Mistletoes escrita por afinaldream


Capítulo 1
Mistletoes


Notas iniciais do capítulo

Avisos: Não leia se você não gosta de tradições de natal, um garoto que não percebe que está apaixonado há algum tempo e uma garota que sabe que está apaixonada há tanto tempo que você quer abraçá-la.



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Mistletoes

Muito antes de ficar preso no meio daquele corredor do terceiro andar, o dia de Liam Evans já estava bem atribulado. Ele deduzira que era por conta da proximidade das férias de Natal, que fazia as pessoas ficarem cheias de energia; ele já tivera que interromper uma briga de família – aquele seria um Natal complicado para os McKinnon –, dar duas detenções – para serem realizadas depois do feriado, ele não era tão cruel assim – e tirar pontos dos monitores da Corvinal e da Sonserina que se recusaram a trabalhar juntos, além de todas as festas e guerras de neve impróprias que precisara cessar.

Onde o espírito natalino estava, Liam realmente não sabia.

A melhor coisa que ele poderia ter dito do seu dia até então é que ele não estivera completamente sozinho. A monitora-chefe realmente o havia ajudado a resolver a maior parte desses problemas, mas então eles haviam se separado durante a tarde. Liam não ficara muito feliz com isso, mas era um combinado que eles tinham desde o início do semestre e Jamie Potter era uma monitora tão dedicada em todos os outros momentos que não havia como reclamar se ela pedia para que Liam desse conta de tudo sozinho uma única noite no mês.

Claro, era a mesma noite em que Remy Lupin também pedia uma folga, mas Liam tentava não pensar no assunto. Ele tinha uma ideia bem precisa de qual era o problema de Remy, e era um problema que Jamie definitivamente não compartilhava, mas ele não iria discutir se ela quisesse apoiar a amiga de alguma forma. Ninguém podia acusar Jamie de não se importar com suas amigas.

Então Jamie ficara com a ronda vespertina e Liam a substituiria depois. Enquanto resolvia os problemas que surgiram na parte da tarde, Liam realmente lamentou por Jamie não estar presente. Ela tinha uma forma tão alto-astral de lidar com tudo que Liam não conseguia deixar de pensar que sua tarde teria sido melhor se Jamie tivesse junto.

Esse era um pensamento recém-chegado na vida de Liam, mas um que ele já se acostumara nos últimos meses. O que quer que Liam pudesse ter achado da escolha inicial de Dumbledore para monitora-chefe – ele nutrira tanta esperança de ser Remy -, não havia como negar que Jamie se mostrara uma boa escolha. Ela era uma boa líder, algo que, em retrospectiva, fazia sentido para Liam – ele sempre vira como Jamie era o centro daquele seu grupo de Marotas -, e, quando Jamie tinha uma missão, ela realmente colocava esforço e dedicação; fora assim com as peças que as Marotas pregaram ao longo dos últimos anos, deveria ser assim com a monitoria também.

Os eventos que eles tinham organizado naquele semestre tinham sido perfeitos; as idas para Hogsmeade tinham ocorrido sem nenhum problema. Eles haviam até conseguido gerir bem os monitores, separando tarefas que não revelavam nenhum favoritismo ao mesmo tempo que mantinham os monitores menos pacientes ou mais macabros longe dos alunos mais novos.

Fora fácil trabalhar com Jamie e, mais ainda, fora agradável. Quando Liam recebeu o distintivo de monitor-chefe – algo que lhe dava muito orgulho, algo que seus pais puderam apreciar também –, ele havia temido que a monitora-chefe fosse alguém com quem ele não fosse lidar bem, ou, pior, uma dos supremacistas puritanos. Mas Jamie Potter havia ultrapassado todas as suas expectativas e havia tornado até divertido ser monitor-chefe.

Era bom estar com ela, um pensamento que Liam não imaginaria dois anos atrás ser possível. Mas isso fora no quinto ano e tudo era diferente naquela época – e isso incluía Jamie. Às vezes ele se surpreendia como Jamie havia crescido; não só fisicamente, mas como ela se tornara mais madura, mais responsável, menos... egocêntrica.

Às vezes ela nem parecia a mesma pessoa, mas Liam sabia que isso não era um pensamento justo. Jamie podia ter mudado, assim como Liam havia mudado ao longo dos anos, mas ela era ainda tão nobre e corajosa e ousada e teimosa e fiel às amigas quando sempre fora; a única coisa que ela havia realmente alterado era que ela havia parado de enfeitiçar pessoas pelos corredores e, se ela falava de quadribol, não era para se exibir por aí.

Na verdade, pelo contrário, Jamie havia começado a ensinar os outros; ela podia ser vista nos treinos de outros times, ou conversando com os alunos do primeiro ano nas aulas de voo. Liam a vira conversando com o monitor da Corvinal, que também era artilheiro, os dois juntos no sofá na sala dos monitores comentando sobre movimentos, estranhamente cúmplices, até que Liam sentira que era seu dever lhe lembrar que eles precisavam iniciar a reunião do dia. Jamie vira diligentemente para o seu lado e Liam se sentira satisfeito com isso, até achar estranho esse sentimento; mais tarde, ele dissera que era apenas porque o primeiro jogo de quadribol estava próximo e, mesmo que ele não jogasse, o espírito competitivo havia surgido nele.

