Neve Em Beauxbatons escrita por Dafne Guedes


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta vai ser a única das fics do projeto de escolas de magia com uma personagem de outra fic. Para quem leu Lembrem-de de Cedrico Diggory e lembra de Cordélia, bem-vindos de volta. Aos outros, espero que gostem da leitura!
Nos vemos nas notas finais!



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"All that I've been taught
And every word I've got
Is foreign to me"

 

Fleur a havia avisado que tanto poderia nevar quanto não nevar.

                Como já estavam na última semana de dezembro, Cordélia, uma escocesa de nascimento, já havia aceitado o fato de que passaria o primeiro natal de sua vida inteira sem neve. Sua mãe, vendo como ela estava insatisfeita com a ideia de passar um ano estudando em uma escola que não era Hogwarts, dividindo dormitório com garotas que não eram Mary e Lana, a havia sugerido, num tom de voz condescendente, a tentar ver o lado positivo de tudo.

                Cordélia estava fazendo um bom trabalho até ali, no quesito de pensamento positivo. Estava feliz que não passaria o natal sozinha, pois Fleur, Claire, Charlotte, Marlon e Matteo ficariam no castelo. Estava feliz que seu pai dissera que suas pesquisas com Nicolau Flammel estavam no fim, por isso, no ano seguinte, provavelmente poderia já voltar para Hogwarts. Estava feliz que Mary, Lana e Edmundo sempre a mandavam cartas sobre as mais pequenas coisas de seu dia-a-dia, quase como se nada houvesse mudado. 

Estava feliz que no dia anterior haviam tido um passeio à vila bruxa mais próxima do castelo, Oiseaux. Ela e os amigos haviam pego as carruagens puxada por abraxanos e feito uma visita à charmosa vila francesa, com suas casinhas em tons pastéis e maisons de doces bruxos famosos, além de perfumarias. Fleur a havia presenteado com um frasco com seus cheiros preferidos: mar e flores silvestres. Eles haviam também se sentado em mesinhas na calçada da Millefuille Patissarie para comer croissants e macarrons, e observar os bruxos franceses passarem por eles usando o que havia de mais recente no quesito moda; muita seda e cinturas marcadas.

                Quando, na manhã de natal, ela acordou com a luz entrando de forma não usual pela janela, parecendo abafada e pálida, ela olhou ao redor do quarto iluminado, dourado, azul e branco, para encontrar suas três colegas dormindo em suas respectivas camas confortáveis, com os dosseis fechados contra a luz. Cordélia escorregou de sua cama, que era maior do que a de seu dormitório na Sonserina, um sentimento sublime no peito. O chão estava tão gelado que ela num instante percebeu o que seu corpo já dizia e, quando ela chegou à janela para espiar os jardins brancos com cristais de gelo e neve fofa, ela não se impediu de fazer uma exclamação de surpresa.

                Fleur se mexeu na cama e Charlotte abriu uma fresta entre o dossel azul-escuro. Percebendo imediatamente o que a expressão encantada de Cordélia significava, Charlotte soltou um muxoxo e buscou a varinha na mesinha de madeira branca ao lado da cama, igual para as quatro meninas, e fez um feitiço de aquecimento nas cobertas.

                A escocesa não se importou nem um pouco. Saltou da janela em direção ao baú ao pé de sua cama, onde escavou seus pertences em busca de uma boa pena de fiuum, que deixava sua letra cursiva ainda mais floreada e fina, e papel grosso de linho para cartas. Ainda com aquele sentimento sublime no peito voltou ao banco da janela, escreveu para os seus três melhores amigos, para os pais e para a irmã. Como terminou e suas colegas ainda não haviam acordado, escreveu também para Warrington e Peter, apesar de não serem próximos, com seus votos de boas festas e para Oliver Wood.

                Por um segundo, hesitou, pensando para quem mais em Hogwarts ela poderia escrever. Seu pensamento viajou para um par de olhos cinzas que ela às vezes capturava a olhando do outro lado do Grande Salão e com quem havia dividido algumas aulas ao longo dos anos. Cordélia já estava com a pena posicionada em cima do papel, pronta para fazer um C especialmente floreado quando, pelo vidro embaçado pelo frio, ela viu uma figura solitária no jardim lá embaixo.

