Briarieu e as novas Lendas escrita por Reni123


Capítulo 2
A 13ª Cadeira




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Fazia uma manhã clara e radiante de sol. Os raios de luz dourada encontraram Madame Birdy em seus amplos aposentos, aproveitando uma xícara de chá. 

Era já uma senhora de seus setenta anos. Mas que transparecia vigor e juventude em postura e gestos. Na referida manhã, ela encontrava-se vestindo seu terninho violeta e um casquete de mesma cor. Sob o blazer aveludado um símbolo que lembrava uma libélula de jade presa ao crescente lunar prateado: o emblema do Conselho de Bruxaria.

Algunas leves pancadas na porta.

—Entre- Mandou Birdy sem sequer virar o rosto. Seus felinos olhos verdes miravam a brilhante construção que era o palácio real, reluzindo em ouro e branco sob o sol do amanhecer. 

—Madame, seu coche chegou- 

—Naturalmente. Com sete minutos de atraso- Murmurou ela, pegando sua velha bengala de mogno (acessório que ela usava apenas por gosto) e saindo do quarto.

A sede onde funcionava o conselho era um palacete de cerca de cinco andares, com centenas de janelas que permitiam a entrada de luz. Dois jardins, um frontal e um traseiro, uma escadaria que dava nas portas da frente e, hasteada antes da escada, uma bandeira púrpura com o mesmo emblema que Birdy usava no peito.

—Bom dia madame- Cumprimentou o cocheiro enquanto baixava a escadinha. Birdy limitou-se a fazer um aceno de cabeça. Ocupou seu lugar. O homem sentou-se a boleia. O transporte não tinha cavalos. Mas, graças as modernidades arduamente alcançadas pelos alquimistas, a mobilização acontecia por um sistema conhecido como "Linhas de Plasma". 

Tais linhas circundavam todo o país. As ruas das grandes capitais eram entrecortadas por elas, que, magicamente conectadas, conseguiam guiar qualquer um para seu destino. 

Atrás de todos os coches, havia uma espécie de poste, encimada por um cristal de um verde vitreo e reluzente. Esse cristal, ao ser acionado pelo cocheiro, reagia as linhas de plasma e colocava o coche em movimento. O mesmo não tinha nada além de uma única roda, encaixada perfeitamente no vão das linhas de plasma, que não permitia ao meio de transporte, perder o equilibrio. Assim, bastava o cocheiro desenhar o trajeto em um pequeno painel e acionar o cristal. 

A viagem não durou mais do que cinco minutos. Logo, Birdy estava diante do castelo do rei Rupert.

—Avisarei que chegou senhora. Se lhe agrada, pode esperar na recepção privada- Disse a chefe dos Mordomos, uma mocinha magra, com grossas tranças cor de trigo, quando Birdy adentrou o grande hall de mármore com colunas douradas e um bonita carpete azul-marinho.

Birdy tomou o pequeno elevador que conduzia aos aposentos do Rei. Feito exclusivamente para visitas pessoais do mesmo.

Seis andares depois. Estava ela diante de um largo corredor de mármore, cujas paredes eram adornadas com figuras de flores e pequenas fadas. Birdy torceu o lábio. 

A recepção privada do rei era uma sala pouco menor que a recepção, e decorada de maneira mais minimalista. Salvo os relevos pintados de branco nas paredes, os móveis eram de ébano evernizado e contava com duas grandes estantes, nas quais constavam as leituras favoritas de Sua Majestade. Alguns tratavam de política, outros de religião, história da magia, etc.

A Chefe dos Mordomos regressou. Birdy mal acabara de sentar em um divã.

—Sua Majestade pede que entre agora-

Os aposentos efetivos do Rei, não seu quarto de dormir, era uma grande biblioteca, com troféus e adornos de caça nas paredes e um aroma fresco de pinho, uma larga varanda permitia a entrada da luz solar e a visão ampla da capital. O privilégio que só o Rei tinha, de olhar tudo de cima. Sob uma mesa redonda de metal, farto desjejum, já razoavelmente consumido, esperava.

Rupert, apesar da idade, era um homem alto, de pele escura, cabelos anelados e pretos, onde já começavam a surgir alguns fios branco, assim como na barba. Tinha um porte atlético e os modos graciosos. Quando Birdy entrou, ele olhava distraído, um painel virtual com as noticias do dia.

Sentada a sua frente estava uma mulher, tão bela quanto ele, ruiva, com as faces rosadas em forma de coração e grandes olhos verde água. Vestia um roupão de seda, tão delgado que nada escondia, mas também nada mostrava.

Birdy tentou conter um sorrisinho maldoso. Aquela mulher era a segunda esposa de Rupert, madrasta do príncipe herdeiro. Seu nome era Lisandra.

—Majestades. Lamento se os incomodo na intimidade de seu desjejum-

Rupert desligou o painel.

—Incomodo nenhum, madame. É sempre um prazer recebê-la- O tom de voz da rainha, embora meigo e aveludado não era isento de uma certa frieza.

—Nos acompanha ?- Rupert apontou a mesa.

—Estou bem, obrigada- Birdy ergueu uma mão a guisa de tranqüilizá-los.

—Mas então...O que a traz ao palácio tão cedo ?- O Rei se servia de um pouco de café forte.

—Há um assunto de certa importância que quero tratar com você-

Neste momento a rainha se pôs de pé.

—Lisandra?- Rupert ergueu uma sobrancelha..

—Deixarei que discutam esses assuntos a sós. Além do mais, lembrei que tenho um compromisso-

No instante em que Lisandra passava por ela, Birdy, fazendo uma rápida mesura disse;

—Que jóia mais singela, Majestade-

A rainha parou de chofre. Levou a mão ao busto onde um cordão rudimentar, prendia uma pedra com aspecto semelhante a opala e que tinha um curioso entalho no meio.