Era um sentimento bem razoável; e o que quer de exibição excessiva que Jamie havia demonstrado no passado, mesmo quando Liam a achava com um ego maior do que o planeta, ele não podia negar que ela voava bem. Sempre houvera algo belo na forma como ela parecia dançar no ar, se desviando de balaços e disparando para o outro lado do campo para marcar um gol; seus cabelos negros, rebeldes, pareciam flâmulas escuras enquanto ela voava e o sorriso que ela tinha enquanto jogava sempre fora resplandecente.

Não que Liam tivesse apreciado muito esse sorriso; infelizmente, o sorriso de Jamie no quadribol era o mesmo que ela havia exibido para ele diversas vezes ao longo do quinto ano, quando se sentava ao seu lado na Sala Comunal e tentava conversar com ele, seu rosto corado e seus olhos brilhando por trás dos óculos. Liam levara algum tempo para entender o que ela queria com isso, mas mesmo depois que Jamie parecera ter perdido a paciência e declarado que queria sair com ele, ele não se sentira interessado na época.

O problema era que Jamie parecia achar que ela lhe daria uma grande honra por eles saírem juntos, e mesmo que Liam soubesse que ela era linda – ele tinha olhos, e naquele ano todas as garotas haviam se tornado garotas –, ele não conseguia ignorar o quanto ela era arrogante e imatura e havia o fato de que ela sempre importunara Severa Snape. Então ele havia negado aquele convite para sair, e o segundo convite também – mas esse havia sido no dia daquele evento – e, depois disso, Jamie nunca havia falado em sair com ele novamente.

Isso era bom, Liam supunha. Ele tivera um sexto ano complicado – sem Sev – para ter que se preocupar com as tentativas de sedução de Jamie. Ele reparara nela naquele ano – como ela ficara mais séria, como ela parecia subitamente protetora de Sirina Black pelo que quer que tenha acontecido nas férias (alguém falou algo sobre ela fugir de casa, mas Liam não sabia se isso era verdade), e como mesmo as peças que ela pregava pareciam estar menos agressivas e mais engraçadas apenas.

E agora Jamie devia ter voltado suas estratégias de sedução para outra pessoa, ocorrera a Liam. Ele estava na sala dos monitores, olhando o relógio e se perguntando o que tinha acontecido para Jamie se atrasar – ela geralmente era pontual nesses dias de lua cheia -, quando seu olhar caiu para aquele mesmo sofá onde ele vira Jamie e o monitor da Corvinal conversando animados alguns dias atrás. Corner também estava em ronda naquela tarde; ele devia estar perto da Torre de Astronomia, enquanto Jamie deveria estar pelos corredores do primeiro ao quinto andar, mas talvez eles tivessem se encontrado.

E tivessem voltado a discutir estratégias, ou o que quer de metáfora que os jogadores de quadribol usassem para ficar se agarrando pelos corredores...

Nesse ponto, Liam havia se levantando, claramente inconformado. Jamie podia fazer o que bem quisesse, claro, mas ela não devia deixá-lo esperando por isso; havia relatórios a serem preenchidos, e se depois ela quisesse aproveitar sua noite de folga com Corner, aí tudo bem.

Só que não parecia realmente bem, Liam considerara, enquanto patrulhava os corredores do sexto andar – eles estavam vazios, ainda bem, ninguém iria querer ficar naquele frio fora das Salas Comunais. Não é que fosse da sua conta, mas Jamie havia pedido aquelas noites de folga por causa de Lupin, e se ela estava usando aquilo para ter encontros por aí...

— É só porque não é justo – Liam murmurou para si mesmo, meneando a cabeça e passando a mão nervosamente pelo seu cabelo ruivo, por mais que ele não soubesse exatamente o que lhe soava tão injusto.

Mas quando ele encontrou Jamie no terceiro andar, ela não estava acompanhada. Na verdade, ela parecia irritada. Liam se permitiu um momento para analisá-la, na sombra de uma estátua, tentando entender o que havia de errado. Jamie parecia dar socos no ar, enquanto xingava o nada aparente. Finalmente, Jamie se sentou no chão, apoiando suas costas apenas no ar, e aquele seu cabelo vasto e escuro cobriu sua cabeça.

Liam se aproximou, confuso, sem entender porque a garota estava sentada naquele chão frio. Quando ele estava há alguns passos, Jamie ergueu a cabeça de repente e Liam se viu encarando aquele par de olhos castanho-esverdeados que o intrigava há alguns meses, desde que eles haviam se fitado pela primeira vez como monitores-chefes; ele nunca conseguira se decidir se eram castanhos com manchas verdes, ou verdes com manchas castanhas.

— Evans! – Jamie disse, com um sorriso esperançoso, se levantando. – Eu preciso... – E então ela arregalou os olhos e esticou as mãos. – Não, não, pare agora...

Mas Jamie se calou de repente quando Liam se aproximou dela, e uma expressão de terror surgiu em seu rosto.

— Ah, ótimo, realmente ótimo – ela disse, amargurada, e voltou a se sentar no chão.

— Potter? – Liam franziu a testa. – Está tudo bem?

— Não, claro que não. Você é a primeira pessoa que passa por esse corredor em duas horas e eu não consegui te interromper a tempo e agora estamos os dois aqui presos.

— Presos?

Ela levantou o olhar para fitá-lo; na luz das velas, Liam achou que seus olhos eram mais castanhos do que verde.

— Tente se afastar – Jamie sugeriu, cansada, e por um instante Liam havia se esquecido do que conversavam. Então ele meneou a cabeça e tentou dar um passo para trás, como ela havia indicado. Para sua surpresa, parecia haver uma parede atrás dele, mas, quando ele se virou, não havia nada. – Está encantado – ela acrescentou, apontando para cima e, Liam viu que havia um ramo de visgo ali. – Você só precisava ter tirado e então eu estava livre.

