Eles não escrevem livros sobre isso escrita por Atlas


Capítulo 1
Senhor E.T,


Notas iniciais do capítulo

eu já escrevi sobre os dois anos atrás, mas eu não sabia muito sobre as músicas da época, ou até mesmo as músicas criadas baseadas numa época como essa? não era o tipo de coisa que eu ouvia muito. mas hoje em dia eu imagino o tipo de coisa que os dois teriam gostado... e também venho tentando resolver como fazer uma família black chinesa/hongkongnesa. acho que seria interessante. então imaginei a andy como a faye wong e o ted tonks como o sonho americano, heath ledger. o ted seria muito da contra-cultura e anti-corporativo. a andy ouviria o que ele gosta, mas acho que ela se atrairia mais por cantores mais melancólicos, sabe? algo temperamental.

minhas apostas são
ted - the lovin spoonful, beach boys, earth wind and fire, the mamas and the papas (especialmente california dreamin)
andy - cocteau twins, fleetwood mac, eason chan, bauhaus,



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And float in space
And drift in time
All my time until I die
We'll float in space just you and I

Eles não escrevem livros sobre isso.

Ted II acha cartas de sua avó endereçadas para o primeiro de seu nome, o fantástico e irreverente, Ted I. O solstício do verão do amor.

Numa lata de biscoitos de bolos lunares esverdeada, que cintila perigosamente com o sangue dos seus antepassados: uma pilha de cartas amareladas, bilhetes rasgados do final de pergaminhos, folhas de cadernos trouxas, versos de tarefas de Hogwarts, páginas rabiscadas que foram arrancadas de livros costurados. Um certificado de casamento. Um panfleto de um festival, flores chamativas traçadas em neon. Um idioma que Teddy não sabe ler muito bem.

Uma foto: um jardim oxidado pelo outono, um homem alto segurando o rosto de uma mulher elegante. Ela tem os olhos gentis. Ele tem um sorriso afiado. Está entardecendo e eles são os únicos visíveis.

No verso: “If you believe in magic, come along with me.”¹

Uma outra foto: Andrômeda Black em sua juventude, pele lisa e gravata verde-prata. No fundo, o horizonte visto da ponte do castelo. Imensidão acinzentada, neblina consumidora. Sorri durante a foto inteira.

No verso: “A despedida é uma dor tão suave que te diria boa noite até o amanhecer.”²

 

 

 

 

 

Dia 23 de Dezembro de 1966

Senhor E.T,

Você poderia, por gentileza, abster-se de mandar sua coruja — francamente, já em seus últimos suspiros, mas ainda assim: maquiavélica — para este endereço?

Cansa-me queimar suas cartas.

Grata,

Andrômeda C. Black.

Largo Grimmauld, nº 12.

 

 

 

 

Dia 2 de Janeiro de 1967

Senhor E.T,

Por mais que me doe admitir, e, portanto, encorajá-lo a continuar me importunando, nada do que diz é familiar. Prefiro que continue dessa forma.

Por gentileza, junto com meu último pedido, também abster-se de falar sobre pires voadores e criaturinhas verdes visitando de outros planos. O que esses ianques trouxas andam ensinando para suas crianças?

Não responda. Irei apurar a questão de colocar a velha Mortícia na lista-negra da minha casa.

Grata,

Andrômeda C. Black.

Largo Grimmauld, nº 12.

 

 

 

 

Dia 10 de Janeiro de 1967

Senhor E.T,

O segundo período já está para começar. Esse não é o momento de planejar escapadas por Londres.

Não que deva achar, nem por um momento, que eu ousei entreter a ideia de o acompanhar.

Só quero reforçar a estupidez da ideia. Não responda. E não mande mais cartas.

Grata,

Andrômeda C. Black.

Largo Grimmauld, nº 12.

 

 

 

 

Dia 15 de Fevereiro de 1967

Senhor E.T,

Não haverá nenhum tipo de encontro às escondidas por trás daquela bruxa corcunda, está me ouvindo? Quem você pensa que eu sou?