—Essa coisinha simples ? Uma herança de família. Uso por afeição-

—Naturalmente- Birdy sorriu, mas o gesto não teve a retribuição da rainha, que limitou-se a se virar e a sair.

Birdy esperou o clique da porta ao fechar.

—Criatura simpática sua nova esposa- Disse, sentando-se no lugar ocupado por Lisandra.

—Quando ela quer, é sim- O rei reabrira o painel virtual com as noticias.

—Você a ama ?-

—Com quadris como aqueles, não tenho como odiá-la-

—Sabe do que estou falando Rupert-

—Eu gosto dela. Isso basta ?-

—Para a estabilidade política de seu reino ? Acredito que não- Birdy fez um aceno displicente com a mão. O bule de chá ergueu-se alguns centímetros no ar e serviu uma das xícaras limpas que estavam na mesa. A mesma voou um pouco antes de pousar, fumegando, diante de Birdy.

—Como ela está lidando com suas...Escapadas?-

Rupert voltou a fechar o painel. Suspirou.

—Você não veio aqui só para falar da minha vida intima, veio ?-

—Meu querido, você é um rei. Nada que diga respeito a você é intimo-

Rupert suspirou de novo.

—Acredito que saiba, mas não é como se ela não tivesse os casos dela. E eu sinceramente não me importo-

—Fogo trocado não dói. Já diziam os mais velhos- Birdy assoprou o chá e bebeu um gole. –Não entendo como alguém tão sábio como você foi tão imprudente na escolha de uma nova mulher. O que ela é ? Modelo ? Alguma herdeira de família rica ? Ou só um rostinho bonito que você quis ao seu lado na cama ?-

—Algo entre herdeira e um rostinho bonito-

—Foi uma escolha ruim, Rupert. Muito ruim. Se comparada com o que foi Míriam...-

Rupert ficou em silêncio. Birdy sabia bem o porque. O sofrimento do rei fora grande quando sua primeira rainha falecera da chamada “febre do deserto”.

 -Mas você disse que tinha algo a discutir, o que era ?- O tom de voz de Rupert sugeria que o primeiro assunto estava devidamente encerrado.

Birdy se empertigou na cadeira antes de começar;

—Lembra-se do décimo terceiro assento ?-

—Aquela cadeira amaldiçoada que ninguém queria ocupar ? Lembro-

—Bem... Surgiu uma ocupante-

O silêncio que se fez no aposento poderia ser cortado por uma faca.

—Como assim...?-

—O estigma maldito que mantinha a décima terceira cadeira desapareceu assim que ela chegou. A décima terceira bruxa está entre nós-

—Quem é...?-

— Maya Todesblume-

—A Bruxa da Floresta da Morte? Mas Birdy... Só o nome dessa mulher ainda causa tremores nos veteranos da guerra...-

—Estou bem ciente disso. Por isso mesmo que vim procurá-lo antes-

—Para que eu tome providências contra isso?-

—Para convencê-lo a deixá-la ficar-

Outro silêncio.

—Deixá-la ficar... Birdy você sabe os boatos que rondam a existência dessa mulher...-

—Sei todas as histórias Rupert. Inclusive adoro aquela em que ela come crianças numa casa feita de doces. Mas o real motivo pelo qual eu a quero perto é justsamente para manter esse reino seguro-

—Continue-

—Maya é poderosíssima, há conhecimentos nela que nem eu possuo. Quer mesmo ter uma criatura assim como inimiga ?-

—Então... “Mantenha os amigos perto. Os inimigos mais perto ainda”?-

—Eu não a chamaria de minha inimiga. Mas sim, seria um cuidado a se tomar...-

Rupert ficou quieto. Tinha a expressão pensativa.

—Eu vou pensar sobre isso. Até depois de amanhã lhe dou uma resposta-

—Como queira- Birdy pousou a xícara e se levantou. Fez uma mesura e deixou a sala.

O corredor, felizmente ainda estava vazio. Ela caminhou alguns passos em direção ao elevador;

—Ninguém lhe ensinou que é feio ficar espionando as pessoas ?- Disse, sem se virar.

—Achou que não tinha percebido- Uma voz de mulher, mais alegre e jovial soou a suas costas.

—Maya- Birdy virou-se para ela. Era uma mulher alta, com farta cabeleira cor de cobre. Olhos de um azul profundo e com vivida sagacidade. Trajava um vestido longo verde e as mãos,  trazia enluvadas.

—Eu tenho mais tempo nos caminhos da Arte Sagrada do que você, minha cara, no dia em que não perceber alguém me seguindo, estarei morta-

—E por que permitiu, então, minha querida irmã ?- As bruxas tratavam assim umas as outras.

—Achei que um passeio por esse reino lhe faria bem- As duas adentraram o elevador.

—Reparei na rainha quando saiu. Parecia apressada e segurava algo no busto- Disse Maya.

—Uma pedra da água com um entalhe rúnico. Algo muito suspeito para uma rainha usar-

—Uma pedra da água... Ora, ora, ora. Só não me recordo o que significa o entalhe rúnico.

O elevador parou no grande hall.

—Você se lembra que a Água, como um dos elementos fundamentais que moldou esse universo está atrelada a emoção, subjetividade e espiritualidade. As águas fluem entre os mundos como rios infinitos, ora, um entalhe rúnico é um nome mágico de algum elemento ou coisa. Uma pedra da água com entalhe rúnico, basicamente serve para controlar espíritos- 


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