"Não me deixem sozinho..."

Disse o rapaz para dentro enquanto olhava para os amigos à volta.

"Por favor, não me deixem sozinho..."

O dia era de Sol, mas várias nuvens cinzentas pairavam. Os risos ecoavam à volta do rapaz que vivia tudo à sua volta como um mundo estranho ao qual não pertencia.

"Não és preciso aqui. E tu sabes."

A voz do medo irracional sussurrava dentro da sua cabeça, proibindo-o de se focar na conversa à sua volta da qual já tinha perdido o fio.
Não havia razão para aquele medo. Os amigos adoravam-no, ele sabia disso. Mas por alguma razão, sempre achou que não os merecia.

"Eu vou arruinar tudo outra vez..."

Olhou para o seu lado esquerdo, viu o melhor amigo. Depois o lado direito, viu a melhor amiga. Sabia que eles iam notar se ele desaparecesse. Sabia que eles se preocupariam se ele contasse.

Mas também sabia que não merecia que se preocupassem com ele.

"Sabes que eles apenas te aturam, não sabes?"

A voz insistia, tornando a sensação de bolha maior e a realidade cada vez mais distante.

"Por favor, não me deixem sozinho!"

Ele gritou para dentro, mesmo querendo exteriorizar. As palavras atrofiavam na garganta, mas eram bloqueadas pelo próprio enquanto via os dois afastar-se cada vez mais".

"Não te aches o centro do mundo. Eles realmente não querem saber".

Os sádicos sussurros continuavam e cada vez mais dolorosos.
Todos à sua voltam riam de uma piada que algum deles contou. Ele riu também, mesmo sem saber porquê.

A atenção dirigiu se ao melhor amigo, acho que lhe perguntou alguma coisa. Ele abraçava a namorada, a felicidade e satisfação são notáveis na face dos dois.

"Eles não te querem aqui".

Outra mentira. Eles gostavam dele ali, mas ele não gostava da sensação distorcida de estar a atrapalhar. Não gostava de sentir que isso nunca seria algo a que ele tivesse direito: uma pessoa que genuinamente gostasse dele.

"Ninguém quer alguém tão inútil como tu."

O rapaz não se sentia merecedor de ter alguém. Sentia que não devia espantar-se quando alguém se enjoava e ia embora...

"Xau, Jey! Vemonos amanhã!"

Os amigos despediram se com a alcunha que lhe deram. Algo que eles mesmo
inventaram numas férias quaisqueres.

"Xau, malta!"

Ele verbalizou com um sorriso vendo os amigos ficar cada vez mais distantes.

"Por favor, não me deixem sozinho..."

Voltou a pedir para dentro enquanto seguia na direção contrária aos outros. O caminho à sua frente parecia uma avenida vazia e cinzenta por mais cheia que estivesse. O Sol brilhava na rua, mas por cima dele, apenas nuvens.

A sua solidão era um sentimento discreto e sufocante, matava devagar e silenciosamente. Ninguém diria que o sentia, pois não era visível. Ninguém o ajudaria, pois não o notavam. E ele não pediria ajuda, porque não queria que percebessem.

No entanto, em sua mente, os pedidos de socorro ecoavam. A solidão da sua alma deixava o coração vazio quando a voz em sua mente se silenciou triunfante com sentimento de angústia que lhe deixou, abandonando-o também, deixando o mudo pedido de ajuda ecoar para que ninguém o oiça:

"Por favor... Não quero ficar sozinho outra vez..."