Entrou largando a caixa quebrada que fora seu teatrinho de sombras. Tanto tempo ensaiando para nada, novamente mal começara a falar e fora chamado de herege e escorraçado!

—Tento presenteá-los com sabedoria e recebo um chute na furda! — puxou o capuz, expondo cabelos prateados destacando-se contra a pele negra.

—Acalme-se…

Sussurraram as sombras escapando do teatrinho quebrado.

—A mestra ensinou-nos a falar, então o jovem mestre pode educar mortais…

—Papai tinha razão, não adianta meter-se com mortais e deuses! — reclamou —  “Educar os mortais”, seria melhor fazer peixes voarem! 

Os mortais eram quase tão caóticos quanto os deuses que orgulhosamente diziam pregar harmonia, mas não faziam nada além de reclamar da nova “moda de sacrifícios humanos para honrá-los”, e jogar a culpa em seu pai!

Por isso o pai preferia isolar-se, ele também deveria ter feito isso, mas não, tinha que ter acompanhado a mãe aos céus e, ao chegar lá, não pôde ignorar os comentários… precisava bolar outro plano, já havia comprometido-se, não podia desistir...

—Falar-lhes como um deles foi engenhoso. — elogiou-lhe a mãe quando, para os mortais, a lua fora consumida novamente pelo dragão, pois tornara-se negra — mas eles não ouviriam um desconhecido… procure aquele que chamam de “rei”.