Supermarket Flowers escrita por Lily Potter


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

OIOI gente, tudo bem???? Então finalmente chegou meu dia de brilhar n1 no november hinny, pq ainda temos mais duas fics p postar hehe, e apesar de não estar postando tão cedo quanto gostaria, venho aqui - não muito - humildemente publicar essa fanfic q eu comecei há quase 4 anos. O pov não é pelo casal principal, mas é totalmente voltado pra ele, então.... façam bom proveito.

Ps: essa fic tem vida própria e 4k de palavras foram adicionadas hj, perdoem qualquer erro pfv



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Lily sentiu seu coração partir um pouco quando retirou as flores bonitas que adornavam a janela, James havia comprado o belo arranjo de flores campestres e girassóis ainda no dia anterior quando ela ainda estava ali naquele mesmo quarto. As flores pareciam perder a cor sem a presença dela. Sua mãe era quem dava cor às coisas e a morte dela ficaria marcada neles para sempre. Também fora jogado fora todo o chá que estava em sua xícara. O chá preto que ela sempre tomava, duas gotas de limão e uma colher de mel, com biscoitos açucarados.

A mulher começou a arrumar as roupas, empacotar todos os animais de pelúcia e os cartões que desejavam melhoras. Fazia tudo no modo automático, tentando a todo custo por os pensamentos sobre as últimas horas de lado, esforçando— se ao máximo para não lembrar— se de como a voz dela estava fraca e os olhos não brilhavam como antes. Seu coração pesava ao sentir o cheiro ainda presente de seu perfume caro, e as lágrimas insistiam em cair, deixando rastros pelas bochechas pálidas de Lily.

Apenas olhando para o que um dia fora o quarto feliz e bem decorado de seus pais que fora sempre cheio de vida, e que agora parecia estar tão cinza e tão sem vida, enchia o peito da ruiva de uma vontade enorme de gritar ao mudo a injustiça de tudo aquilo. Parecia tão errado ver a cama onde passaram tantas coisas, tantas conversas, tantos abraços e beijos, ser o seu leito de morte. Onde ela deu seu último suspiro, se entregando com obediência à morte. Com uma obediência que nunca lhe fora característica fazendo com que tudo fosse ainda mais difícil de aceitar.

Lily estava mexendo nas melhores roupas de sua mãe, quando entre vestidos de festa e jóias caras, encontrou uma caixa com o álbum da família que Albus havia dado à mãe deles em seu 50° aniversário. Sem conseguir se conter, Lily o pegou e sentou- se na cama, começando a passar as folhas do álbum que contava a história de toda a família Potter.   

Ainda no começo tinha algumas fotos escassas de seu pai pequeno, com os grandes olhos verdes que lhe eram característicos, sempre brilhantes, parecendo tão inocentes e puros, puros demais para alguém tivera uma infância tão sofrida. E em seguida vinha as da infância dela. Seus olhos cor de chocolate que brilhavam em malícia e amor, olhos que nunca mais veria brilhar novamente. 

As páginas passavam e o desabrochar deles eram contados por meio das fotos, seus rostos começavam a ficar mais parecidos com o que Lily conhecia. Raras eram as fotos de seu pai quando adolescente e quando aparecia parecia desconfortável como se ele sentisse que não pertencesse ali, em contrapartida muitas eram de sua mãe que aparecia sempre sorrindo maliciosamente e cercada de amigos. As fotos em que os dois estavam juntos não eram muitas, porém nelas dava para sentir a felicidade de ambos, em como estavam apaixonados.

Naquele álbum residia apenas memórias felizes, memórias felizes de pessoas que passaram por uma guerra.

Então vieram as fotos pós guerra, fotos com cenários felizes, fotos com cenários tristes. Mas uma em especial era a que  Lily considerava a mais amável e linda de todas. Era a do casamento deles, já havia ouvido a memória tantas vezes, e também vira algumas vezes na penseira de seu pai, mas ainda assim a foto sempre lhe impactava. 

Eles estavam tão apaixonados, tão belos, tão em paz e jovens, papai com 20 anos e mamãe com apenas 19. Era realmente muito jovens, mas após passada a guerra ninguém via motivo para não demonstrar seu amor pelo outro, o medo da perda ainda era forte demais e eles não queriam arriscar, ou ao menos era o que lhe era contado.

Segundo a história que sua família lhe contara aconteceu exatamente assim:

O dia que escolheram para se casar era o dia mais perfeito de outono que todos viram, era como se os céus estivessem abençoando a união e os presenteando com a mais bela das obras divinas. As folhas amarelas, laranjas e vermelhas caíram formando um lindo tapete de cores vivas e fortes ainda na noite anterior ao casamento como se tivesse sido premeditado. O tapete foi usado para minha mãe passar para chegar até o altar, que era nada menos que uma simples elevação do terreno os colocando mais altos que os convidados.

Um arco de lírios brancos¹ e flores de cerejeira ² estava posto no lugar onde diriam seus votos diante de todos, cadeiras de estofado vermelho com detalhes dourados delicados que pareciam tremeluzir sob a luz do final da tarde, luzes amarelas penduradas em árvores para que a festa após a cerimônia pudesse demorar tanto quanto desejassem e postes brancos que também eram adornados em flores delicadas e coloridas.

Harry, seu pai, não usava vestes como de costume, mas sim um terno preto à risca, com uma blusa branca e uma gravata verde esmeralda. Seus olhos estavam com lentes transparentes e seus olhos brilhavam, as damas de honra usavam vestidos azul cristalino e os padrinhos usavam ternos de um azul escuro profundo, tão escuro que quase chegava a ser preto.

Victoire e Teddy iriam levar as alianças, Vicky usava um vestido rosa claro lindo, que realçava sua beleza que já era tão grande apesar de mal ter completado seu primeiro ano de vida, e Teddy usava um terno branco tão lindo, com uma gravata verde clarinho.

Sua lembrança ainda conseguia resgatar perfeitamente a memória que havia roubado de seu pai há tantos anos: a marcha nupcial a tocar suavemente, vô Weasley levando sua mãe até ele. Todos tinham lágrimas nos olhos enquanto  observavam-na caminhar calmamente com um sorriso que ia de orelha a orelha. 