Contrariando meu senso de razão e minha indisposição de lhe dar algum tipo de incentivo, terminei aquele seu livro trouxa. Não o da tal da Jane, o do William. Foi tudo muito confuso. Se entendo bem o que anda me passando, é um desejo do seu íntimo morrer de forma tão tola assim?

Morrer por algo como amor? Desde que esse pensamento me ocorreu, não consigo largá-lo, apesar de me confundir bastante, também. Do meu ponto de vista, tudo poderia ter sido evitado com uma dose de autopreservação e o dobro de bom senso. Talvez eles não tenham poções para induzir isso. É muita tolice, senhor E.T, inventar motivos absurdos para arriscar a própria vida.

Tenho certeza que as aulas do velho Binns fazem dano o bastante por si só, sem a necessidade de mais ilusões de grandieur.

Me pergunto se todas as crianças trouxas são como você.

Me pergunto se você quis o amor antes de terem te contado a respeito?

A. C. B

 

 

 

 

[Num pergaminho de anotações, segunda aula de Poções do dia 20 de Março de 1966. O cabeçalho identifica o que deveria ser um relatório do aluno Edward Tonks sobre a poção Amortência. Espalhados no verso, os dizeres: “Enquanto a menina mais bonita de Hogwarts continuar sentando em minha frente, não tenho chance de aprender alguma coisa.”

Com um clipe de papel anexando um boletim, identifica-se um Trasgo em Poções.]

 

 

E.T. o C é de Callidora. agora preste atenção e pare de tentar arruinar meu futuro brilhante.

 

 

 

 

E.T. pare com essa baboseira de presente³. apesar de ser um nome muito excêntrico, ainda assim não lhe dá o direito de zombá-lo.

 

 

 

 

E.T. não estou corando. estou simplesmente nauseada diante de sua presença. não me contate, nunca mais em sua vida.

 

 

 

 

Dia 31 de Junho de 1967

Senhor Edward Tonks,

Peço encarecidamente que me responda duas coisas, se não for muito incômodo:

Em primeira instância, que tipo de imbecil é azarado no último dia do ano letivo?

Penso me lembrar de um delírio seu de que um dia entraria em minha torre de varinha erguida, resoluto em derrotar o terrível e assombroso dragão que me prende do mundo exterior? Que seria meu príncipe encantado, seja lá o que isso significa?

Então em segundo lugar, pela graça de Morgana, por que é que você não revidou?

Devo ter imaginado a coisa toda.

Não pense que será perdoado se não melhorar logo.

Grata,

Andrômeda

 

 

 

 

Dia 13 de Julho de 1967

T,

As corujas andam sendo interceptadas. Será melhor para nós dois se ninguém souber da sua existência. Não posso contar muito, mas tem muito que você não sabe. Tem ciência de que é realmente possível que acabará tendo que enfrentar um dragão? O que é simplesmente ridículo, nem as goles dos idiotas da minha turma precisam se esforçar muito para te fazer de bobo. Penso que eu quem terei que acabar defendendo a sua honra, algum dia, apesar de que todo a situação me dê muita cabeça. Seria melhor se ela fosse completamente evitada. É como você diz, desviar de uma bala?

Mas você poderia, por gentileza, continuar me escrevendo? Mesmo que eu não receba.

Talvez eu esteja mesmo terrivelmente encantada.

Andrômeda

Largo Grimmauld, nº 12.

 

 

 

 

[no verso, a 01-08-67. embaixo, os dizeres: “Transcrição do primeiríssimo berrador de Andy, depois que eu conheci meus sogros. Primeiro de muitos, mas o melhor de todos, e o guardo com carinho, também, em meu coração.”]

LOUCO, COMPLETAMENTE DESMIOLADO. SEU CÉREBRO DESAPARATOU DE DENTRO DE SUA CABEÇA, E INSATISFEITO, QUIS ME CONDENAR JUNTO COM VOCÊ. SEM NOÇÃO, ABSURDO, CABÍVEL DE RECEBER UMA MALDIÇÃO IMPERDOÁVEL ENCAMINHADA DIRETAMENTE PARA ESSA SUA CABEÇA TONTA, PARA VER SE RECUPERA O JUÍZO, PARA VER SE PARA DE DECIDIR TUDO SOZINHO SEM A MENOR CONSIDERAÇÃO PELA OPINIÃO DOS OUTROS.

