Tempestade Azul escrita por MattSunshine


Capítulo 9
Verdade ou Desastre


Notas iniciais do capítulo

E bem-vindos a mais uma belíssima quarta-feira, espero que estejam animados pois hoje é dia para mais um capítulo ♥. Que surpresas essa belíssima noite reserva para nossos jovens? Coisa boa ou ruim? Talvez uma mistura dos dois ♥



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Após ajudá-los com as bebidas, Sasha os deixou, alegando que precisava ir ao quarto tomar um banho e trocar de roupa, colocar algo mais apropriado para a ocasião. O que exatamente seria apropriado para um jogo de verdade ou consequência? Adrian não sabia e não desejava saber. Bom... talvez estivesse um pouco curioso, imaginando o que a menina poderia ter em mente. Pelo pouco que pudera apreciar, ela tinha um corpo bonito e aquele vestido ressaltava isso, poderia ser que a roupa que usaria à noite ressaltaria suas curvas. Provavelmente seria algo de extremo conforto.

As bebidas foram estrategicamente escondidas na geladeira do dormitório, atrás dos montes de comida para que nenhum espertinho conseguisse achá-las. Pelo que descobrira, as geladeiras eram abastecidas periodicamente pela própria escola para o caso de alguns alunos quererem fazer um lanche noturno ou até mesmo por questões nutricionais. Os alunos também estavam autorizados a trazer a comprar a própria comida ou a fazê-la e etiquetá-la, porém sempre havia alguém que não respeitava essas normas e roubava a comida alheia.

Tinha de lembrar a si mesmo de nunca trazer nada para a geladeira do dormitório, ou ao menos nada que precisasse de uma geladeira para se manter. E, ao pensar nesse eletrodoméstico, não podia parar de pensar no que estava dentro dele: as bebidas. Fazia um bom tempo que não jogava esse jogo e estava um pouco temeroso com o que poderia ter de vir a dizer ou a fazer. Não conhecia direito as pessoas com quem jogaria, então haviam duas possibilidades: ou pegariam leve por não conhecê-lo ou, como era o objetivo do jogo, usar de perguntas mais pesadas para criar uma imagem sobre ele em suas cabeças. Só esperava não passar muita vergonha.

O céu já estava alaranjado, indicando o pôr-do-sol, em breve estaria escuro, as pessoas estariam dormindo, seus convidados chegariam e o jogo finalmente se iniciaria. Adrian não podia deixar de sentir certa ansiedade, um temor oculto. E algo mais o incomodava, como um mau-pressentimento. Talvez devesse se retirar do jogo enquanto ainda era tempo. Mas... se fizesse isso, o que pensariam dele? Seria difícil se aproximar de alguém se sua fama fosse a de um covarde.

— No que está pensando? — indagou Riley, tão repentinamente que Adrian teve de se segurar para não saltar de susto. Ele encarou os orbes verdes que o fitavam, não com preocupação, mas com curiosidade.

— No jogo de hoje à noite, estou um pouco nervoso com ele — confessou, apesar de não ter dado mais detalhes e torcido para que Riley não se prolongasse no assunto. Não era algo que estava a fim de discutir.

— Relaxa, vai ficar tudo bem — disse ele, dando tapinhas amigáveis nas suas costas. Por um breve momento, Adrian quase se deixou acreditar em suas palavras. — Não tem com o que se preocupar.

Rapidamente, o loiro revirou sua mente em busca de um assunto. Um assunto para fugir daquela conversa, mas que ao mesmo tempo não ficasse tão na cara sua tentativa de esquiva.

— E Dany? Falou com ele? Ele vem?

Riley, se desconfiou ou notou a mudança de assunto, nada demonstrou, nem mesmo uma micro expressão facial. Em vez de questioná-lo sobre isso, limitou-se a responder as questões do outro:

— Foi um pouco difícil convencê-lo. — Sério? Dany realmente tinha negado um convite seu? Era uma boa oportunidade de se conhecerem e fazerem amigos, por que ele não viria? — Ele ficou desconfiado, até que eu falei que era seu colega de quarto. Então perguntou o porquê de você não ter ido pessoalmente convidá-lo, eu só disse que você foi atrás das bebidas da festa.