Ela estava...perfeita. A felicidade dela irradiava tanto que quase cegava, mesmo através da memória, e seu vestido de casamento com as rendas perfeitas feitas a mão brilhava junto de seu sorriso parecendo querer competir em beleza. Seus cabelos em cachos emolduravam o rosto dela e a deixavam ainda mais linda e o sol da tarde criava um efeito especial nele, fazendo o parecer fogo, tão ardente e vivo e isso contrastava ainda mais com a tiara de safiras que ela usava, suas jóias que fora passada por todas as mulheres da família Prewett, assim como dizia a tradição³, eram feitos dos mais delicados diamantes

Lily nunca se lembrava das palavras exatas usadas pelo ministro da magia, apenas do momento em que uma magia branca e dourada envolveu suas mãos e eles se tornaram o Sr. e a Sra. Potter, com os olhos brilhando de felicidade e euforia, beijando- se apaixonadamente sob a chuva de faíscas douradas e vermelhas.

A ruiva sabia que apesar de seu coração estar quebrado com a partida de Ginny, que sua mãe havia sido muito amada, por todos seus amigos, família e principalmente por seu pai, o grande amor da vida da ruiva mais velha. Mas talvez mais importante e precioso que todo o amor que Ginny recebeu enquanto viva fosse a intensidade com que amou os outros.

Quase silenciosamente porta se abre e James, juntamente de Teddy e Albus entram no quarto taciturnos, os rostos marcados por lágrimas e as expressões chorosas ao olhar para a cama, onde a mãe deles passou seus últimos momentos de vida, até decidir os deixar na madrugada do dia anterior, silenciosa como nunca havia sido, lutando contra sua doença até o último momento, suas mãos entrelaçadas a de seu marido. 

A morte da mamãe, foi uma das únicas vezes que ela havia visto seu pai chorar. Ele que sempre fora tão forte e calmo, quem sempre secava as lágrimas dos filhos, amigos e da esposa, perdeu a compostura e chorou até seus olhos incharem. De sua garganta, soluços altos escaparam e suas lágrimas caíram grossas e incessantes até que não mais lhe restavam lágrimas para liberar.

E  após quatorze longas horas de sua morte, ele ainda permanecia inconsolável.  Obrigando indiretamente a ruiva e seus irmãos a resolverem cada pequeno detalhe, mesmo quando tudo que queriam era chorar pela morte da mãe deles. Os fazendo serem fortes quando tudo que queriam era desabar.

— Lily já está quase na hora e papai não quer sair do escritório. —  Albus falou em voz baixa, soando desesperado e rouco. Debaixo de seus olhos grandes olheiras estavam aparentes, assim como ela, seu irmão mais velho estava cansado. 

Ela concordou com um aceno breve, tentando afastar a tristeza que sabia que persistia em aparecer em seus próprios olhos, e levantou- se para guardar o álbum de sua mãe na escrivaninha em que a mesma costumava usar. Após ter o colocado em segurança Lily se voltou para seus irmãos e silenciosamente conversam pelo olhar e com um último suspiro, os segue para o escritório de seu pai. 

Estava tudo muito silencioso ali e até mesmo escutar o seu choro era menos angustiante, o silêncio de meu pai era assustador, temia que ele tivesse seguido os caminhos de minha mãe.

Entrou no escritório cautelosamente e só após seus olhos se acostumarem com a falta de luz que Lily viu seu pai. Haviam duas garrafas de uísque de fogo em cima da mesa, uma vazia e outra apenas um pouco acima da metade, a cabeça dele estava baixa e parecia que ele estava desmaiado. A ruiva não conseguia acreditar na possibilidade de seu pai ter se embebedado até o esquecimento. Ela sequer lembrava-se de algum dia ele ter feito isso, era algo que até aquele momento, nenhum deles havia cogitado ser possível de acontecer.

Afinal, quem teria a audácia de imaginar Harry Potter como algo que não fosse heróico, honesto, justo e centrado? Ninguém nunca o imaginaria como um bêbado, nem mesmo seus piores inimigos. 

— Papai? — Chamou hesitante, ela não sabia como reagir caso ele ainda estivesse bêbado, isso é, se ele estivesse realmente bêbado, Lily tinha medo que seu pai estivesse tão perdido em sua própria dor a ponto de enlouquecer assim como os bruxos e trouxas que passavam pela maldição cruciatus até chegarem ao ponto de não lembrarem mais de seus próprios nomes. 

Ele levantou a cabeça e piscou confuso, olhando para a ruiva mais nova ao som de sua voz. Seus olhos verdes estavam perdidos, e por um momento, Lily acreditou ter perdido seu pai também. 

—  Tem algo errado, Lily? — Ele perguntou com a sua voz serena de sempre, inclinando a cabeça para ver os outros três filhos que ainda estavam na porta. Ele parecia estar normal, mas ela ainda podia reconhecer o quê de melancolia em sua voz. Essa pequena coisa que pra muitos não era nada, mas para ela que era filha dele, e o conhecia tão bem, denunciava sua tristeza.

— Pai...você não se lembra? —  Perguntou James com a voz assustada, entrando de vez no escritório, com Albus e Ted em seu rastro. Lily os encarou e viu que a dor que refletia nos olhos deles era a mesma que ela sentia, que a dúvida não dita estava presente naquela sala e só não era notada por Harry. 

     — Crianças, está tudo bem? — O homem mais velho perguntou com o olhar cheio de preocupação voltados para eles. Logo ele estava se levantando e com a agilidade que nenhum homem de sua idade deveria ter e começou a verificar cada um deles como se ainda fossem apenas crianças.

— Estamos tão bem quanto podemos. —  Respondeu Teddy com a voz soando frustrada, como se eles estivesse se segurando para não falar algo mais. Ele então desviou o olhar para a escrivaninha de papai enquanto  passava as mãos por seus cabelos que estavam em um tom de azul tão escuro que era quase ébano. Hábito adquirido após anos morando com o padrinho, hábito que todas as crianças Potter haviam adquirido.

Harry franziu a testa ainda mais profundamente e continuou a os checar fisicamente. Ele nunca havia sido uma pessoa de falar muito, Lily sabia disso assim como seus irmãos. Eles sabiam que o pai deles mostrava seu amor através de gestos e que toda preocupação dele com o bem estar dos filhos ainda era um reflexo de uma guerra há muito vencida, e por isso sempre permitiam serem checados, mas naquele momento aquela preocupação apenas os preocupava. Seu pai estava agindo normalmente demais, era quase como se nada houvesse acontecido, como se ele houvesse esquecido.

— Pai, você sabe que mamãe morreu ontem, não é? — James perguntou logo após que o mais velho terminou de checar todos os filhos, mesmo que ele ainda estivesse olhando para todos eles com preocupação e com sua varinha em mãos, provavelmente listando feitiços que ele poderia lançar para identificar caso algo estivesse errado com eles. 