Ele se abaixou ao lado dela.

— Não conseguimos, sei lá, queimá-lo? Desencantá-lo?

— Estou há duas horas aqui tentando, Evans, mas, por favor, sinta-se à vontade – ela respondeu, com um sorriso sombrio, passando a mão pelo cabelo e se apoiando na parede invisível para assisti-lo.

Liam se sentiu autoconsciente demais, mas pegou a varinha e começou a lançar feitiços em direção ao ramo no teto. Nada parecia acertá-lo ou funcionar.

— Eu falei – Jamie comentou, e quando se voltou para ela, Liam viu que ela havia tirado os óculos, apertando a ponte do nariz. – Estamos presos aqui até alguém retirar essa droga de visgo.

— Quem colocou isso aí?

— Eu não sei – quando ela reparou no olhar duvidoso de Liam, ela ergueu as mãos em defesa. – Não fomos nós! Nós nunca... quero dizer, alguém deve ter se divertido demais nas compras de Natal na Zonko's e esqueceu de tirar o visgo depois – Jamie fitou Liam intensamente. – Se fosse uma de nós, você acha que eu ia ser estúpida de entrar embaixo do visgo sem ter como tirá-lo?

Ninguém poderia acusar Jamie Potter e os Marotos de serem burros, então Liam assentiu. Jamie voltou a fechar os olhos; havia uma expressão tão desesperada no rosto de Jamie, que Liam se sentiu compelido a querer confortá-la. Ele imaginava que, para alguém que se sentia tão bem no ar, Jamie deveria mesmo odiar espaços confinados.

— Suas amigas não vão vir te procurar? Vocês estão sempre juntas. – ele perguntou, gentil, se sentando ao lado dela. Aquilo não pareceu relaxar Jamie.

— Elas não têm como saber onde estamos. Remy deve estar na enfermaria já – Jamie hesitou subitamente. – Ah... ela comeu algo que não caiu bem – acrescentou, desviando o olhar, e Liam não quis pressioná-la para dizer que sabia que ela estava mentindo. – Petra precisa entregar hoje aquele trabalho extra de Transfiguração, ela ainda deve estar fazendo na biblioteca, e Sirina está na detenção, não é?

E agora Jamie lançou um olhar crítico para Liam, mas ele não recuou, apenas cruzando os braços.

— Você sabe que Sirina merecia essa detenção.

— Por ter azarado os pertences daqueles sonserinos? – Jamie perguntou, inflamada, e Liam considerou que era muito melhor vê-la assim do que naquele desespero conformado. A paixão com que Jamie defendia suas amigas era encantadora; sempre fora um de suas melhores características. – Eles estavam importunando aquelas garotas do segundo ano, xingando de verdade, e se ela não tivesse feito aquilo...

— Não estou criticando o que ela fez – Liam retorquiu calmamente, fazendo com que Jamie erguesse as sobrancelhas, surpresa. – Mas ela não ganhou uma detenção pelo feitiço, e sim por ter sido pega. – Ele sorriu de leve. – Foi uma boa mágica, aqueles pássaros saíram bicando todos eles, eles saíram gritando pelo corredor.

— Foi ótimo, não é? – havia um olhar de orgulho no rosto de Jamie como se ela mesma que tivesse feito a mágica. – Sirina sempre foi boa em transformações de animais.

E agora havia um sorriso secreto nos lábios dela, e Liam se pegou fitando-o, tentando entender qual era o segredo que havia ali. Eram lábios bonitos, ele achava, com uma cor rosada e uma aparência tão macia; às vezes, quando ela estava pensativa, Liam a via mordendo os lábios, e havia algo estranhamente atraente na forma como os dentes parecia fazer uma pressão suave na boca e ele se perguntava...

Liam meneou a cabeça e desviou o olhar daquele sorriso. Os dois eram amigos agora, mas Jamie tinha sua vida e seus segredos e ele não devia tentar descobri-los.

— Achei que vocês tinham seus meios de comunicação – ele observou, achando que aquilo era um tópico seguro. As quatro sempre comentavam isso, cheias de orgulho de si mesmas.

— Até temos, mas... – Jamie suspirou. – Não estou com minhas coisas aqui e nós perdemos nosso mapa no mês passado, então...

— Mapa?

Ela lhe lançou um daqueles seus sorrisos mais marotos, o que sempre fazia algo se agitar no peito de Liam, com vontade de compartilhá-lo; sempre houvera algo agradável e convidativo no sorriso de Jamie Potter.

— Nós tínhamos um mapa muito bom que ajudava a ver onde as pessoas estavam, mas o novo zelador, Filch, pegou no mês passado.

Liam ergueu as sobrancelhas.

— Como se isso impedisse vocês de conseguir pegá-lo de volta.

— Sabe, Evans, assim você me choca – Jamie replicou, provocante. – O monitor-chefe não deveria ser contra invadir a sala do zelador?

Como geralmente acontecia na presença dela, Liam sentiu um sorriso surgindo em seu rosto sem que ele pudesse controlar.

— Eu já falei, o meu problema não é o que vocês aprontam, só sou contra vocês serem pegas.

Ela riu e esse som também fez algo se agitar no peito de Liam. Era tão fácil estar na companhia de Jamie.