                Ela esfregou a manga do pijama no vidro, e a visão clareou o suficiente para que Cordélia distinguisse Marlon lá embaixo, com a capa de lã de inverno do uniforme por cima do blazer e suéter e a as mãos estendidas enquanto ele se sentava num dos banquinhos de madeira clara.

                Ainda era um pouco cedo, por isso não acordou nenhuma de suas amigas ao se vestir com um suéter azul, grossas meias de lã, luvas, saia, cachecol cinza de caxemira e uma macia capa de lã batida e fazer seu caminho escada abaixo para o salão comunal vazio; as mesas com peônias trocadas durante a noite e as cadeiras arrumadas em volta de jogos de xadrez e vitrolas sem discos.

                Durante a noite, o castelo tinha sido enfeitado com fadinhas e estátuas de gelo, que acenavam graciosas conforme ela andava os corredores com tetos de abóbadas e paredes de arabescos. Seus sapatos faziam um som seco ao pisar o porcelanato do chão –bem diferente do som que faziam nos corredores de pedra de Hogwarts, mas, pela primeira vez desde que chagara, ela não se importou.

                O Salão Principal, como em Hogwarts, era um espaço amplo. Mas em Beauxbatons, ao invés de quatro mesas, era preenchido com várias mesinhas redondas onde grupos menores podiam sentar e, em vez de talheres e taças de ouro, eram equipados com jogos de chá em porcelana chinesa, no café da manhã, bandejas de três andares cheias de muffins de mirtilo, tarteletes de morango, macarons coloridos, croissants folhados e, por ser natal, redondos saint-honoré com amoras ficavam dispostas ao lado do conjunto de chá, que exalava cheiro de rosas.

                Haviam poucas pessoas acordadas –a maioria sextanistas estudando, mesmo durante o feriado, para a prova francesa correspondente aos NOM’s e NIEM’s, a Niveaux de Compétence Magique. Cordélia não falou com ninguém, apenas chegou a uma mesa vazia, de onde tirou uma de cada das pâtisseries disponíveis e colocou-as num guardanapo, em seguida enfeitiçando duas xícaras de chá de acônito chinês rosa para seguirem-na para os jardins.

                As fontes haviam congelado com a neve, mas o gelo, talvez influenciado pela magia no ar, talvez enfeitiçado por algum professor, tomara forma de cavalos alados em pleno galope para fora da fonte. Haviam sebes também, ainda verdes apesar dos cristais de água nas pontas das folhas, e elas formavam um labirinto baixo onde ninguém corria o risco de se perder. Marlon estava no banco do outro lado do labirinto e Cordélia tomou o caminho entre as sebes ao invés de atravessar.

                Ele levantou a cabeça quando a viu se aproximando por trás e virou o rosto de forma que ela o via de perfil; o nariz reto, o maxilar anguloso.

Bonjour, ma louloute. –Ele disse quando ela saiu de trás das sebes, e se afastou para que sentasse ao seu lado.

                Cordélia sentou-se, colocando entre eles o guardanapo com o café da manhã e as duas xícaras de chá. Imediatamente, Marlon colocou uma das xícaras entre as mãos desnudas para se aquecer.

—O que está fazendo, congelando aqui fora? –Cordélia perguntou quando ele tirou um croissant dentre as opções que ela havia trazido. A própria Cordélia escolhera um saint-honoré para dar uma mordida, deixando o sabor doce do creme invadir seu sistema.

—Acho que vou largar a matéria de Magia Antiga. –Ele suspirou, estendendo as mãos desnudas para que ela visse que, quando ele conjurava chamas em sua mão, elas se erguiam fracas por um segundo antes de morrerem com um chiado. –A professora Dumont disse que, como Adivinhação, Magia Antiga é uma matéria para quem nasce com a habilidade.

                Ele olhou de lado para ela, insinuante. Cordélia suspirou, sabendo que não poderia desmentir a professora.

—Bem, assim você pode focar em seus estudos de Medimagia.

—Pena que não há matéria para isso, especificamente. –Ele deu de ombros antes de olhá-la. –Você poderia acender uma chama para nos aquecer.

                Como Cordélia não queria se exibir com suas habilidades, tirou a varinha da capa de lã e a ergueu.

Lacare Inflamare. –Ordenou e chamas cresceram da ponta de sua varinha, fazendo muito pouco em relação ao vento frio que ainda os acoitava. –Ou poderíamos apenas voltar para dentro.