JÁ TE OCORREU, Ó GRANDIOSO E MAJESTOSO EDWARD, O MELHOR DE TODOS NÓS, MERLIM EM SUA QUINGÁGESIMA ENCARNAÇÃO, QUE TEM ALGUMAS COISAS QUE NÃO TEM NADA A VER COM ESSA SUA BOCA GRANDE? AGORA TUDO QUE ME RESTA É TORCER PARA QUE NUNCA CHEGUE O DIA QUE ELES DESCUBRAM QUE NÃO EXISTE NENHUM PURO-SANGUE NO MEU ANO DE NOME “SENHOR DARCY.”

MAS EU SEI QUE O DIA VAI CHEGAR. ENTENDE? O DIA SEMPRE CHEGA.

 

 

 

 

Dia 10 de Agosto de 1967

Tonks,

Reafirmo, caso não tenha ficado claro, que é melhor que você pare de me escrever. Não irei “concordar em discordar”, não irei “dar uma chance ao amor”, não irei “viver um pouco”. Penso que essas películas que você assiste encheram sua cabeça de ideias, terríveis e infindáveis ideias,

mas eu e você? Eles não escrevem livros sobre isso.

A. C. B.

 

 

 

 

Dia 30 de Setembro De 1967

Estúpido. Já não bastava o que você fez no verão, você decidiu agarrar a goles com os dentes? Não que eu me importe. É só um pouco preocupante, essa sua tendência de arriscar a própria vida à troco de migalhas. Aqui minhas anotações de Poções, estúpido.

 

 

 

 

[no verso, a 15-10-67. embaixo, os dizeres: Um péssimo dia. Penso que foi por aqui que eu comecei a desconfiar que essa história de mundo bruxo era boa demais para ser verdade. Um enorme conto do vigário. Na época não tinha como eu saber, só que já havia uma guerra no horizonte, distante mas progressivamente se solidificando. Talvez os únicos que não sabiam fossemos nós. Mais importante que tudo isso, acho que foi por aqui que ela começou a ficar doida, também.]

Ted. Ouvi sobre o que aconteceu com Claire. Eu sinto muito. Eu sinto muito. Eu sinto muito, muito mesmo. Flora me diz que deve ter sido um dos capangas de Rodolphus, já que o viu mais cedo perambulando pelas estufas. Se fosse Bella, te juro que ela estaria se gabando pelos quatro cantos. Te juro que não foi Bella e te juro que não tive nada a ver com isso, nada, prometo. Falei com o inútil do Slughorn, mas ele disse que só poderia aplicar uma punição mediante provas. Dá pra acreditar? A varinha daquele infeliz é evidência o bastante. Você estava certo. Me pergunto como todos eles conseguem acordar todo dia e seguir a vida normalmente, é insano, pois eu— Escute, tenho que correr, Transfiguração no meu quinto período, mas depois? Podemos conversar?

 

 

[A única carta do inverno de 1967.]

T. A F. concordou em me cobrir. É melhor que valha a pena.

[Anexado com um clipe, fotos trouxas ilustrando dois jovens na Londres trouxa. No horizonte: a Roda do Milênio, o Big Ben, o Tâmisa. O cabelo de Ted está longo o bastante para que Andrômeda coloque uma mecha atrás de sua orelha. Em uma: ainda tem as mãos segurando o rosto dele quando a foto foi tirada, e nenhum dos dois olhou para a lente. Em outra: uma foto tirada por uma terceira pessoa na frente do píer. Os dois seguram um ao outro, as mãos enluvadas ao redor de sorrisos. No verso: A primeira vez que Andy fugiu de casa. Valeu a pena.]

 

 

 

 

Dia 3 de Novembro de 1969

Senhor E.T,

É um final de semana longe de Hogwarts, fala como se fosse uma vida. E não me diga que sua vida sou eu! Use esse tempo para refletir sobre suas cantadas previsíveis, senhor E.T.