— Certo. Nós poderíamos não ser pegas, eu suponho, embora aquela gata dele torne tudo muito difícil. Eu juro que ela consegue ver através... através de tudo – novamente Jamie desviou o olhar; Liam achava engraçado como ela não parecia conseguir encará-lo quando não estava dizendo a verdade. – Mas Sirina não está a fim. Ela disse que seria injusto eu usar isso agora que virei monitora. – Ela meneou a cabeça, agitando os cachos no seu cabelo; por um instante Liam se perdeu, analisando a forma com que o cabelo dela ondulava e o movimento refletia a luz das velas do corredor. Era quase hipinotizante. – Ela nunca vai me perdoar, sabe.

— O quê?

— Por ter me tornado monitora-chefe. Ela acha que Dumbledore deve ter perdido o juízo. – Jamie suspirou pesadamente, se apoiando contra a barreira invisível. – Bom, ela deve estar certa.

— Não sei se Dumbledore estava tão louco assim – Liam respondeu lentamente, ignorando o fato de que ele havia pensando o mesmo no início, quando vira Jamie Potter surgindo no vagão dos monitores. – Você é uma excelente monitora.

Um rubor surgiu na face dela e Jamie virou a cabeça, escondendo seu rosto com o cabelo. Liam se lembrou de como houvera uma época – algo entre o quarto e quinto ano, ele achava - em que Jamie Potter parecia sempre ficar encabulada em sua presença, o que fazia com que suas amigas rissem dela e lhe atormentassem com comentários que não eram para os ouvidos de mais ninguém além das quatro.

Ele tivera uma boa ideia do que era depois, mas na época Liam não lhe dava realmente atenção exceto para reclamar de algo que ela e as amigas estavam envolvidas.

Não poderia ser a mesma coisa agora, Liam sabia; desde o final do quinto ano Jamie não demonstrara nenhum interesse particular nele. Ela só devia ter ficado estranhamente envergonhada por ele tê-la elogiado pela monitoria – e agora que ele parava para pensar no assunto, Liam percebera que nenhuma vez, nos últimos meses, tinha realmente comentado isso com Jamie.

— Estou falando sério, Potter – ele murmurou. – Você é uma boa líder, é focada e é até responsável.

Ela soltou sua risada cristalina, aquela que era tão cheia de bom humor que parecia tornar o dia melhor.

— Assim que eu sei que você está brincando, Evans – respondeu, e quando voltou a fitá-lo, seu rosto não estava mais corado. Era uma pena, Liam considerou; havia algo gracioso na forma com que ela corava.

— Não estou. Eu realmente não gostaria de ter outra companhia como monitora-chefe.

Havia um brilho nos olhos dela que Liam não soube identificar; se ele tivesse que descrever, diria que era um brilho quente, como se os olhos dela – que agora lhe pareciam mais verdes que castanhos – pudessem irradiar um calor mais forte que qualquer fogo.

— Cuidado, Evans – ela disse numa voz leve, embora não parecesse brincar. – Desse jeito vou achar que você não me odeia.

Liam franziu a testa.

— Mas eu nunca te odiei – ele respondeu, confuso, e quando ela ergueu as sobrancelhas, descrente, ele se sentiu compelido a explicar. – Eu podia não gostar das coisas que você fazia ou do seu jeito, mas...

— Estou sentindo todo o não-ódio, Evans.

— Mas eu nunca te odiei realmente – ele completou. – Eu só achava que você... que vocês podiam ser melhores. Como se pudessem gastar o talento de vocês com coisas mais úteis e sem... sem importunar tanto outras pessoas.

E agora Liam quem desviou o olhar, sabendo que o que ele sentia era incômodo, como sempre acontecia quando pensava em Severa Snape.

— Eu... – havia um desconforto também na voz de Jamie. – Eu nunca falei nada, mas eu realmente lamento por isso. Por azarar outras pessoas.

Liam se voltou para ela, encarando-a. Não era como se Jamie e suas amigas houvessem parado completamente de azarar as pessoas, mas os relatos que ele ouvira pelo menos indicara que elas haviam sido provocadas – ou então, como ocorrera com Sirina no dia anterior, estavam defendendo alguém. Ele podia ouvir ainda o desdém daqueles sonserinos chamando os segundanistas de sangue-ruim e, se Liam estava quase imune ao xingamento depois de todos os anos, ainda lhe causava revolta ouvi-lo; Sirina intervira antes que Liam pudesse fazer qualquer coisa e, sinceramente, se não fosse a bagunça que aquilo causara, atraindo a atenção dos professores, Liam não tinha certeza de que a teria repreendido por isso. Fora uma detenção leve – copiar linhas, de todas as coisas -, mas Sirina Black não o agradeceria por estar passando a véspera do feriado numa sala mal cheirosa de detenções.

— Às vezes as pessoas merecem – Liam se ouviu dizer.

— E às vezes não – Jamie acrescentou. – Por essas vezes eu realmente sinto muito.

Havia algo inseguro agora no rosto de Jamie, e Liam se perguntou se ela também estava pensando naquele evento do final do quinto ano, que havia levado Liam e Severa Snape a deixarem de ser amigos, a deixarem de se falar desde então.

— Nós só queríamos fazer as pessoas rirem – Jamie continuou. – Mas erramos a mão e... – ela mordeu os lábios e Liam sentiu uma súbita vontade de interrompê-la naquele gesto, para que ela não machucasse a própria boca. – Eu sinto muito por você e por Snape.

