Ilusão escrita por Any the Fox


Capítulo 4
Insônia




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"Tic, tac. Tic, tac."

O relógio anda sem perceber o estrago que faz. São três da manhã de um Domingo. Há aulas no dia seguinte.
Ele não está deitado, nem mesmo com sono e muito longe de querer sequer ir dormir.

"Tenho de entregar isto amanhã..."

O pensamento dele é só um: Entregar o sagrado trabalho a horas. 
Os professores pedem-no sem ter qualquer noção da situação mental em que os seus alunos se encontram, desconhecendo o facto de que vários simplesmente se deixarem consumir pelo senso de responsabilidade que têm .

Em, os professores apenas fazem o trabalho deles e o que lhes compete. Se eles se preocupam com os seus alunos? Alguns sim, outros não. Mas no fim do dia, são professores: enviam trabalhos, corrigem trabalhos e julgam trabalhos. Não lhes compete saber se o cenário em volta do aluno é bom, mau ou péssimo. Mas compete ao aluno, independente do seu estado mental, estar sempre apto a realizar qualquer tarefa.

O lápis escorregava por cima da folha, respondendo a um exercício qualquer que fora enviado de véspera. Os olhos queriam fechar, mas o cérebro não queria dormir.

"Plim"

É uma notificação. Parece que o trabalho de grupo está a ir bem, mas há muito para fazer ainda... E por alguma razão, ele só consegue ver o que não está feito.

"Preguiçoso"

A voz na cabeça fazia-o sentir se culpado pelas noites em branco a acabar trabalhos, como se ele tivesse procrastinado o tempo todo.

"Não fazes nada de jeito e ainda pedes ajuda aos outros. És um triste!"

A voz era sádica e insistia no mesmo tema. O rapaz olhou para os seus contactos: imensos pedidos de ajuda de como fazer os trabalhos. Ele não entendia nada do que ouvia nas aulas. Sentia-se um lixo sempre que tinha de pedir explicações aos amigos... Ele gostava de um dia poder ser ele a explicar-lhes os exercícios, mas ele era tão inútil que estaria sempre atrás de todos...

"Preciso de acabar este trabalho..."

Respirou fundo na tentativa de se concentrar. As letras fugiam e desorganizavam-se pela página. Nenhuma frase parecia estar na sua lingua, nem em qualquer outra que ele entendesse... Via apenas letras juntas sem sentido. Sentia uma enorme confusão no cérebro, um escuro tão grande que deixava a mente em branco.

"Preciso de mais café."

Foi o primeiro instinto dele: manter se acordado.
O trabalho nunca sairia bem feito, ele sabia... Mas tinha de sair. Ele sabia que aquilo estava longe de ser o melhor que conseguia dar, mas era tudo o que podia dar. A exaustão era enorme e a sua saúde mental deixou de ser uma prioridade há muito tempo...

"Eu tenho de pedir ajuda"

Lembrou-se do que o seu psiquiatra disse há uns dias atrás. Ele precisava urgentemente de fazer alguma coisa que não fosse aquilo... E estar com eles pelo menos uma vez sem pensar na escola. Precisava berrar lhes tudo o que sentia e chorar desalmadamente sem que o parassem: Apenas ouvissem, aceitassem, consulassem... 
Mas logo se lembrou de novo quanto isso era má ideia. O quanto eles tinham os próprios problemas e ele não queria ser um deles.
Voltou a focar no trabalho.

"Tenho de entregar isto amanhã."

O cheiro e sabor da cafeína eram agora o seu combustível. Eram três e dez da manhã, a noite ia alta e o seu cérebro mantinha-se ocupado com trabalhos por fazer.
Até era melhor assim, não pensava nos vários problemas que tinha se não tivesse tempo para o fazer.


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