Amor X Arena 2013 escrita por Anikenkai


Capítulo 1
Capítulo 1




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 Capítulo 01

Saio do box ainda enrolada ao roupão macio. Sinto meu corpo tremer com o frio do ar após do mundo de jatos quentes do chuveiro, que me faz girar os calcanhares e mergulhar novamente na água morna. Minha mãe está batendo na porta sem parar. Com toda a certeza, armada até os dentes com câmeras e filmadoras para gravar uma noite histórica, para toda vida de uma festa de colegial que neste exato momento, sinceramente, estou com a mínima vontade de ir.

Digo para ela ir embora diversas vezes, e ela enfim, se cansa de bater, devo ter lhe feito desistir da idéia de bater minha foto no quarto, e para filmar eu e um longo, esquisito e cintilante vestido que Cinna tinha preparado sob encomenda para mim, deslizando devagar sobre as escadas. Posso ouvir o berrar da minha mãe de loucuras e gemidos finos de excitação de Portia, Vênia, Octavia e Flavius, do orgulho da menininha deles. Belíssima. E Boba. E Cintilante.

Removo o roupão e deslizo o vestido grosso e vermelho com cuidado no corpo. Penteio meus cabelos com cuidado, e os entrelaço e uma trança embutida única, que cai sobre minhas costas e enrosco-as em uma fita azul-celeste sobre o seu meio, seguindo o contorno da trança, até o restante da fita flutuar sobre o final dela. Ponho os longos saltos-agulhas sobre os pés, embora ainda não tenha tempo de praticar a andar sobre eles.

“Droga, Effie! Como é que você aguenta esta tortura de se equilibrar o tempo todo?! Que porcaria… AI! AI!… ” Penso comigo mesma.

Meu rosto esta bem enfeitado também. Bochechas avermelhadas com toques de tom de pele e meus olhos cobertos com uma sombra de camadas fortes bem escuras, e dão um brilho meio que azulado no meio e nas pontas, e completadas por uma grossa camada de delineador líquido no início da sombra, e cílios postiços que faz o efeito de faíscas avermelhados-azulados quando pisco, criadas orgulhosamente por Octavia - antes de a expulsar para a sala como todos. Mergulho meus lábios em um espesso batom vermelho-sangue. Olho fixamente para criatura e pé, diante de mim no espelho da escrivaninha com cuidado.

— Essa não sou eu…  — Digo para o espelho, suspirando.

Meus cabelos despenteados na trança sempre suja de lama ou de fermento da padaria, e um rosto livre de qualquer pó ou efeito de transformação, com uma camiseta branca justa simples e jeans dobrados e amassados, que me deixa à vontade, foram brutalmente mutilados e substituídos por uma dama de cílios brilhantes e cabelos presos e limpos. Eu aqui. Presa. Lutando para conseguir respirar debaixo do vestido. Penso em tirá-lo e desistir da idéia de bancar a idiota que não sabe dançar e segurar na mão de um rapaz direito, quando desta vez, é Cinna que bate na porta falando com firmeza:

— Você está pronta, querida?  — Dizia por detrás da porta.

A firmeza de Cinna em sua linda, rouca e tranquila tom de voz me assusta um pouco, mas me deixa sob controle, me fazendo lembrar que estou fazendo isso, para início, por motivos pessoais. Por algo mais importante que eu mesma.

Deslizo meus dedos na fechadura, e recoloco os saltos-agulhas enquanto me equilibro me sustentando na porta. Dou um suspiro sem graça. Abro devagar a porta, enquanto começo a caminhar cuidadosamente sobre o corredor de camurça bem devagarzinho, torcendo mentalmente para que não houvesse tanta gente na sala de estar, com seus olhos penetrantes, me olhando se cima a baixo. E fotos. E fotos. E mais fotos. E beijinhos e abraços. E elogios, como “Você está tão bonita!”, ou “todos os rapazes desta festa vão ficar louquinhos por você! Olhe que gata!”, mas sinceramente, não dou a mínima nenhuma. Mas preciso aguentar, pelo bem de todos. Até meus familiares acabarem, vou ter que e contentar com o fato que a festa já vai ter acabado, o que não seria tão ruim assim.

