we fell in love in october escrita por Martell


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores, aqui estou eu de novo com mais uma fic para esse projetinho maravilhoso chamado November Hinny.

A proposta dessa fic é um pouco (muito) diferente da anterior e eu estou um pouco nervosa com o resultado, mas foi uma delícia de escrever.

Espero que gostem tanto quanto eu gostei kkk

Boa leitura!



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I.

A primeira vez que aconteceu, Ginny achou mais engraçado do que irritante.

Harry era muitas coisas: linda, esperta, ótima escritora e uma jogadora de futebol espetacular; observadora, por outro lado, não. Ninguém poderia acusá-la de se meter nos assuntos dos outros porque na maior parte do tempo ela nem mesmo sabia o que estava acontecendo na sua própria vida.

Não que fosse estúpida ou algo do tipo, era uma das pessoas mais inteligentes que Ginny já conhecera, mas ao mesmo tempo, só descobrira que Lavender e Parvati estavam juntas ao receber o convite do casamento.

Então, a mágoa que sentira ao perceber que Harry não sabia que estavam namorando foi rapidamente substituída por afeição – tudo o que a morena fazia era adorável, até mesmo quando ela demonstrava capacidades de observação de uma porta.

Era um dia especialmente frio quando tivera uma das discussões mais ridículas de sua vida. Estava distraída, mais focada nos dedos longos da namorada passando por seu cabelo do que na conversa – monólogo, se fosse sincera, mas amava escutá-la contar sobre o dia, ou falar animadamente sobre os assuntos que gostava, até mesmo ouvir as reclamações sobre os pequenos incômodos cotidianos.

— … E aí Marietta começou a falar sobre Cho, como se eu fosse voltar a andar com ela, e esfregar nada discretamente na minha cara o quão solteira eu estava, o que, bem, pode ser verdade, mas ela não precisava ser tão rude sobre isso! – No final da frase estava tão empolgada em sua história que tirara as mãos do cabelo de Ginny e a despertou para o que estava dizendo.

Piscou os olhos algumas vezes para raciocinar o que havia escutado. Harry já estava reclamando de Padma e como ela havia criticado seu cabelo, claramente sem perceber a agitação que sua frase causara em Ginny. Sentou-se subitamente, assustando-a, e sem nem mesmo se importar em parecer grossa, a interrompeu no meio de sua tirada sobre as gêmeas Patil.

— Harry, – começou de maneira hesitante, mas alto o suficiente para fazer a mulher focar nela, – como assim você está solteira?

— Do que é que você está falando, Gin? – A outra parecia tão confusa quanto se sentia, o que tornava a situação ainda mais esquisita.

— Harry, nós estamos saindo faz dois meses.

Dessa vez fora a morena que precisara de alguns segundos para processar o que Ginny havia dito. Parecia uma cena de comédia ruim, mas as duas apenas ficaram se encarando, sem saber como proceder. Finalmente, Harry pareceu chegar a alguma conclusão, se o rosto corando em tempo recorde fosse alguma indicação.

Impaciente e ligeiramente irritada, continuou antes mesmo que ela pudesse falar alguma coisa que a magoasse ainda mais:

— Você achou que eu estava beijando a sua boca de brincadeirinha, Potter? – Agradeceu aos céus que sua voz estava firme, tentando ao máximo não demonstrar que estava realmente chateada. Esse não era o rumo que estava esperando que sua tarde fosse tomar.

— E-eu, eu não sei! – E até a ponta de suas orelhas estavam vermelhas, uma cena totalmente adorável que não deveria estar reparando, até porque estava brava com ela.

— Então, significa que tudo isso, – gesticulou fortemente entre as duas, sentadas uma de frente para a outra na cama de Harry, – tudo isso, foi coisa da minha cabeça?

E Deus, essa possibilidade doía de uma maneira que era incapaz de colocar em palavras. Depois de anos olhando a garota que gostava de longe, pensara que finalmente seus sentimentos haviam sido retribuídos, mas aparentemente não.

O silêncio de Harry era mais do que poderia suportar. Sentia-se estúpida e enganada, todas as noites que passaram juntas nada mais era que uma pequena distração para a outra, uma forma de passar o tempo – nunca imaginara que logo Harry a usaria dessa forma.

Decidiu que era melhor ir embora antes de passar pela humilhação de chorar na frente da amiga, mas antes que pudesse Harry exclamou:

— Então eu tinha uma namorada linda esse tempo todo e ninguém me contou?! Eu poderia ter esfregado na cara daquela sebosa da Marietta que estava com a mulher mais bonita de Hogwarts!

Agitada, Harry levantou-se e começou a andar de um lado para outro, exclamando como Ginny era perfeita e inteligente e porque estava perdendo o tempo dela com Harriet Potter de todas as pessoas? E será se seus pais sabiam também? Em uma velocidade tão rápida que sinceramente não estava conseguindo acompanhar. Suspirando, a puxou de volta para cama abruptamente, o que a fez se calar por alguns momentos, o suficiente para que pudesse colocar seus pensamentos em ordem.

Os olhos de Ginny estavam vermelhos e as lágrimas ainda ameaçavam cair, mas decidiu não se preocupar com isso no momento. Entrelaçando os dedos com os de Harry, decidiu apenas focar no fato de que não estava sendo rejeitada ainda e apenas respirar fundo, torcendo para que sua voz não estivesse trêmula.

— Harriet Lily Potter, não me diga que esse surto todo é porque você acha que o que? Eu sou muita areia pro seu caminhãozinho? – Foi incapaz de esconder a nota de incredulidade na sua voz, porque a outra estava sendo completamente absurda.

— Ginny, veja bem, – começou séria, olhando fixamente para as mãos entrelaçadas das duas, – se vamos fazer comparações, você precisa entender que enquanto eu sou um caminhão de brinquedo, você é o Saara, okay? Quando a gente ficou pela primeira vez, eu achei que sei lá, você tivesse decidido fazer caridade ou algo do tipo.

— Você está brincando com a minha cara? – Perguntou, temendo que a resposta seria não.

— Ginny, eu sou apaixonada por você, – e dessa vez os olhos de Harry queimavam nos seus, uma intensidade que a fazia se derreter toda vez que presenciava, – e eu simplesmente nunca pensei que você poderia sentir algo por mim, eu sinto muito se toda essa situação te machucou, mas eu só… você é você e eu sou apenas Harry.

E agora as duas estavam chorando feito as idiotas que não sabiam se comunicar que de fato eram. Soltando uma das mãos do aperto sufocante, delicadamente limpou as lágrimas que escorriam livremente pelo rosto de Harry. Seus olhos verdes pareciam ainda mais brilhantes e não deveria ser possível continuar tão bonita mesmo chorando, mas se dependesse de Ginny jamais pararia de encará-la.

Apenas Harry é a mulher mais forte que eu já conheci em toda a minha vida, linda, inteligente, carinhosa, corajosa, – começou, se odiando por ser tão ruim com palavras, – apenas Harry é uma amiga leal, compreensiva e divertida, – respirou fundo, segurou o rosto dela em suas mãos delicadamente, – e a pessoa que eu quero ter do meu lado para o resto da minha vida, romanticamente ou não.

— Eu te odeio por me fazer chorar Weasley, que droga, você sabe que eu odeio chorar.

E contrariando suas palavras, Harry a beijou. Não foi diferente das diversas que haviam se beijado antes. Era familiar: as mãos fortes apertando a sua cintura, os lábios macios continuavam os mesmos, assim como o gosto de café – o maior vício de Harry, adquirido com os anos de convivência com Hermione. Ao mesmo tempo, nunca havia sido tão intenso, todo o peso da conversa colocado nesse momento, e Ginny não sabia como havia passado tanto tempo da sua vida sem isso, mas agora seria impossível.

