Quando foi a primeira vez que seus lábios se tocaram? Xie Lian ainda se lembrava, ele estava se afogando e Hua Cheng lhe deu oxigênio sob a água. Isso não é errado, certo? Ele salvou sua vida, mesmo sabendo que Xie Lian ressuscitaria depois de alguns meses se chegasse a morrer. Foi um ato de misericórdia.

E depois? Houve algumas situações em que estava frágil e impotente, quando poderia facilmente ser morto ou aprisionado. Hua Cheng tinha sido muito bondoso em transferir poderes espirituais através de um beijo. Palavra, era só caridade. Não havia desejo ou luxúria envolvidos nisso. Então, era realmente necessário colarem os corpos e repousar as mãos na nuca do outro? Não, mas eu juro, esses beijos não envolveram línguas ou dentes. O fato de seus lábios terem ficado inchados e levemente arranhados foi culpa exclusivamente dele mesmo, Xie Lian. Afinal ele estava com pressa, o momento era urgente, não poderia agir com gentilezas e delicadezas, por isso o beijo foi sedendo, áspero e intenso. Ele precisava muito dos poderes espirituais de Hua Cheng. Tá!

E o que dizer daquele dia em que estavam deitados no chão, melhor dizendo, rolando no chão, e foram flagrados por Qi Rong? Aquilo foi amplamente justificável, certo? O mestre dos ventos corria risco de vida. Xie Lian havia desfalecido e Hua Cheng o beijou para tirar poderes espirituais e com isso quebrar a conexão com o mestre dos ventos, mas Xie Lian não podia abandonar o amigo naquela hora, por isso avançou sobre Hua Cheng, selando seus lábios novamente e rolou no chão agarrado a ele. Não teve nada de libidinoso nisso, acredite. Então, tá.

Ok! E como explica o que houve no templo da cidade fantasma? Oh, isso foi ... isso foi um ato de caridade. Caridade? Desde quando agarrar-se ao corpo de outra pessoa, entrelaçando as pernas e acariciando o corpo todo pode ser entendido como caridade? Bem, eu ... eu ...não tenho explicações, mas Hua Cheng precisava daquilo, eu podia sentir na pele, no corpo, nos lábios. Você sabe, Hua Cheng sempre foi apegado a mim, e ele estava perturbado. Então ... essa foi a melhor forma que encontrei para poder ajudá-lo. Precisava tirar as roupas? Não acha que essa caridade foi um pouco demais? Não, eu ... não tirei as roupas. Elas se desmancharam sozinhas, devido ... ao movimento de nossos corpos. Não foi intencional. Nem mesmo a ereção. Eu sabia que era só caridade, mas meu corpo não sabia disso. Pare de mentir pra si mesmo, Xie Lian. Vai me dizer que você não sentiu prazer com seu ato de caridade? Que lá no fundo você não queria fazer isso? Mesmo que Hua Cheng não o necessitasse?

Xie Lian colocou as mãos no rosto como se quisesse encobrir sua vergonha e se esconder do dedo acusador da própria consciência. Envergonhava-se profundamente de ter desejos carnais pelo melhor amigo, Hua Cheng. Como ele pôde se aproveitar de seu estado de perturbação e procurar satisfazer o próprio desejo? Hua Cheng nunca o perdoaria se soubesse. Teria que esconder as marcas no corpo e evitar beijar o amigo doravante. Se houvesse uma outra forma de receber poderes espirituais no futuro, ele escolheria esta outra forma, como amuletos ou imposição de mãos. Mas os lábios de Hua Cheng deveriam ser zona proibida, de agora em diante, assim como o corpo de Hua Cheng.

Inconscientemente, Xie Lian fechou os olhos e colocou um dedo nos lábios entreabertos, mordendo a polpa carnuda, dando um leve gemido. "San Lang ..."

Notas: San Lang é um dos muitos nomes que Hua Cheng informou a Xie Lian (Hong'er, Wu Ming, Hua Cheng), e é um apelido carinhoso, familiar de difícil tradução, ao menos pra mim. San se refere a "terceiro", por ser o terceiro filho de sua família, e Lang significa "lobo". Por ser um apelido creio ser o equivalente português a "Caçulinha", "Zequinha" ou "Toquinho". E por conotar carinho poderia ser "fofinho", "coisinha do pai" ou "vida". lol