— E ele aceitou? — perguntou esperançoso. Queria ter a companhia do amigo. Por alguma razão, que talvez fosse até compreensível, ficaria feliz em estar com alguém com quem se dava bem.

— Ainda não. — A decepção no seu olhar devia ter sido óbvia, pois Riley se apressou a completar: — Então tentei usar um pouco de chantagem emocional, dizendo que era importante para você que ele viesse já que são amigos. No fim, ele acabou aceitando e eu só dei um horário para ele.

Finalmente uma boa notícia. Primeiro, tivera o prazer, ou desprazer, de conhecer Luke Evans, afinal ainda não sabia o que pensar sobre ele; quase ao mesmo tempo, conheceu Riley Daniels que parecia ser um bom sujeito, até então não se mostrara nada além de uma pessoa confiável; influenciado por Luke, roubara um bar com o coração acelerado com a possibilidade de alguém vê-lo e, por fim, conhecera Sasha Orlins. O adjetivo “linda” era pouco para descrevê-la, com sorte conseguiria algo naquela noite.

— Acha que eles vão demorar? — perguntou após um tempo em silêncio.

— Provavelmente não, logo devem estar aqui.

E como se fosse invocada por suas palavras, uma Sasha abriu a porta do quarto e o adentrou como se fosse dela próprio. Carregava consigo as sacolas com as bebidas roubadas e as colocou perto da janela, onde o ar fresco da noite adentrava o cômodo. Adrian notou também meia dúzia de copos plásticos. A luz acabava pouco a pouco, agora quase não havia resquícios do sol no céu escuro.

— Onde estão os outros?

— Eles ainda... — Uma batida na porta interrompeu a fala de Riley. — Pode entrar!

Timidamente, a porta foi aberta e uma figura esguia atravessou a pequena brecha aberta. Adrian sorriu ao ver de quem se tratava.

— Dany! — disse animado, levantando-se para cumprimentar o outro. — Que bom que veio.

— Oi — cumprimentou Adrian, estendendo a mão para um toque. — Olá — disse aos demais que também o receberam.

— Pode sentar, fica bem à vontade. — Adrian sentou-se onde estava antes, ao lado de Riley e, como queria, Dany sentou-se do seu lado. — Assim que os outros chegarem podemos começar.

Dany passou os olhos pelo quarto, curioso, apesar da planta quase certamente ser igual a do quarto dele. Sem olhar para ninguém, perguntou:

— Quantos faltam chegar? — Seus olhos vagavam tão livremente que Adrian se perguntou se a pergunta fora dirigida a ele ou à outra pessoa.

— Dois — respondeu, lembrando-se de Luke e Browen. Eles eram os únicos que faltavam.

— Três, na verdade — interrompeu Sasha, ganhando a atenção dos presentes.

— Você convidou outra pessoa? — Ela tinha tomado aquela liberdade? Tudo bem que era amiga de Luke e ele a convidara, mas quem disse que ela tinha permissão para chamar outras pessoas? Aquele não era seu quarto.

— Claro que convidei. Achou mesmo que eu seria a única garota no meio de um bando de macho safado em um jogo de verdade ou consequência? — Bem, aquele realmente era um bom ponto, Adrian tinha que concordar. Fora que, com mais uma garota, suas opções aumentavam. — E relaxa, convidei apenas uma pessoa e é de confiança.

Os garotos a olharam com ar de desconfiança, se perguntando quanta confiança deveriam dar à estranha que, a que tudo indicava, tratava-se de uma mulher. O sentimento era ambíguo, conflitante. Por um lado, ficavam felizes por ter outra garota no jogo e, por outro, ficavam inseguros se realmente deveriam recebê-la, se realmente seria certo confiar nela. Supostamente, não deveriam deixar o que pensavam ou sentiam tão aparente, mas as expressões os traíam, alguns pendendo para um sentimento e os demais para outro.

— Certeza de que não vai falar nada para ninguém? — Riley fez a pergunta que rondava a mente de todos que ficaram atentos, à espera da resposta.

— Se ela fosse falar, eu não teria convidado — respondeu diretamente, não poupando a grossura nas palavras, alvejando Riley com sua raiva e deboche. Adrian engoliu em seco vendo os outros meninos fazerem o mesmo. Ainda bem que não fora ele a perguntar.

