A linha tênue entre o amor e o ódio escrita por GomesKaline


Capítulo 2
Capítulo 02




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— Estamos na frente nas pesquisas.- ela chegou ao lado dele dizendo, tomando delicadamente seu coquetel de frutas.

— Não por muito tempo.- ele lhe deu um sorriso travesso.

Eles estavam em uma festa da elite de Washington, o evento tinha como fim a caridade, pelo menos era essa a imagem que eles queriam passar. Mas por trás dessa fachada de caridade o que resamente estava acontecendo era política. Alguns iriam fazer grandes doações para seus rostos aparecerem nos jornais, revistas e noticiários, enquanto procurariam aliados para fortalecer suas campanhas. E era isso que Craig Hotchner e Elizabeth Prentiss estavam fazendo arrastando junto com eles suas famílias.

— O povo quer uma mulher no poder.- ela retrucou de volta.

— Eu também quero uma mulher no poder, mas não a sua mãe. Vocês só estão na frente por causa daquela história que sua família inventou sobre mim, as mulheres ficaram revoltadas.- ele bebericou sua bebida- Foi  uma boa jogada, Prentiss, mas nós também sabemos jogar.

— Você está com medo.

— Eu não estou com medo, estou bem confiante, na verdade.

Ela sempre odiou esse sorriso presunçoso dele e toda a superioridade que ele carrega. Ele se acha o melhor, ele é arrogante, frio e rude. Até hoje ela não consegue entender como ele consegue transmitir uma imagem tão carismática para o público. Nas entrevistas ele é doce, gentil e até atraente, de um jeito patético. Ela revirou os olhos internamente para o pensamento. Ela não pode negar que ele é fisicamente bonito, seu corpo é bem ajustado, ele aparenta ter uma rotina de exercício. Os braços deve proporcionar um abraço gostoso, e tem um sorriso hipnotizante, apesar de presunçoso. Se ele usar o tom de voz certo, ele pode fazer qualquer pessoa ir a loucura sussurrando sujeira no ouvido dela, porque o homem tem uma bela voz. Mas ele é um completo idiota e ela já teve seu quinhão deles.

— Metido.- ela declarou.

Ele sorriu e logo em seguida bebeu de sua bebida.

— Eu apenas acredito no meu bom trabalho.

— Como eu disse, metido.

Ela sempre foi inalcançável, principalmente para ele, desde que ele se lembra, ele gostava dela como gostava de azeitona, e ele odiava azeitona. Ela sempre foi a garota mais difícil e a mais desejada. Ele lembra dos alunos da sua classe que fazeram fila para convidá-la para o baile, mesmo ela sendo caloura, ela foi cobiçada por todos os meninos do último ano, menos por ele, é claro. Ela rejeitou todos, ela nem foi para o baile, afinal não era o baile de formatura dela, e sim o dele. Ele se perguntou se era por isso que ela não foi, por causa dele. Ele não podia culpá-la, ele fez o primeiro ano dela um inferno, com pegadinhas e tudo, ela também não deixou barato, pois como sempre, eles tinham o placar empate.

Agora ele estava olhando para ela como mulher, e não como a garota de quatorze anos do ensino médio, e poxa, ela é linda, mesmo ela sendo - hiperbolicamente falando - sua arquinimiga, ele tinha que admitir que ela se tornou uma mulher linda, absolutamente estonteante. Este ano por algum motivo ela decidiu não usar franja como ela sempre usou desde que ele a conhecia, e caiu bem. O vestido que ela estava usando esta noite era de fazer qualquer um salivar.

— Srta. Prentiss- um senhor que tinha idade para ser o pai de Emily chegou interrompendo a conversa dos dois- gostaria de dançar?

— Gerald, tanta formalidade não combina com você.- ela falou sorrindo colocando a bebida na mesa e rapidamente seguindo para o homem mais velho.

O homem virou para Aaron.

— Com licença, cavalheiro, mas essa dama agora me pertence.

— Oh, por favor! Eu não era dele minuto atrás.- ela falou revirando os olhos.- Nos vemos na entrevista ao vivo?- ela lançou olhando por cima do ombro.

— Está marcando um encontro?- ele disse com um sorriso que era típico dele, provocativo.

Ela revirou os olhos.

— Não, e espero que nunca tenha o infortúnio de experimentar um com você.

— Eu penso o mesmo, querida.

Argh. Ela odeia o modo como ele faz seus nervos ferverem.

Quando eles estavam se afastando ele a ouviu dizer "o quanto você já bebeu, Gerald?"

...

— Eleitores de Washington DC,- começa a apresentadora- é com muito prazer que mais uma vez eu digo isso ao vivo: Washington DC é o 51° Estado dos EUA, e este ano teremos nossa primeira eleição para Senadores e Deputados. Posso ouvir aplausos?

Foi aprovado o projeto de lei para tornar Washington, DC, o 51º estado dos EUA. Por isso os cidadãos de Washington estão tão animados para as eleições esse ano, e todos os Senadores e Deputados estão sobre escrutínio, os eleitores são exigentes, eles querem bons políticos governando agora o novo Estado. À vista disso, a competição para eleger o 8 deputados está sendo acirrada, e quem melhor para competir do que os Prentiss e os Hotchner?

