Hello, Goodbye - The Umbrella Academy escrita por geewie


Capítulo 7
06. Sempre Cuidando de Você


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, pessoal! Para comemorar o Halloween que passou, decidi focar um pouco mais no Klaus nesse capítulo. Espero que gostem! Tenham uma boa leitura, indiquem para os amigos e me digam o que acharam!

Aliás, se quiserem conversar comigo, sou @tatardis lá no twitter!

Até a próxima



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A fagulha do isqueiro acendeu o cigarro, e Klaus refletiu sobre o que diria aos irmãos quando eles lhe perguntassem sobre Johnny. Não a encontrei em lugar nenhum, ele confessaria. Passei a noite em claro atrás dela, revirei a cidade toda, mas nada, e os irmãos não acreditariam em uma só palavra, mas também não questionariam. Há horas atrás, quando Lila foi impedida de procurá-la e Diego procurou um voluntário para substituir a pequena mulher na tarefa, Klaus foi o primeiro a erguer o braço. Levantou-se num pulo, como se esperasse pela missão a noite toda, e escapou por aqueles portões antes que pudessem lhe dizer o que fazer. Sabiam, no fundo, que sua saída era apenas um pretexto para se drogar. Quem ele queria enganar? Havia uma consciência coletiva sobre suas intenções, e todas elas giravam em torno do bolso que ele esfregara de minuto em minuto para conferir se os comprimidos ainda estavam por lá. Ela sumiu. Evaporou, ele pensou, tragando o cigarro e segurando a fumaça por um segundo antes de espalhá-la pelo ar. Se fizesse meia volta agora, ninguém saberia, e Klaus não se importaria em carregar tal segredo. Desapareceu. Um segredo entre ele e a confusão loura e insistente, que usava o nó do dedo indicador para bater no vidro blindado da bilheteria.

Estavam ao sul do centro da cidade, não muito longe da mansão de Reginald, no único terminal de ônibus disposto a funcionar àquela hora da noite. Após um certo tempo caminhando sem direção, Klaus torceu para que ele e a garota não se cruzassem. Depois de algumas lojas fechadas e um posto de gasolina, mastigou suas drogas, comprou um novo maço de cigarro e decidiu ir embora. Quando cruzou o quarteirão, porém, o primeiro sinal de vida que encontrou em seu caminho de volta foi Johnny. 

Na ponta dos pés, a garota se inclinava sobre o suporte de madeira da bilheteria para se comunicar com o funcionário do outro lado da cabine. Lá dentro, um tedioso rapaz, de cabelo encaracolado e boné, a encarava com o queixo apoiado na palma da mão.

 — Sem saídas depois das onze, dona — Disse. Em seguida, assoprou uma bola de chiclete, que inflou e estourou num ploc seco.

Klaus se aproximou. Com o cigarro pendurado entre o indicador e o dedo do meio, se encostou na lateral da cabine assoprando outro punhado de fumaça.

Quando o viu, Johnny fez uma careta.

— Tá olhando o quê? — Ela ralhou, fazendo os lábios do Número Quatro se entortarem numa expressão inocente.

— Nada — O dedo indicador bateu no bastão de tabaco e cinzas caíram dele. Klaus olhou para a placa luminosa de destinos e itinerários acima de suas cabeças. — Vai viajar?

Johnny o ignorou. Ela colocou os pés no chão e usou as pontas dos dedos para vasculhar o bolso traseiro de sua calça. Quando alcançou o que queria, tomou cuidado para desamassar a bolinha de papel que havia encontrado. E Klaus tentou apanhá-la imediatamente.

— Não, não, não! Nem pensar, você não vai usar o meu dinheiro!

— Eu vou voltar para Roswell — Johnny se esgueirou de suas mãos.

Klaus achou graça.

— De ônibus? — Gargalhou, e Johnny escondeu uma das mãos atrás das costas, impedindo que ele a alcançasse. — Devolva o meu cheque, sua ladrazinha!

— Não é possível que você tenha o que fazer com 3 mil dólares — Ela o mediu ligeiramente, seus corpos travando uma luta vergonhosa e desengonçada pelo papel — É dinheiro demais para comprar drogas.