Novamente, a porta se abriu sem nenhuma batida e nenhum convite. As pessoas não tinham senso? Poderiam estar pelados ali dentro. Pelo rosto da garota, ela sequer considerara essa opção. Seu rosto era delicado, a expressão se mantinha de uma suavidade extrema com um toque de timidez, usava um vestido branco com roxo que combinava com seus cabelos tingidos, trançados duas vezes.

— Espero não estar atrasada — disse ela, sabendo que não estava, e sentou-se ao lado de Sasha.

— Estamos esperando mais duas pessoas, Melissa — respondeu a amiga, pondo-se em pé. — Mas acho melhor nos arrumarmos para não perder tempo.

— Nós temos uma garrafa vazia para girar? — indagou Dany, falando pela primeira vez com outra pessoa que não fosse Adrian.

Sasha sorriu.

— Querido, enquanto você está indo, eu já estou voltando.

Ela dirigiu-se até a sacola, explorou-a um pouco e tirou um pequeno litro de refrigerante. Adrian não lembrava dele, Sasha devia tê-lo trazido quando viera de seu dormitório, era realmente precavida, os garotos nem sequer pensaram nesse pequeno detalhe. Mas poderiam ter usado uma garrafa mesmo que cheia, não poderiam? Então isso faria daquele ato um ato desnecessário.

Jogando o objeto plástico no meio do semicírculo, a garota de roupa vermelha voltou a seu lugar original, bem no momento em que a porta se abriu, revelando Luke e Browen que entraram no quarto e fecharam a porta. Sutilmente, Adrian aproximou-se mais de Dany, grato por Sasha estar sentado do outro lado dele. Dany, se fosse possível, ficou mais pálido do que já era e Adrian começava a se perguntar se realmente fora uma boa ideia convidá-lo para o jogo, por mais que suas intenções fossem as melhores, tinha certa noção da desavença entre os dois. Se bem que poderia ser uma boa oportunidade de mudar isso. Talvez se ambos se conhecessem melhor...

Os olhares de Dany revezavam entre Browen e Adrian, entre medo e incredulidade, enquanto o primeiro, alvo dos olhares de medo, encarava-o de volta com um olhar surpreso. Não durou muito, pois um sorriso maldoso logo brotou em seus lábios.

— O que ele está fazendo aqui? — perguntou, claramente se referindo à sua vítima. Se Sasha e Melissa não sabiam da violência unilateral, agora perceberam que algo estava errado. Por mais que não houvesse nada de violento na forma como falou, a própria frase já era suspeita.

Luke sentou-se ao lado do outro loiro e abriu a boca para responder. Alguém, no entanto, foi mais rápido:

— Eu o convidei — disse Adrian, tentando manter a voz o mais neutra e despretensiosa possível.

Browen o encarou, fazendo o garoto desejar, mais do que nunca, saber o que se passava em sua mente. Indiferença ou maldade? Desejava tanto, tanto, que fosse a primeira opção, mas, se fosse pensar logicamente, a segunda era muito mais possível.

— Então vamos nos divertir. — Adrian teve de segurar a raiva. Alguém mais havia notado a malícia em sua frase? Talvez Luke, porém não era a pessoa mais confiável.

Discretamente, mantendo o máximo de sutileza, Adrian esticou o braço e apertou a mão de Dany em um gesto de apoio. Os orbes amarelos se voltaram para ele com intensidade, verificou se alguém havia notado o ato. Como suas mãos estavam bem escondidas atrás de suas costas, ele não fugiu do contato.

— Vamos começar logo esse jogo? — indagou Sasha quando todos já estavam acomodados, quebrando o clima tenso que se formava.

Primeira frase sensata da noite, pensou Adrian.

— Lembrando que o que dissermos aqui, fica aqui — disse Riley, lembrando a todos algo que não deveria ser esquecido. Era bom manterem isso em mente.

Todos se entreolharam, perguntando-se em silêncio quem seria o primeiro a girar a garrafa, quem seria o questionador. Adrian apertou mais a mão de Dany a fim de acalmá-lo, pareceu ter dado certo. Sua expressão assustada se suavizou por um momento.