Separaram-se com dificuldade, Harry ainda de olhos fechados, parecendo ainda saborear a experiência. Dois meses se passaram e ela fazia isso todas as vezes, então ninguém poderia culpar Ginny por iniciar outro beijo, e outro, e outro, até as duas ficarem sem fôlego e com os cabelos tão bagunçados que pareciam ter passado no meio de um furacão.

— Então, namoradas, huh? Eu gosto do som disso, – Harry falou, um sorriso tímido em seus lábios vermelhos.

— Mesmo você não tendo notado que estávamos saindo a semanas, ser a sua namorada é tudo o que quero, – respondeu brincalhona, desviando do travesseiro que sua namorada jogou em sua direção.

— Cala boca, Gin, você sabe que eu não sou boa com indiretas, – e sim, ela estava fazendo beicinho como se não fosse uma mulher adulta e não era justo que fosse tão fofo.

— Eu te chamei para um piquenique romântico, no nosso canto especial perto do lago, a gente se deitou na grama olhando para as estrelas e eu disse que gostava de você e te beijei, – disse lentamente, apreciando o jeito que sua namorada ficava mais e mais vermelha enquanto enumerava o que achava que havia sido o primeiro encontro, – se eu fosse mais clichê o Nicholas Sparks me processaria por plágio.

— Eu só achei que você queria fazer algo legal para mim depois de todo aquele lance com a Cho surgindo das trevas para destruir a minha vida, okay? Como você esperava que eu fosse imaginar que estaria interessa por mim desse jeito?

E dessa vez foi Ginny quem jogou o travesseiro, acertando o rosto chocado de Harry, antes de começar uma guerra de cócegas que deixou as duas rindo cansadas, largadas em cima da cama da mais velha, se encarando com sorrisos bobos idênticos.

Não era o final dessa conversa e as duas precisavam trabalhar a insegurança de ambas, mas no momento estavam bem, felizes e era que importava.

II.

Quando aconteceu novamente, Ginny quase perdeu o seu réu primário por duplo homicídio qualificado.

Bem, talvez estivesse sendo um pouco dramática sobre toda a situação, mas alguém poderia julgá-la quando os melhores amigos de Harry insistiam em ficar apresentando novos e maravilhosos pretendentes para ela toda semana?

Ron ela conseguia entender, seu irmão sempre fora lento para entender pistas sociais simples – como a vez em que ele insistira que Ginny era a única LGBTQ+ da família, apenas para ser surpreendido duas semanas depois com o namoro de Percy com Oliver Wood. Para falar a verdade, também ficara surpresa, mas com o tempo notou que a personalidade ligeiramente maníaca dos dois combinava de maneira quase assustadora.

Hermione, por outro lado, era impensável. Não que ela tivesse uma quantidade exorbitante de inteligência emocional, mas como não havia notado que suas duas melhores amigas estavam namorando a alguns meses era um mistério.

Depois de todo o fiasco com Harry não percebendo que estava em um relacionamento, ela e Ginny acharam melhor ir mais devagar, desfrutando toda a experiência. Não pensaram que precisariam anunciar a novidade nem mudar o status no facebook, era tão óbvio que estavam apaixonadas que qualquer pessoa que estivesse em um ambiente com as duas notaria em menos de dez minutos.

Ou era o que haviam pensado. Pela forma como as coisas andavam, seus amigos tinham definições de relacionamentos platônicos um pouco diferente do convencional. Ginny tinha certeza que Ron havia visto a mão de Harry deslizando para áreas não seguras debaixo de seu vestido durante uma das noites de filme, mas aparentemente isso fazia delas apenas boas amigas.

E tudo isso trazia para esse momento, em que Hermione tentava convencer pela décima vez Harry a dar uma chance para uma de seus colegas, Takashi, que conhecera em um debate no seu curso de ciência política.

— … é professor de defesa pessoal, mas está terminando seu mestrado em astronomia e pretende aplicar para ser professor substituto aqui em Hogwarts. Harry, vocês se dariam tão bem, ele é tão educado e gentil e… – Ginny se forçou a parar de ouvir as inúmeras qualidades desse homem desconhecido, antes que se irritasse ainda mais com a amiga.

Mesmo com Harry insistindo que não estava interessada e que, sinceramente, já estava saindo com alguém, Hermione parecia totalmente desinteressada em suas desculpas, Harriet! Por que você não aceita conhecê-lo?

E então, foi ver a foto do tal Takashi no celular que a amiga sacudia quase como uma arma na cara de Harry e ficou sem fala por alguns segundos. O homem era lindo, uma montanha de músculos bem definidos, sorriso tímido, cabelo platinado destacando ainda mais o bronzeado saudável de sua pele.

Claro que sabia que sua namorada não ia pular na chance de deixá-la por um homem aleatório que nem mesmo conhecia, mas isso não impedia o incômodo de ver sua melhor amiga praticamente esfregar um espécime exemplar de figura masculina na cara de tal namorada, como se ela não estivesse do lado, observando tudo.

— Hermione, eu já disse mil vezes que estou em um relacionamento! Não vou conhecer seu amigo, não quero conhecer mais ninguém, que droga! – E essa era Harriet, alterando a voz pela primeira vez durante toda a conversa, os braços cruzados sobre o peito indicando que estava realmente incomodada com a surdez seletiva da amiga.

— Você não precisa mentir pra gente, – falou Ron do seu canto da sala, onde estava tentando ignorar a discussão, mas finalmente resolvera dar atenção para as três.

— Mentir sobre o que? – Harry agora estava confusa e fazendo o biquinho mais fofo. Ginny só queria se esticar para beijá-la, mas sabia o quanto a namorada não gostava de demonstrações de afeto em público.

— Inventar uma pessoa apenas para Hermione deixá-la em paz. Todo mundo sabe que você não saiu com ninguém desde Seamus, – respondeu, o tom de sua voz como se tivesse explicando o alfabeto para uma criança. – E amor, deixa a Harry em paz, se ela não quer sair com esse cara é direito dela também.

O olhar preocupado que Hermione lançou em sua direção fez Ginny perceber que estava vermelha de raiva, seus punhos se cerrando, pronta para pular em cima de Ron e esganá-lo com toda a força que possuía. Primeiro por ter lembrado sobre toda a situação com Seamus, que deixava tanto Harry quanto Ginny desconfortáveis, depois por afirmar, com toda a certeza do universo, que a amiga não estava namorando.

Depois de seu último relacionamento, Harry havia começado a pensar que ninguém a desejava de verdade, que era apenas uma pessoa que os outros ficavam pois era mais cômodo e simples. Claro que não se apaixonariam por ela, estavam apenas a usando como distração até encontrarem pessoas que realmente gostavam.

Seamus fora honesto e ninguém o culpava por como Harry havia reagido após o término, nem mesmo a própria Potter guardava algum tipo de ressentimento contra o ex, inclusive estavam tentando voltar a ser amigos até onde fora informada, mas não fora bonito ver a mulher que amava recolher os caquinhos de sua autoestima do chão e tentar reconstruí-la, pouco a pouco.

— Para a sua informação, Ronald, eu e Harry estamos namorando, – disse com a voz fria, contrastando com a raiva que emanava de todos os poros do seu corpo.

— Não precisa ficar defensiva, Gin, nós só queremos que Harry encontre alguém legal, – Hermione falou, tentando evitar a briga antes que começasse. Ginny apenas a olhou incrédula.

— Você escutou o que eu disse? Harry já encontrou “alguém legal”. Eu!— E apenas a mão da namorada segurando seu braço a impediu de sacudir Hermione até ela escutar qualquer uma das duas!