                Marlon deu de ombros, mas a seguiu, segurando sua mão, quando Cordélia se levantou pronta para fazer o caminho de volta para dentro. Ambos já tendo tomado café-da-manhã, passaram rapidamente no salão principal, onde pegaram comida para as colegas antes de fazerem o caminho de volta para o salão comunal vazio. Cordélia se sentiu grata por Beauxbatons ser menor do que Hogwarts, de repente, porque ela certamente não teria feito todo aquele caminho no castelo britânico.

                Matteo Salvatore era a única alma viva no salão comunal, meio estendido na poltrona de dois lugares mais próxima à lareira de chamas amareladas. Ele levantou os olhos castanhos para Marlon e Cordélia, estreitando-os em seguida quando os viu juntos. Cordélia sorriu fracamente. Ela e Matteo haviam se envolvido por um segundo logo quando ela chegara, mas ele passava muito tempo na biblioteca –mais do que ela, que já passava várias tardes trancafiada entre os livros –e Marlon vinha se oferecendo para ir com ela aonde Cordélia fosse nos últimos tempos.

—Isso chegou para você. –Matteo indicou uma carta lacrada em cima da mesinha baixa entre a lareira e a poltrona. –Claire me pediu para te entregar, porque a coruja que trouxe a carta estava fazendo barulho no quarto e Charlotte ainda dormia.

—As meninas acordaram, então? –Cordélia se inclinou para pegar a carta, que tinha uma familiar letra cursiva no verso.

—Estão se vestindo.

                Claire foi a próxima a sair do quarto, se juntando a eles de frente para a lareira, grata por ter tido seu café-da-manhã trazido até ela. Cordélia sorriu e a desejou feliz natal, mas, em um segundo se deixou ser absorta pela carta de Mary Selwyn.

                Ler uma carta escrita por Mary era quase como estar de volta a Hogwarts. Não que Lana e Edmundo não se esforçassem, mas Mary escrevia sobre a neve caída nos jardins, o lago congelado, o salgueiro lutador e o mau-humor generalizado de seu padrinho, que a havia enviado como presente um novo kit de pocionista no natal, com um belo caldeirão brilhante, pinças, colheres e uma bela faca de prata com o brasão dos Bloxam.

                Estava tão distraída com a escrita da amiga que mal notou quando Fleur e Charlotte se juntaram so grupo.

Hogwarts é surpreendente solitária sem você e é possível que eu tire a pior nota em Poções desde que comecei a escola, Mary havia escrito. Mas Lana não tem sido tão má. Sem você por perto, ela não tem com quem fingir que eu não existo, embora ela venha flertando com Peter Bulstrode. Eu, particularmente, o acho um tanto brutamontes, mas se é o tipo dela.... Bem, de qualquer forma, as pessoas nem nos abordam mais nos corredores para perguntar sobre você. O último foi Oliver Wood que me abordou no Salão Principal. Esses grifinórios não tem bom-senso; eu tenho uma reputação a manter e não posso ser vista falando com eles. Não que ele não seja uma gracinha, acho. Se não fosse tão fanático por quadribol, mas eu poderia lidar com isso.

Na verdade, a coisa mais estranha aconteceu mais cedo nesse mês. Ou talvez mês passado. Bem, eu fiquei alguns minutos na sala após a aula de Transfiguração, esperando Diggory sair para implorar que Minerva não me coloque com um tutor quando eu ouvi Diggory perguntando a ela sobre você. Foi estranho, não é? Vocês sequer se falam? Digo, quando não são obrigados a sentar juntos. Ele perguntou se você voltaria no próximo ano e eu quase interferi para dizer que sim, mas... eu não o conheço, realmente.

                Mary seguiu no parágrafo seguinte com outro assunto, mas Cordélia não prestou atenção. Ela estava reclamando de Edmundo agir estranho ao seu redor, mas Cordélia, que sabia muito bem qual era o problema com o amigo sonserino ao redor da garota Selwyn, deixou o assunto de lado. Se perguntou o que Diggory poderia, possivelmente, querer com ela, e se lembrou de ter se sentindo tentada, mais cedo, a escrevê-lo uma carta de natal. De repente, se ele vinha perguntando dela, não parecia mais uma ideia absurda ou aleatória. Eles eram colegas; bem, ele era o único dos lufanos com o qual ela já havia tido um diálogo.

