Amarelo escrita por fanstalk


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bommmm diaaaa, nenéns!

Essa é de longe uma história que eu queria publicar! Há alguns anos atrás eu vi essa teoria da Mulan trans e tenho até tenho um amigo que já fez uma história da mulan trans tendo um relacionamento à distância com o Shang lá no Spirit (@arielfhitz)!

Eu aproveitei bastante da minha vivência como pessoa trans (não-binárie) para escrever sobre o Frank e a teoria dele sobre a Mulan. Também pesquisei bastante para entender um pouco mais da vivência de pessoas amarelas, uma vez que sou preta.

Espero que gostem da one, ela é meu xodó!

LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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A terapeuta de Frank costumava dizer que Frank não estava em um padrão, e isso era porque ele costumava sair de padrões que a sociedade frequentemente o impunha. Sendo um sino-canadense, a pressão constantemente preenchia muitos espaços de sua vida sem a devida permissão, mas apesar de toda aquela pressão baseada no “mito da minoria modelo”, Frank não tinha muita coisa a reclamar de sua vida.

Até sua mãe morrer.

Se algum dia houvesse uma palavra que pudesse expressar muito mais do sentimento destruidor que era o luto, Frank começaria a usá-la. Porque foi muito difícil, e pareceu mais difícil ainda quando Frank se descobriu LGBT.

Porque a sua mãe estava morta e algo dentro dele dizia que ela nunca pôde conhecer o filho de verdade, o Frank de verdade.

Um pouco antes de sua mãe morrer, Frank ainda não tinha certeza da sua real identidade, mas quase cinco meses depois que ela se foi, Frank percebeu que era um garoto trans heterossexual. Ele deixou para contar isso no túmulo de sua mãe, e desde que ela se fora, parecia que toda novidade trazia um arrependimento e o luto de não ter podido contar para a mãe sobre pequenos detalhes. Que se foda que ela era oficial do serviço militar canadense, mais uma vez brancos roubavam um pouco mais do que ele tinha.

Ele foi até a sepultura da mãe e contou o que estava engasgado em sua garganta, e foi terrivelmente solitário quando ele não sentiu mais a presença da mãe ali, ou a expectativa de um abraço, um sorriso ou palavras acolhedores, quando ele apenas ouviu o silêncio. Frank chegou tarde naquele dia, mesmo que estivesse nevando lá fora.

“O que foi?” sua avó perguntou quando ele entrou em casa, o corpo grande se chocando contra a avó mirrada como se ela fosse a última coisa a qual ele poderia se agarrar.

Frank não disse uma palavra, só continuou chorando no colo da avó que fazia carinho em seu cabelo ainda grande e dizia que ela estava ali por ele, que sempre estaria, e que não se guardava lágrimas dentro de si ou acabaríamos afogados no próprio sentimento.

Frank viu a cara de sua avó preocupada com o neto chorando no colo, com o neto quase sem ar de tanto chorar, com o neto sufocado num sentimento desconhecido.

A avó perguntou de novo.

“O que houve?”

Frank olhou para ela. Sua avó era sua única família agora, ele queria poder contar, mas só a abraçou com medo e desespero.

“Não me deixe. Nunca. Por favor.”

“Nunca.” Disse.

(...)

No dia seguinte, sua avó fazia doces chineses para ele no café da manhã e perguntava se estava tudo bem. Bem... Do jeito dela. A avó de Frank era o tipo de mulher que não mostrava muitos sentimentos na expressão facial, Frank não a culpava, sabia que ela provavelmente absorveu muito mais do sentimento anti-asiático do que ele já havia recebido. A avó tinha adotado um método de tentar conservar tudo da cultura chinesa que conseguisse como escudo, por isso quase sempre aparentava ser conservadora ou distante. Mas ela nem chegava perto disso, a avó de Frank era a personificação do ditado: “nem tudo é o que parece”. E tudo bem.

“Está melhor, yuè?” ela se referiu a Frank pelo apelido quando ele entrou na cozinha.

Frank assentiu.

“Fiquei preocupada com você ontem.” Ela incitou a conversa.

Frank assentiu mais uma vez.

“O que está acontecendo? Você não é assim, yuè... O que está errado?”

Frank balançou a cabeça, um sinal claro de que sim, tudo estava errado, mas ele não queria incomodar. Ele fora ensinado a não incomodar os outros com seus próprios problemas, ele estava tentando mudar isso, mas aquele não era o dia.

“Diga, por favor.” A avó chegou mais perto. “Diga para sua zǔfù, yuè, por favor.”

