência bonita sobre a luz amarelada do fogo que vinha da lareira. Ele é realmente atraente, e isso a irritava um pouco, ela podia odiá-lo com todas as forças, mas ela nunca poderá dizer que ele é feio.

Mas do que adianta ter uma boa aparência se você é um porco com os outros.

— Você vai para sua casa amanhã ou para algum outro lugar? Ou melhor, hoje.

— Eu não tinha pensado nisso. Mas se você...

— Não. Eu não estou expulsando você, Emily. Só pensei que você não ia querer mais gastar seu tempo comigo, já que... - Ele fez uma pausa, ele odiava ter colocado ela nessa situação - isso tudo é culpa minha. Eu só disse isso porque ainda vai ter repórteres acampando no seu jardim. Você tem outro lugar para ir?

— Eu estou com minha carteira, eu posso comprar roupas e ficar em um hotel.

— Você pode ficar se quiser, eu não me importo. Só precisaremos ir às compras. Preciso abastecer a cozinha e você precisa de roupas.

— Aaron... - ela tentou protestar.

— Tem um lago aqui perto, caso você não me queira por perto. Depois do café você pode pegar alguns livros e frutas e se estabelecer lá. Só preciso que um dos meus seguranças vigie você.

O coração de Emily bateu mais forte com o que ele estava oferecendo. Ele estava pedindo que ela ficasse e ainda lhe oferecendo a opção de fugir dele caso a presença dele a incomodasse. Ela sentiu seus olhos esquentarem, porque agora tudo que ele parecia era fofo.

Idiota, Emily. Ele é um idiota.

— Você disse lago? - ela perguntou e ele assentiu - Isso soa bem.

— Você também tem que ligar para sua mãe e dizer que está seguro, ela deve está preocupada.

— Você tem telefone aqui?

— Tenho, mas você não prefere usar um telefone público quando estivermos na cidade?

— Tem razão, é melhor. Com certeza aqueles abutres estão vigiando os nossos registros telefônicos.- quando ela olhou para cima, ele estava com um sorriso brincalhão - O que foi?

— Você acabou de dizer que tenho razão.

Ela revirou os olhos.

— Idiota.- ela disse sorrindo.

 

Quando Aaron terminou sua leitura, ele olhou para Emily. Ela dormia. O livro caído sobre o peito, respirava regular, fazendo o livro subir e descer no processo. Sua boca estava levemente aberta, seus cabelos caíam parte sobre o rosto e parte na almofada. Ele sorriu. A imagem de uma mulher dormindo não era nada glorioso como mostra os filmes e séries. Mas também não era nada horrendo, ele poderia ficar olhando horas se quisesse. Era tentando querer tirar o cabelo do rosto dela.

Ela precisava ir para cama ou ficará com dores pela manhã. Mas ele não podia acordá-la, temia que caso acordasse ela não voltasse a dormir e ela parecia realmente em paz. Parecia um crime acordá-la. No entanto só tinha um jeito levá-la para cama sem acordá-la, ele tinha que carregá-la. Ele respirou fundo. Isso praticamente ia contra tudo que ele acreditava. Isso era dar uma de bom samaritano com um Prentiss, e os Hotchner não fazem isso, isso vai contra sua fé. Ele não devia se importar se ela vai voltar a dormir ou não. Ele está em um dilema.

Ele decidiu. Ele foi até o sofá, abaixou-se e pegou os braços dela e colocou em volta de pescoço, isso fez com seus rostos ficassem próximos. Mas quando ele estava colocando os braços sob as costas e joelhos dela...

— O que está fazendo?- ela perguntou abrindo os olhos sonolentos e dando de cara com os deles.

Aaron entrou em pânico. Isso foi uma escolha muito, muito errada.

— Não é o que você está pensando.- ele falou assustado.

— Não?- ela levantou uma sobrancelha - Meus braços estão no seu pescoço e suas mãos estão no meu corpo.

— Eu ia te levar para cama.- os olhos dele arregalaram com o que saiu da própria boca - Não, não! Isso não saiu direito. Eu não queria te acordar, então eu estava te carregando para cama.- quando ele olhou para ela, ela estava sorrindo - Merda, Emily! Você adora chutar minha bunda, não é?

— Sim.- ela começou a rir - Você fica tão nervoso, até parece um homem de princípios.

— Ei! Eu sou um homem de princípios.- ele defendeu-se.

Os dois riram juntos. Deve ser algo que a madrugada carrega que te faz fazer coisas que nunca imaginaria. Talvez fosse isso.

Emily, enquanto ainda sorria, ajustou os braços ainda mais em volta do pescoço de Aaron.

— Vamos, me leve para cama.- foi a vez dos olhos dela saltarem do tamanho de um pires - Não! Eu coloquei isso de maneira errada. Eu quis dizer que você pode me carregar até a cama e então eu vou me deitar nela e você vai sair do quarto e ficará nele até de manhã.

— Você não precisa me explicar todo o processo.- ele disse enquanto a levantava - Eu não estava prestes a dividir a cama com você, por favor.

— Oh! Amanhã podemos comprar sorvete?- disse ela com animação.

— Você parece uma criança.- indagou ele ao ver a reação alegre dela.

— Isso não responde minha pergunta.- ela apontou.

Revirando os olhos ele respondeu:

— Sim, podemos.

Bom, com certeza passar algum tempo juntos estava afetando eles, algo além da magia da madrugada. Ora, eles estavam falando "podemos". No plural. Se referindo a eles como um só.

 

 


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