— Okay, Ginny, se você diz.

Mas dava para ver pelo tom de voz dela que não estava acreditando, que achava que estavam inventando desculpas para Harry não se envolver novamente. A discussão se estendeu, Harry e Ginny defendendo o relacionamento delas do ceticismo do outro casal. Quando Ron disse em tom debochado conta outra Gin, a gente sabe que Harry não está namorando, sério, pode parar com isso quase perdeu a compostura e se não fosse por o quão machucada Harry parecia, teria tentado arrancar as sardas do rosto do irmão com as unhas.

Isso estava a afetando. Havia dito com todas as letras que estavam em um relacionamento e simplesmente descartaram a noção, como se a ideia delas juntas fosse absurda demais para considerar, quase como se não pudessem estar apaixonadas e felizes.

Harry parecia estar seguindo uma linha de raciocínio parecida, se os ombros caídos eram algum sinal. Talvez estivesse pensando na forma que todos agiram como se ela não pudesse conhecer pessoas por conta própria após a decepção que tivera. Talvez estivesse voltando a pensar que Ginny era boa demais para estar com ela e por isso ninguém acreditava que estavam juntas.

Sabia que se passasse mais alguns segundos ao redor do outro casal, teria que explicar para a mãe porque ela tinha um filho e uma nora a menos, então se levantou sem olhar para ninguém além de Harry e sinalizou para irem embora.

Fingindo surdez seletiva, como aprendera com Hermione, ignorou os protestos dos dois e apenas os deixou na sala de estar da casa dos Weasley, onde muito provavelmente passariam o resto da noite reclamando da atitude das duas. Era melhor que o fizessem em um tom de voz baixo, já que Ginny estava a um passo de cometer um crime.

Guiando Harry para o seu quarto, deixou a namorada chorar em seu ombro durante horas, recontar todas as suas mágoas com a situação Seamus, a forma que as palavras dos amigos haviam mexido em feridas que nem sabia que tinha – Ron pensara que precisava inventar uma pessoa, já que certamente a pobre Harry não conseguia conhecer ninguém por conta própria. Claro que ninguém iria se interessar por Harry sem precisar ser empurrado para cima dela por seus amigos.

Secara as suas lágrimas, dera beijos por todo o seu rosto, passara a noite adorando cada pequeno detalhe de seu corpo, repetindo inúmeras vezes que a amava, o quanto era perfeita, recitando as inúmeras qualidades que possuía, tentando apagar o que acontecera de sua mente com pura e simples afeição.

E se Harry se recusara a falar com Ron e Hermione durante uma semana, bem, eles deram sorte que não estava se sentindo particularmente vingativa.

(Ninguém precisava contar a Harry que havia colocado aranhas de plástico em meio as roupas do irmão e escondido um ou dois – ou todos – os livros de advocacia de Hermione.)

III.

Uma vez é normal, duas é coincidência, mas três vezes é praga. Ginny não sabia o que fizera na vida passada, mas deveria ter sido algo como colar chiclete na cruz, pois não era possível que isso continuaria acontecendo com ela.

Harry havia sido convidada para a festa de Halloween da Lufa-Lufa, uma das quatro grandes repúblicas de Hogwarts. Desde seu infeliz namoro com Cedric havia se afastado dos amigos que fizera por causa dele, mas estava em uma longa jornada em reatar os laços perdidos. Ginny tinha muito orgulho da sua namorada e da forma como não se deixava abater por muito tempo.

Obviamente, estava indo como a acompanhante e haviam combinado as suas fantasias, como qualquer casal brega era propenso a fazer. Talvez as pessoas não tivessem entendido ela de Kim Possible e Harry de Shego, a inimiga da protagonista, mas qualquer pessoa que houvesse prestado atenção no desenho veria a tensão sexual entre as duas – ou pelo menos era o que havia dito para convencer a namorada, simplesmente porque não podia perder a oportunidade de vê-la como uma de suas paixonites de infância.

Agora lamentava essa escolha, já que se tivessem ido como um casal mais óbvio – Velma e Daphne era uma boa opção, mas provavelmente não entenderiam também – não teria que passar a noite dando fora em caras ligeiramente embriagados e ver a sua namorada ser chamada para “um lugar mais discreto” a cada 5 minutos pelos amigos do seu ex babaca.

Felizmente Cedric não havia comparecido a festa, ainda ocupado lambendo suas feridas após o fim do seu relacionamento catastrófico com Cho. Eles até tinham durado muito, considerando que ambos eram idiotas sem lealdade.

Depois de muitos minutos proveitosos com a namorada em um canto escuro da casa, estava observando Hannah Abbott e Susan Bones dançarem animadamente com uma relutante Harry, que a cada segundo se soltava mais entre as amigas. Tomando um gole da sua cerveja, deixou seus olhos correrem pela morena e apreciou como o catsuit verde e preto destacava cada uma de suas curvas maravilhosamente.

Tão distraída com a beleza de Harry não notou Neville tentando falar com ela por alguns segundos. O homem precisou bloquear sua visão da pista de dança para se dar conta de que estava o ignorando. Não que ele fosse julgar, já que estava encarando o trio com quase a mesma intensidade, o que tornou o início da conversa vaga e sem nada de importância, ambos distraídos.

— Não sabia que você viria para a festa, considerando, bem, tudo, – e gesticulou vagamente na direção de Hannah, que havia terminado com Neville a menos de um mês.

— Nós decidimos continuar amigos, – respondeu dando de ombros, como se não fosse tão importante sua namorada de dois anos ter acabado o relacionamento inesperadamente. Talvez não fosse para eles, ninguém sabia exatamente o que acontecia a menos que fizesse parte do casal.

E todo mundo achava que cedo ou tarde eles reatariam, mas não havia comentado nada do tipo para Neville ou Hannah. Eles pareciam bem o suficiente do jeito que as coisas estavam e ele havia vindo na festa organizada pela turma dela, continuava sua amizade com Susan que era inquestionavelmente a sombra de Hannah, a pesquisa que desenvolviam juntos não fora interrompida. Para todos os efeitos, nada havia mudado além de deixarem de se agarrar pelos cantos.

Continuaram a conversar sobre assuntos leves, os olhos nunca se desviando por muito tempo das mulheres dançando como se suas vidas dependessem disso – e o sorriso de Harry era uma das coisas mais bonitas que Ginny já havia visto, junto com os olhos de Harry e o cabelo de Harry e as covinhas no fim das costas de Harry...

— Você acha que ela me daria uma chance?

A voz hesitante de Neville a despertara mais uma vez. Ginny corou o mesmo tom de vermelho que seus cabelos, cruzando os dedos para que a má iluminação de onde estava disfarçasse e tomou mais um gole da cerveja, que já estava esquentando, para ganhar tempo. Sabia que havia bebido mais do que deveria se não conseguia passar dois minutos sem imaginar suas mãos traçando cada uma das sardas disfarçadas na pele escura da namorada.

— Quem? Hannah? – Perguntou mesmo sabendo que era a provável resposta, a menos que o loiro houvesse batido a cabeça recentemente e decidido que investir na melhor amiga da sua ex namorada era uma ótima ideia.

— Não, Harry.

 Seu pescoço quase quebrou com a velocidade em que virou para olhar para Neville. A sua teoria de que ele havia batido a cabeça apenas aumentava em credibilidade. A menos que ele não houvesse notado o pequeno detalhe de Harry estava comprometida. Com Ginny. A pessoa com quem ele estava falando sobre ter uma chance com Harry.