— Lá vem ela! Lá vem ela! Filma, querida!  — Ouço minha mãe berrar para minha irmã pequena, com a câmera pronta para me metralhar de fleches de amor.

Começo a descer a escada que leva para a sala onde estão todos, mas levo uma pequena surpresa. Não há quase ninguém me esperando. Não tantas quanto eu esperava, provavelmente. Apenas minha mãe, minha irmã mais nova Prim agarrada com o sarnento do seu gato favorito, dentre os milhares que ela tem, Buttercup. Então, meu olhar fixa diretamente no rapaz de terno bem polido, loiro, de aparência esmagadoramente atraente, curvado no sofá com as mãos entrelaçadas olhando para baixo. É meu par. Peeta.

Sei que ele quer acabar logo com isso tanto quanto eu. E apenas uma noite. Quando acabar, nem precisaremos trocar uma só palavra novamente, ou sequer olhar para cara um do outro. Ele estará livre de mim, e eu, aliviada.

— Katniss! Katniss! Olha só para você! Que moça linda você está! Olhem só esse vestido! Isso é um vestido! Muito melhor que aqueles trapos horrorosos que você usa todos os dias, aliás…  — Menciona Effie, amiga da minha mãe que acaba de beber alguns copos de vinho pelo hálito contra meu rosto coberto de pó, surgindo ali de repente e falando alto, enquanto fica agarrada nos meus ombros me girando para me ver rodopiar feito uma princesinha.

— Effie…  — Arfo, e ergo as sobrancelhas - — … de onde você surgiu, em… ? —  Me curvo olhando para trás dela, na tentativa de encontrar a “passagem secreta” que ela usou para se tele transportar de um minuto para o outro na minha frente.

— Ah, acabei de chegar. Eu estava ali… hã… ali…  — Ela faz uma expressão que parece ter dificuldades de lembrar de onde havia aparecido.  — Er… hã… H…H–Haymitch! Q-qual é o nome daquele cômodo onde a gente prepara a comida mesmo?  — Diz ela ajeitando a peruca desta vez lilás.

Ouvimos a geladeira bater. Um homem adulto, de barba grisalha, cabelos loiros, lisos e um pouco cumpridos que cai sobre os seus olhos com o terno - que deveria estar novo - sujo, aparece, segurando uma garrafa de cerveja quente na mão esquerda e ajeitando a calça que cai.

— Cozinha, Effie. É… cozinha…  — Ele caminha devagar na minha direção, me fazendo recuar e enroscar meu corpo na parede para fugir do seu hálito gorduroso, enquanto ele levanta seus dedos e pousa sobre meu queixo o levantando na mesma hora .  — Nada mal, docinho… nada mal mesmo…  — Ele encrava um olhar sobre o meu, em seguida abaixa o olhar para examinar meu corpo  — Ah… se eu ao menos fosse mais jovem…

— H–Haymitch! Toma vergonha nessa cara! A família de Katniss está te vendo e ouvindo muito bem!  — Pronuncia Effie como de ela tivesse lendo meus pensamentos.  — Tenha educação com sua aluna, por favor!

Haymitch lança um olhar feroz sobre Effie, e a corresponde da mesma forma; e os dois se mantem assim por alguns segundos eternos. Ele então se retira de perto de mim, e se esparrama sobre o sofá, quase acertando a cabeça de Peeta com a garrafa de cerveja.

— Ha ha ha!… relaaaxa Senhora Everdeen. Relaxe também querida Effie. Fiz para provocá-la um pouquinho.  — Ele se vira do sofá, e se dirige a mim e alto e bom som: – Não sou eu que está afim da princesinha aqui, e sim esse principezão aqui…  — Ele levanta o braço de Peeta em uma pose de vendedor, mas Peeta nem parece ligar.  — Esse aqui! Ele é o cara. Derrotou o musculoso moreno do Gale, e dentre todos os bando de inúteis pervertidos rapazes dessa cidade só para sair com ela… Incrível!  — Haymitch finaliza abraçando Peeta que não esboça nenhuma reação.