Isso desviou o olhar de Liam dos lábios de Jamie e ele voltou a fitar seus olhos – castanhos com tons de verde, definitivamente. A garota parecia sincera.

— Você nunca gostou de Severa.

— Eu não lamento por ela – Jamie insistiu. – Mas por você, eu sei que vocês eram... amigos.

Havia um tom peculiar na voz de Jamie ao chamá-los de amigos, como se ela não acreditasse nessa definição – ou como se quisesse implicar algo mais, mas Liam não achava que isso poderia ser uma opção. Nunca houvera nada entre ele e Severa, os dois haviam sido só amigos desde a infância. E o que quer que Jamie havia feito naquele dia, não fora por causa dela que Liam havia cortado seu relacionamento com Snape.

— Não foi sua culpa – ele murmurou, fazendo-a erguer as sobrancelhas. – Quero dizer, o que aconteceu comigo e com Severa... você não a forçou a me xingar, não é?

— Não sei – Jamie parecia constrangida. – Talvez se não...

— Não – Liam a interrompeu, firme. – Ela falou o que falou porque é o que ela acredita, em todos aqueles supremacistas, na propaganda de Você-Sabe-Quem. Ela sempre acreditou que bruxos como eu são inferiores, eu só fui cego por todos esses anos.

Jamie franziu a testa, como se não acreditasse totalmente no que Liam dizia, mas não respondeu. Ele achou engraçado aquela reação, porque pareceria que Jamie Potter estava quase defendendo Severa Snape, como se elas não tivessem se odiado desde o primeiro momento em que se encontraram anos atrás. Às vezes Liam supunha que o motivo da inimizade era porque Jamie sempre fora tudo que Severa queria ser: ela era popular, era boa no quadribol, atraía atenção de todos desde... desde sempre, se Liam pensasse no assunto.

No início fora por causa do barulho; Jamie Potter era espalhafatosa, incapaz de ficar ou se manter em silêncio, e ela havia encontrado uma boa companhia em Sirina Black e então em Remy Lupin e Petra Pettigrew. Antes do fim do primeiro ano todos pareciam conhecê-las em Hogwarts, aquele grupo de garotas da Grifinória que estavam sempre juntas, sempre envolvidas em alguma confusão, que se autoproclamavam Marotas.

Depois fora por causa do quadribol, quando Jamie havia entrado para o time da Grifinória no segundo ano. Ela era a garota mais nova do time, mas ficara evidente seu talento quando, apesar da desvantagem no tamanho, ela havia driblado todos os adversários para ser a artilheira do campeonato.

E então, entre o quarto e o quinto ano, fora pela aparência. Jamie nunca seria tão intimidante quanto Sirina Black na beleza, mas o fato de que Sirina parecia realmente não ligar para encontros a tornara menos interessante.

Liam podia não se importar muito para Jamie Potter na época, mas ele não poderia negar que ela era bonita, com aquele corpo atlético do quadribol e um rosto que parecia desenhado com cuidado: o nariz arrebitado, os lábios mais rosados e cheios que o razoável, os olhos castanho-esverdeados que os óculos emolduravam, e aquele cabelo escuro, denso e revolto, contornando tudo isso. Não era à toa que ela fizera seu sucesso.

Mas era estranho para Liam pensar na beleza de Jamie Potter, porque não era algo que ele se deixara pensar seriamente ao longo dos anos; sempre parecera apenas um detalhe, já que ele estivera ocupado ficado irritado com ela antes. E se ele tivesse que pensar no assunto, agora que Jamie não o irritava mais, agora que ele gostava realmente da sua companhia... Seria diferente e Liam não sabia como lidar com isso.

— Você sabe que horas são? – Jamie perguntou, soando mais uma vez cansada.

— Devem ser quase nove, já eram mais de oito horas quando eu comecei a ronda.

— Nove? – a garota repetiu, e parecia mais nervosa que nunca. – Alguém precisa nos achar logo, se não... – e então ela olhou por uma das janelas, para o céu noturno repleto de estrelas. – A lua vai nascer daqui a pouco.

Liam franziu a testa. Ele entendia por que Remy Lupin ficaria preocupada com isso, mas não havia justificativa para Jamie também ficar.

— Eu realmente preciso ir – Jamie murmurou, mais para si mesma, e ela se ergueu de repente cheia de vigor. Liam teve uma breve visão das suas pernas nuas antes de decidir que era melhor se levantar também.

Jamie apontava para o teto, dizendo feitiço através de feitiço, mas nada parecia acertar o visgo – ou, pelo que Liam via, era como se nada ultrapasse a barreira que eles estavam, nem mesmo quando ela claramente tentou destruir algo no corredor, para chamar atenção.

— Não vai adiantar, Potter – Liam observou, e ela se voltou para ele, irritada.

— Então o que você sugere? Ficar aqui para sempre?

— Alguém vai passar alguma hora – ele ponderou, calmo. – Mas, não, eu pensei em só sermos espertos. O propósito desse feitiço não pode ser só nos deixar parados aqui, não seria divertido o suficiente para a Zonko's.

Havia uma expressão de cautela no rosto de Jamie, que ele não entendeu.

— No que você está pensando, Evans? – ela perguntou, hesitante.

— O que você sabe sobre visgos?

— Primeiro ano de Herbologia. O visgo é uma planta meio parasita, utilizada em poções do amor e poções de fertilidade – ela corou levemente ao falar isso.