— Desculpa, Nev, mas eu e Harry estamos namorando, – disse timidamente, receosa em machucar o amigo que era sempre tão compreensivo e nunca pedia nada para si mesmo.

E ele riu. Olhou para a cara confusa de Ginny e apenas começou a rir de novo até perder o ar. Quando ela achava que ele iria parar – e Deus sabia que era melhor ele parar antes que ela o fizesse parar – ele apenas ria mais.

De todas as reações que esperava, o que incluía desapontamento ou desejo de felicidades ao casal, essa não era uma delas. Agora Ginny estava vermelha novamente, mas um misto de raiva e vergonha tomava conta de seu corpo. Ela contava que estava namorando para o amigo e ele ria?

— Acho que eu bebi demais, Gin, posso jurar que eu ouvi você falando que namorava Harry, – Neville disse, ainda sem fôlego de sua crise de riso.

— Foi exatamente o que eu disse, Longbottom.

O uso de seu sobrenome o fez se dar conta de que não estava brincando e dessa vez choque tomou conta de sua expressão. Ele olhou entre ela – séria e a um ponto de jogar a cerveja em cima dele – e Harry, dançando livremente com Hannah e Susan, seus olhos ficando cada vez mais largos.

— Você e Harry? Harry Potter? Nossa Harry? – E sua voz estava decididamente incrédula, até que ele soltou outra risada, dessa vez mais envergonhada, – conta outra, Ginny.

— Qual o problema de eu namorar Harry? – Disse mais alto do que o necessário e sentia suas mãos tremerem de raiva, – até dois minutos atrás você estava pronto para dar em cima dela.

— O problema não é você com Harry, não seja absurda, – começou como se fosse óbvio, o que de fato era, mas continuou no mesmo tom factual, – o problema é Harry...

E então ele se interrompeu, percebendo o que iria falar e corando um feio tom de vermelho – que aparentemente era perceptível mesmo com a péssima iluminação, mais uma notícia ruim para a sua noite. O problema não era Ginny namorar Harry, claro que não, a mais velha era simplesmente maravilhosa e qualquer pessoa com dois olhos e neurônios o suficiente para fazer sinapse conseguia ver. O problema era Harry namorar Ginny.

— Sem querer ofender, é claro, – se apressou a dizer em ver a cara furiosa da amiga, – eu só não imaginaria vocês juntas.

— E por que não, Neville? – Se ele percebeu a voz trêmula da ruiva, escolheu não comentar.

— É só que quando eu imagino alguém para Harry, sempre é alguém tão altruísta quanto ela, carinhoso, compreensivo e dedicado, que a coloque em primeiro lugar como, bem, a maioria das pessoas deixou de fazer por um motivo ou outro, – começou, sem saber que cada palavra era como um soco no estômago, – uma pessoa que cuide dela, a proteja. Eu conheço Harry a alguns anos, e eu sempre pensei que ela terminaria com alguém que a ajudasse a tirar o peso do mundo em seus ombros, alguém com quem ela poderia realmente contar, entende?

— E eu não sou essa pessoa.

Só então ele se deu conta de que havia basicamente a chamado de egoísta e incompreensiva, entre outras coisas nada agradáveis. Claro que ele não estava falando sobre ela especificamente, e sim sobre o parceiro ideal de Harry, mas a incredulidade de que esse poderia ser Ginny deixava bem claro o que ele achava sobre a ruiva, mesmo sem intenção.

— Não foi isso que eu quis dizer, Ginny, sim, as vezes você pode ser um pouco autocentrada, mas- – antes que ele pudesse se afundar ainda mais, foi interrompido por Harry animadamente se jogando em cima dele.

O sorriso do homem era radiante e dessa vez ele estava corando de maneira adorável, enquanto a sua amiga falava a mil por hora – claramente Harry também havia bebido demais e ainda estava energizada da dança. Quase como se houvesse esquecido do que estava conversando com Ginny, Neville colocou as mãos na cintura da morena e a puxou mais para perto de si quase involuntariamente, ainda focado nela, ignorando as outras pessoas ao seu redor, como se fossem insignificantes em comparação.

Não que pudesse culpa-lo, pois era assim que se sentia a maior parte do tempo ao redor da namorada. Harry, por sua vez, não via Neville a pelo menos um mês e estava empolgada com a presença do amigo, completamente alheia ao que estava acontecendo. Nenhuma dessas racionalizações impediram as lágrimas de raiva de descerem pelo rosto de Ginny.

Neville, doce, carinhoso e compreensivo Neville, rindo na sua cara, descartando a possibilidade de que alguém como Harry namoraria alguém como Ginny. Nunca pensara que o amigo poderia ser tão intencionalmente cruel ou ele realmente não havia acreditado nela, o que era ainda pior. Ela só queria ir para casa.

Parecendo perceber o desconforto de Ginny, Harry finalmente se soltou de Neville e veio abraça-la, o que aceitou imediatamente. Fechou os olhos e apenas se deixou respirar junto a namorada, apreciando o cheio do shampoo – algo cítrico que não sabia nomear – que exalava dos cachos bagunçados.

Sem precisar dizer nada, Harry entendeu que queria ir embora da festa. Despediu-se rapidamente de Neville e pediu para ele avisar a quem viesse a procurar que já estava saindo. Ginny nem mesmo se virou para o homem, ainda muito chateada com os acontecimentos da noite. E a fantasia de Rei Arthur dele era estúpida, então não estava perdendo nada em não o ver.

Segurou o choro no Uber e no caminho até o quarto de Harry, recebendo olhares cada vez mais preocupados da namorada. Quando finalmente se sentiu segura o suficiente, após tirar a maquiagem e vestir um pijama macio, deitada na cama confortável e com o braço segurando firmemente a cintura delicada da outra, só então se permitiu derrubar as lágrimas que tanto precisava.

Em sussurros contou os acontecimentos da noite – e a voz de Neville a chamando de autocentrada em looping em sua cabeça não a deixava esquecer o que aparentemente os seus amigos pensavam dela — sem esconder nenhum detalhe, se sentindo cada vez mais envergonhada a cada palavra que repetia.

E era difícil encarar que outras pessoas pensavam o mesmo que ela: não era e nunca seria boa o suficiente para Harry. Como poderia? Harry era iluminada, era impossível não sentir algo por ela, seja positivo ou negativo. Era o tipo de pessoa que todos notavam quando entrava em um quarto, não havia como ignorá-la. Inteligente e esforçada, uma amiga sempre disposta a largar tudo para ajudar quem quer que fosse. Além de ser linda, tão linda que sinceramente chocava Ginny as vezes.

Harry virou-se na cama, suas mãos largas segurando o rosto de Ginny como se ela fosse a coisa mais preciosa do universo. Em momentos como esse sentia que isso era verdade.

— Eu amo você, Ginny Weasley, porque você é gentil, carinhosa, uma amiga incrível que eu posso contar em todos os momentos, – murmurou suavemente contra a sua boca, olhos verdes queimando nos seus, ­– você é tão boa que parece impossível, não tem ninguém que eu preferia que estivesse do meu lado independentemente da situação.

Fechou os olhos quando sentiu os lábios macios tocarem os seus levemente, o hálito com o sabor de menta da pasta de dente invadindo os seus sentidos. Deixou Harry enxugar suas lágrimas e abraça-la com força, dando beijos suaves por todo o seu rosto.

­– Eu não sou uma boneca de porcelana e não preciso que ninguém me proteja e você foi a única que entendeu isso até agora. Eu também não sou uma tarefa na lista de agendas para ficar sendo checada e priorizada. Você tem sua vida, eu tenho a minha, a gente se respeita, respeita os nossos limites, e isso não faz com que eu te ame menos, okay?