Fico muda. Meus estilistas e minha mãe se entreolham, e Prim lança um olhar malicioso na minha direção, e Buttercup parece fazer o mesmo.

Derrotou? Derrotou Gale, meu ex-namorado, aquele me traiu e me deixou a sofrer sozinha? Outros rapazes, como assim? Penso comigo mesma.

Gale está morto para mim.

O que ele fez comigo não tem perdão… para que tocar nesse assunto agora? Fico completamente perdida nos pensamentos trêmula, quando dou por mim que todos estão rindo, pois só agora todos sacaram que a intenção de Haymitch era fazer uma piada. Permaneço séria, e olho com raiva para Haymitch que me encara, e não tenho nada para lhe responder, até que meus pensamentos são liberados se minha permissão para a boca:

— Hã? Como assim? Eu não amo o Peeta ou qualquer coisa assim… não! A-Amar não… e-eu quis dizer que não gosto dele desse jeito… a-amar não… de onde você tirou essa idéia, Haymitch?…  — Digo gaguejando, já me fuzilando mentalmente.

Um rubor - forçado - bem vermelho toma conta de mim, enchendo meu rosto por completo. Esquivo para o lado e percebo que Peeta e eu cruzamos olhar. Aqueles lindos olhos azuis, me faz ter um sobressalto no vestido. De qualquer maneira, isto é verdade.

Começo a tremer de seriedade. Peeta começa a rir, e soltar uma gargalhada deliciosamente linda, enquanto se levanta e caminha a passos lentos em minha direção. Desta vez é ele quem me prende na parece, imitando Haymitch com os dedos. Ele brinca com a minha trança das costas e em seguida, estica a mão direita no paletó e puxa uma caixinha de plástico com uma rosa limpa e perfeitamente perfumada. Peeta encaixa a rosa no meu peito e o prende com o meu broche do Tordo, encaixado a rosa pálida, e leva sua mesma mão para a minha, a entrelaçando em um morno aconchego quente de seus dedos.

Nos olhamos. Ele parece agora congelar de medo de repente.

Apenas uma noite, Peeta. Só uma noite… vai acabar rápido… Apenas esta noite ficaremos juntos… depois, poderá seguir com sua vida em paz…

Não consigo mais me controlar. Ele me olha mais uma vez, e sorri fracamente novamente. Fico imóvel me controlando para não vacilar mais uma vez com todos, quando ele quebra o silêncio da plateia que o tempo todo, os observava em silêncio do sofá.

— Sei. Haymitch tem razão. Você não me ama. Real ou não Real?  — Ele sorri maliciosamente, me fazendo corar idiotamente. Volto a seriedade da fúria que chega pelo modo que ele me provoca, e respondo quase rispidamente:

— Real. Totalmente Real, Garoto do Pão…  — Giro para o lado, sem ousar me desprender das mãos dele que me aquece, e respiro fundo.

— Vamos então?  — Corta Haymitch.

— Sim… vamos…  — Responde Peeta. Minha mãe se lembra da câmera nas suas mãos, e corre para nos tirar uma última foto.

Peeta desliza sua mão direita na minha cintura me puxando mais para seu corpo, e segura minha mão de lado, enquanto agarro suas costas por trás para não cair do alto, me equilibrando. Sorrimos o mais felizes e mentirosamente românticos que podemos. O flash é liberado em um barulho abafado, e a luz rápida me deixa sem visão. Permaneço no sorriso, quando enfim, Peeta sussurra no meu ouvido:

— Você está pronta, Katniss?