Pelo seu campo de visão a ruiva viu Albus e Teddy estremecerem com a falta de tato de James. Lily limitou— se a revirar os olhos para a atitude do irmão, sempre conte com ele para falar as mais estúpidas das coisas, claro todos estavam pensando, mas perguntar era apenas burro demais

    Apenas essa frase foi capaz de fazer com que papai parasse de listar mentalmente feitiços e prestar atenção nas expressões de seus filhos, a medida em que ele os encarava seu rosto se fechava em um misto de confusão e decepção.

— Sim, James, eu sei. — Ele respondeu em voz baixa e ainda assim soando irritado. Seu rosto estava impassível enquanto ele passava a mão por seus cabelos grisalhos, por um momento ele parecia o Harry Potter, o Escolhido, a pessoa fria e sem sentimentos que a mídia pintava. —  Eu mesmo dei liberdade a vocês para prepararem o enterro dela.

— Desculpa, pai. —  Albus pediu o abraçando com força. Ele e papai tinham uma relação especial desde sempre e pareciam mais próximos que nunca desde a confusão dos primeiros anos de Al em Hogwarts.  — A gente pensou que você tinha — começou com os olhos perdidos antes de suspirar e continuar em um quase sussurro. — ..feito algo que poderia se arrepender. — Terminou ele apontando para as garrafas de whiskey de fogo para provar seu ponto.

Papai permanece parado por longos segundos antes de se afastar por completo de Albus. Quando ele voltou seu corpo para todos os filhos, seu olhar reprovador era congelante. Era aquele olhar com jeito que misturava afeto e repreensão que ele sempre carregava no olhar cada vez que brigava com um dos filhos..

—  É isto que vocês pensam de seu próprio pai? Um bêbado patético? —  Ele perguntou com a voz dura, porém baixa. A ruiva sentia vontade de bater o pé e brigar com seu pai, e dizer que ele estava sendo muito duro com eles, mas a verdade é que ela sabia que estavam errados.

Diante de seu olhar todos abaixam suas cabeças, seu pai sempre tinha esse poder de os fazer sentir como adolescentes rebeldes novamente, mesmo que raramente fosse ele quem chamava a atenção de seus filhos, ao menos não nas coisas menos sérias, quando seu pai chamava a atenção de um deles significava que realmente estavam errados e mais vezes que não, um dos filhos saía com vontade de chorar, mesmo após ele ter aceitado as desculpas. 

Aparentemente não foram somente os filhos que se lembraram de quando eram mais novos, e logo o mais velho dos Potter puxou cada um dos filhos para um abraço, se demorando um pouco mais em Lily, beijando o topo da cabeça de sua caçula antes de soltá-la.

— Não precisam ficar preocupados com seu velho pai, vou ficar bem. — Seu pai disse olhando para todos os filhos com amabilidade, mas sua voz era tão séria quanto quando ele estava comandando seus internos.

A ruiva apenas suspirou sabendo que o mais velho não deixaria suas defesas baixas novamente, nem mesmo para seus próprios filhos, ao menos não sobre esse assunto, e não haveria ninguém mais para fazer com que papai baixasse a guarda. Então fez a única coisa que sabia fazer quando seu pai estava triste: mudou de assunto.

—  Paizinho eu quero ouvir histórias suas. — Ela pediu já se sentando no sofá de couro que ficava no escritório. Ele se senta no meio do  sofá e ele ao lado dela. A ruiva apoia sua cabeça no ombro de Albus que também viera sentar-se no sofá enquanto James se esparramava no carpete e Teddy pegava o álbum de fotografia que estava em cima da mesa de papai. — Conte uma história sobre os aurores, pai.

A visão que ela tinha trazia lágrimas aos seus olhos castanhos ao lembrar- se de seu tempo de criança quando eles faziam exatamente o que estavam fazendo agora, sempre ansiosos para escutar sobre seu pai, sobre seu herói. 

Sua memória cruelmente acrescentou imagens de sua mãe, jovem e cheia de energia e sorrisos, sempre interrompendo qualquer que fosse a história para trazer alguma comida para seu pai, que sempre esquecia-se de comer, e que contava histórias sobre pessoas que eles nunca puderam conhecer, sobre coisas que ela via no trabalho e sobre seus dias em Hogwarts.

As lágrimas silenciosas caíam de meu rosto a medida que ficava mais claro que ela não iria voltar, que no próximo natal sua risada não iria ecoar pela casa da família, sua mãe não veria os netos crescerem, não ensinaria a pequena Ginny a voar, e nem correria atrás do próxima criança que ainda estava na barriga de Lily. À medida que os minutos passavam, a ruiva ficava mais consciente de que não haveria mais uma mãe ali para guiá-la, não havia mais Harry e Ginny, ao menos não como antes. 

Albus põe suas mãos sobre as dela e aperta levemente, e ela apenas sorri tristemente, e ele abaixa sua mão para tocar a barriga ainda plana da irmã. Ela 

—  Não Lily, papai vai contar as histórias de cada foto, não é pai? — Pediu James olhando para o homem à sua frente, que já havia vivido tantas histórias. Mesmo já tendo seus quarenta anos, James ainda era apenas um garoto. Todos eles ainda eram apenas crianças, mesmo que já tivessem se casado e outros seres humanos que dependiam deles, ela e seus irmãos ainda eram crianças.

—  Claro, James. — Concordou ele pegando o álbum de fotografias da mão de Teddy, ele parecia distraído, como se pensasse se deveria ou não compartilhar conosco o que tinha ali. E logo ela percebe que não era um álbum de fotografia antes visto pela família.

O menino que sobreviveu, que já há muitos anos já não era mais um menino, o homem que derrotou Voldemort, nunca foi capaz de dizer não a sua cria. E por esse motivo, Lily viu seu pai repousar o álbum em nossa frente e sorrir levemente.

 — Que álbum é esse, Harry? —  Perguntou Teddy ainda analisando a capa dourada com vermelho, que tinha como fecho era apenas uma tira de couro preto delicado e uma esmeralda no meio. Tudo naquele álbum gritava o nome de seus pais, e a expressão dolorosa de seu pai denunciava ainda mais isso.

     — É um álbum de fotos minhas e da Ginny. — explicou papai por fim com a voz baixa, mas antes de abri— lo, ele pareceu pensar duas vezes e então continuou sua frase: 

— Elas são um pouco íntimas — Ele terminou após alguns momentos de silêncio, sem sequer corar ao revelar que teria coisas íntimas ali. E para isso acontecer ele estava realmente bêbado ou triste. Ou uma mistura dos dois.