E com o som das palavras de conforto de Harry, finalmente conseguiu relaxar o suficiente para dormir.

IV.

Depois de tanto tempo, ainda surpreendia Ginny que as pessoas, mesmo quando informadas diretamente do seu status de relacionamento, demoravam a entender que ela e Harry estavam juntas. Mas algumas vezes era simplesmente decepcionante. Essa era uma delas.

Harry a havia levado para o cinema e depois para um restaurante legal, não muito caro, mas chique o suficiente para comemorar os seis meses de namoro, com a promessa de mais um lugar especial para fechar a noite. O encontro estava indo bem, a mesa cobria o pé da morena subindo na perna de Ginny, o jantar parecia delicioso; o que poderia dar errado?

Em meio a sua apreciação da aparência da outra – os cachos de Harry estavam definidos, caindo por cima de seus ombros, as lente de contato permitiam uma visão melhor dos olhos verdes cercados por uma maquiagem leve, sua pele escura realçada pelo vestido branco que marcava suas curvas perfeitamente, curto o suficiente para deixar suas pernas, fortes de anos de futebol, se estenderem por quilômetros – não percebeu o intruso vindo em sua direção até que já estava sentado na mesa, quebrando todo o clima de romance para o casal.

Harry recolheu sua perna com tanta intensidade que bateu o joelho na mesa, fazendo todos os utensílios chacoalharem.

Não que poderia culpa-la, já que jogado pateticamente na cadeira que arrastara rudemente da mesa do lado, praticamente debruçado em cima da comida intocada das duas e quase derrubando a taça de vinho de Ginny, estava Remus Lupin, o “tio” de Harry.

No caso, ele era melhor amigo dos pais de Harry e passara mais tempo na companhia dela do que os tios de sangue. Assim como estivera em todos os seus momentos importantes e fora a primeira pessoa a quem contara sobre a sua bissexualidade, ganhando um lugar especial no coração de Harry e, por consequência, no de Ginny também.

Toda a raiva que sentia evaporou ao ver o homem no estado deplorável em que estava: o cabelo loiro escuro estava bagunçado, o lado esquerdo de seu rosto irritado como se houvesse levado um tapa e suas roupas claras manchadas com o que parecia ser suco de laranja, se o cheiro era alguma indicação. Lupin era bem mais perceptivo em situações normais, porém seus olhos de cachorrinho que caiu da mudança deixavam claro que seus problemas pessoais estavam nublando o seu julgamento para o fato de estar atrapalhando um encontro.

— Moony, o que aconteceu com você? – Exclamou Harry preocupada, estendendo a mão para tocar delicadamente na marca vermelha que se tornava cada vez mais visível na pele pálida do homem.

Claro que a preocupação imediata da morena seria entender o que havia acontecido com Remus e não lamentar o fato do jantar ter sido interrompido bruscamente, porque ela era doce e altruísta, pronta para largar tudo para ajudar quem quer que fosse. Mas não tinha problema, pois Ginny estava lamentando imensamente, tanto que contava pelas duas. Claro que se importava com os outros, mas ele não poderia ter escolhido outro dia para tomar banho de suco?

— Dora me trouxe aqui, onde nós tivemos nosso primeiro encontro, e contou que vamos ter um filho, – disse, com a voz trêmula e ligeiramente chorosa e Ginny desviou os olhos da cena esquisita. Não tinha o preparo emocional para consolar um homem quase com a idade do seu pai.

— Isso é uma notícia maravilhosa!

E de fato era, assim como o sorriso de Harry era maravilhoso e se a perspectiva de crianças catarrentas era o motivador da felicidade da namorada, Ginny estava pronta para forçar todos os que conhecia com capacidade reprodutiva a terem quantos bebês fosse necessário para manter o sorriso radiante no rosto de Harry permanentemente.

— Eu posso não ter reagido tão bem quanto ela esperava, – começou Remus, abaixando a cabeça e tocando o rosto, que realmente estava vermelho de um tapa, claramente envergonhado, – ela não ficou muito feliz comigo.

— Remus John Lupin, o que diabos você disse para a sua esposa?!

Harry também ficava linda quando furiosa. Seus olhos verdes ardiam, a intensidade pronta para queimar o primeiro desavisado que entrasse em sua frente e agora estavam direcionados para uma de suas figuras paternas. Seu rosto avermelhava de maneira deslumbrante e sua respiração furiosa mexia o seu corpo todo de uma maneira que realmente interessava Ginny.

Talvez a interrupção de Remus tenha valido a pena, pensou consigo mesma enquanto catalogava a expressão da namorada, mesmo que tenha sido totalmente inconveniente.

— Eu não sei, Harry, eu só... eu não posso ser um pai, entende? Já foi um absurdo uma mulher brilhante e com a vida toda pela frente como a Dora ter se casado com um homem do meu nível, agora um filho? Como que eu vou cuidar de uma criança, Harry?

Se ele achou que esse pequeno discurso iria aplacar a sua sobrinha postiça, estava além de enganado. Por um momento chegou a achar que ela iria tacar o seu vinho na cara dele, para combinar com a mancha laranja de sua roupa. Era quase absurdo o quão Ginny a achava atraente a ideia, mas nesses últimos meses havia chegado à conclusão que estava totalmente rendida.

— E o que você pretende fazer, ein? Abandonar sua esposa grávida? – A voz de Harry havia se elevado e as pessoas das outras mesas estavam começando a olhar na direção deles com cada vez mais frequência. Não que fosse notar, focada como estava em tacar fogo no homem apenas com os olhos.

— Não, claro que não! – Agora Remus havia entrado na defensiva e finalmente abandonado a expressão derrotada – É só que- – antes que conseguisse terminar de falar, Harry o cortou com um gesto rude.

— É só que o que? Você vai ser um covarde e deixar a Tonks cuidar sozinha dessa criança porque você tem uma ideia disfuncional de que é incapaz de ser pai? Que não merece a felicidade de ter uma família? – E parecia que cada palavra da mulher era um tapa na cara, deixando o outro cada vez mais atordoado. Respirando fundo, a feição furiosa de Harry se transformou em desapontada, – eu sinceramente esperava mais de você.

O silêncio da mesa era extremamente desconfortável, especialmente para Ginny que havia sido esquecida em algum momento desde que Remus chegara a mesa. Ainda estava ligeiramente irritada com o fim do seu jantar especial, mas sabia que esse momento era de grande importância para o rumo do relacionamento de outras pessoas. Não é a hora de ser autocentrada, Weasley.

Era difícil não ser egoísta, no entanto, e querer a atenção de Harry apenas para si. Não importava o quanto racionalizasse, parte dela esperava que o homem percebesse que havia interrompido um momento importante e resolvesse ir em um terapeuta para conversar sobre seus problemas em vez de jogá-los no colo de sua sobrinha e da namorada dela.

Enquanto deixava os outros dois se encarando – e era claro que Remus desviaria o olhar primeiro, ser teimoso estava na genética dos Potter – começou a comer o macarrão que, como pensara, estava uma delícia. Estaria aproveitando ainda mais se estivesse a sós com a namorada, porém já havia aceitado que o foco da noite era o possível abandono paterno.

O homem suspirou e colocou o rosto entre as mãos, claramente sem saber como prosseguir com a conversa. Harry, por sua vez, tinha um olhar de determinação fixo em seu rosto, misturado com a compaixão típica que fazia o coração de Ginny doer.

— Moony, você não é um homem ruim. Tonks te ama, ela te escolheu sabendo o quê e quem você era, ela escolheu ficar do seu lado e criar uma família. E você a ama, eu sei que sim.

