I'm the BAD guy escrita por Lux Noctis
“So you're a tough guy
Like it really rough guy
Just can't get enough guy
Chest always so puffed guy
I'm that bad type
(...)
I'm the bad guyI like it when you take control
Even if you know that you don't own me
I'll let you play the role
I'll be your animal”
O sangue parecia ainda mais ferroso quando não era apenas o cheiro que sentia, mas também o sabor contra seus lábios. A pele machucada, cortada, ferida. Sabia que ficaria roxo no dia seguinte, inchado. Dolorido. Juntou saliva na boca, cuspiu rubro pelo sangue ali, limpou o maxilar dolorido com o dorso da destra. Os olhos quase felinos, as pupilas de um predador, uma ave de rapina.
Uma esquivada, o soco teria acertado-o em cheio, não fosse seu reflexo bem treinado. A pele maculada, o sangue quente fervendo em veia enquanto agitava-se para revidar. Um gancho de direita foi a distração para, ao mover o pé para frente, girar o corpo acertando com punho fechado as costas de seu oponente. O gesto automático de proteção ao mover o braço para trás apenas facilitou que encaixasse suas pernas naquele braço firme, sendo içado à cima, tão logo suas pernas no pescoço dele, suas costas no tatame num estalo dolorido, não tanto quanto a sensação de achar que tinha se quebrado inteiro. Riu com escárnio ainda assim, a boca voltando a minar sangue. A saliva rubra escorrendo ao queixo ao tentar cuspir sem muito êxito.
O peso daquele corpo contra o seu, as mãos que agarraram-se em suas coxas no ímpeto de livrar-se do aperto. Ficaria marcado mas no momento importava-se muito mais em rir sabendo que deixaria-o marcado também.
— É tudo o que tem? — Sua voz fraquejou na primeira palavra, sentia o corpo fraquejar depois de tanto tempo naquele embate, naquela luta brutal, sanguinária, até!
Quando sentiu o corpo indo de encontro ao chão uma segunda vez, repensou sua pergunta. Mas ainda assim a repetiu com um sorriso de escárnio ao ver que ele não se livrava de sua chave de perna, usando suas mãos para agarrar aqueles cabelos, puxando-os para que ele olhasse diretamente para si, para seu sorriso, sua cara de um grandessíssimo filho da puta. O espelho um do outro:
— Só isso? Esperava mais de você.
O golpe veio forte. Assim como aquele olhar de gelo lhe queimava, o calor daquele corpo fazia o mesmo quando descontrolado em raiva, mas Keigo conhecia aquelas nuances, aquelas chamas. Keigo conhecia os pontos fracos de Enji, e apertava os botões certos quando, em sua consciência, precisava de algo que o ferisse para pagar por seus pecados. Por isso agia como o filho da puta que era, por isso instigava-o a ir além naqueles treinos de capacidade e conhecimento mútuo, como o vilão que passou a ser em suas missões para os cara bons, aprendeu a levar Enji ao limite, forçando-o a ser e fazer aquilo que ele não mais queria. Não depois de Rei, depois de levantar a mão para ela e os filhos, mas Keigo forçava-o a isso naqueles treinos. Mas ali, com o pescoço de Enji entre suas pernas, com aqueles cabelos vermelhos em suas mãos ao ponto de quase arrancar uma mecha, com aqueles olhos frios e aquelas mãos em chamas em seu corpo queimando-o, ali ele era de fato o vilão, o cara mau. Ele, não Todoroki.
— Chega.
Mas não soltou.
Viu quando ele cessou fogo, quando afrouxou as mãos daquele aperto que o feria mas o fazia sentir algo. Notou o olhar atento dele sobre si, não mais um azul de gelo, algo um pouco mais reconfortante.
— Keigo! — Nada. — Hawks! — Os dedos firmes daquelas mãos maculadas pelo tempo marcando agora seus punhos ao sacudi-lo para atrair sua atenção. Assim, finalmente, cedeu. O olhar desfocado, a respiração ruidosa pelo esforço e pelas pancadas.
Queria sentar e chorar. Queria sair daquela vida dupla, daquela vida onde no fundo, fingia ser bom.
Sozinhos.
Ao menos tinha Enji ali.
Levantou-se com esforço depois de soltar a chave de perna. Ajoelhou no chão, as mãos no tatame, os olhos fechados e a garganta seca. Haia o sabor ferroso e a sensação que sempre o acometia: arrependimento.
Sentiu a mão dele em suas costas, firme.
Virou-se e sequer deu a ele tempo de raciocinar, colando seus lábios feridos aos dele, também machucados. O sabor de sangue era quase como a nicotina que havia aprendido a fazer uso. Com o tempo, não sentia mais, vivia o momento.
Sentou em seu colo, usou daquela boca para distrair sua mente, afogando as sensações ainda estranhas numa bruma de tesão que crescia, expandia-se. Deixava que as mãos que, até então feria-o, tocasse-o para despertar prazer. Trazia dor também, um prazer culposo, uma dor boa para sentir-se desejado, visto, necessário ao outrem.
Afogou-se em luxúria, nos beijos de Enji em seu maxilar, pescoço, lábios.
Afogou-se em calor enquanto ele enterrava-se em seu corpo. Enquanto aquelas mãos continuavam a marcá-lo, agora como apenas seu, e de ninguém mais.
Naquele tatame de treinos, amargor, suor e sangue, agora desfrutavam de algo tão intenso quanto; embora de certo modo mais agradável. Ainda havia o suor, dor pela forma como agora arranhava as costas de Enji ao subir e descer em seu colo, ao sentir aqueles dentes fincando em sua carne. Mas era bom.
Ruidoso, a respiração anelante pelo esforço, por mais esforço. Ainda estava no colo de Enji depois que tudo acabou, quando o corpo esfriou e veio só a dor de mais um movimento. Ainda estava ali, sendo confortado por aquele que todos veriam como um péssimo herói, sendo ainda o único a lhe direcionar uma chama no escuro.
Aceitou o afago nas costas, o protótipo de beijo na testa, era mais um roçar daquela barba por fazer de encontro a sua tez. Mas ainda era muito mais do que um cara mau como ele merecia. Talvez, estivessem juntos por isso. Eram aquele tipo de gente ruim, que não é tão ruim, mas que merece uma provação para melhorar.
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