— Isso – ele concordou, ignorando que seu pescoço também parecia subitamente aquecido. – Bem, na mitologia nórdica, as frutas do visgo vieram das lágrimas da deusa Frigga quando ela chorou por seu filho, que foi morto por uma flecha feita do visgo. Desde então é considerada uma planta do amor, é por isso que tem a tradição das pessoas se beijarem embaixo do visgo no Natal.

Era muito mais fácil para Liam se concentrar no que ele sabia sobre mitologia nórdica do que pensar nas implicações do que ele estava dizendo, principalmente porque tudo que Jamie parecia fazer, em resposta, era abrir mais e mais seus olhos – aqueles que Liam passara tanto tempo dos últimos meses se concentrando, tentando entender a composição das cores.

Depois de um minuto de silêncio, Jamie respirou profundamente.

— Como você sabe tanto sobre mitologia nórdica?

Aquilo não era o que Liam esperava ouvir. Ele pestanejou.

— Eu gosto de entender a mitologia por trás das poções – respondeu, confuso. Quando Jamie apenas assentiu, e ficou em silêncio como se isso fosse tudo que ela queria saber, ele tornou: - Você não vai falar nada?

— Sobre o quê?

— Ah... sobre o que eu falei? A história do visgo?

— É só uma lenda. E nem deveria fazer sentido, os nórdicos não comemoravam o Natal.

— Não, mas os cristãos adaptaram diversos aspectos da mitologia de cada povo. Sim – ele acrescentou, quando Jamie abriu a boca -, tirei tudo de Poções e as lendas que as envolvem, de Arpino Grecco.

— Você é tão estudioso, Evans.

— Curioso é o termo certo – ele a corrigiu, sorrindo e, por um instante, Jamie sorriu de volta, como se incapaz de resistir ao sorriso dele; então ela desviou o olhar. – Mas você ainda não falou nada.

— Não tem o que falar, Evans – Jamie murmurou, parecendo muito interessada na paisagem do lado de fora, embora a escuridão da noite impedisse qualquer vista realmente. – Parece que você está sugerindo que nos beijemos debaixo do visgo para acabar com o feitiço e isso não faz sentido.

— Claro que faz – Liam observou, razoável, embora seu coração tivesse disparado ao ouvi-la falando daquele jeito casual sobre eles se beijarem. – É um visgo, não é? Seria o tipo de brincadeira que eles vendem na Zonko's, para garantir que as pessoas que entrassem dentro tivessem que se beijar para sair.

— É uma brincadeira péssima – ela observou, ainda em voz baixa.

— Você que entende melhor do humor do pessoal da Zonko's. Mas ainda assim, parece que essa é a chave.

Ela voltou a fitá-lo, parecendo em choque.

— Não vou te beijar, Evans – falou, como se essa ideia fosse alienígena.

— Olha, estou tão feliz quanto você por estarmos presos aqui debaixo de um visgo – Liam retrucou, cruzando os braços. – Mas você tem um compromisso, não é? Então podemos ficar aqui esperando por sei lá mais quanto tempo ou podemos tentar quebrar esse encantamento.

Liam conseguia ler facilmente o conflito que havia nos olhos de Jamie; ela já devia estar realmente cansada de ficar ali por horas, sem ter jantado, e o que quer que ela tivesse para fazer, pareceria importante para ela. Mas, ao mesmo tempo, havia uma hesitação estranha, que lhe deu a sensação de que Jamie realmente não queria beijá-lo.

Ele pensou em todas as vezes em que ela havia sorrido para ele durante o quinto ano, se aproximado para tocá-lo como quem não queria nada, piscado em sua direção, e até quando ela finalmente o chamara para sair. Nada daquilo ocorrera nos últimos anos e, pela primeira vez, Liam considerou o que isso representava: aquela queda que Jamie Potter tinha por ele havia passado totalmente, o que explicava por que ela parecia tão contrária a beijá-lo.

Havia um desapontamento em Liam de repente, como se esse fato lhe causasse tristeza; o que fazia sentido, ele ponderou. Se ela quisesse beijá-lo, eles podiam já ter resolvido o problema em que estavam.

— Eu não fiz isso – ela disse, de repente. – Não fui eu quem coloquei aquele visgo ali.

— Eu sei – Liam respondeu, confuso, porque ele acreditara nela desde que ela havia dito isso.

— Bom – ela pareceu relaxar minimamente. – Você acha que realmente funcionará?

Havia um calor em Liam agora ao perceber que ela não parecia mais rejeitar tanto a ideia. Ele supôs que era a satisfação por estarem possivelmente próximos de sair dali.

— Acho que sim e, de qualquer forma, vale a tentativa, não é? O que temos a perder?

Pela expressão no rosto de Jamie, parecia que haviam várias coisas que poderiam ser perdidas, mas ela apenas acenou.

— Certo... Eu... – Jamie respirou fundo, como se para se controlar, mas Liam achou que não adiantou muito. Os lábios dela tremiam. – Eu acho que só um toque deve ser suficiente, ninguém ia forçar duas pessoas a realmente...

— Faz sentido – ele concordou, sorrindo com a praticidade dela. Por alguma razão, seu sorriso pareceu deixá-la apenas confusa. – Você está bem?

— Claro – ela respondeu, embora não parecesse nada bem. – Super animada. Tudo que eu queria era passar a véspera do feriado beijando um cara que nem me acha atraente.

— Oh – ele piscou, se sentindo tão confuso quanto ela. – Quem disse que eu não te acho atraente?