— Esse é o problema – a voz de Remus continuava trêmula, abafada por sua posição e os olhos de Harry se tornaram ainda mais suaves e Ginny ia morrer qualquer dia desses com o quanto a amava – Dora me escolheu, mas e se ela se arrepender? E se ela acordar um dia e perceber que eu sou uma fraude, um péssimo pai, um péssimo marido, um velho cheio de doenças que mal consegue manter um emprego e que ela desperdiçou toda a sua juventude?

E esse foi o momento em que Ginny decidiu que era ela quem estava interrompendo um momento que em nada lhe dizia respeito. Tentou se levantar discretamente para ir no banheiro e foi aí que os outros ocupantes da mesa se deram conta de que ela estivera ali esse tempo todo. Congelada em uma posição meio sentada, meio em pé, claramente desconfortável, ponderou sobre o que deveria fazer.

Harry solucionou o problema a puxando para sentar de maneira nada delicada. Remus, que dois minutos atrás estava à beira das lágrimas, parecia tentar reconstruir sua compostura. Tarde demais, Senhor Lupin, pensou Ginny, sei mais sobre seus problemas de autoestima do que qualquer um de nós gostaria.

— Parece que eu atrapalhei o jantar de vocês, meninas – disse desconfortável, ainda sem conseguir olhar na direção da ruiva, – sinto muito, sei o quanto é constrangedor. Era sempre estranho quando a Senhora Potter interrompia eu, James e Sirius.

— Você, Sirius e meu pai?— Se a voz de Harry estava alguns tons mais agudos, não conseguia julgá-la. Aparentemente os marotos eram mais aventureiros do que havia imaginado.

— Sim, Harry, imagino que após todos esses anos você saiba que nós somos melhores amigos. – Remus estava definitivamente olhando estranho para o quase pânico das duas.

Melhores amigos. É claro que ele não havia notado o jantar definitivamente romântico, mesmo com as flores e as velas. Remus não sabia que havia interrompido um casal e por isso a comparação.

— Não é exatamente o mesmo, Moony, mas não tem problema, – disse Harry, segurando a mão de Ginny e dando um sorriso rápido em sua direção, – A gente não se importa, não é, amor? - Eu me importo, Ginny resmungou em voz baixa e levou um chute na canela.

— “Amor”? Desde quando você é tão carinhosa com seus amigos, Harry? Que eu lembre até ontem seu contato para Ron era “idiota” no celular.

— Obviamente com Gin é diferente, – respondeu revirando os olhos.

— Provavelmente, não é como se eu tivesse experiência com amizade entre garotas, – disse enquanto arrumava as suas roupas, tentando parecer apresentável. Não que fosse conseguir, a mancha de suco era realmente vibrante contra o suéter branco.

— Não é exatamente isso, Moony, Ginny é min- – Antes que pudesse terminar a frase, o homem se levantou da mesa, pronto para deixa-las a sós, e a interrompeu.

— Sim, sim, sua melhor amiga, eu sei Harry.

E agora ele estava revirando os olhos, como se não tivesse passado os últimos 20 minutos a beira de um ataque de ansiedade na mesa alheia. Se Ginny não estivesse ligeiramente preocupada com a situação como um todo, teria ficado chateada com o gesto.

— Bem, eu já vou indo. Aproveitem o jantar, crianças, – disse com mais ânimo do que expressara durante toda a conversa. Antes de sair, olhou questionador para as mãos das duas, – vocês não são velhas demais para ter anéis de amizade?

Não era possível que ele estivesse nesse nível de negação. Harry parecia a um segundo de começar a rir da cara que ele estava fazendo, as duas chocadas demais pela pergunta para conseguir responde-lo.

— Okay, não importa. Não vou continuar interrompendo a noite de vocês.

Ainda sem dizer nada, acenaram um tchau com a mão e esperaram ele sair do restaurante para começar a rir da feição confusa que o homem fizera. Anéis de amizade? Em que universo Remus Lupin estava? Sempre o achara tão inteligente, competente... nesse sentido, a noite fora um fracasso.

— Que tal nós terminarmos o nosso jantar, ­– começou Harry, o pé dela voltando a subir lentamente pela perna de Ginny, – e irmos reforçar nossos laços de amizade? Se você for rápida, eu tenho a surpresa maravilhosa te esperando na última parada da noite.

A perna continuou subindo e oh. Oh. Ginny nunca comeu tão rápido na sua vida.

V.

Ironicamente, foi apenas depois de terminarem que alguém pareceu se dar conta de que Ginny e Harry estavam namorando de fato.

Uma série de brigas bobas culminou em discussões maiores, onde usaram as inseguranças que haviam confidenciado em momentos de vulnerabilidade para machucar onde mais doía. Não conseguia lembrar de algo tão devastador quanto o rosto de Harry enquanto escutava mentiras cruéis, ditas com veneno o suficiente para realmente ferir. Da mesma forma, sentia cada palavra que saia da boca da morena como uma facada, um lembrete dos fantasmas pessoais que a perseguiam.

Tudo acabou em uma grande briga, com Ginny saindo furiosa da casa dos Potter e Harry gritando da sua janela para nunca mais procura-la. As duas não se viram por uma semana e qualquer um dos Weasley poderia atestar que nunca haviam visto a irmã tão triste. Segundo Hermione, Harry estava em um estado parecido. Segundo Ron, Harry estava escutando a playlist.

E era por isso que estava encarando o olhar furioso de Lily Evans-Potter, parada na frente da casa dos Potter descabelada e com uma roupa que usava a dois dias. Talvez desse ter pensado melhor antes de correr de casa sem nem mesmo parar para tomar um banho.

Lily era o epítome de mãe coruja, conseguindo ser ainda mais superprotetora que Molly Weasley.  Sempre deu todo o suporte que pode para a sua filha, não havia nada que a desse maior prazer do que a ver contente e estava disposta a fazer de tudo para protegê-la de tudo – e isso incluía expulsar Vernon Dursley de sua casa a vassouradas após ele insistir em chamar sua filha pelo pronome errado propositalmente durante o jantar de natal.

Ginny temia chegar em casa tendo que explicar para a sua mãe o seu novo medo de utensílios de limpeza.

Como esperava, o som da playlist de músicas românticas dos anos 70 aos 90 de Harry tocava no volume máximo, ecoando pela casa toda e indicando que muito provavelmente estava chorando agarrada ao seu cachorrinho de pelúcia que ganhara de Sirius quando fez um ano de idade. E pela cara de Lily, a ruiva mais velha sabia que era culpa de Ginny.

As únicas três vezes em que vira Harry nesse estado foram momentos em que gostaria de apagar da memória, pois era horrível ver a pessoa que mais amava no universo sofrendo sem poder fazer nada.

A primeira vez fora quando a sua namorada da época a rejeitara de maneira enfática e desrespeitosa por causa da transição – e deus sabe que se essa garota ousasse respirar perto de qualquer uma das pessoas que eram próximas de Harry não ia ter legislação que a impedisse de levar uma surra e Ginny estava mais do que disposta a ir para cadeia por massacrar Joanne.

A segunda fora quando o seu ex-namorado a traíra com uma das melhores amigas de Harry – e Cedric sempre parecera tão bom, incapaz de machucar uma mosca. Cho era uma das amigas mais próximas de Harry na época e desde que terminara com o homem insistia em tentar reatar a amizade, como se ela não tivesse passado um mês trocando saliva com Diggory escondida. Até hoje lembrava com carinho do olho roxo que dera de presente ao garoto.