“Tem algo a ver com ontem? Com a forma que você chegou em casa?” A avó se desesperou. Ela não costumava se desesperar, mas Frank sabia que a morte da única filha fez com que sua inexpressão se fragilizasse com mais frequência agora.

Frank não pôde evitar se sentir mal vendo sua avó daquele jeito. E ele não podia ficar calado por mais tempo, não quando seu coração quebrava só de imaginar o que se passava na cabeça de sua avó.

“Eu fui no túmulo da mamãe ontem.” Ele disse sem olhar para o rosto da idosa. “Eu me apresentei.”

“Apresentar?” foi o que sua avó quis saber. Frank assentiu, sua garganta estava fechada e ele não sabia se conseguiria dizer, porque ele havia tentado dizer antes, ele havia tido oportunidades para dizer antes, mas parecia que sua garganta fechava e ele nunca conseguia falar o que era com palavras.

A avó de Frank fez carinho em seu queixo, e depois em sua bochecha, os dedos engelhados fazendo com que seus rostos ficassem à mesma altura. Frank viu nos olhos de sua avó que ele conseguiria falar, sua avó estava lhe prometendo, dizendo que tudo ficaria bem.

“Então, vó....” começou.

A avó o olhou atentamente.

“Você pode me chamar de Frank?”

Ela parou por um instante.

“Frank? Por que ‘Frank’?”

“Vovó... Eu sou um garoto.” Frank sussurrou, o rosto caindo novamente onde o olhar de sua avó não pudesse lhe julgar. Frank não queria ser rejeitado, não por alguém tão especial quanto sua avó.

“Um garoto... chamado Frank?” ela perguntou. Sua avó soava longe, mas dessa vez não era ela que estava se isolando, era Frank. Ele estava se isolando do momento com o máximo de forças que conseguia.

“Mas, querid-, querido... Frank é um nome tão....?” E o silêncio.

“Tão....” Frank só esperava que não soasse transfóbico, por favor, não.

“Tão...” tentou de novo. “Tão... Branco!”

“Branco.” Frank falou marcado. Ele levantou a cabeça rápido e pôde ver que a avó não estava mais tão perto, mas que parecia estar lidando com a situação, lidando de uma maneira que não deixasse Frank se sentindo mal. Isso o fez se sentir a porra do garoto mais sortudo do mundo, sua avó conservadora o estava aceitando.

“Branco.” A avó pontuou de novo “Querid-, querido, Frank é um nome branco, você pode se manter com esse, claro, o nome que sua mãe te deu também é, mas eu tinha um nome chinês para você, um que fazia par e aí eu não precisava ter que fala-lo.”

Frank a encarou, um sorriso no rosto, porque sim, sua avó o estava aceitando.

“Você quer me sugerir outro nome?”

Sua avó o encarou afiada, mas ainda tinha o humor nos lábios.

“Não outro nome, um nome chinês.”

“E qual seria?”

Demorou cinco minutos, Frank estava no meio do seu café da manhã quando veio.

“Fai.” Ela disse.

“O quê?”

“Seu nome chinês: Fai.” Ela o encarou como se ousasse lhe desafiar “Fai Zhang é sonoro, poderoso e, ouso dizer, auspicioso.”

E Frank sorriu. Frank Fai Zhang era perfeito.

“Eu gosto.” Frank disse.

“E deveria gostar de comer mais também!” Sua vó ralhou com o olhar maternal “Chora a noite toda, não janta, não lancha e agora já está passando da hora do café da manhã, coma seu café da manhã, Fai!”

E isso fez Frank comer tudo o que sua avó colocava no prato com um sorriso gigantesco. Vindo dos dois.

(...)

Bem, as coisas começaram bem, mas aos poucos, Frank pôde perceber que a cabeça de sua avó fritava toda vez que ia falar com ele, talvez fosse a voz, ou o fato de que fosse apenas um pouco mais complicado para a mente de uma senhora chinesa e idosa compreender que o neto adolescente e sino-canadense era um garoto trans.

Ela constantemente trocava algumas informações, e às vezes reproduzia uma fala transfóbica, mesmo sem ser uma pessoa transfóbica, era apenas algo enraizado na geração dela, o que Frank entendia que era muito mais difícil de se notar numa visão interna.

Mas mesmo assim incomodava.

Frank tentava corrigir, a avó de Frank tentava absorver, mas algumas coisas eram frequentemente esquecidas ou reproduzidas sem intenção de agredir ou invisibilizar alguém. Toda vez que Frank perguntava como isso poderia ainda estar acontecendo, sua avó vinha com a mesma conversa.

“Fai, eu sou uma mulher velha, algumas novas informações sempre acabam esquecidas, mas eu juro, meu querido, eu nunca faria nada que intencionalmente te machucasse, você é meu yuè.” Ela dizia.