Várias coisas passa pela minha cabeça. Não consigo pensar em mais nada da realidade; as coisas estão em jogo. Apenas assinto com a cabeça em confirmação, e ele diz algo como “que bom… Haymitch vai dirigir a limousine, certo?”, o que desagrada meu humor completamente. Haymitch dirigindo um carro com a gente dentro? É a mesma coisa que deixar um bebê segurando um fósforo cercado de roupas e panos e gasolina ao redor. Estaríamos entregando nossa confiança e vidas a um chofer bêbado que berra consigo mesmo.

Ah… dane-se. Não estou nem aí para o Haymitch e suas maravilhosas habilidades em dirigir bêbado. Enquanto Peeta estiver segurando minhas mãos, sei que não irei cair de uma atuação fria. Nem da realidade. Isso é algo que nunca vão tirar de mim. Peeta. Ele é meu. Mas sou muito estúpida para confessar isso é claro, porquê de uma forma ou de outra, ele nunca iria escolher uma desleixada, raivosa e fria Katniss.

Só esta noite. Eu juro que só esta noite ficaremos juntos, eu nunca mais irei pedir nada novamente á ele, sumirei de tudo se for preciso. Só quero que me ajude a escapar do simulador, a fugir dos jogos. Preciso salvar Prim, mas quero viver. Só se apaixone por mim mais uma noite, e eu lhe deixarei livre.

Peeta e eu. Isso é algo impossível de se realizar, apenas em meus sonhos mais profundos. Ou melhor, pesadelos da Arena. O amor está confrontando a arena. Mas à jogos muito piores que este.

                                                      (…)

Quatro minutos depois.

Haymitch dá algumas giradas em torno de si e uma cambalhota até conseguir chegar á porta da limusine.

Ele bate com as palmas das mãos nos bolsos do terno, na tentativa de encontrar algo - as chaves do carro, talvez - mas em uma tentativa em vão. Ele chuta a porta do carro e começa a berrar de raiva, esbarrando a garrafa de cerveja no capô fazendo um ruído de arranhado horrível, que é substituído pelo som de cerveja derramando sobre o estofamento da limusine e pingando no chão. Isso só dá para concluir uma única coisa. Haymitch está bêbado até os ossos. Peeta e eu o observamos arrombar o próprio carro, quando ele enfim resolve soltar minhas mãos e as envia nos bolsos do paletó. Meu reflexos se movem sem minha permissão, tentando recuperar minhas fontes de aquecedores macias em vão, quando Peeta quebra o silêncio entre nós:

— Será que a Polícia vai o ver dirigir e nos prender?  — Pergunta ele. Minhas opções de respostas são óbvias, mas não quero lhe plantar medo logo nesta noite.

Hoje precisa ser tudo perfeito entre mim e Peeta para que eu ganhe. Mesmo que seja preciso botar um bêbado Haymitch no volante…

— Isso é mesmo uma droga…  — Continua Peeta.   — Ele jurou pela cerveja dele, que ele tentaria ficar sóbrio o bastante para nos levar ao baile… mas pelo visto, não posso nem confiar naquela garrafa ali.

Fico meio séria por uns momentos, e em seguida começo a soltar uma pequena gargalhada ao perceber a piada sem graça dele. Puxo a mão eternamente morna do seu bolso, e a entrelaço na minha, puxando seu corpo também mais para o meu, na tentativa que seja uma mensagem de que, estamos bem e unidos.

— É… tem razão… mas cuidado…  — Solto outra risada.  — Você tem mais de dezoito anos, já pode ficar em cana, loirinho.  — Estou tão próxima do rosto dele, que assopro seus cabelos caídos nos olhos azulados, e me esquivo de novo lembrando que não posso ficar tão à vontade com Peeta assim.

— É mesmo? E você Everdeen? Também pode virar uma delinquente juvenil, espertinha…  — Ele diz, beijando minha cabeça no topo.

Damos breves risadas de distração, quando Haymitch grita nossos nomes para nos trazer ao mundo real, buzinando com força e sem dó para nos acordar.

— Andem! Mexam-se, seus pirralhos! Não tenho a noite toda, não!