— Eu começo — disse Melissa, pegando a garrafa antes que outra pessoa também se oferecesse para fazê-lo.

Em um movimento certeiro a garrafa estava rodando no meio do círculo de adolescentes, criando expectativa em todos. Poucos estavam aflitos, não desejando serem os primeiros, enquanto os mais corajosos desejavam que a ponta da garrafa apontasse para eles. Então a garrafa finalmente parou.

— Verdade ou consequência?

— Verdade — disse Luke, optando pelo mais seguro no momento. Não estava assustado, o sorriso em seu rosto mostrava que ansiava por uma boa diversão.

— Quantos anos você tem? — indagou Melissa.

— Dezessete.

— Isso foi sério? — Browen resmungou. — Da próxima perguntem algo mais interessante, não essas coisas sem graça.

— Acho que a maioria aqui tem dezessete anos — refletiu Luke, ignorando o comentário do amigo. — Estamos na mesma turma, menos Browen, ele tem dezoito. — Deu de ombros, considerando as próprias palavras uma perda de tempo. — Não importa, é minha vez. — Dito isso, ele girou a garrafa.

Acho que vou me dar mal, foi o que passou pela cabeça de Adrian ao ver a boca da garrafa apontada para ele.

— Verdade ou consequência? — disse as palavras lentamente, saboreando cada sílaba ao ver a hesitação no rosto do colega de quarto. Um sorriso malicioso deixava claras as suas intenções. Independente do que escolhesse, aquela rodada não acabaria bem para ele.

— Verdade. — Era o caminho mais seguro.

— Com quem aqui nessa roda você gostaria de transar?

Adrian engoliu em seco. Esperava perguntas relacionadas a sexo, mas não algo que envolvesse outra pessoa, principalmente outra pessoa da roda.

Soltou a mão de Dany, novamente ninguém pareceu perceber o ato, estavam concentrados em suas expressões faciais que, sinceramente, não era das melhores. A pergunta de Luke era cabulosa, afinal ele apenas tinha duas opções para escolher: Melissa e Sasha. Poderia mesmo revelar isso a ela? Dizer que estava esperando por esse jogo na esperança de conseguir alguma coisa com Sasha? O que ela faria se soubesse? Mas, por outro lado, era uma boa oportunidade.

— Fale logo, Adrian, ninguém vai te julgar — disse justamente a garota que ele gostaria de levar para a cama, arrancando-o de seus pensamentos. — Com quem aqui você transaria?

— Você — respondeu Adrian sem pensar, apenas notando que as palavras lhe fugiram à boca quando o espanto tingiu a face dela.

Adrian a fitava fixamente, procurando uma resposta, ou o mais próximo disso que poderia receber. Ouvia os incentivos e as reações dos garotos ao redor. Melissa ria divertidamente, Dany se segurava para não fazer o mesmo da menina, enquanto isso Browen e Luke faziam piadinhas incentivando ambos como “Dá uma chance para o cara”, “Vai que ele é teu, Sasha” e “Cara, ele está tão na sua”. Riley era o mais quieto, paralisado com um sorriso no rosto, tão chocado quanto Sasha. Eventualmente, o choque da garota de vermelho passou. Ela sorriu.

— Veremos.

Os gritos e risadas de Browen e Luke aumentaram, passando dos limites auditivos aceitáveis.

— Fiquem quietos, vocês dois! — Sasha ralhou com eles. — Querem que nos peguem aqui? Deveríamos estar dormindo, se souberem o que estamos fazendo estamos fodidos.

Os dois se calaram na hora. Adrian agradeceu a ela com o olhar, não precisava de mais piadas e risos, afinal havia conseguido o que queria. Não era uma certeza, mas uma possibilidade já era o bastante para ele naquele momento, só precisava achar uma brecha e uma oportunidade para isso acontecer. No caso, esperaria até que ela optasse por desafio.

— O que acham de deixar esse jogo um pouco mais animado? — sugeriu Riley, ganhando a atenção de todos.

— O que você tem em mente? — Browen perguntou, animando-se com a ideia.

Em vez de responder, Riley se levantou, deixando o círculo e atravessando o quarto. Voltou com copos e duas garrafas nos braços, uma de vodca e outra de energético, a mistura clássica.