Na terceira, e menos dolorosa das vezes, seu namorado de dois anos, Seamus, terminara, pois, percebeu que estava apaixonado por seu melhor amigo, Dean – que namorava Ginny na época. Fora uma confusão e afetou ambas de uma maneira que até hoje estavam tentando entender, mas ao mesmo tempo as aproximara. E se Ginny fechava os olhos que o aniversário de namoro dos dois era o mesmo dia em que Dean havia terminado com ela, quem poderia julgar?

— Então você é a responsável por deixar a minha princesinha nesse estado, Ginevra?

Assentiu, sem ter coragem para falar na frente da Sra. Potter. Ou talvez não tivesse energia para fazer algo além de concordar com a cabeça idiotamente. Durante todos os 10 minutos que passara entre decidir ir atrás de Harry e chegar na casa dos Potter, não havia pensado que teria que encarar os pais dela.

A Sra. Potter a olhou séria por mais um minuto, antes de suspirar e indicar que deveria entrar na casa. Ainda sem dizer nada, olhando fixamente para os seus pés – e em sua pressa correra descalça pelo asfalto quente – apenas a seguiu até a sala.

Sentou no sofá, se encolhendo quando Still Loving You começou a tocar ainda mais alto do que as músicas anteriores. Esperou calada enquanto a Sra. Potter trazia duas xicaras de chá da cozinha, junto com alguns biscoitos que eram seus favoritos.

— Você está vendo como a situação está trágica, – disse com sua voz suave, indicando o andar de cima com um gesto vago com a mão.

Ginny apenas concordou com a cabeça, sem saber se começaria a chorar ou não se tentasse falar. O que sentia ainda estava tão exposto, uma ferida aberta que passara uma semana jogando sal com seus pensamentos cada vez mais disfuncionais. Nem sabia porque haviam começado a brigar, apenas que não conseguiam parar e Harry era tão teimosa e Ginny era orgulhosa demais para voltar atrás. No fim, alguém tinha que ceder e em vez disso elas escolheram quebrar.

— Eu não tinha notado que vocês estavam juntas até ouvi-las brigando e Harry imediatamente se trancar no quarto e colocar a playlist, – continuou, dessa vez mais triste, – mas depois, juntando as peças, fica obvio que era você esse tempo todo. Ela estava mais feliz, sabe? Sempre foi uma criança tão melancólica, eu tive medo, durante muito tempo, que ela nunca fosse realmente feliz.

Com outro suspiro, tomou um gole de seu chá, seus olhos distantes, como se estivesse revendo uma pequena Harry sentado junto a seus soldadinhos de brinquedo. Ginny a conhecera desde sempre e era difícil associar a imagem da criança magrela, sempre preferindo o silêncio de seus poucos amigos às grandes brincadeiras com todas as outras crianças da rua, com a mulher radiante que ela era hoje em dia. Harry ainda preferia seus poucos amigos, é claro, mas havia um brilho nela que surgira com o tempo, capaz de afastar qualquer melancolia.

­– Eu queria estar brava, Ginny, mas eu nunca vi minha princesinha tão feliz quanto ela estava nesses últimos meses e eu sei que boa parte disso é graças a você, – completou com um sorriso sereno, um sorriso que Harry havia herdado.

Respirou fundo, segurando as lágrimas que queriam escorrer teimosamente. Harry estava feliz por sua causa e agora ela estava devastada, também por sua causa, e isso não deveria ser tão difícil. Ginny nunca fora a melhor em se expressar e tudo havia saído do controle e não era justo que amar alguém doesse tanto.

— Eu amo Harry, – disse trêmula, sua voz apenas um suspiro, quase inaudível, – mas as vezes parece que ninguém quer que eu a ame. Nem mesmo ela.

— Oh, querida, eu sinto muito, – com isso Lily Potter levantou-se de sua poltrona e veio abraça-la, passando os dedos por seu cabelo, tons mais claro que o da a mais velha. – De uma ruiva para outra, relacionamentos são complicados, querida, e sempre vão ser. Harry herdou toda a teimosia do pai e o quanto James tem de autoconfiança ela tem de insegurança, o que não é pouco, tem dias que eu não sei como conseguimos viver nessa casa com o tamanho do ego daquele homem.

Ambas deram uma risada, a de Ginny trêmula. As lágrimas finalmente começaram a cair sem sua permissão.

— Só amor nunca vai ser suficiente, mas se vocês trabalharem duro, em cima desse amor vocês conseguem construir a base para um bom relacionamento. Tem dias que vai parecer que é mais trabalhoso do que merece, mas se é algo que você realmente quer, com todo o seu coração, e não estiver machucando ninguém, vale a pena, – continuou baixinho, como se tivesse contando um segredo. Dando um beijo na sua testa, se afastou um pouco e limpou suas lágrimas. – De uma ruiva para outra, as vezes nós temos que engolir nosso orgulho e deixar certas coisas para trás. Parece impossível agora, mas com o tempo fica mais fácil, eu prometo.

Então ela se levantou e puxou Ginny junto, a mais nova quase tropeçando com a energia empregada pela Sra. Potter, que não pareceu nem um pouco envergonhada, e a empurrou em direção as escadas levemente.

— Vai lá, conversa com ela. Espero que tudo dê certo, porque se eu tiver que escutar Roxette mais um dia você vai se ver comigo, Weasley.

E era encorajador escutar o tom brincalhão e ver o sorriso no rosto de uma das mulheres mais assustadoras que já havia conhecido. Se Lily Evans-Potter a aprovava, nada além da própria Harry a faria desistir.

Subiu as escadas respirando fundo e tentando não parecer que estava chorando menos de um minuto atrás e então passou pelo menos mais cinco encarando a porta de Harry sem ter coragem de bater. Assim que começou o toque inicial de Listen to Your Heart, sabia que teria que entrar ou a Sra. Potter viria pessoalmente jogá-la dentro.

Sem nem mesmo anunciar a sua presença, girou a maçaneta e abriu a porta que, miraculosamente, não estava trancada. No quarto iluminado apenas por luz de led azul e agarrada ao seu cachorrinho de pelúcia estava Harry, olhando desconfiada para a porta, seus óculos tortos e aparentemente embaçados.

— Ginny? – Sussurrou, como se não acreditasse que estava realmente ali.

— Oi, amor, – disse, por força do hábito e viu Harry responder instintivamente com um sorriso, – está na hora da gente conversar.

Fechou a porta atrás de si e se preparou para as muitas lágrimas que viriam. Talvez amor não fosse o suficiente para manter um relacionamento, mas era o suficiente para fazê-la lutar por ele e tentar o máximo possível fazê-lo funcionar.

I.

ou aquela em que todos finalmente descobrem.

Depois de resolverem parte de seus problemas e voltarem, Harry e Ginny pareciam viver em um mundo único e exclusivo delas, onde nem mesmo o descrédito dos outros sobre o relacionamento conseguia as atingir.

Sinceramente, preferia que seu sangue se agitasse graças às pequenas surpresas de Harry do que em irritação com a capacidade intelectual das pessoas que a cercavam. Ainda era um trabalho em progresso.

Ao mesmo tempo, as coisas continuaram no ritmo normal. Harry começara a estudar mais profundamente a possibilidade de mudar de curso na faculdade, enquanto Ginny procurava oportunidades nos times de futebol nacionais.

Por sua vez, o time de futebol feminino da faculdade ia muito bem, Ginny assumindo como vice capitã, dando espaço para Harry se focar em sua carreira acadêmica, e as duas, como era de se esperar, dominavam o campo com maestria. Além do benefício de terem as chaves para o vestiário, realizando uma fantasia ou duas do tempo em que passara sofrendo pela Potter em silêncio.