— E é dinheiro demais para comprar uma passagem de ônibus.

Dentro da cabine, o funcionário se curvou para a frente e apertou o botão do microfone que ampliava a sua voz. Houve um segundo de interferência, e suas palavras saíram como se dizê-las fosse um doloroso sacrifício.

— Também não aceitamos cheques, dona.

Uma risada ainda mais alta escapou de Klaus. Com rapidez, o Número Quatro arrancou o papel das mãos de Johnny num movimento tão ligeiro que só foi percebido por ela quando o cheque já estava sendo sacudido na frente de seu nariz.

Por um momento, Johnny se sentiu como os idiotas que costumava enganar em sua cidade, e a ideia fazia sua pele esquentar. Ela não olhou para Klaus quando o afastou com um empurrão e começou a caminhar para longe. Queria xingá-lo. Pior. Queria dar à Umbrella Academy uma nova chance de chorar por um membro desaparecido. Ela fechou os punhos, sentindo a garganta doer, pois a raiva a espremia por dentro. Atravessou a rua em passos firmes, os neons da rua principal retornando para os seus olhos e cobrindo-a com tons artificiais de azul e roxo, que a lembravam do quão distante estava de casa. Olhou para o lado quando passageiros embriagados desembarcaram de um táxi, grande e moderno, e Johnny aproveitou o som das risadas para fingir que o farfalhar dos passos que a seguiam simplesmente não existiam.

Atrás dela, porém, Klaus começou a resmungar.

— Eles querem que você volte — Os dois andavam pela avenida.

— E eu quero que você vá se danar.

— Jane — Ele chamou. Então, se colocou em silêncio, como se estivesse recalculando suas palavras. Depois, se arriscou: — Johnny? Johnny, anda devagar. Ei! Eu sou invisível?

— Quem dera fosse.

— Credo, mulher, como você é chata!

— Tente ser legal quando se está sendo seguida por um cara chapado.

Um casal de mãos dadas passou por eles, e Klaus forçou um sorriso amarelo quando o comentário de Johnny fez com que lhe olhassem de forma estranha. O Número Quatro apertou o passo e, quando se alinhou à Johnny, segurou um palavrão com os dentes quando ela decidiu atravessar repentinamente para o outro lado da rua. A fim de acusá-la como culpada, ele girou os dedos no ar, num gesto que simulava sua insanidade, para os motoristas que xingavam atrás dos volantes por quase terem a atropelado. Quando alcançou a calçada, Klaus começou a se irritar. Acelerou seu andar para alcançá-la e usou as mãos para tatear a camisa branca em busca de seus compridos até encontrá-los no fundo do bolso. Com os dedos em pinça, agora conciliava seu andar com o desejo de fisgá-los.

— Se quer atravessar a cidade inteirinha a pé, por mim tudo bem — Ele prendeu a língua no canto da boca. Dentro da embalagem, os comprimidos dançavam. — Mas me dê um minuto, sim? Preciso de combustível. Também podemos ir de ônibus, se você quiser. Vai ser um tour bacana. É só darmos meia voltar e... — Klaus notou os passos de Johnny diminuírem.

— Tem um carro nos seguindo — Ela disse ao lado dele. O Número Quatro moveu o rosto para olhar para trás, mas Johnny o trouxe para frente antes que seu pescoço sequer virasse. — Cara, seja discreto — Ela o repreendeu e, então, lançou um breve olhar por cima do ombro. Quando voltou a olhar para frente, pediu: — Rápido, olhe agora.

O carro estava há poucos metros de distância. Era o mesmo táxi que deixara o grupo de bêbados num pub há alguns minutos. Com os faróis ligados – luzes fortes e desnorteantes, vidradas em suas direções como dois olhos atentos -, o automóvel parecia rastejar atrás deles. O motorista devia estar em busca de novos clientes, talvez até estivesse perdido. Aquela cidade era como uma ratoeira para os desavisados e não seria a primeira vez que pessoas confusas ficavam presas nela. Klaus quis acreditar nisso, mas se arrepiou quando ele e Johnny viraram a esquina, e o carro, em sua lentidão, também fez o mesmo.

— Vamos correr — Johnny falou.

— Não sei se consigo.

— O que?