E Frank acreditava, mas deveria haver uma outra maneira de fazer com que ela entendesse.

E foi numa tarde, enquanto checava algumas redes sociais, que ele viu a ideia surgir. As pessoas nas redes sociais estavam popularizando a ideia de criar headcanons, aqueles pequenos fatos que nunca foram confirmados por uma fonte oficial, mas que na sua cabeça faz o mais completo sentido. Frank primeiro viu uma postagem sobre a Elsa de Frozen ser lésbica, depois apareceu a Merida de Valente sendo dita como assexual arromântica por algum internauta, e aí veio o Peter Parker, mais conhecido como Homem-Aranha, uma teoria que realmente criava links entre a vivência do Peter com a vivência de um homem trans, e fazia muito sentido, e Frank havia adorado o fato de que a postagem dizia que o Peter admirava o Capitão América porque o Capitão América também era um homem trans.

Em algum momento, Frank viu uma enxurrada de postagens na internet que explicavam vários personagens de antigamente ou dos dias de hoje sendo LGBTs em mais de um headcanon, e parecia fazer sentido para pessoas além dele, para pessoas de outras subcomunidades da grande comunidade LGBT. E fora da comunidade LGBT também. Frank particularmente gostou de um comentário.

@HazzLevesque: eu e meu meio-irmão temos uma prima trans e como eu passei a vida estudando em conservatório de freiras, eu não conseguia entender o conceito sem reproduzir algumas coisas ruins sem querer! Quando eu vi a teoria sobre a Cinderela trans, pareceu muito mais fácil de compreender tudo! ISSO SALVA VIDAS!

E foi isso que fez Frank começar a sua própria teoria. Uma teoria que também alcançasse a sua avó. Talvez sua avó não se sentisse tão tocada com Cinderela, mas tinha uma história que com certeza a tocaria.

E foi assim que ele passou a noite inteira escrevendo e roteirizando algumas informações antes de finalmente postar no Reddit e esperar que chegasse em outras redes sociais, que pudesse causar um impacto positivo e as respostas pudessem fazer muitas pessoas abrirem os olhos.

(...)

Uma hora depois que Frank postou no Reddit, ele decidiu postar no Twitter e no Tumblr e esperar mais um pouco. Ele queria que chegasse para muitas pessoas.

Uma semana depois que ele havia compartilhado tudo nas suas redes sociais, ele finalmente resolveu mostrar para a sua avó os resultados, ele só esperava que funcionasse como havia previsto.

“ Zǔfù?” Frank chamou por ela descendo as escadas e a buscando pelo andar de baixo da casa.

“Estou na cozinha, Fai.” Ela gritou.

Frank a encontrou cortando legumes para o jantar.

“Yuè, o que foi?” ela perguntou sem tirar os olhos da tarefa e quase rindo pela afobação do neto.

“Sabe quando a senhora fala que não quer me ofender, mas que sempre acaba falando algo que pode ser preconceituoso?”

“Oh, yuè, perdoe sua zǔfù, eu realmente não quero te ver triste, é só que às vezes sai sem querer.”

“Eu sei, zǔfù... Eu sei.”

“Você está bravo.” Ela disse parando a tarefa e se virando para o neto.

“Não estou, juro, eu acho que encontrei algo que possa facilitar seu entendimento.”

“Se for coisas novas, você sabe, eu já não tenho a memória de antes, e não quero te decepcionar de novo.”

“Mas, zǔfù, é algo novo sobre algo velho. Você vai entender.” Frank insistiu “Por favor, zǔfù, por mim.”

A avó de Frank suspirou.

“E quando eu conseguiria ir contra você, yuè.”

Frank fez com que ela se sentasse enquanto ele abria o computador e mostrava sua postagem no Reddit, onde teve mais acessos. 

“Essa daqui é uma rede social chamada “Reddit”, funciona como um fórum, essa foi uma publicação que eu fiz há alguns dias atrás. Em alguns fóruns, eu vi algumas teorias de alguns personagens clássicos de histórias infantis como pessoas LGBTs como eu.”

A avó de Frank sorriu.

“E onde isso vai me levar?”

“Bom... Algumas pessoas comentaram que essas teorias ajudam a compreender pessoas LGBTs, mesmo não sendo LGBT. E eu pensei... Talvez ajudasse a senhora.”

“Você vai me mostrar teorias da chapeuzinho vermelho gay?”

Frank riu.

“Quase, zǔfù, quase.” Ele disse “Tem essa história chinesa que a senhora me contava toda vez que eu ia dormir... Eu sempre me identifiquei com ela, e agora a senhora vai entender um pouco mais da minha vivência através dela.”