— Estamos aqui com os nossos queridinhos de Washington DC, a filha de Elizabeth Prentiss, Emily Prentiss- a câmera foca nela e ela acena sorrindo - e o filho de Craig Hotchner, Aaron Hotchner- ele sorrir encantadoramente para câmera.

O povo sabia sobre "as diferenças" que as duas famílias tinham, isso é um eufemismo, uma palavra bonita para dizer que eles se odiavam, por isso todos os programas em que os dois estavam juntos gerava muito audiência.

Era mais um jogo duro entre os Prentiss e os Hotchner.

— Então, meus queridos, como vocês se sentem ajudando seus pais nessa primeira eleição?- ela olhou para os dois e Aaron e Emily se encararam.

— Primeiros as damas.- Aaron disse.

— Ele não é adorável meninas? Como vocês ainda não agarram ele?- a apresentadora bajulou.

Emily deu um sorriso político, para os telespectadores parecia um sorriso educado, mas Aaron sabia que provavelmente ela o queria estripá-lo ali mesmo.

— Obrigada, cavalheiro.- Aaron piscou para ela e ela resistiu a vontade de revirar os olhos para a provocação dele- Sabe, Jane, em primeiro lugar, é muito gratificante poder apoiar minha mãe em algo tão importante para a carreira e para vida dela. E ver as proposta dela para esse novo Estado, fico orgulhosa dela, e assim como ela me inspira, eu quero que ela inspire tantas outras mulheres a serem fortes e destemidas.

Ao ver como Emily falava de sua mãe e o seu plano para Washington DC, algo como ciúmes queimou nele. Elizabeth Prentiss parecia realmente ter uma causa, e que tinha amor por isso. Emily falava de um jeito tão apaixonado, ela realmente parecia orgulhosa de sua mãe. Diferente do seu pai que parece não ter causa porque lutar além de si mesmo e seu ego. Aaron gostaria de ter essa paixão assim para falar de seu pai.

Mas, - algo coçou em seu cérebro - esse brilho no olhar contrita com o que ela disse no bar há algumas semanas. " Eu odeio política", que foi que ele também disse por alguma razão que ele não sabe dizer, por que ele evidenciaria tal coisa a ela? Voltando ao ponto, por que ela diria que odeia política e falaria da campanha de sua mãe com amor?

— Aaron?- Jane, a apresentadora tirou Aaron de seus devaneios.

— Primeiro, estou muito feliz porque isso fez com que aumentasse meus seguidores no Twitter e Instagram.- ele deu um grande sorriso- Eu estou brincando,- ele deu outro sorriso cegante- Eu me sinto muito feliz em ajudar meu pai nisso, é importante para mim, e quando estou o ajudando nisso, sinto que estou ajudando em algo muito maior, ajudando o povo, porque acredito no trabalho dele.

Com certeza ele é um idiota presunçoso que só pensa em poder e dinheiro, porque como alguém que está desde cedo na política, como ela, conhece um comentário político. E esse claramente foi, Aaron Hotchner não tem amor por uma causa, ele e sua família só pensam na glória.

— Emily, vejo que você e sua família e todos que acompanham de sua mãe defendem a mulher e o direito delas. Vocês realmente se esforçam para dá voz as mulheres.

— Sim, sim. Nós mulheres somos subestimadas, principalmente na política. Eu não faço parte da soma dos políticos de Washington, mas eu a faço. Minha mãe faz parte desse mundo, e ela é um exemplo, ela me ensinou a lutar, e acredito que possamos fazer com que outras mulheres lutem também.

— Bem, o que ela te ensinou sobre o aborto?- ela podia ver a malícia em sua voz- É uma linha tênue para muitas mulheres, por que você não dá uma luz para as telespetadoras que te assistem hoje?

Filho da mãe!

Ela sabe que nesse exato momento a equipe da campanha de Craig Hotchner está publicando anonimamente sobre o aborto que ela fez quando tinha quinze anos. E se não hoje, eles publicariam em alguns dias e se ela falar que é contra o aborto, eles jogaram isso na cara dela e ela vai chafurdar junto com a campanha da sua mãe. E caso ela fale que é a favor, ela vai receber muitas cartas com ameaças de morte de fanáticos religiosos.

Cacete!

Ela se preparou para essa bomba, ela sabia que eventualmente ela iria explodir. E agora que explodiu ela não sabe o que fazer e o que falar. Ela só queria chorar. Caramba, Hotchner! Por que vocês têm que serem tão sujo?

— Eu como mulher não tenho direito de falar o que outra deve fazer com seu corpo.

Bom isso foi bom.

— E o que você faria com o seu?- ele perguntou conspiratoriamente.

Não. Não. Não. Não!

Merda, Aaron! Por que você tem que ter tanta ganância? Seu porco maldito.

— Eu teria que analisar todas as nuances.

— Como gravidez na adolescência, estupro...?

Por favor, Aaron, para! Era o que ela queria gritar. Por que ele tinha que ser tão baixo?