— Eu devo ter botado pra dentro uns três comprimidos — Ele segurou um soluço. — Ainda tô pisando em nuvens.

Johnny o encarou, a boca um pouco aberta.

— Como é que você ainda tá vivo, cara?

Klaus ia se gabar. Procurou, em toda sua contemplação interior pela autopiedade, uma piada ácida e desnecessária, mas viu seu humor se dissipar, como a fumaça do próprio cigarro, quando o carro atrás deles rugiu e acelerou em suas direções. Sua atenção só voltou a se fixar no mundo real quando já estavam em outra rua, com seus pés frenéticos no chão, e Johnny o puxando pela barra da camisa, ofegante e assustada. Corriam e corriam, e Klaus sentia como se um elefante estivesse sentado em seus pulmões. Dentro do peito, o coração do Número Quatro martelava dolorosamente contra músculos e ossos. Sua cabeça girava.

Quando alcançaram uma nova avenida, obrigaram-se a parar. No meio da pista, um homem machucado parecia esperá-los. Uma cortina de sangue manchava-o na testa e escorria para dentro dos olhos. Estava debilitado, tremendo diante os olhares dos poucos pedestres que ali transitavam. Às suas costas, faróis se acenderam. O carro se preparava para avançar e, dentro dele, o motorista que o conduzia desesperava-se contra o volante. Estava preso.

Klaus não viu quando o homem foi atropelado. O impacto aconteceu rápido, e até mesmo os olhos mais atentos, bombeados pela eletricidade do momento, não conseguiriam registrar com precisão o que havia acontecido. O barulho do corpo sendo atingido, porém, seria difícil não ser lembrado. A vítima foi arremessada para longe e o som que fez, já sem vida, quando alcançou o chão, arrancou gritos horrorizados daqueles que assistiam. Ele e Johnny não esperaram até que as outras pessoas começassem a correr para fugirem na direção oposta. Viraram subitamente numa rua, e o carro que assassinara aquele pobre homem não conseguiu acompanhá-los. Nas lojas fechadas, luzes piscavam em sincronia com os postes que, num ritmo desenfreado, tentavam se manter acesos. Klaus se encostou em um para recuperar o fôlego. Com a mão no peito, observava Johnny olhar para todos os cantos, aflita à espera do próximo ataque. A ameaça, por sua vez, surgiu há poucos metros deles, num pequeno Cooper que acelerara violentamente contra eles. O carro pegou velocidade e atingiu o poste segundos depois de ele e Johnny se afastarem. Ao seu lado, a garota xingou quando o impacto levou a motorista do veículo se debruçar sobre o capô, sangrando e inconsciente.

Entraram numa outra rua. A instabilidade elétrica estava por todos os cantos; fios estouraram, e uma cascata de faíscas escorreu em direção ao asfalto. Em cima de um prédio, um outdoor exibia repetidamente a imagem da Sparrow Academy. Os membros sorriam. Ben estava em destaque, com os braços cruzados e lançando um olhar confiante para o nada. Sempre cuidando de você, a mensagem ao lado dele dizia antes de travar e desaparecer. Algumas letras reapareciam, e o rosto de Ben e seus colegas assumiam formatos pixelados, incompletos. Klaus quase sorriu. Que ironia seria morrer diante àquele que sempre estivera morto para ele. Parou quando o carro assassino surgiu no final da rua. Johnny, que estava mais na frente, perdeu o equilíbrio quando se obrigou a desacelerar e usou um braço para impedir que ele continuasse também.  Os pneus arranharam o concreto com um apito agudo, como garras afiadas numa panela de metal. Estava à espreita. Um felino que ronronava perversamente atrás de dois ratos assustados. 

— O poste de luz parou o outro — Ela ofegou, umedecendo os lábios. Estavam brancos e secos, e Johnny fazia força para movimentá-los. — Precisamos fazer algo com esse.

Klaus olhou ao redor. Quando viu a minivan branca, seu corpo agiu institivamente. Ela estava parada no começo da rua, e o Número Quatro fez Johnny segui-lo até o veículo. Temia estar em meio a um colapso causado pelas drogas - se sua ideia estivesse completamente certa, eles morreriam. Johnny hesitou quando ele pediu à ela que se abaixasse atrás do veículo. Então, compreendeu: eram iscas. Naquela posição, a minivan seria o único obstáculo que os separariam do outro carro. O veículo saberia que estariam lá. Farejaria. Um buraco na parede com dois ratos dentro.