“Que história, Fai?” ela perguntou arqueando as sobrancelhas escuras e finas.

“Eu vou apertar o play e aí a senhora vê.”

Frank apertou o play.

E de repente Frank estava na tela, usando uma blusa branca por cima de um antigo agasalho vermelho que lembrava um kimono quando amarrado.

“Oi, eu sou Frank, um garoto trans e hoje eu vou te explicar porque a Mulan é uma pessoa trans.” Ele sorria para a câmera empolgado “Antes de começarmos a teoria, tem algumas informações que você precisa saber!”

A cena mudou para uma tela preta onde eram adicionadas imagens e números para ajudar na explicação das informações.

“Primeiro de tudo, Mulan é uma lenda chinesa que fala sobre uma aldeã vista como mulher decide ir para guerra no lugar de seu pai machucado, ela acaba se disfarçando de soldado e mesmo tendo sua identidade comprometida, Mulan vence a guerra, recebe os agradecimentos do imperador e volta para casa onde faz as pazes com a sua família. É uma história contada de pai para filho para mostrar como a verdade, força, coragem e família são pilares essenciais para a sociedade. Segunda coisa, as pessoas trans podem ser binárias, ou seja, homem ou mulher, mas também podem ser pessoas não-binárias, ou seja, que se identificam com gêneros diferentes ou além do masculino e feminino. Nessa teoria, a Mulan é uma pessoa bigênero, ou seja, não-binária.”

A tela ficou azul.

“Aqui vão algumas coisas sobre pessoas bigênero!” uma bandeira com faixas rosa, amarela e branco apareceu no canto da tela “Uma pessoa bigênero é aquela que se identifica com dois gêneros, esses gêneros não necessariamente incluem ser homem e/ou mulher, porque já conversamos que há uma infinidade de gêneros. Então, as pessoas bigênero podem sempre ter ambos os gêneros ao mesmo tempo, sem fluidez ou mudança na intensidade, ter um gênero de cada vez, ou sentir mudanças na intensidade de gênero entre outras combinações.” Frank sussurra para o vídeo “ter os dois gêneros, mas algumas vezes um deles está mais forte ou fraco também pode acontecer, é isso que chamamos de ‘mudança de intensidade e fluidez.”

A tela ficou branca e Frank apareceu caminhando em direção à câmera.

“Agora você já está pronto para entender a teoria da Mulan trans! Espero que entenda e deixe dúvidas e reações aí nos comentários!”

A tela ficou preta novamente e a explicação começou com várias imagens e montagens aparecendo para auxiliar na compreensão do vídeo.

“Essa teoria é apenas uma teoria, não fiquem bravos por causa disso, ela ser trans não muda em nada no curso da história, é apenas um detalhe que faria muitas pessoas trans se sentirem um pouco mais confortáveis na sociedade, principalmente sendo uma pessoa de origem asiática, coisa que dificilmente exploram por aí. Enfim, a Mulan ser bigênero nessa teoria implica que ela se identifica como homem e mulher alternadamente e com intensidades diferentes. É muito possível que, como a maioria dos não-binários que fluem de gênero ou que se identifiquem com mais de um gênero, ela tenha maior intensidade no gênero que foi assinalada ao nascimento do que o outro gênero, assim ela pode coincidentemente ter tido um pico de mudança de intensidade quando as pessoas começaram a ver ela também como um homem.” Ele explica.

“Por ter sido há muito tempo atrás e ser de uma aldeia pequena, Mulan nunca teve a oportunidade de experienciar ser chamada por outro pronome ou ser identificada por outro gênero, durante essa aventura, com todos a identificando como um homem, aquele momento pode ter sido crucial para que ela também se entendesse como homem.”

“Temos alguns apetrechos na comunidade trans que nos deixa mais passáveis para a sociedade se isso nos deixa desconfortáveis, eles são o binder e o packer, nas histórias e no filme feito pela Disney, a Mulan usa o binder. O binder é como uma espécie de top que prende os seios e os deixam com aspecto reto, antigamente era feito com fitas apertadas ao corpo. Isso pode mostrar que quando a intensidade de seu gênero masculino aumenta, Mulan sente mais disforia de gênero. Por isso, ela pulava banhos e quando ia banhar, era afastada de todos e rapidamente recolocando o binder.”