No último jogo da temporada haviam convencido todos os amigos e família a comparecerem, sob ameaças em alguns casos – e até mesmo Percy veio, mais por causa da obsessão de Oliver com o esporte do que por qualquer apoio emocional para sua irmãzinha mais nova. As vezes parecia que o seu cunhado incentivava mais o seu sonho do que o próprio irmão, algo que não a surpreendia necessariamente, Percy sempre disse que deveriam arrumar empregos respeitáveis e jogar futebol não era um deles.

Como era de se esperar, James e Sirius estavam com seus rostos devidamente pintados de vermelho e dourado, gritando o nome de Harry antes mesmo dela entrar em campo, enquanto Remus segurava junto com Tonks, ambos mais radiantes do que nunca, cartazes com trocadilhos com o sobrenome Potter que ninguém mais conseguia entender.

O jogo fora absolutamente brutal, o time verde e preta tentando machucar seriamente as rivais, por nenhum motivo além de serem ruins em comparação. Já haviam feito de tudo para impedirem Harry de jogar, assim como faziam todos os anos, mas nenhuma de suas táticas de amedrontamento encobria o fato de que o time de Ginny era simplesmente superior.

E foi por isso que ganharam, Ginny marcando o gol da vitória pouco antes de acabar o segundo tempo. A torcida ficou histérica, os gritos de Fred e George rivalizavam os de James e Sirius, mas nada conseguia superar Lily Potter em seu orgulho por “sua princesinha”.

Todas as jogadoras do seu time a cercaram, mas ela só tinha olhos para Harry, que vinha correndo em sua direção com o sorriso radiante que fazia algo dentro de Ginny se aquecer. Se desvencilhando das outras, saiu em disparada para os braços de Harry. Nem mesmo pensou na cena clichê que faziam, preocupada demais em simplesmente se jogar em cima da namorada.

Essa, por sua vez, não perdeu tempo em abraça-la pela cintura e girá-la pelo campo, rindo e a parabenizando ao mesmo tempo. Em um movimento fluído a colocou no chão e a segurou firmemente contra o seu corpo, ao mesmo tempo em que Ginny jogou os braços sobre os seus ombros. O beijo era tão familiar que parecia quase uma dança.

Toda a torcida gritando, suas companheiras de time, o time rival, tudo isso desaparecera. Só existia ela e Harry, as mãos fortes segurando a sua cintura, a boca suave, sempre suave, a deixando sem fôlego. Enroscou os dedos na liga de cabelo que segurava as tranças de Harry e puxou, deixando o cabelo cair ao redor das duas como gostava.

O momento foi interrompido com Angelina e Katie jogando água de suas garrafas em cima delas, enquanto faziam piadas sobre “apagar o fogo”, trazendo-as de volta para a realidade de que estavam em um campo cercadas de centenas de pessoas. Harry, sempre mais receosa em demonstrar carinho em público, escondeu o rosto no pescoço de Ginny, que apenas riu e fez careta para as amigas.

— A quanto tempo isso está acontecendo e porque vocês não me contaram? – Exclamou Sirius, que havia invadido o campo junto aos clãs Potter e Weasley e agregados. O tom dramático e a feição cômica eram tão típicos que não fez nada além de infantilmente mostrar a língua para ele que, como o adulto responsável que era, apenas retribuiu o gesto.

— A alguns meses, pelo menos 8, – respondeu Luna calmamente, enquanto se soltava do namorado para vir abraça-las.

— Como você sabia, Luna? – Perguntou Harry, ligeiramente confusa.

— Era óbvio, é claro. Só precisei ver como Ginny te olhava e como você a olhava, era impossível não perceber.

E foi aí que Ginny começou a rir, ainda se segurando na namorada – e Luna não parecia ter problemas em abraçar as duas ao mesmo tempo, então ninguém a faria soltar de Harry a menos que fosse necessário. Bem, ninguém além da Sra. Potter.

— Era óbvio, não era? – Disse, ainda rindo, sendo seguida de Harry, que começou a rir baixinho enquanto lançava olhares significativos para Ron e Hermione, ambos parecendo finalmente entender o que estava acontecendo e relacionar com a pequena ceninha meses atrás.

Se Ginny não soubesse de um pedido de desculpas para Harry em 24 horas, recrutaria Fred e George para ensinar exatamente o porquê deveriam sempre acreditar na palavra da melhor amiga.

Foram chamadas pela treinadora para receber a taça e tirarem as fotos. Continuaram andando de mãos dadas, como sempre, mas dessa vez todos realmente entenderam o que o gesto realmente significava. Estava na hora, sinceramente.

Preferiram pular a festa de vitória, escolhendo descansar durante o resto do dia. Juntaram-se a família, caminhando em direção à saída conversando banalidades. Sirius reclamava em alto e bom som que ficaria de vela para dois Potter e duas ruivas, enquanto Tonks o chamava de encalhado.

Foi aí então que um Remus atordoado parou no meio do caminho e forçou todos a pararem também, olhando com confusão para a cena. Lentamente o homem olhou entre Harry e Ginny, parecendo ficar mais vermelho a cada segundo.

— Então não eram anéis de amizade?! – Exclamou.

Harry, como sempre, apenas revirou os olhos, enquanto Ginny ria livremente da vergonha que ele emanava em ondas, enquanto contava para os outros o motivo da pergunta. Sirius aproveitou a chance para perguntar a Tonks porque havia se casado com um idiota e os três mais velhos foram se atacando de maneira jocosa até chegarem no estacionamento.

Juntas dentro do carro dos Potter, de mãos dadas e contentes, apenas aproveitaram a presença uma da outra. Deitou a cabeça no ombro da namorada, que se virou quase que involuntariamente para dar um beijo em sua testa. Harry nem mesmo piscou com as piadas do padrinho, mais preocupada em traçar círculos distraídos na mão de Ginny.

Apesar dos riscos que estar com Harry apresentava para a sua saúde arterial – não havia nada que mexesse com ela como a morena, em todos os sentidos possíveis – não conseguia pensar em algum momento em que estivera tão feliz. Havia sido um dia interessante, para dizer no mínimo, e se tivesse lido corretamente o olhar que a namorada lançara no fim do jogo, ficaria ainda melhor.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Se quiserem deixar comentários e feedbacks eu ficaria muito, muito grata. E perdão por qualquer coisa, eu que revisei a história e as vezes a gente deixa uns errinhos passarem sem querer :(

Algumas considerações sobre Hinny aqui: Harry não gosta de demonstrações de afeto em público, normalmente, e Ginny respeita isso. Logo, a maioria das pessoas não as vê se beijando ou fazendo algo além de carinhos leves uma na outra. Ginny, por sua vez, sempre foi muito carinhosa com seus amigos, então não era impossível pensar que ela era apenas ainda mais carinhosa com Harry.

Também tem o fato de por muito tempo todo mundo andar em ovos ao redor de Harry sobre a sua vida amorosa. Tanto que criaram uma ideia sobre ela e sobre com quem ela se relacionaria, após tudo. O combo introvertida-quase-com-aversão-a-contato-físico Harry com extrovertida-moro-no-colo-dos-meus-amigos Ginny é um pouco inesperado nesse cenário.

Boa parte disso, também, é que eles estão mais acostumados em ver as duas namorando homens. Antes de Harry, Ginny nunca havia tido algo sério com outra mulher. Um pouco da vibe que mesmo eles sabendo que ambas eram bissexuais, a heterossexualidade compulsória afetou a maneira como reconheciam isso.

Bem, apenas alguns pensamentos que eu tive enquanto escrevia. Vou me despedir antes que isso fique maior que a história em si. Até a próxima!

Ps.: Perdão por fazer os personagens meio babacas, acabou acontecendo, mas eu amo todos os meu filhos, eu juro!



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