Merda! Aaron gritou internamente. Ele não pensou nisso até agora, e se ela tivesse sido estuprada? O que ele fez? Ele mesmo tinha esqueletos no armário que não queria que fossem descoberto. Ele também já cometeu erros estúpidos! E por que ele a está despindo ela 705.749 milhões de habitantes?

— Sim, são fatores a considerar.

Nesse momento ela sabe que pôs a corda no pescoço e se enforcou. O que mais ela poderia dizer.

...

Depois que ela se enforcou ao vivo, ela foi procurar um buraco para pular dentro e não sair nunca mais. Ela só queria chorar, mas ela tinha que segurar as lágrimas até que ela estivesse no conforto de seu quarto. Ela se afastou o mais rápido que pôde do set de gravação, foi difícil achar um lugar tranquilo.

Por que a política tem que ser tão miserável? Por que sua mãe não escolheu outra ambição? Por que ela não escolheu a aplicação da lei? CIA, FBI, promotoria, advocacia... tantas opções e ela acabou por optar pela maldita política! E com isso, ela acabou ferrando sua vida.

Emily massageava as têmporas quando ouviu uma voz atrás dela chamá-la.

— Emily.

Ela se virou com um olhar furioso, desejando poder queimá-lo vivo. O que mais ele queria dela?

— Aaron, - ela falou com os dentes cerrados- eu aprendi a não gostar de você muito antes de eu aprender a andar, mas eu sempre fiz um esforço para permanecer no mesmo local que você sem ter que explodir sua cabeça. Mas agora, - ela fechou os olhos para se concentrar nas palavras e não em toda raiva que estava queimando no seu corpo- eu não suporto olhar para você.- ela fechou os olhos e não pôde evitar uma lágrimas cair. Ela limpou rapidamente.- Olhar para você me enoja, está no mesmo local com você me faz querer cortar os pulsos.

Ele sentiu seu estômago embrulhar ao ver o quão triste ela estava por trás de toda essa raiva.

— Eu sinto muito.- ele disse tão baixo que ela quase não escutou.

— Você sente sente muito?!- ela não acreditou nos seus ouvidos - Ah, me sinto muito melhor agora que eu sei que você sente muito!- ela fez uma pequena pausa para enxugar outra lágrima traiçoeira - Eu tinha 15 anos, Aaron, 15 anos. Eu cometi o que foi provavelmente a maior estupidez da minha vida e você usa isso para vender a campanha do seu pai?! Você sabe que ele vai se eleger de qualquer maneira, vão ser oito deputados, oito! Não tinha a necessidade de você fazer isso.

— É assim que jogamos, Emily, sempre foi assim entre nossas famílias. Você também faria o mesmo.

Ela lhe deu um olhar ainda mais mortal.

— Cale a merda da sua boca, Aaron. Não me compare a você, eu nunca faria algo tão baixo com você!

— Exceto que você já fez.- ele acusou.

— Não, não, não! Eu joguei coisas pequenas, coisas que prejudicaria você superficialmente para mídia, mal entedidos que logo você resolveria com uma coletiva. Esse é o pior de mim, Aaron, essa é minha bagagem mais pesada, a razão de eu abominar meu reflexo no espelho.

Ela fez uma pausa para respirar e recuperar sua postura, ela deixou transparecer muita coisa e você não pode mostrar- se fraca para um Hotchner.

— Eu sei qual é o seu pior.- Ela falou e ela pode jurar que o viu estremecer por um segundo- No seu segundo ano de faculdade você teve uma overdose e você quase morreu.

Ele baixou o olhar e ficou encarando o chão. Ele piscou os olhos para afastar a imunidade dos olhos.

— Dois meses depois você tentou suicídio- a voz dela falhou- e seus pais internaram você em uma instituição privada. Eu não deixei publicarem isso, você não tinha nada a ver com a disputa dos nossos pais, eles estão competindo, não nós. Eu só conseguia imaginar o quão triste e solitário foi para você. Eu não queria desenterrar isso, porque são suas bagagens e só você tem o direito de abrir. Por que você não pôde fazer isso por mim? Você tem algum sentimento em você além do ódio?

— Emily...

— Some da minha frente, Aaron.

Aaron teve sua cota de vacilos nos seus longos anos de vida na terra, ele sabe disso. Ele sabe que já fez muitas estupidez, mas não como ele fez hoje. Hoje ele brincou com sentimentos de alguém, como ele pôde fazer isso? Ele a jogou para os leões e ela foi gravemente ferida. Agora ele sabe que ela não é a mulher congelada por dentro como ele pensava que era, e mesmo se fosse, que direito ele tinha para fazer tal coisa. São os sentimentos dela, a bagagem dela.

Quando ele se deixou levar a esse ponto ? Quando ele se tornou um político? Quando ele se tornou seu pai?

Ele se esforçou tanto para não morrer como seu pai, ele fugiu disso com tudo de si. Mas parece que nadar contra a correnteza o cansou, ele apenas se deixou levar.

Ela considerou os sentimentos dele mesmo achando que ele era um porco.

Mas ele não considerou os dela.

Como ele vai consertar isso?

 


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