Jim estava ofegante, se senti tão cansado, tão exausto como nunca antes. Seu corpo inteiro formigava e ele já não sentia as pernas, enquanto que aos poucos perdia os movimentos dos braços.

Seu peito dolorido e com hematomas escuros e cortes recentes ainda jorrando sangue fresco, subia e descia, lhe indicando que de fato estava respirando e não era apenas uma ilusão do seu subconsciente.

— Jim...

Ele escutou uma voz longe, abafada e sufocada, mas a dona dela estava bem ali na sua frente, com os olhos úmidos.

Ele a enxergava embaçada e por vezes desfocada, ela estava sob seu peito machucado, chorando e chamando por ele. Claire estava tão linda quanto ele se lembrava, com seus cabelos escuros carregados por presilhas, e a sua agora tão querida e icônica mecha branca que pendia rebeldemente sob o rosto delicado da garota.

Jim ainda se lembrava de quando se apaixonou pelos olhos castanhos claros da garota, sua postura forte e personalidade marcante, eram apenas adolescentes normais na época, em uma aula qualquer de história, ele a olhou acidentalmente enquanto procurava por um lugar ao lado de Toby, ela conversava alegremente com Darcy, sorrindo animada.

Jim jamais esqueceu aquele sorriso.

— Jimbo...Amigão?

Toby surgiu, o bom e velho amigo que Jim se orgulhava de ter desde que se entendia por gente. Um garoto baixinho, rechonchudo, de aparelho e com o maior coração que o caçador de trolls já havia visto, seu melhor amigo e irmão.

Jim sorriu ao vê-los e eles sorriram de volta em meio as lágrimas.

— Oi... — O Trollhunter falou fraco e com dor, mas permaneceu sorrindo.

Os olhos azuis de Jim vasculharam ao redor, procurando os outros, e mesmo com sua visão turva e ameaçando escurecer a qualquer momento, ele os viu.

Steve, Krel, Aja, Eli, Darcy, Argh, Strickler, Nomura, Douxie, Archie, Blinky e todo os outros, e seu coração relaxou, mas ainda faltava alguém. O garoto se agitou momentaneamente, sendo segurado cuidadosamente pela namorada e o melhor amigo, se aquietando quando sentiu.

O toque inconfundível de sua mãe.

Bárbara aconchegou a cabeça e o corpo machucado do filho com cuidado em seu colo, acariciando o topo da cabeça de Jim, como costumava fazer quando ele era pequeno.

— Quieto mocinho — A voz da médica estava embargada — Deixe-me cuidar de você.

Jim sorriu novamente, olhando a mulher nos olhos azuis que havia orgulhosamente herdado, e deslizou com certa dificuldade sua mão pelo asfalto quebrado, até encontrar o calor de Bárbara, entrelaçando seus dedos.

— E eu tenho que cuidar de você... — Ele falou pausadamente e com dificuldade, com seu tom manso e gentil.

Bárbara sorriu dolorosamente, não conseguindo segurar as lágrimas que agora molhavam a face ensanguentada de Jim.

— Jovem Atlas — Strickler se aproximou, em sua forma de troll, ajoelhando-se ao lado do garoto, com um sorriso vacilante — Você fez muito bem, deveria poupar suas forças agora.

Jim olhou para o ex-professor, assentindo, tossindo um punhado de sangue pelo esforço. Claire puxou o que restava da camisa do garoto, aflita.

— Sim — A garota falava com o choro engasgado — Você precisa descansar — Ela curvou-se ainda mais sobre o próprio corpo, segurando o rosto de Jim entre as mãos trêmulas e colando os lábios a testa suada do garoto.

Jim sorriu com o gesto, e procurou a mão da namorada, entrelaçando os dedos.

— Que silêncio...Que luz brilha através daquela janela? Surge claro sol, e mata de inveja a lua, vento que tu, tua serva, és mais linda que ela — Recitou, fraco e pausado.

— Ah Romeu! Tens um coração de serpente escondido por um rosto florido, uma mente atormentada, confusa entre o amor e o ressentimento. Ai de mim — A morena respondeu, olhando o jovem caçador de trolls nos olhos.

E Jim respirou fundo mais uma vez, descansando. Já não sentia a ponta de seus dedos, e um frio eletrizante subia por sua espinha, seus amigos e companheiros se reuniam cada vez mais perto do corpo fraco e machucado daquele que havia sido considerado o herói de dois povos, mas havia lutado por muito mais que isso.

Sob os olhos atentos da sua adorável e esforçada mãe que havia lhe criado sozinha, e com a força de mil trolls. De sua forte, linda e incrível namorada que havia escolhido entre uma vida normal e segura e uma cheia de riscos e dor, decidiu ficar ao seu lado. De seu melhor amigo e o irmão que nunca havia tido, que sempre cuidou e foi forte mesmo quando sua própria vida estava desmoronando. De todos os trolls, aliens e magos que havia encontrado em sua jornada. Daquele que havia sido como um pai para ele, sendo que ele tinha 4 olhos a mais que Jim.

— Mestre Jim — Blinky chamou, o troll mancava, mas ainda assim mantinha um sorriso no rosto de pedra.

Jim sentiu uma nostalgia aconchegante tomar conta de si, Claire cedeu a mãe do namorado para a criatura de pedra, que segurou com o mesmo cuidado de sempre.

— Blinky — Jim falou em um sussurro — Você está bem?

O Troll sorriu com a atitude do garoto.

— Mestre Jim, receio que quem deva perguntar isso sou eu, sofri apenas um arranhão, nada que um troll como eu já não tenha sofrido — Aproximou-se mais do garoto — Mas o senhor como está?

— Eu estou bem — Jim se remexeu dolorosamente, sendo aquietado por sua mãe, Toby e Claire — Um pouco machucado — Riu — Nada novo.

Blinky sorriu.

— Mas desculpe — O garoto falou, fazendo com uma careta confusa se formasse no troll — Sou o seu último Trollhunter, o amuleto está destruído.

Os olhos de Jim, embora calmos, transmitiam uma dor perceptível para o seu treinador, que havia aprendido a lê-lo como ninguém, seus medos e inseguranças.

Mas Blinky apenas sorriu confortando-o.

— Mestre Jim — Segurou a mão fraca, pequena e machucada de Jim entre as suas 3 — Jamais em toda a minha longa vida, conheci alguém tão honrado, justo e forte como o senhor, eu não poderia pedir por honra maior ou melhor que tê-lo como meu último aprendiz.

Jim sorriu, deixando dessa vez lágrimas brotarem de seus intocados olhos azuis vibrantes, olhando ao redor apenas para se deparar com todo o conforto e amor que era direcionado a ele.

E ali sob os olhos atentos, amoroso e calorosos de seus amigos e agora família, Jim descansou, deixando seu corpo ceder a todo o cansaço e machucados.

Jim havia finalmente descansado, mas ainda assim acordaria no dia seguinte para viver seus últimos dias ao lado dos que ama.