Começamos a gargalhar do estado de Haymitch, molhado, fedido e com as pernas abertas na nossa frente, quando é Effie que abre a porta atrás de da gente, esbarrando na nossa frente outra garrafa de cerveja, nos fazendo automaticamente largar as mãos um do outro.

— Haymitch! Cala a boca deste carro! Os vizinhos da Senhora Everdeen vão ficar incomodados! Tenha santa paciência!  — Grita ela bufando, enquanto anda de volta para a sala devagar. Peeta e eu nos olhamos, confirmando mentalmente o que está acontecendo agora.

— Nunca a vi bêbada assim…  — Digo olhando para a porta trancada.  — Quero dizer… ela sempre diz que evitar consumir álcool, e ela sempre confirma isso quando vem para as festas aqui em casa… mas algo deve lhe ter feito mudar de idéia.

— Katniss… você precisa urgente cortar o álcool desta casa.  — Diz ele rindo. Não posso evitar de sorrir e concordar com ele com a cabeça - Afinal, conviver com Haymitch é o mesmo que se contaminar com ele.

Droga! Não ria! Não ria. Prossiga, e o conquiste…

— Acho que tem razão. Mas agora a gente…  — Puxo seu braço para a escadinha, o descendo no mesmo instante. Peeta capta a mensagem, e desce no mesmo fluxo que eu.

— Tem razão. Precisamos ir, ou chegaremos atrasados.

Suas mãos tocam minhas bochechas vermelhas , e um outro rubor toma conta do rosto, me alisando. Sinto um tremelique ao sentir sua outra mão passar por minha cintura, e antes que eu perceba, estamos tão grudados um no outro, tão próximos, que um simples movimentar de lábios para falar, já seria beijá-lo. Não dá para resistir de novo. Ele está perto demais, e sua mão me puxa para si. Nossos olhos são fechados, e sinto o iniciar dos lábios dele me tocando, quando Haymitch nos corta por completo, buzinando mais intensamente desta vez para que entremos no carro imediatamente.

— Andem logo! Entrem logo nesta porcaria, ou vou vomitar em vocês dois!  — Berra mais uma vez ele, batendo o punho novamente no capô.

Tento afrouxar meus braços, quando a frase de Haymitch percorre na minha cabeça como uma flecha: Vou vomitar em vocês. Nojo. É a reação que sinto neste momento. Nojo completo. Me desvio do rosto de Peeta, que esboça decepção com o fim rápido do beijo. Sinto arrependimento, e ponho na cabeça que vou socar Haymitch assim que chegarmos na festa. Isso que a gente conseguir chegar lá ainda vivos.

Ainda estamos com os rostos colados. Peeta solta um sorriso enquanto esfrega o nariz no meu pescoço até a orelha e mordo o lábio com a ação. Ele abaixa o olhar para mim, até me abraçar novamente, ignorando o chamado de Haymitch.

— É tão bom enxergar uma vida pela frente e saber que você quer estar ao meu lado. – Peeta gargalha de leve, mas meu coração se endurece imediatamente com sua confissão inesperada.

Só não… caia você também, Katniss. É uma encenação.

— É. Também… acho que sim.  — Sussurro quase ríspida, tentando não cortar a tensão que se acumula no meu peito. Arfo levemente, quando assisto a expressão de Peeta mudar, ao sentir seus músculos do rosto descontraírem no meu pescoço, e levemente, ele se afasta.

O que eu fiz. Deveria soar mais natural ao concordar com ele? Por que preciso iludi-lo deste jeito? O que sentia por Peeta não é o fogo mais arder dentro de mim… Mas… não posso cometer erros. E este foi um chute na trave. Sem dizer mais nada, caminho apressadamente para a limousine, e Peeta segue atrás de mim, quando minha mãe abre a porta da frente quase desesperada para nos desejar boa sorte de longe. Peeta acena para minha mãe e sorri disfarçadamente, embora parecesse muito real. Em seguida entra primeiro atrás, e o sigo, lançando um olhar mortal e raivoso sobre Haymitch o máximo que consigo, e ele me corresponde mentalmente: “É o máximo que consegue fazer? Já vi olhar mais assustador na Effie.” E entro no carro.