— Você? – Jamie mordeu os lábios brevemente. – Sabe, quando... – ela corou e se recusou a fitá-lo. – Quando eu estava... Bom, no quinto ano.

— Oh – ele repetiu e sentiu que ele estava corando também. – Não era isso, quero dizer, esse nunca foi o problema. – Liam hesitou, sabendo que o que o não fizera ser se sentir desinteressado em sair com Jamie Potter nunca fora a atração física. Ele desejou poder explicar isso, mas, por alguma razão, fitando-a, as palavras ficaram emboladas na sua língua. – Você é meio que atraente, Potter.

Ela pestanejou.

— "Meio que atraente"? – repetiu. – Uau, você sabe fazer uma garota se sentir especial, Evans.

Liam engoliu em seco; Jamie havia cruzado os braços, não parecendo a fim de mais nenhum contato e, dessa vez, Liam não podia recriminá-la.

— Não, eu errei, não foi o que eu quis dizer – e, quando ela continuou a parecer chateada, ele deu um passo em sua direção. Ela estremeceu e ergueu a cabeça, encarando-o quase com desafio. Liam se permitiu realmente olhar para Jamie Potter, apreciando o contorno do rosto, deixando aqueles olhos de avelã para o final (mais castanhos que verde, ele tinha certeza agora). – Você é linda.

Ele a viu cortar a respiração de repente e o desafio sumiu dos olhos dela, substituídos por aquele calor envolvendo que o fazia sentir vontade de se aproximar, como um inseto atraído pela luz. Jamie sorriu, mas antes que ele pudesse interpretar totalmente aquele sorriso, ela abaixou o olhar.

— Ok, ok, Evans – falou, numa voz leve. – Você ganha pontos por se esforçar. Então, como quer fazer isso?

Ela soava prática, o que fazia sentido para Liam. Ele sabia como Jamie Potter gostava de responder desafios, e aquele devia ser só mais um que ela ia resolver.

— Nos beijamos?

— Certo, mas... – Ela respirou fundo uma última vez. – Ok, feche os olhos.

— O quê?

— Não vou te beijar de olhos abertos, seria estranho. Bom, mais estranho. – Quando ele a encarou, ela revirou os olhos. – Íamos parecer dois peixes de boca aberta, não precisamos tornar isso mais bizarro do que já é.

— Certo – ele concordou, com um sorriso diante da exasperação na voz dela. – E por que eu fecho os olhos?

— Ah, não – ela meneou a cabeça, fazendo seus cachos se agitarem. – Não vou ser a garota que fica de olhos fechados à espera de um beijo, me recuso a assumir esse papel.

— E eu posso ser o cara que fica esperando?

— A ideia foi sua, Evans – ela replicou, sorrindo travessamente, parecendo mais no controle.

— Ok, Potter, o que te fizer feliz – Liam suspirou e fechou os olhos.

— Só abaixe a cabeça um pouco, Evans – Jamie pediu, num sussurro. – Você é alto demais, sabia?

Ele riu e abaixou a cabeça, embora lhe tenha ocorrido que bastaria ela passar suas mãos em torno do seu pescoço, para aproximá-los. Ele conseguia imaginar como, apesar das suas mãos bruscas – sempre cheias de calos pelo quadribol -, Jamie agiria com delicadeza, como ela tocaria os fios do seu cabelo ruivo ali próximos à nuca e como esse toque o arrepiaria...

Liam se arrepiou mesmo, mas ele supôs que fosse o frio que entrava pela janela; então lhe ocorreu que ele não deveria sentir frio, não se Jamie estivesse próxima o suficiente para beijá-lo.

— Potter? – ele perguntou, incerto, e por um instante achou que ela tivesse partido, até perceber que não haveria como.

— Desculpe, eu... – Jamie soava nervosa novamente. – Só estava tomando coragem.

Ele riu baixinho.

— Você é da Grifinória, Potter – garantiu. – Se tem alguém que tem coragem, é...

Mas ele não continuou a frase, pois Jamie havia finalmente se aproximado e tocado seus lábios com os dela. Eles eram realmente tão macios e suaves quanto Liam havia considerado naquelas horas de reflexão na sala dos monitores.

Ela estava respeitando o que eles tinham combinado – eles tinham combinado algo? Liam não tinha mais certeza –, e embora seu corpo estivesse próximo ao dele – ele podia sentir o leve calor que emanava -, ela não estava lhe tocando mais que o necessário; suas mãos não estavam em volta do pescoço dele, seu corpo não estava colado ao dele e aquele beijo não era realmente um beijo — era só um toque.

Se Liam estivesse pensando racionalmente, realmente pensando, ele saberia que o que deveriam fazer era se separar e ver se o beijo tinha quebrado o feitiço; ele estava pronto para fazer isso, no mesmo momento que Jamie também parecia que ia se afastar. Mas quando ela recuou, um milímetro, seus lábios se entreabriram naturalmente e, naquela fração de segundo, ele pode sentir seu hálito. Era refrescante, e então todos os pensamentos sumiram da sua cabeça, substituídos por uma única necessidade: realmente beijar Jamie Potter.

Suas mãos tomaram vida e enquanto uma delas a envolvia pela cintura, a outra se enterrou nos fios do cabelo dela, segurando-a pela nuca, enquanto sua cabeça se inclinava, pedindo um melhor acesso aos lábios dela. Se Jamie estava confusa com essa mudança, ela não demonstrou: seus lábios se entreabriram realmente, permitindo que suas línguas se tocassem, e Liam desejou subitamente que eles já tivessem feito aquilo antes, muitas vezes antes. Era bom beijá-la, era bom descobrir qual era o melhor ângulo, era bom sentir o toque de suas mãos quando ela finalmente ergueu os braços para colocá-las em volta do seu pescoço – e o toque de suas mãos era realmente como ele havia imaginado.