“Além disso, a história de Mulan fala sobre ser verdadeiro consigo mesmo para alcançar seus objetivos, é só quando Mulan admite ser ela mesma, sem mentir uma outra identidade, que ela consegue salvar o império chinês. Além disso, Mulan sofre transfobia no exército quando mesmo ainda se identificando como homem, o exército a expulsa por achar que ela é apenas uma mulher. E pode ser que a aceitação de ser uma pessoa bigênero tenha feito com que a intensidade do gênero feminino em Mulan aumentasse. Então continua a ser uma história sobre uma mulher forte salvando a China.  A diferença é que essa mulher é uma pessoa bigênero. Nada da história real foi alterada, assim como uma mulher trans continuar sendo uma mulher e um homem trans continuar sendo um homem.”

A imagem voltou para Frank.

“Compartilhem isso nas redes sociais e espalhe mais empatia no mundo! Esse é um vídeo para minha avó que sempre está ali por mim, mas às vezes as barreiras temporais afastam a gente. Eu te amo, zǔfù.”

O vídeo acabou, Frank buscou pelos papéis em cima da bancada e estendeu para a sua avó que parecia querer se emocionar.

“Fai...” ela começou.

“Zǔfù, esses são alguns comentários do vídeo, eu não sei se a senhora conseguiu entender bem o ponto, mas esses comentários são de pessoas que convivem com pessoas trans e que disseram como esse vídeo ajudou eles.” Frank explicou “Talvez a senhora devesse ler alguns e daí vir falar comigo? Eu vou estar na sala.”

Frank entregou os papéis para sua avó e deu um beijo em sua bochecha antes de sair da cozinha.

“Eu te amo, zǔfù.” Ele disse baixinho.

Frank esperou por 5 minutos. E depois 20. E aí ele decidiu tomar banho.

Foi no final do jantar daquela noite que sua avó disse que iria coloca-lo para dormir, ela serviu a sobremesa para Frank e disse que ele poderia ver mais uma de televisão antes de ir dormir, que meninos fortes crescem apenas se dormem cedo e se alimentam bem.

Frank comeu da sobremesa, a avó não falou nada sobre o incidente de mais cedo, então Frank só entendeu que em algum momento ela colocaria em prática. E por ele estava tudo bem.

Uma hora depois sua avó o chamou.

“Fai, coloque o pijama e escove os dentes, se fizer tudo direitinho, eu quero lhe contar uma pequena história antes de dormir.” Ela disse enigmática.

Frank colocou o pijama, escovou os dentes, fez suas preces diárias e chamou pela avó que lhe esperava à uma porta de distância.

“Yué, está aconchegado?” ela perguntou.

“Sim.”

“Hoje eu vou lhe contar uma história que você nunca ouviu, mas eu gosto de chama-la de ‘O novo conto de Mulan’, e eu tenho certeza de que você vai gostar, porque começa com um rapaz que perde a mãe pela guerra e decidi começar sua própria batalha por justiça.”

“Justiça?”

“Sim, yué, tem muita injustiça no mundo, e aqueles que são corajosos buscam por um lugar melhor lugar para todos.” Ela diz “Agora feche os olhos e deixe que eu conte a história.”

Frank fechou os olhos e esperou pelas palavras de sua avó.

“Tudo começou em um inverno no Canadá de 2020, um garoto chamado Fai Zhang havia acabado de chegar da sepultura de sua mãe, uma veterana de guerra que teve sua vida cortada pelo ódio do mundo. Fai voltou para casa em lágrimas, devastado por um mundo de impunidades e mentiras, então ele decidiu que a única maneira de não deixar que aquela corrente permanecesse era criar uma nova corrente. E a corrente começava com ele admitindo em alto e bom som quem era de verdade: um menino.”

“É?”

“É.” A avó lhe olhou sorrindo “Ele disse para si mesmo que se fosse começar a corrente do bem, ele iria começar se expondo ao máximo, mostrando todas as suas vulnerabilidades e desafiando a quem quisesse ouvir que ele estava pronto para a luta, mas que ele não aceitaria isso tão rapidamente como muitos achavam.”

A noite continuou, Frank sentiu os olhos pesarem antes de terminar de ouvir o conto moderno de Mulan onde ele era o protagonista e a sua avó lhe contava sobre como aquele pequeno vídeo fez uma grande mudança na vida dela. Frank sabia que para ela não era fácil entender, mas que o amor que tinham um pelo outro faria tudo dar certo no final. E era isso que importava.


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Notas finais do capítulo

Oi oiii!

E aí? Gostaram? O que vocês acharam de verdade? É minha primeira vez escrevendo um desenvolvimento para pessoas trans e eu amo muito o (head)canon do Frank Zhang trans!

Deixem comentários sobre o que acharam e não esqueçam de favoritar a fic e add na lista de leitura! Me sigam também no Twitter para a gente bater um papo!

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Xx

Lah ♥



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