Ele fecha a porta com um barulho alto, e segue para a frente do carro entrando também e lhe dando partida um o barulho do engate. Haymitch se contorce para trás, na tentativa de conseguir dar ré e manobrar a limusine. Ele tem sucesso quase assustadoramente, e segue com o carro. Vemos minha mãe pela janela de trás acenando com Effie, Portia, Octavia, Flavius e Prim para nós, e aceno com a mão para eles de volta, sorrindo gentilmente, quando na verdade, estou em puro terror com que nos vai acontecer nesta festa.

Quando viramos a esquina, minha mente volta a si de volta, me fazendo perceber algo em quase meio segundo. Existe uma “parede” separando Haymitch e a gente bem no fundo da limusine. Eu e Peeta. Sozinhos em uma limusine enorme escura.

— Aproveite.  — Ouço Snow me dizer pelo microfone na presa na minha orelha.

                                                          (…)

Peeta aperta o botão esquerdo da porta do carro, fechando o vidro do meu lado completamente. O silêncio parece mortal…

Permaneço séria e controlada o suficiente para não falar coisa alguma. Os únicos ruídos que saem de mim, são a da respiração e batimentos cardíacos, que não pode parecer muito, mas falam por si só, o que eu tenho vontade de pronunciar. Percebo minhas juntas doloridas do estiramento prolongado de uma posição gélida, e então permito meu corpo pousar sobre o macio acolchoamento do banco de couro da limusine. A sensação que sinto neste momento, é de alívio e prazer, solto um suspiro bufante, e percebo o grosso ar gelado que sai da minha boca, acompanhados da respiração fraca que me transparece. Olho para a esquerda, sem ignorar a presença dele. Se eu fosse capaz disso, não o teria escolhido para o Jogo. Eu não pude evitar… minha mente esvaiu, e acabei falando quase literalmente tudo sem pensar. O desejo que querer ter estado bêbada com Haymitch naquela hora, toma conta do meu ser, embora meu subconsciente, avise martelando de que não é inteiramente verdade.

Mas agora não é hora de voltar atrás como uma estúpida. Minhas escolhas acarretaram em futuras consequências terríveis, com Peeta metido nisso tudo. Não quis envolvê-lo nisto… mas acho que mais ninguém iria comigo para este baile maldito. Ao não ser Gale. Mas ele está morto ao meus olhos. Só com a possibilidade de assistir Gale nas mãos de outra e envolvido no corpo dançarino de outra mulher no baile, me faz querer fuzilar tudo, e todo mundo naquele lugar. Mas não seria maluca o suficiente. Ou corajosa. Tudo que me passa pela cabeça agora, é que tenho que fazer Peeta arder de paixão por mim, mais uma vez. Mas isto, não será uma simples tarefa sozinha. Confiança. É o que ele provavelmente espera de mim novamente na oportunidade deste baile. Mas eu ainda não entendo o conteúdo desta palavra ainda. Não do jeito que quero transparecer.

Observo Peeta ainda pressionar o botão da porta do carro que fecha as janelas escurecidas. Ele a mantêm apertado com rigidez, como se fosse uma tentativa absurda de me chamar a atenção.

Ele está com o olhar vazio, observando com firmeza o nada. Movo meu corpo para o seu “território” da limusine, e retiro com delicadeza seu dedo do botão, apalpando sua mão esquerda na minha direita. Ele, enfim, ousa e olhar novamente, e permaneço calada, erguendo as sobrancelhas confusa para ele, na tentativa de tentar esclarecer tudo o que está acontecendo aqui. Ele parece imóvel. Calado, e friamente sério, observando o além. Seu silêncio me perturba psicologicamente, me fazendo pousar minha cabeça no seu ombro esquerdo, ajeitando meus braços, se encaixando do outro lado dos seus. Imito a forma de Peeta observar o longe, quando me passa pela cabeça, o que ele poderia ter descoberto do meu calabouço.

— Te dei um beijo indireto. — Ele inicia sem vontade.