— Que tipo de fotos íntimas? —  Perguntou Albus com sua tão famosa curiosidade, parecendo falar mais alto que a vergonha de perguntar sobre a intimidades de seus pais. Os cabelos de Teddy mudaram para um forte tom de rosa ao ouvir a pergunta, e ela sabia que suas bochechas e seu pescoço estavam tão vermelhos quanto os de James.

Seu pai sorriu tristemente, o olhar ainda preso no álbum de fotos que ainda estava em suas mãos calejadas. De repente ele parecia mais velho que realmente era e seu olhar estava opaco, tão sem vida que seus olhos pareciam quase mortos. Todos eles estavam se esforçando para animá-lo ou ao menos confortá-lo, mas nada parecia ser o suficiente para tirá-lo do estado em que estava. 

No fundo Lily sabia que uma parte de seu havia morrido junto de sua mãe e que não importava quanto ele amava seus filhos e netos, nada nunca se compararia a sua mãe, e nunca iria se comparar. 

—  Abram e descubram. —  Ele respondeu no final com a voz neutra, porém misteriosa. No final, ele também estava tentando animar seus filhos, tentando mantê-los bem, mesmo que fosse atiçando a curiosidade deles.

Sentindo que sua curiosidade estava sendo instigada, ela abriu o álbum antes que seus irmãos começassem pensar demais sobre isso e desistissem da ideia. A primeira foto era algo que ela nunca havia visto antes, mas ainda assim familiar em tantas maneiras que seu coração doía. Era apenas seu pai e sua mãe, ambos em roupas de praia em um final de tarde, acenando para foto com largos sorrisos, não havia indecente ali, o que a fazia se perguntar o que exatamente seu pai quis dizer quando falou que eram fotos mais íntimas. 

Foi só quando ela olhou com mais atenção para a foto que notou o modo como seus pais estavam inclinados um sobre o outro, em como os olhos deles brilhavam e tudo neles apenas gritava tudo o que eles sentiam. Amor, desejo, paixão, e até mesmo, um forte sentimento de pertencimento, de lar. Ela precisou desviar o olhar do álbum por longos momentos, sentia-se sobrecarregada pelos sentimentos, tanto os da foto quanto seus próprios, para conseguir voltar a olhar as fotos. 

— Cordis libertatem. — Papai sussurrou com a voz rouca, sua varinha apontando para a foto. Ele parecia tão afetado quanto ela, mas Lily sabia que aquilo não era nem mesmo um terço do que ele realmente estava sentindo. Seu pai dava seu coração a custo de nada e amava a pessoa fielmente por toda vida, era impossível que ele estivesse sentindo apenas o que mostrava. Lily sabia que o que havia era apenas uma máscara.

A imagem na foto começou a brilhar levemente, uma leve luz dourada saindo dela e os envolvendo, os trazendo para perto, para dentro da memória que estava dentro da foto. Era quase como estar dentro de uma penseira, mas ainda mais intenso, ainda mais real. Não era de se surpreender que seu pai estava tão mal quando entraram, e menos ainda o fato de que ele guardava o álbum a sete chaves. 

" —  Harry você está todo molhado, sai pra lá. —  Exclamou Ginny o empurrando sem muita delicadeza, ele balançou seus cabelos parecendo ter em foco molhar o corpo da mulher que estava deitada na areia.

— Você não me pediu para sair ontem quando eu estava todo molhado e em cima de você. —  Retrucou o moreno com a voz sedutora e a ruiva apenas o olhou, abaixando seus óculos escuros redondos, um sorriso sarcástico enfeitando seus lábios bonitos.

— Você está falando da sua ideia "genial" de dar uma volta na praia? — Ela perguntou batendo levemente na barriga bronzeada, o único lugar que ela conseguia alcançar sem se mover, de Harry e ele apenas respondeu dando de ombros com um sorriso afetado. — Eu tenho areia em lugares que você não vai gostar de saber.

— Talvez eu queira saber. —  Sorriu se aproximando dela e roubando um beijo. —  Eu posso muito bem estar falando do fato que você não me deixou dormir a noite toda.

— Engraçado eu não ouvi você reclamar de nada ontem. —  Comentou sarcasticamente a mais nova se afastando do namorado com os olhos semicerrados. Eles passaram alguns momentos calados, apenas olhando para o mar e para a pessoa ao lado. Após uma leve brisa salgada passar por eles, Harry fixou o olhar nela e após observar as ondas que se formavam nos cabelos dela como se nada fosse mais bonito, ele falou:

—  Você sabe, meu sonho sempre foi casar na praia. — A voz dele era sincera e sonhadora, e a menina apenas o olhou surpresa antes de desviar o olhar e rir levemente. O olhar dele, no entanto, ainda estava preso nela, e a intensidade que ele carregava era estonteante.

— Contanto que seja você, eu me casaria em qualquer lugar. —  Ela respondeu corando, os olhos ainda fixos no mar, como se ela não pudesse olhá-lo sem ficar constrangida. Era adorável. — Eu gostaria de viajar para os Estados Unidos na lua de mel, qualquer lugar lá. 

—  Ginny, você confia em mim? —  Perguntou Harry com os olhos brilhando e a mão estendida em direção à mulher. Mesmo parecendo confusa, a ruiva aceitou a mão que ele oferecia com um sorriso divertido e apenas o observou tranquilamente, antes de finalmente o beijar levemente no canto da boca.

— Confio em você desde antes de nos conhecermos, amor. — Foi a resposta dela. Certeira apesar do tom de dúvida que estava presente em sua fisionomia, como se sem usar palavras ela o perguntasse o que estava acontecendo ali.

O moreno estava sorrindo para ela, mas ao invés de responder a pergunta muda da ruiva ele apenas mexe na bolsa que estava ao lado deles e quando finalmente acha o que ele —  aparentemente —  queria, seu rosto mostrava uma adoração digna de ser retratada, algo que era visto no rosto das pessoas apenas quando estavam adorando a algum tipo de divindade.

Em um piscar de olhos ele estava de joelhos, rosto radiante, olhos brilhando de emoção e diante dos pés da ruiva, que ainda estava em choque, segurando uma caixa de veludo. Sem nem mesmo esperar por uma reação, o moreno começou a falar em voz baixa, mas cheia de tanta emoção que tudo parecia estar sendo gritado e não quase sussurrado.

—  Ginny Weasley, meu único e primeiro amor. A única mulher que tenta me compreender, me respeita e me ama pelo o que eu sou, não pelo o que possuo. Minha companheira, minha amiga, meu amor, você foi a pessoa para quem eu entreguei meu coração, a que me ensinou a amar de todo corpo. Você que é tudo o que eu nunca ouse sonhar, aceita passar o resto de sua vida ao meu lado? —  Propôs ele com a voz falha de tantas eram as emoções que ele continha. Lágrimas escorriam por suas bochechas, e uma platéia que murmurava encantada atrás deles.

