beyond death | the originals escrita por majestyas


Capítulo 2
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New Orleans está agitada como sempre. O barulho da festa que não tem fim está me irritando um pouquinho mais essa noite. Já não basta aquelas bruxas — no pior e também literal sentido da palavra — deixarem um presentinho na porta da minha casa. Bom, pobre do vampiro que eu enfeiticei para pegar aquela droga e levar para longe.

Dirijo rumo ao bayou, esperando alguma distração em Jared. Hoje é dia de Fogueira Grega, então os lobos devem estar de bom humor.

Em um segundo de desatenção, quase acerto um idiota dançando no meio da rua. Definitivamente as ruas cheias me dão nos nervos.

E como aqui é New Orleans do Outro Lado, todas as pessoas que enchem as ruas da badalada cidade são seres sobrenaturais. Aqui, podemos ser quem realmente somos. E isso é tão extremamente caótico.

Acelero pelas ruas, sem me preocupar em acertar alguém. Todos já estão mortos mesmo. Mas ao passar por uma rua mais tranquila, avisto duas figuras que conheço bem... E ao mesmo tempo nunca vi na vida.

— Oh, meu Deus — arfo, parando o carro e saindo imediatamente.

— O que aconteceu? — ouço Elijah questionar para o irmão.

Chamo a atenção deles me aproximando depressa. Não demorará para alguém cruzar nosso caminho e isso não será nada bom.

— Olá? — falo, mas não sei exatamente como continuar — vocês sabem onde estão?

— New Orleans — Niklaus responde, sem nem olhar para mim, como se eu não merecesse sua atenção. Céus, como isso é dolorosamente familiar — mas não a certa.

— Não. É o Outro Lado — respondo, ficando perto o suficiente para ser propriamente notada.

Os dois se entreolham e finalmente me encaram. As caras surpresas seriam engraçadas se eu não tivesse visto um punhado de vezes antes.

— Davina? — suspiro com o questionamento de Elijah.

— Ellenore Claire — me apresento — Davina é minha descendente.

— Sua duplicada — comenta Niklaus. É, Senhor Óbvio.

— A natureza achou que Dav pudesse trazer algum equilíbrio a minha existência — sorrio — mas as Claire pendem para o caos.

— Se você tem uma duplicata, quer dizer que era imortal. Como veio parar aqui? — Niklaus é bem curioso, noto.

— Você ficaria surpreso até onde a inveja e ganância levam as pessoas — respondo vagamente.

— Não realmente — ele sussurra.

Desvio o olhar do dele, incomodada com sua intensidade.

— Pode nos dizer onde podemos encontrar Hayley Marshall? — Elijah pergunta.

— Ela vai pirar quando ver vocês — sorrio novamente — ela está no bayou, vamos.

— Podemos ir até lá sem você — rebate Niklaus, provavelmente pelo simples prazer de ser desagradável.

— Tem coisas que vocês não sabem. Esse lugar não é o paraíso do Lado Original. Comigo estarão seguros.

— Lado Original? — questiona.

— Precisamos ir — recuo até meu carro, sabendo que nossa sorte não vai durar muito.

E a aparição de um vampiro mostra que ela acabou.

— Ora, ora, se não é a pária e... — ele olha para os Originais — os Mikaelson. Nossa, isso vai enlouquecer os outros.

— Perdão, eu conheço você? — Elijah diz, aparentemente educado. Mas sua postura implica uma ameaça não dita clara.

— Não, mas todo mundo conhece vocês. E logo vocês vão se juntar aos seus pais — o desgraçado sorri.

— Nossos... — interrompo Niklaus, apontando minhas mãos para o vampiro, separando seus membros e colocando fogo, como fiz outras milhares de vezes.

— Nós precisamos sair daqui agora — repito pela última vez, entrando no meu carro, já sem paciência.

— Vamos deixar o corpo assim? Aqui? — Elijah pergunta, mas começa a se mexer. Niklaus vem atrás dele.

— Nessa New Orleans, corpos pela cidade é algo comum — aviso.

Conheço os pântanos escuros repletos de árvores ciprestes bem o suficiente para não me perder. O acampamento dos lobos é um ponto chamativo no meio da vegetação. Todos a comando de Jackson e Hayley, talvez uma centena de lobisomens que morreram em New Orleans nas mais variadas épocas e agora estão reunidos aqui.

— Mesmo após a morte, eles ainda preferem morar aqui? — Niklaus comenta, olhando com superioridade para a paisagem.

— É a área deles — dou de ombros. Assim como as bruxas tem a delas e os vampiros a deles.

— Você é amiga dos lobisomens? Uma bruxa, amiga de lobisomens? — Niklaus me questiona. Travo a mandíbula, incomodada com sua curiosidade.

— Talvez ela não queira falar sobre isso, irmão — comenta Elijah. Olhando pelo retrovisor, percebo seu olhar avaliativo em mim.

— Estamos chegando — anuncio, aliviada.

— Espero que isso não seja uma armadilha, se não...

— O que vai fazer? Me matar? — interrompo Niklaus, rindo — já fizeram isso. Tudo que você pode fazer é ser mais agradecido por quem salvou sua bunda.

É a vez dele rir.

— Ninguém salva a bunda de Niklaus Mikaelson — ele retruca.

— Ótimo, estou na companhia de um egocêntrico — suspiro. Desta vez, ele não responde.