— O quê?

— Foi reflexo. Desculpe por aquilo.  — Ele termina sem muita certeza, e volta a ficar sério e rígido.

Por acaso ele está se referindo com o que aconteceu na varanda? Ele não se mexe. Até parece que foi telesequestrado.

Ha ha ha…

“Telesequestrado…”.

A palavra percorre na minha frente, me fazendo dilatar as pupilas. O que isso significa? O que essa palavra significa?

Eu e Peeta andamos tendo uns sonhos estranhos. Eu e ele trocamos conversas durante as aulas, íntimas o bastante para falarmos do nosso modo de agir, sem esconder isso pra ninguém. Eu por exemplo, ando tendo pesadelos. Segundo Peeta, ele também, mas não tantos quantos os meus. Piores.

Estes são meus seguintes pesadelos: Florestas de brisa selvagem, cercas elétricas sem ligamento, pães, pessoas morrendo de fome e crianças desnutridas cavando na terra algo para satisfazer a fome, armas mortíferas, relógios cobertos de algo musgoso e vermelho, que parece ser sangue, tridentes, arco e flechas ensanguentadas, Música, holos, pérolas, pessoas vestidas como palhaços cobertas de pisca-picas incandescidas de purpurina, explosões, sopa vindo do céu, para quedas, tatuagens no meu braço, vestidos engolidos por fogo, mortes, bestas correndo atrás de mim, e Peeta e eu. Eu, segurando duas mãos pequenininhas de bebês. Uma de uma menina, e outro de um rapaz. E uma Quarta Guerra Mundial.

E Fim. Acordo berrando para o meu computador morno em cima do meu colo despencando no chão. Eu não sei o que esses pesadelos significam. Eu acho que ando assistindo filmes, ou desenhos demais, mas eles surgiram assim, do nada, durante a época da festa de políticos no qual conheci Haymitch quando acordei de verdade. E estão cada vez mais fortes, desde que eu conheci Peeta na escola. Como se fosse tudo isso acontecer. E que iria sofrer. Mas que tudo fosse levado pela maré da praia do meu sonho, e percebo um broche dourado, com um pássaro, que parece ser uma espécie menor de garça e rouxinol, segurando a flecha ensanguentada no peito da mulher de cabelos brancos, e roupas de política do meu sonho.

E então, acordo novamente.

Começo a gemer da dor de cabeça. Coloco as duas mãos na testa que começa a esquentar, esfregando os olhos doídos da irritação de maquiagem, borrando por completo o trabalho desesperado de Octavia. Minha mente novamente se esvai, e fico totalmente desesperada para ser abraçada. Por um curto momento, minha cabeça para de doer, e imediatamente, procuro por uma vítima disposta a me abraçar e me livrar dos sonhos mortíferos idiotas. Logo lembro de Peeta ao meu lado. Não sei o que fazer. Meu objetivo aqui e ser fria com ele, mas eu estou tão desesperada para chorar pela menininha de tranças que é morta no meu sonho - que me lembra muito a Prim, por mais estranho que seja e loucura. Mas eu estou louca o bastante para tirar da cabeça a formalidade e prendo que a partir de agora, vou improvisar.

Me levanto na limusine ainda em movimento, e me lembro de Haymitch. Ele parece estar conduzindo bem o carro, me fazendo suspirar de alivio por não passar nenhuma viatura da polícia neste exato momento. Volto a caminhar no tapete de camurça que cobre completamente o chão do carro, e fico bem em pé na frente de Peeta, que continua silencioso e sem me olhar.

Começo a ficar furiosa com a falta de reação sem motivo de Peeta, e começo a - forçar bastante - chorar feito uma patética bem na sua frente. As lágrimas misturadas á sombra espessa do delineador líquido negro, rolam nas minhas bochechas cor-de-rosa, fazendo um caminho manchado de preto, tirando sua beleza rosada.