— Harry… — Ginny sussurrou com os olhos cheios de amor e grandes lágrimas escorrendo por seu rosto bonito. O moreno a encarava esperançoso, aguardando pacientemente pela resposta. — Ah, meu amor..

— Você aceita? — Harry perguntou em um fiapo de voz, e em resposta ela apenas se lançou em cima dele quase o derrubando e perdendo o anel no processo, uma risada estrangulada saindo de suas gargantas quando se viram entrelaçados na areia.

— Eu estaria cometendo o maior erro da minha vida se não aceitasse. — Ela respondeu sinceramente, e então o beijou. O beijo era cheio de mãos e barulhos que certamente era inapropriado para o local e para o horário do dia, mas eles não pareciam se importar. Nada mais parecia importar além do beijo.”

—  Wow! Vocês nunca contaram que foi assim que você pediu a mamãe em casamento!—  Exclamou James parecendo intrigado com o pedido de casamento do pai, ela sabia que seus irmãos se lembravam tão bem quanto ela sobre o pedido de casamento que toda a família contava quando eles perguntavam sobre como seu pai havia proposto, e certamente ninguém nunca havia mencionado uma praia.

— Algumas coisas é melhor ficar entre o casal, James.—  Papai respondeu com um sorriso triste.  Ele levanta-se do sofá e beija a cabeça de cada um dos filhos, Teddy incluso, e começa a se afastar.

— Você não vai ver mais fotos com a gente, Harry? — Teddy perguntou com um olhar machucado, ele também havia percebido a mudança no mais velho. Em todos os sentidos que importavam, tanto Harry quanto Ginny eram os pais dele tanto quanto eram de Lily, James e Albus, e ele se importava tanto quanto eles.

— Não, eu...— Começou seu pai com um olhar vago e a voz rouca. Ele pigarreia uma, duas, três vezes, antes de continuar. — eu ainda preciso me arrumar, me desculpem, crianças. — E assim ele se foi, com passos lentos em direção da saída e antes que ele fechasse a porta por completo ele suspirou tristemente e murmurou algo incompreensível.

Com seu pai fora do escritório a fachada de calma que eles sustentavam lentamente foi desmoronando e tudo que sobrou foram quatro adultos que não se sentiam velhos o suficiente para a perda que havia chegado tão de repente em suas vidas, que não os permitira dizer adeus. Ninguém esperava que a famosa Ginny Weasley, a ex-jogadora mais famosa das Harpias, a lenda do jornalismo esportivo, a mulher mais forte que conheciam fosse morrer tão repentinamente após algo que parecia ser apenas uma gripe. Ela merecia muito mais, ainda era tão jovem.

 Lily nunca sentiu tanto arrependimento quanto naquele momento, apenas de pensar que ela poderia ter abraçado mais sua mãe, dito que a amava mais vezes, dado mais atenção a ela. Poderia ter feito tantas coisas diferente, poderia ter feito mais, sua mãe merecia muito mais do que qualquer um deles havia oferecido e mesmo assim nunca reclamava, apenas aceitava o amor que eles sabiam oferecer.

Apenas quando um soluço alto escapou de sua garganta foi que a ruiva percebeu que chorava, as lágrimas deixavam seu rosto pegajoso e o choro se acumulava em sua garganta e peito de forma dolorosa. Olhou para cima ao sentir pares de mão em seu braço, e tentou sorrir ao ver que seus irmãos mais velhos, todos os três, tinham lágrimas grossas escorrendo por seus rostos, mas ainda assim tentavam acalmá-la.

    — Eu sinto falta dela, Teddy. — A ruiva sussurrou contra a camisa do irmão, as mãos dele estavam envolta de sua cintura agora mantendo-na lugar, James acariciava seu cabelo ruivo que havia se desfeito do coque frouxo, e Albus segurava sua mão. 

    — Nós também, Lilu. Estamos juntas nessa, lembra? — Falou o de cabelos coloridos, eles já haviam voltado para o tom de azul de antes, com a voz baixa e calma. Lily apenas assentiu, sem conseguir fazer muito mais. O álbum de fotos ainda estava entre eles.

— Que tal vermos mais uma foto, hm? — Sugeriu James que estava calado há um bom tempo, e antes que qualquer um deles pudesse contrariá-lo, ele pega o álbum em suas mãos e o abre em uma página aleatória. Ele tinha um sorriso rígido no rosto, e ela sentiu vontade de abraçá-lo apenas pelo esforço que ele estava fazendo para confortá-la.

    Haviam apenas duas fotas que tomavam as duas páginas, uma onde seus pais estavam em uma cama grande e de ombros nus, rindo juntos, parecendo alheios a qualquer outra coisa que não fosse o outro e outra onde eles dançavam sob a luz do entardecer os banhando de roxo e rosa, deixando tudo romântico e inocente. 

— Acho que agora entendi o que o pai quis dizer com fotos íntimas. — Albus falou fazendo uma leve careta em direção da foto mais indecente arrancando uma risada leve da ruiva mais nova. O moreno sorriu levemente e apertou sua mão, a mensagem que estava querendo passar era clara “estou aqui por você” ele dizia silenciosamente.

— Cordis libertatem. — James sussurrou apontando para a foto mais inocente, mas ao contrário do esperado as duas fotos começaram a brilhar em uma luz diferente da última, essa era vermelha, e muito mais forte, a sensação de ser sugada para dentro de uma penseira reapareceu e logo eles se viram dentro da memória da foto.

" —  Harry amor, acorda. — Pediu a voz de Ginny parecendo rouca sono. Harry se vira nas cobertas e abraça seu corpo, beijando levemente o pescoço da ruiva após afastar o cabelo da nuca.

— Me deixa dormir, Ginny.—  Pediu o moreno com a voz cansada e a ruiva apenas geme irritada se virando na cama para que pudesse ficar em cima de seu noivo, e fazendo assim com que uma parte de seu seio aparecer brevemente antes de ser tapado por seus cabelos e pelo lençol.

— Vamos preguiçoso, eu quero comer! —  Ela pediu mordendo o lóbulo da orelha de Harry, não parecendo nem um pouco afetada pelo o que ele havia falado. O moreno abre apenas um dos olhos e se depara com brilhantes olhos castanhos de sua noiva, e reconhecendo o olhar determinado que lhe enviava, ele apenas suspirou e estendeu a mão para afastar o cabelo dela de seu rosto.