Ele precisava se aproximar mais. Puxou-a para si e Jamie aceitou fácil que ele a conduzisse nos passos, ao se moverem pelo corredor, sem que isso interferisse no beijo, até que ele sentiu a parede atrás de si. Então ele inverteu suas posições, para pressioná-la contra a parede, sentindo o corpo dela contra o seu; um som escapou da garganta dela, e Liam sentiu esse som reverberando em cada parte do seu corpo; ele achara que a risada dela era um dos sons mais bonitos que ele já ouvira – era sempre tão animada, tão marota -, mas isso foi antes daquele gemido. Ele definitivamente queria reproduzir aquele som.

Foi só essa vontade súbita que o fez se separar minimamente dela; o som que saiu de Jamie agora foi de revolta, mas Liam beijou-lhe de leve nos lábios, como uma promessa de que voltaria — não havia como ele não voltar – , antes de lhe beijar no pescoço, plantando beijos suaves ali que a arrepiaram; mas ela manteve o silêncio até ele mordiscar, de leve, o lóbulo da sua orelha – e então ela voltou a gemer e, satisfeito, ele tornou a procurar seus lábios, desejando sentir novamente o seu sabor, decidido a continuar a lhe beijar para sempre.

Para sua surpresa, no entanto, com um suspiro pesado, Jamie desviou o rosto e seus lábios apenas roçaram a sua bochecha; estava quente ali, mas então tudo lhe parecia cheio de calor.

— Evans – Jamie o chamou, numa voz que soava estranhamente trêmula. – Funcionou.

— O quê? – Liam perguntou, confuso, abrindo os olhos; Jamie não o encarava; ela respirava pesadamente e havia uma expressão incerta em sua face. Seus óculos estavam tortos no seu rosto e seus lábios estavam inchados; aquela combinação era estranhamente uma das cenas mais atraentes que Liam já vira.

— O visgo. O... o beijo funcionou. Você pode parar.

Por um segundo, Liam continuou confuso, como se tivesse despertado violentamente de um sonho no meio da madrugada e não soubesse bem o que estava acontecendo. Então ele se lembrou do visgo e do plano deles, e percebeu onde estava: há um metro de distância do lugar onde aquele ramo pendia do teto, inocente, com o seu corpo pressionando Jamie Potter contra a parede de tal forma que ele podia sentir todas as curvas do corpo dela, o calor do seu corpo e o perfume que ela usava. E se ele a sentia assim, então ela também sentiria...

Ele se afastou, sentindo o calor do seu corpo se concentrando agora no pescoço, o que sempre fora um sinal de nervosismo.

— É, bom, foi uma boa ideia, você estava certo – Jamie murmurava, contornando-o. – Agora... Você pode retirá-lo? Com cuidado?

Liam assentiu, sem falar nada; ele não se sentia capaz de formular uma frase completa, não com a forma com que seus lábios ainda formigavam daquele beijo.

Ele se ergueu na ponta dos pés e, com cuidado, arrancou o visgo do teto.

— Aqui – Jamie pediu, ainda sem fitá-lo, sua mão estendida. Ele lhe entregou o visgo, quase jogando-o, não confiando que seria uma boa ideia voltar a tocá-la; ele ainda podia sentir a forma com que as mãos dela haviam se enterrado em seu cabelo, acariciado sua nuca, enquanto eles se beijavam. – Obrigada, agora... – ela queimou a planta com a varinha. – Ninguém mais vai ficar preso.

Ele concordou em silêncio, ainda zonzo.

— Eu preciso ir – ela murmurou. Ele pigarreou, para forçar sua voz a sair.

— Eu vou continuar a ronda – respondeu, também num sussurro, sua voz instável.

— Claro, boa patrulha, Evans. – Jamie respirou fundo antes de sorrir, embora não parecesse o mesmo sorriso fácil de sempre. – Cuidado por aí, não vai querer ficar preso em outro visgo.

O único pensamento que ocorreu a Liam foi que se ele estivesse preso com Jamie, não seria tão ruim. Na verdade, seria uma ideia muito boa, porque aí ele poderia cumprir sua promessa de beijá-la novamente e ele queria muito fazer isso de novo.

— Até mais, Evans. – Jamie continuou e, Liam piscou, surpreso. A garota havia se afastado dele sem que ele percebesse.

Liam respirou fundo, tentando colocar um pouco de razão nos seus pensamentos.

— Até, Potter. Boas... boas festas.

Ela se virou em sua direção e agora, finalmente, ela o encarou nos olhos. Havia uma expressão vulnerável em sua face que Liam nunca vira antes e lhe ocorreu que ele gostaria de abraçá-la, de perguntar o que passava por trás daqueles olhos castanhos-esverdeados que lhe intrigavam desde o início do semestre, e talvez até de beijá-la novamente até que ela o fitasse apenas com carinho e calor e certeza.

Por um instante, Liam achou que ela voltaria ao seu lado, que ela o beijaria de novo e que eles poderiam continuar de onde tinham parado, mas Jamie apenas lhe lançou um sorriso que parecia corajoso.

— Boas festas, Evans – foi tudo que ela disse, e então sumiu no corredor.


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