Faço uma careta para ele, e ele nem ao menos percebe que estou chorando sem motivos aparente, o que me faz berrar uma única palavra que me veio das lembranças dos pesadelos:

— Real! Peeta, real! Que droga, real!  — Grito com todas as forças para ele, em um som descomunal, e estremece as paredes do carro.

Silêncio.

Peeta olha para mim. Trocamos olhares desesperados, e Peeta parece demonstrar felicidade. Fico sem reação, tentando explicar mentalmente para mim mesma, o porque eu gritei isso.

Estou prestes a voltar a sentar no estofamento, quando Haymitch freia com força o carro em um quebra-molas, fazendo o corpo de Peeta cair em cima do meu, em meio ao tapete. Ficamos deitados, um em cima do outro sem reação, apenas sentindo dor, quando Peeta leva suas mãos para a minha bochecha, limpando a negra cachoeira dos meus olhos inchados. Ele sorri, sem que eu entendesse nada, quando ele diz nos meus ouvidos:

— Obrigado. Agora sei que você gosta de mim. Que é real. Eu estava calado porque queria ver sua reação. Você… não tinha me confirmado a pergunta na fazenda…  — Seus olhos nublam. — Mas vejo que é muito mais real do que eu esperava.

Ele segura meu braço para mais perto do seu corpo, e fico sem reação ao meio do choro. Vou voltar a fazer aquilo, de falar sem pensar. Preciso me segurar, por mais que ele me faça me sentir assim.

Me perdoe Peeta. Me perdoe por não ser sincera de coração o suficiente para lhe iludir com isto, mas ela corre risco de vida. Me perdoe… me perdoe…

Fico deitada agora na barriga de Peeta, e digo o máximo de sinceridade que consigo isto:

— Peeta. Eu te amo.

Ele não tem nenhuma reação nos primeiros segundos. Então, o observo sorrir para mim, e me abraçar no chão do carro mais ainda com amor. Fico muda e com o medo do que ele vai me dizer, e enfim, ele diz:

— Eu também te amo. — Ele se afasta do meu rosto.

— Por quê continua se afastando?  — Retruco sem terminar, com medo dele. Ele sorri fortemente então com uma aparência de satisfeito, e fala:

— Tudo bem.  — E me beija.

Seu toque é suave e gracioso, e algo em sua timidez me faz me sentir linda. Depois, arfamos em uma separação e nos enxergamos cegos pelo desejo.

Fico surpresa, mas cedo a troca de carinhos, que se tornam preliminares. Enquanto eu arranhava os ombros de Peeta que agora puxavam minha cintura para cima. Sem saber o que fazer com isso, levei minhas pernas a sua cintura puxando-o ainda mais para mim quando o mesmo puxava meu vestido com força para cima.

Katn…  — Arfa Peeta, mas não evito em impedi-lo de falar algo.

— A vida é curta demais para esperar, Peeta…  — Sussurro de volta como resposta.

Suas mãos eram grandes e fortes, puxavam minha cintura para si e eu tentava respirar toda a vez que ele largava meus lábios queimando para migrar ao pescoço dando leves mordidas. Pensei que ele reclamaria por isso, mas ao contrário, ele gemeu e puxou meus cabelos com um pouco de força exagerada para me beijar desesperadamente, mas eu estava tão inebriada que ele poderia me esfolar viva ali que eu não sentiria dor alguma, além daquele fogo que parecia me consumir.

Nos levantamos juntos, e retiro meus sapatos para nos recostarmos no estofamento, quando Haymitch novamente freia o carro.

Desta fez foi violento. O freio me faz cair dos braços de Peeta. Ele tenta me puxar, mas seu seus reflexos não são bons o bastante. Quando dou por mim, minha cabeça penetra com força no ferro grudado na parede da limousine de Haymitch, me fazendo desmaiar e sangrar pelos ouvidos e por todo crânio.

Peeta grita desesperadamente meu nome, e a me sacudir, quando é Haymitch que abre a porta em velocidade desesperado, se deparando com a cena do meu corpo estirado no chão e sangrando sem controle.

Eu estou morta.

                                   (…)


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