— Achei que já tinha te alimentado o suficiente durante a madrugada Weasley. —  Falou sarcasticamente, apesar do efeito mal-humorado ser perdido com o carinho com que ele falava, suspirou cansado e inverteu as posições, cobrindo o corpo dela com o seu .

— Não esse tipo de fome seu pervertido! Eu quero comida. — Ginny retrucou rindo, e levando seu corpo ao encontro dele por alguns breve segundos, antes de um resmungar de bebê os interromper, fazendo os dois se arrumarem na cama até estarem na mesma posição que estavam na foto, os dois riram com carinho. — Viu? Até o Teddy está com fome, vamos, Harry você tem duas bocas para alimentar.

—  Tudo bem, monstrinha, espera só um minuto. — Pediu  o moreno saindo da posição que estava e pegando seus óculos e se levantando e revelando seu corpo seminu, ele abre seus olhos após já estar de pé e olha o relógio, e em seguida solta uma série de palavrões que envergonhariam muitos marinheiros. 

— Harry! — A ruiva chamou a atenção dele com uma careta de reprovação e ele apenas bufou. Ginny se mexeu na cama e colocou uma grande camiseta que provavelmente não era dela e se sentou melhor na cama. — Olhe a boca!

— Não me olhe assim, eu aprendi a falar assim com você. — Retrucou o moreno com um revirar de olhos. — São quatro da manhã, amor! 

— E desde quando tem hora pra sentir fome? — A ruiva perguntou  com um olhar que indicava que ela poderia continuar o argumento por horas a fio apenas para provar seu ponto. Harry apenas suspirou e se aproximou de sua noiva novamente e beijou o canto da boca dela, parecendo resignado e nada disposto a discutir.

— Tudo bem, amor, eu já vou te alimentar. — Disse Harry calmamente, sendo interrompido novamente pelo resmungo do bebê. Ele se distanciou um pouco e quando estava quase na porta escutou seu nome sendo chamado pela ruiva que tinha lágrimas nos olhos.

— Você ainda quer se casar comigo depois disso? 

— Eu seria louco se não quisesse, Ginny.

— Alguns diriam que loucura seria casar comigo. — A ruiva respondeu com um sorriso amargo, e o moreno apenas negou veemente, os resmungos de Teddy transformando-se em um choro a cada segundo que se passava.

— Então é a melhor loucura que já fiz. — Ele declamou com um enorme sorriso no rosto antes de sair pela porta do quarto. Lá dentro, Ginny sorria.”

Antes mesmo que qualquer um deles pudesse comentar, eles sentiram uma puxada em seus umbigos e logo estavam vendo mais uma memória de seus pais. Eles estavam no topo de uma colina, que se parecia muito com a colina perto da Toca, o céu estava escurecendo sob eles e tudo parecia mágico.

“ — Você tem certeza, Ginny? — A voz do moreno se fez presente, ela estava muito mais rouca que o normal como se ele tivesse passado um tempo chorando, mas em seu rosto estava o mais largo dos sorrisos.

— Sim, eu tenho, amor. — Ela confirmou rindo e chorando ao mesmo tempo, os braços no pescoço do moreno. Eles se beijaram por longos minutos, as mãos passeavam por todos os lugares, mas não havia fome nem pressa no beijo, apenas uma calma delicada e um amor palpável. 

Quando eles se separaram do beijo, um sorriso ainda maior estava em seus rostos, e os braços de Harry que estavam na cintura de Ginny, agora repousavam sob o abdômen plano da ruiva, com um olhar de adoração em seu rosto, ele ficou de joelhos e plantou um beijo casto ali.

— Seja bem-vindo, meu amor! — Ele sussurrou contra o tecido do vestido da mulher, olhando com admiração para sua esposa que apenas estava ali parada, permitindo que ele falasse o que sentia. — Você é ainda é só uma sementinha, e o papai ainda não sabe se você vai ser um menininho ou uma menininha, nem qual vai ser a cor dos seus olhos ou do seu cabelo, mas eu já te amo muito, meu amor. 

Ginny o olhava com admiração e apenas riu quando escutou as palavras que saiam da boca de seu marido, eles estavam na colina perto da Toca, onde aconteceria a festa de aniversário do moreno e como ela havia trabalhado o dia todo, precisaram marcar de se encontrarem na colina para poderem chegar juntos.

— Esse é o melhor presente de aniversário que você poderia me dar, Ginny. — Ele falou ainda ajoelhado, a cabeça apoiada no abdômen de sua esposa, respirando o cheiro dela enquanto tentava processar o que estava acontecendo.

— Não, esse é o melhor presente que você me deu, Harry. — Ela o corrigiu com um sorriso e o ajudou a levantar. Ele estava radiante, e tão feliz que começara a dançar com ela naquele exato momento, apesar de nem saberem dançar, aquilo não importava, porque estavam felizes.”

    Quando a memória acabou, os olhos de Lily estavam cheios de lágrimas, e sua mão estava repousada sobre seu próprio abdômen, como se por algum instinto ela quisesse se assegurar que seu bebê ainda estava ali. James parecia tão afetado quanto ela, eles sabiam que o bebê na barriga de sua mãe era ele, e o amor que seus pais mostravam por ele antes mesmo de nascer...Era apenas demais

    A porta se abriu calmamente, e uma cabeça loira aparece no vão da porta. Era Victoire.

— Querido, cadê o tio Harry? —  Perguntou ela adentrado no escritório. Seu corpo estava sendo delineado por um vestido preto longo e comportado, seus cabelos loiros estavam soltos e perfeitos como sempre. 

Victoire estava com leves olheiras debaixo de seus olhos, e seus olhos estavam vermelhos, Lily sabia que ela amava sua mãe tanto quanto amava a própria mãe, mas uma parte dela, uma parte horrível de si, sentia que não importava o quanto a loira amasse sua mãe, para ela seria sempre a tia Ginny. A ruiva queria dizer que sua prima não deveria ter o direito de chorar quando a mãe dela estava bem e viva, e seu pai não estava desolado como o dela, mas ela sabia que seria injusta em falar isso, assim como estava sendo em apenas pensar.

— Ele foi se arrumar, quer que eu vá chamá- lo? — Teddy perguntou se levantando e indo até ela, uma vez que estava lá, o de cabelos azuis apertou a mão dela, e beijou levemente os nós de seus dedos. Dóia vê-los interagir, porque eles a lembravam de seus pais, lembravam-na do que ela não veria mais seu pai fazer.

— Por favor, amor, estão todos esperando por vocês. — Pediu a loira com a voz baixa, olhando para eles em um misto de pena e afeição. Lily sente vontade de gritar e dizer que não queria pena de ninguém, apenas sua mãe de volta, mas ela já era velha o suficiente para saber que gritos não trariam sua mãe de volta. 