—Cordélia. –Fleur a trouxe de volta para a realidade. –Você está com aquela cara.

                A escocesa piscou, confusa.

—Que cara?

—A que você faz quando está com saudade de Hogwarts. –Explicou, sorrindo um pouco triste. –É ofensivo, se você quiser saber. Não gosta de Beauxbatons? –Como sabia que a francesa estava brincando, Cordélia não se preocupou. Fleur continuou. –Por que não fazemos algo divertido essa manhã? Todos precisamos de distração.

                Charlotte, que havia colocado o chalé de seda azul ao redor da cabeça como se fosse um hijab, apenas mostrando seu rosto, sentou-se na beira da cabeira de Matteo para opinar.

—Na verdade.... –Cordélia interrompeu quando os amigos começaram a fazer sugestões que envolviam bolas de neve ou a sala de música. Cordélia queria calma para pensar. Começou a se levantar, sendo assistida pelo grupo. –Na verdade, eu tenho que ir na biblioteca... checar uma coisa. Encontro vocês no almoço?

                Os colegas confirmaram e, apenas depois disso, ela seguiu para o térreo, onde ficava a biblioteca da escola francesa. Se a biblioteca de Hogwarts era um pouco escura, cheia de corredores e mesas enfiadas entre uma prateleira e outra, iluminada por luz de velas e archotes, a de Beauxbatons era o contrário. Dava uma sensação de amplitude, com as prateleiras empurradas nas paredes e as mesas ao centro, com espaço para serem transitadas. Cordélia não gostava nada daquela biblioteca. Em Hogwarts, toda a vida, o lugar dos livros fora um lugar onde podia se esconder, mas em Beauxbatons isso parecia impossível.

                Ainda assim, Cordélia deu um jeito de pegar a mesa mais ao fundo, junto da janela com vista para a bela fonte Flammel, nomeada em homenagem ao alquimista Nicolau Flammel e sua esposa Perenelle, que estudaram na escola e contribuíram com seu ouro de alquimia para o esplendor ostentado pela escola de magia francesa. Para proteger a si mesma um pouco mais, Cordélia selecionou alguns livros, principalmente de Poções e Magia Antiga, e os colocou como uma barreira ao seu redor, antes de tirar do bolso da capa a carta de Mary.

                A colocou ao seu lado, calmamente, dobrada de forma que não poderia a ler e tirou da pilha um livro de Poções, pelo qual passou os olhos sem realmente lê-lo. Cordélia não pensava muito em Diggory, ou ao menos tentava. Cedrico existia num plano de Hogwarts que não era o mesmo em que ela existia; eles não falavam com as mesmas pessoas, não frequentavam os mesmos lugares do castelo. Se viam nas aulas, na biblioteca e no Grande Salão. Ele era apanhador da Lufa-Lufa e ela nunca assistia aos jogos. Ela ia a pequenas festas escondidas nas masmorras, apenas para os sonserinos, das quais ele jamais ouviria falar.

                Ainda assim, ele havia perguntado sobre ela.

                Curiosidade, Cordélia decidiu. Era curiosidade, e ali estava ela, perdendo seu tempo com isso, deixando a pena em cima do pergaminho, prestes a escrever. Mas ela sempre soubera que não escreveria.

                No segundo seguinte, ela flagrou Marlon, entrando na biblioteca e olhando ao redor como quem procura algo. Cordélia logo soube que procurava por ela –e que devia ter despistado seus amigos para terem algum tempo sozinho. Colocou o pensamento sobre Cedrico de lado quando enfiou a carta de Mary num dos livros ao seu redor, para ser esquecida ali.

—Por que não vem ao jardim interno comigo? –Ele a estendeu uma mão. –É mais quente lá.

                Cordélia sorriu e segurou a mão dele, o acompanhando para fora. Quase deixando o assunto anterior de lado, mas apenas quase.

 

Aesthetic


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram? O que acharam de Beauxbatons? Era assim que a imaginavam? O que estão achando do projeto? Percebam que a ideia teve mais a ver com o castelo em si do que com Cordélia. Aliás, se gostou e ainda não conhece minhas fics, você vai achar um guia de leitura em meu perfil!
Espero ver vocês lá!



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