Klaus pensou em Deus, mas se impediu de fazer uma prece. Ela nunca gostou de mim.

— Use os seus poderes — O Número Quatro disse quando Johnny se agachou na frente dele.

Ela levantou as sobrancelhas. Há alguns metros, o carro assassino começara a acelerar.

— Tá de brincadeira? Eu não posso, a coisa precisa ter um cérebro — Johnny limpou a testa com o dorso da mão. — E quanto aos seus?

Ele sacudiu a cabeça, nervoso.

— Fantasmas. Só fantasmas.

—  Céus, como somos inúteis! — Ela arfou e umedeceu os lábios mais uma vez. — Certo, isso vai doer.

[...]

Ela estava sangrando. Isso não o assustava, já tinha visto Johnny em situações piores – braços quebrados, olhos inchados, dentes faltando –, e não seria um cortezinho que o faria perder a cabeça. Na verdade, havia dois. O primeiro estava um pouco abaixo do olho esquerdo, no topo da bochecha, aberto, mas sem muito sangue. O segundo, e o que lhe dava leves calafrios no estômago, se tratava de um corte vertical no queixo, pequeno e profundo, que fazia o líquido vermelho escorrer pelo pescoço. Além disso, Johnny também estava suja. Naquele ângulo, a garota se parecia com um soldado abatido no campo de batalha, empoeirada e com alguns hematomas para complementar o figurino de guerra. No nariz – oh, aquele pobre nariz -, um rastro de sangue seco também se misturava com a poeira, e foi ali que ele começou a lamber para acordá-la.

— Agora você decide aparecer — Johnny murmurou, ainda com os olhos fechados, sentido a língua quente do gato circular o seu nariz.

 Ela o afastou com o braço, e o animal miou, contrariado. Quando abriu os olhos, eles o capturaram imediatamente, e Johnny sorriu por não estar delirando. Com dificuldade, ela se sentou em silêncio e permaneceu assim até que o seu cérebro processasse as informações que a cercavam. A minivan estava destruída e havia sido arremessado contra a vitrine de uma loja de roupas. Os pneus estavam murchos, a lataria amassada e, se um dia o veículo possuíra vidros nas janelas, eles já não existiam mais. O carro assassino também não estava muito diferente. Seu capô havia reduzido de tamanho com o impacto. Estava no meio da rua, as rodas tortas e as lanternas quebradas numa aparência quase humana, como se seus dentes e olhos tivessem sido arrancados.

Um acidente completo, e eles ainda estavam vivos.

— Minha nossa! — Ela se lembrou, girando a cabeça para procurar Klaus. Suas sobrancelhas saltaram quando o encontrou caído, entre a calçada e o meio fio, num estado tão deplorável quanto o dela. Johnny se esforçou para levantar e cambaleou um pouco quando conseguiu, seus braços e pernas se lembrando, lentamente, como deveriam funcionar.

Quando Klaus foi alcançado, o gato já estava ao lado dele.

— Ele está morto? — Johnny olhou para o animal, que o cheirava no rosto. Suas patas dianteiras foram apoiadas na bochecha do rapaz e, após um minuto, um miado baixo fez Johnny suspirar. — Esse cara é tiro na queda.

Outro miado.

— Lamba ele você, seu esquisito — Johnny disse e, com a ponta de sua bota, ela cutucou o Número Quatro. — Séance. Ei, cara, acorda — Mais dois cutucões. — Klaus! — Dessa vez, a sola do calçado foi usada. Depois de um empurrão, Klaus abriu os olhos e se sentou repentinamente, como se tivesse sido despertado de um pesadelo, sua a respiração forte e acerelada. Olhou para o veículo destruído a sua frente e gargalhou.

— Você tinha razão — Ele ergueu o rosto para Johnny — Doeu pra caralho! 


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Notas finais do capítulo

Conheça um pouco mais sobre a Sparrow Academy da fic no We Heart It: https://cutt.ly/dhCCb3x
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