Nada traria sua mãe de volta.

    — Eu vou com você, Teddy. — Ela se ofereceu antes mesmo de parar para pensar em como se sentiria ao entrar no quarto de seus pais pela segunda vez, e encontrar apenas seu pai ali agora. Quando precisou limpar o quarto, seu pai já estava no escritório, e no quarto vazio ela poderia fingir que nada estava errado, mas com seu pai ali, não teria como negar a verdade. 

    Seus irmão sem dizer nenhuma palavra seguem ela e Teddy, e eles fazem uma caminhada pela casa silenciosa, seus passos ecoavam cada vez mais altos contra a madeira polida dos pisos. Lily Luna precisou engolir o choro várias vezes conforme lembranças dessa mesma casa há apenas um mês quando tudo ainda estava bem, cada canto da casa costumava ser cheio de cor e barulhos, cheio de vida, exatamente igual sua mãe havia sido quando viva. Agora, tudo o que lhes restavam era o esqueleto de algo que havia sido uma vida feliz.

    Assim que eles entraram no quarto de seus pais, já avistaram o mais velho dos Potter. Ele estava em frente ao espelho, olhando para o próprio reflexo com olhos desgostosos. Sua gravata estava feita e sua roupa não tinha nenhum defeito, mas mesmo assim ele parecia sentir falta de algo lá.

Era mamãe que faltava, era ela quem completava a imagem séria dele, com seu jeito despojado e suas roupas de grife. Todos sabiam que seu pai daria a vida por qualquer um que amasse, mas principalmente por ela e agora que não existia mais um "nós" para ele, sua imagem ficava incompleta.

E como se o lugar vazio ao seu lado não fosse o suficiente para que a imagem de seu pai parecesse estranha aos olhos dela, o rosto dele possuía de uma palidez anormal, seus olhos verdes outrora estavam, se possível, ainda mais opacos e sem vida. Sua figura forte e vivaz, dera lugar a uma figura apática e frágil.

Ele já não era mais o mesmo homem que havia sido há vinte quatro horas, quando com um sorriso ele tentava fazer com que a mãe de seus filhos tivesse esperança, como se a esperança fosse tudo o que o mantia vivo, bem e a encorajando a lutar contra o próprio corpo. Sem esperança, sem a pessoa que o amava, seu pai já estava morto por dentro, quase tão inerte quanto um cadáver. E tudo que ela poderia fazer era pedir para que ele não se fosse também.

    Seu pai olhou por cima do ombro dele assim que todos os quatro filhos entraram completamente no quarto, seu olhar era sério e ele parecia não os enxergar. O coração de Lily apertou-se mais uma vez dentro de seu corpo e ela se aproximou.

—  Está na hora pai, precisamos ir. —  Falou a ruiva se aproximando dele e estendendo sua mão em uma oferta muda. Ele segura a mão dela entre as dele, apertando fracamente como se quisesse confortar a filha, mesmo que ele fosse quem mais precisava de conforto. Seu permite que ela e seus irmãos o guie por todo o caminho para fora da casa.

    Quando eles chegaram ao jardim, todos os olhares caíram sobre eles, e os filhos se moveram desconfortavelmente, se entreolhando enquanto observavam o pai deles apenas caminhar de cabeça erguida ao lado deles, nunca demonstrando mais do que uma leve tristeza.

Durante toda a cerimônia ele ficou em silêncio, nenhuma lágrima parecia ousada o suficiente para chegar aos seus olhos, menos ainda cair, e com isso ela viu Hermione e Ron lançarem olhares estranhos em direção dele. Lily e seus irmãos também encaravam-no com preocupação, aquela falta de emoção conseguia ser ainda pior do que qualquer tristeza que poderia o assolar. 

 No discurso ele falou sobre dias felizes com ela e amor. Ele nunca gaguejava em discursos, mas todos esperavam que ele ao menos chorasse ou esboçasse qualquer reação. Até mesmo raiva, mas ele apenas falou serenamente sobre coisas bonitas. Ele parecia um robô, e isso, mais que tudo, a deixava apavorada.

Quando a cerimônia acabou e o corpo dela foi enterrado no jazigo da família, ele se trancou novamente em seu escritório sem dizer mais do que um “boa noite”. Lily que apenas queria poder chorar no colo de seu pai, sentia-se traída, machucada, e acima de tudo, preocupada.

— Lily, você vai ficar com seu pai hoje? — Andrew perguntou calmamente, seus olhos azuis repousados nela com preocupação, olhando de relance para o escritório onde seu sogro havia entrado. Seu marido estava segurando uma Ginny adormecida no colo, segurando na mão de Arthur, e Lily queria que o dia apenas acabasse.

— Vou, ele precisa de mim. —  Respondeu e engoliu o choro mais uma vez, não faria nenhum bem em chorar na frente de seu filho mais velho. — De nós. — Ela corrigiu olhando para os irmãos e cunhados que estavam assim como ela ali.

    Horas se passaram, e seu pai ainda não havia saído do escritório, nem mesmo quando eles os chamaram para jantar há mais de duas horas. As crianças estavam dormindo nos quartos de hóspedes, sendo vigiadas por Scorpius, que parecia não querer deixar Albus, mas que sabia que alguém precisava ficar com as crianças. A única das crianças que não estavam com ele era Ginny, que há quarenta minutos acordara com fome e que acabou permanecendo no colo de Andrew após várias tentativas falhas de tirá-la do andar de baixo.

—  Cadê o vovô, mamãe? —  Ela perguntou pela quarta vez no que parecia ter sido um período de quinze minutos. Ginny estava olhando para os lados à procura da imagem já conhecida de seu avô, e ficava cada vez mais impaciente quando eles a respondiam como uma distração e ele não aparecia.

— Seu avô está cansado, foi um dia longo para ele, querida. —  Sussurrou Andrew carinhoso passando as mãos pelos cabelos ruivos e cacheados dela. Lily se limitou a recostar a cabeça no encosto do sofá e deixou que seu marido cuidasse da filha deles, ela estava cansada demais para explicar esse tipo de coisa para uma criança de dois anos.

— Mas papai, eu quero vê ele. — Ela continuou a protestar irritada, seu rostinho ficando vermelho rapidamente devido aos genes Weasley e seus olhos castanhos, assim como os da avó, brilhando com raiva.

— Agora não, meu amor, mais tarde, tá bem? — Persuadiu o moreno, não sabendo negar a filha, mas sabendo que se permitisse que ela fizesse o que queria naquele momento, teria uma esposa grávida brigando com ele nas próximas horas.