Estaciono o carro e saio, indo de encontro com a movimentação animada.

— Ei, Hay, olhe o que eu trouxe da cidade para você — grito, chamando a atenção da Rainha Loba, que está conversando com Jackson.

— Espero que seja uma grande... — ela para de falar quando vê os Mikaelson. Sua face é o mais puro choque.

— Não tão doce quanto torta, eu sei — sorrio, observando ela correr até os dois e ajunta-los para abraçá-los de uma vez.

Jackson fica ao meu lado, observando a cena com desgosto.

— Ótimo — ele resmunga, parecendo pensar em mil formas de acabar com a felicidade deles.

— Vamos com calma, cowboy — imito Gianna.

Os Mikaelson se separam, parecendo todos emocionados. Desvio o olhar, é um momento deles. Dou meia volta e procuro Jared em meio aos lobos animados. A Fogueira Grega acontece com certa frequência, sendo um evento para comemorar... bom, nada especialmente, só eles estarem unidos. Dura dias e é banhada de bebida, sexo selvagem e diversão. Hayley já me fez ficar uma vez, mas não consegui nem duas horas aguentando os olhares tortos e parti. Mas foi nesse dia em que conheci Jared. Ele foi legal comigo e nos pegamos na floresta, então estabelecemos uma relação. Quer dizer, não sei se posso chamar de relação. Mas uma coisa.

Acho Jared em uma roda particularmente barulhenta. Aceno para ele, que demora uns segundos até sorrir. Está na cara que sua felicidade não é genuína. Isso me machuca mais do que eu gostaria de admitir.

— O que está fazendo aqui? — ele pergunta ao se aproximar.

— Não está feliz em me ver? — retruco, passando as mãos pelos seus braços musculosos.

— Eu não disse isso — não responde a pergunta. Ele então segura meu queixo e me beija. Rápido, feroz e impessoal.

— Vamos para sua cabana? — sugiro. Por que eu ainda tento?

— Talvez outro dia — encaro ele. Jared está me dispensando?

— Como é?

— Querida... — ele é tão suave, como se quisesse me ensinar algo — você não pertence a esse lugar, você sabe disso. Então, você vir aqui, em uma Fogueira... É só... Sem sentido. Meio desrespeitoso, até.

Um sentimento amargo toma conta de mim. Mordo a parte interna do meu lábio com força, segurando a vontade de chorar.

— Você sabe que eu faço isso para o seu bem, não? Estou te protegendo. Ninguém aqui gosta de você. Não quero que sejamos alvos de pessoas maldosas — ele continua.

— Eu não me importo — minto, forçando minha voz a não falhar.

— Eu sei — ele dá um sorriso — por isso que eu gosto de você. Você não se importa com ninguém além de si mesma.

Como alguém que gosta de mim pode dizer isso? É claro, eu e Jared não temos um amor profundo um pelo outro, mas... Se ele minimamente gosta de mim, deveria saber... Saber quem eu sou realmente.

— Acho melhor você ir agora — ele sorri condescendente, não esperando eu responder. Ele apenas virá-se e sai andando.

Fico uns segundos parada, observando ele voltar para sua roda de amigos.

Reuno todo o ódio que tenho e me viro, decidida a descontar minha raiva a noite inteira. De algum jeito, isso vai sair de mim.

— Ei, você já vai? — Hayley me pergunta, me parando na orla do acampamento.

— Por que eu ficaria? — retruco, sentindo meus olhos arderem.

— O que aconteceu? — ela segura meu braço com força.

— Só preciso ir para casa — murmuro, sem encará-la nos olhos.

— Alguém te tratou mal? É isso?  — ela abaixa o tom de voz. Gosto do jeito que ela é protetora comigo.

— Tudo bem por aqui? — Elijah se aproxima, avaliando nós duas atentamente.

— Sim — respondo rapidamente, olhando sugestivamente para o braço que Hayley segura. Ela me solta, mas ainda me olha séria.

— Volte aqui amanhã — ela pede, parecendo realmente preocupada — vamos conversar. Preciso agradecê-la.

— Você não precisa — nego, conseguindo esboçar um sorriso — faria o mesmo por mim, não faria?

— É claro — ela responde. Sinto honestidade dela. É bom para variar.

— Então é isso. Somos amigas e — sinto minha garganta fechar e sei que não vou conseguir dizer nem mais uma palavra. Aceno para Hayley e Elijah, sem encará-los. Corro até meu carro, entrando o mais rápido possível e mantendo minha cabeça abaixada até sair do bayou. Quando finalmente me permito chorar, uma represa parece se quebrar. É tanta lágrima que eu fico irritada. Por que eu não posso ser malditamente forte?

Estaciono o carro de qualquer jeito, entrando na mansão em passos largos e firmes. Por um minuto, o vazio me assusta.

— Enfim... só — murmuro, tentando me  convencer que estou satisfeita assim, indo até meu quarto e trocando de roupa, colocando algo mais confortável.

Vou até meu ateliê, onde não me preocupo em colocar um avental, apenas começando logo a pintar. Furiosa, agressiva e sem foco.

Minha obra é sombria e profunda, uma floresta escura e densa, com apenas uma pequena figura assustada no centro. Molho o dedo ao tocar na tinta fresca, que retrata tão bem a garota solitária.

Ela sou eu.


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Notas finais do capítulo

primeiro capítulo aaaaa

quem já odeia o Jared aí levanta a mão



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