S. manda lembranças. Assim que viu a parcela que você mandou, trancou-se no quarto e não saiu pelo resto da noite. Minha tia está uma fera. Os dois tinham brigado feito diabretes até que S. finalmente concordasse em aparecer na festa, e em cumprimentar os muy nobres conhecidos da família, mas não adiantou de muita coisa. Darei meu voto de confiança de que seu presente de aniversário, para o meu primo de dez anos!, não irá acender uma revolução aqui em casa. Não o desperdice.

Sei que gosta de desafiar o status-quo e denunciar a ordem vigente, poupe-me do discurso, mas gostaria muito de que esse tipo de coisa acontecesse bem longe de mim.

De preferência, se não for absurdo, na véspera de Natal.

Nunca é muito cedo para se pensar no futuro, afinal.

Sempre sua,

Andy

Largo Grimmauld, nº 12

 

 

 

Março de 1988.

Cara Andy,

Você se lembra do livro, aquele que você não gostou?

Você gostou menos ainda da minha resposta. Mas você me conhece, não aguento sufocar minhas palavras, tenho uma coceira para falar as coisas. Eu sinto muito, mas me perdoa, Andy, por ser assim? Pois eu preciso te dizer mais uma vez que eu não os culpo. Crianças tolas sempre serão crianças tolas, é ter esperança contra a própria esperança duvidar da tolice delas. Eu tinha raiva era dos pais deles, que os condenaram daquela forma. Creio que seria tudo agradável se eles não morressem como peões das discórdias sangrentas das famílias da antiga Verona, mas o velho Will deve ter tido seus motivos.

Sei que se te pedir para não se preocupar não adiantará de muita coisa. Mas Dora ficará bem. Dora é a última defesa do universo contra todas as coisas ruins, você sabe, nosso presente. E ele também será. Posso apostar que você já inventou um nome infeliz para o pobrezinho, e certamente irei adorar. Bem, boa sorte em tentar passar por cima dela.

Como que as coisas andam? O bebê já está aí? Espero que tenha ido tudo bem. Qual a cor do cabelo dele, no momento em que está lendo? Você se lembra de quando era Dora quem acordava azulada e chorando? Tudo indica que, no mínimo, o temperamento do meu discípulo será bem divertido. Eu sinto falta dessa época, mais que tudo. E como anda Dora? Ela está bem? Se sim, diga para que estupefaça o Remus por mim. Depois, um gentil abraço.

Se não, faça-me o favor, querida.

Eu quero vê-lo. Irei vê-lo.

Sou apenas um velho tolo que fala demais e que não sabe dobrar as próprias meias, mas irei te fazer uma última promessa:

Esse não é o fim. Eu não te disse? Seria terrivelmente injusto da minha parte roubar seu coração e sair correndo com ele. Você e eu vamos estourar os miolos de Dora de tanto nos preocuparmos. Você e eu vamos dar tanto amor para a criança, que ele vai ficar enjoado. Não vai querer ter nada a ver com isso, e aí iremos impressioná-lo com o tanto que nos amamos. Já tenho tudo planejado.

Você e eu vamos viver para sempre.

Se não,

Você me perdoa, Andy? Não irei me desculpar por ter te encantado até ficar louca o suficiente para casar comigo. Não posso controlar meu charme, afinal. Mas tudo que eu mais queria era te dar um final feliz. Chegamos quase lá, não é?

Sempre seu,

Senhor E.T

 

 

 


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Notas finais do capítulo

1. The Lovin' Spoonful - Do You Believe in Magic.
2. Romeu e Julieta.
3. O sufixo “dora” significa presente. Callidora, antepassada de Andrômeda, significa o presente da beleza. Elladora, outra antepassada de Andrômeda, significa presente de Ella, provavelmente, sua mãe. Gosto de pensar que Ted era terrivelmente romântico, fã de clássicos tanto de cinema quanto da literatura. Que ele teria lembrado de Pandora, talvez, ou de Theodora, e que essa seria uma das tradições que os dois gostariam de seguir.