— Mas papai… — Choramingou a menina, os olhos se enchendo de lágrimas, e um beicinho se formando em seus lábios pequenos, transformando seu pequeno rostinho bonito em algo triste.

— Andrew… — Lily suspirou em tom de aviso, mas de nada adiantou, seu marido já estava com um sorriso culpado no rosto enquanto colocava a filha deles no chão. Ginny olhou para o pai com um grande sorriso e riu levemente.

—  Eu vou vê meu vôzinho. —  Declarou a pequena Ginny e em passos trôpegos e rápidos ela começa o caminho em direção ao escritório do avô. Lançando um último olhar irritado, Lily segue sua filha, não sabia o que poderia encontrar no escritório de seu pai, mas esperava que ele ainda estivesse vivo. 

Em passos rápidos Lily chegou a porta do escritório apenas a tempo de ver Ginny ficando na ponta de seus pés e abrindo a porta sem sequer bater, não permitindo que seu avô pudesse se fazer apresentável para recebê-la.

— Vôzinho? — Ela chamou já entrando no escritório, seus cabelos ruivos e a doçura que carregava na voz somados a forma que ela chamava o avô fazia com que Lily se lembrasse de quando tinha a mesma idade que sua filha e ia procurar por seu pai, sabendo que ele sempre teria um momento para ela. 

Lentamente ela se aproximou,temendo assustá-los ou denunciar sua presença, encostou-se no batente da porta,observando-os pela fresta. Ela viu seu pai apenas virar a cabeça de onde sua cabeça estava deitada na mesa e a encarar, os seus olhos verdes estavam desfocados e o copo com uma garrafa de conhaque pela metade estavam ao seu lado. 

Após alguns longos segundos ele levanta sua cabeça e sorri levemente para Ginny, e afasta a poltrona de coura da mesa levemente fazendo quase nenhum barulho e deixando espaço suficiente para várias pequenas Ginnys se sentarem.

—  Sim querida? —  Ele respondeu por fim, em um tom baixo e com a voz rouca, Ginny o encarava com uma preocupação muito grande para alguém tão jovem, e a ruiva mais velha teve que segurar para não rir da capacidade facial de sua pequena.

— Você num veio me ver vôzinho, — ela falou fazendo beicinho enquanto se aproximava do avô que a pegou no colo no momento em que ela chegou perto o suficiente para ele poder fazer isso. — por quê? 

A ingenuidade da pergunta, fazia com que os olhos de Lily enchessem-se de água, e deixava-na com o coração apertado. Será que era assim que a mãe dela sentia-se anos atrás quando ela e seus irmãos não passavam de coisinhas pequenas e ingênuas, cheios de energia para gastar e amor para oferecer? 

—  Desculpa, meu amor, seu vôzinho está triste hoje. —  Ele falou baixinho, a beijando na testa e acariciando os cabelos cacheados dela. Os braços dele estavam segurando a pequena Ginny calmamente com a confiança de alguém que tinha experiência, e apenas a visão de seu pai com sua filha fazia com que Lily Luna sentisse um pouco mais de esperança.

— É por que a vózinha foi pro céu, vôzinho? — Ginny perguntou com a voz baixa, os olhos curiosos, estudando cuidadosamente o avô. Ele apenas concordou suavemente e uma pequena lágrima escorreu pelo seu rosto, a qual a pequena se apressou em secar com suas mãozinhas gordinhas e pequenas. — Não chora, vôzinho, ela é um anjinho agora.

—  Eu sei, minha flor. — Seu pai garantiu apertando a pequena um pouco forte em seu colo, a mão ainda passando por seus cabelos de forma quase automática. — O vovô tá chorando porque  sente muita falta dela, e... — a voz dele se quebrou no meio da frase e por um momento Lily achou que ele não iria conseguir continuar falar, mas após alguns segundos em silêncio, ele parecia ter se recuperado. — e isso machuca o vovô.

— Machuca porque você ama muito a vovó, né vôzinho?— A criança perguntou com os olhos fixos nos do avô, que apenas assentiu. — Eu também sinto falta da vovó. —  Ela parou de falar por alguns segundos, fez uma careta preocupada e apontou em direção do coração. — Tá doendo aqui dentro, você vai dar beijinhos para sarar, vôzinho?

— O vovô vai encher você de beijinhos até sarar, meu amor. — Ele garantiu com a voz gentil e como se para provar um ponto, beijou as bochechas dela com carinho. — E se não sarar com beijinhos, o vovô vai brincar com você até melhorar, combinado?

— Combinado!— Ginny exclamou com um sorriso deliciado e o abraçou com força e plantou um beijo babado na bochecha dele para selar o acordo. — Eu te amo vovô!

— Eu também amo você florzinha. —  Ele respondeu com um sorriso tão pequeno que quase era invisível. Ele permaneceu abraçado e beijou o topo de sua cabeça mais uma vez, enquanto a permitia mexer em seus cabelos grisalhos. 

— Tem espaço nesse abraço? —  Lily perguntou da porta, sentindo as lágrimas descerem por suas bochechas e finalmente anunciando sua presença. Seu pai se levantou com Ginny no colo assim que ouviu o chamado de sua filha, e a abraçou forte, beijando o topo de sua cabeça.

— Eu amo vocês, minhas florzinhas. — O mais velho falou com a voz baixa e cheia de carinho, e se afastou apenas o suficiente para que ele pudesse encará-la, e colocou sua mão grande e enrugada em cima do abdômen de Lily, fazendo com que ela arregalasse os olhos surpresa. — Especialmente essa sementinha aqui. — Acrescentou com um sorriso carinhoso.

— Você sabia, papai? — Ela perguntou não sabendo exatamente o que havia a denunciado, mas feliz por seu pai estar parecendo ao menos mais vivo no momento. 

— Um pai sempre sabe, querida. — respondeu seu pai com um olhar calmo e gentil, a mão ainda em seu abdômen, e a pequena Ginny em seus braços. — Obrigado, Lulu. 

Ela não sabia pelo o que seu pai estava agradecendo-na, quando na verdade era ela que precisava agradecê-lo, mas tinha uma certeza:não importava o que acontecesse, ficaria tudo bem, porque como bons Potter eles iriam se reerguer juntos e permanecer unidos.

Fim.






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Notas finais do capítulo

Então, hehehe, espero que tenha gostado, e quem puder assim deixar um comentário, a autora fica feliz sabe....

Não esqueçam de acompanhar o @HinnyNovember pq todo dia tem coisas lindas saindo!!! Beijos >



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