— Aí sim, mano! — Luke comemorou, estendendo a mão para alcançar seu copo, assim como fizeram os demais.

A pausa no jogo não foi longa, apenas o suficiente para que todos pegassem os copos e se servissem. E, torcendo para a garrafa apontar para Sasha, Adrian tomou das bebidas misturas e girou a garrafa.

Ela apontou para Melissa.

— Verdade ou consequência?

— Verdade.

Ninguém se arriscaria a aceitar um desafio? Bom, se ela o tivesse escolhido, ele levaria um tempo para pensar, não tinha nada em mente. Por outro lado, tinha uma pergunta na ponta da língua.

— Qual sua posição preferida no sexo?

Melissa mordeu o lábio, a mão foi parar atrás das costas para mexer na trança roxa. Adrian não soube dizer se ela estava tentando ser sexy ou se simplesmente ficara desconfortável com a pergunta.

— Cavalgando.

— Gosta de sentar no macho, safada — comentou Sasha, fazendo o rosto da amiga atingir uma coloração avermelhada. Melissa bebeu um longo gole de vodca a fim de disfarçar seu constrangimento, porém ainda era evidente. — Sua vez de girar.

Melissa pôs o copo de lado e pegou a garrafa, girando-a.

— Verdade ou consequência? — perguntou a Riley.

— Consequência, com certeza — disse confiante.

— Finalmente — disse Luke, sendo ignorado pelos demais.

— Desafio você a sentar no colo de alguém aqui e ficar sentado até o fim da próxima rodada.

O ambiente se encheu em choque e em frases de desafio, Adrian era um dos que desafiava, ansioso para ver como o amigo reagiria a tudo aquilo. Surpreendentemente, ele não demonstrava estar incomodado.

— Sem problemas — disse enquanto levantava. — Só para constar, você não pediu para sentar no colo de ninguém em específico. — Se pôs em frente a Melissa, a encarou por um breve momento. Quando ela assimilou o que estava para acontecer, Riley já estava em seu colo, movendo seus joelhos de forma que seu corpo subia e descia. — Ai, meu Deus, Melissa, acho que sentei em seu osso.

— Quem disse que isso é meu osso, bonitão? — retrucou ela de um modo tímido.

Nenhum dos garotos e nem Sasha foi capaz de segurar o riso e passaram a gargalhar abertamente, esquecendo-se brevemente do perigo de serem pegos. Os quartos vizinhos poderiam muito bem ouvir suas risadas agora. Eles não se importaram, nem Sasha os repreendeu, dominada como estava pela emoção não era capaz de pensar em outra coisa além da cena que acontecia bem ao seu lado. Até mesmo Dany, que pouca emoção demonstrara até então, ria sem controle ao lado de Adrian, suas mãos seguraram a barriga que provavelmente doía. A única que não ria era Melissa, extremamente vermelha com o ato repentino, mas tentando disfarçar a vergonha e entrar no clima, nunca pensara que seria ela a escolhida, porém um sorriso divertido ameaçava se formar em seu rosto.

Quando os ânimos finalmente se acalmaram, Riley girou a garrafa, parara de falar frases de cunho sexual, mas em momento algum deixou de subir e descer sobre o colo de Melissa, pois era esse seu desafio.

— Verdade ou desafio, Dany?

Suas mãos se fecharam em punho devido ao nervosismo que sentia. Tremiam levemente. Sua voz, no entanto, estava calma quando falou:

— Como é a primeira vez que respondo, vou pegar algo mais fácil. Escolho verdade.

Riley riu. No entanto, algo estava errado. Seu sorriso não era malicioso como o de Luke, o tipo de sorriso que se esperava em um jogo de Verdade ou Consequência, seu sorriso era inseguro. Talvez estivesse reconsiderando o que quer que fosse perguntar. O quão pesada deveria ser a questão? Adrian estava feliz por não estar na pele de Dany no momento, ao mesmo tempo em que estava preocupado com o amigo.

— Desculpa se isso te incomodar, mas tenho me perguntado isso desde que você chegou. — Fez uma pequena pausa, causando tensão não apenas em Dany como em todos os presentes. Sasha estava quase exigindo que ele falasse de uma vez o que queria saber, mas não foi preciso. — Você é gay?

— Sou — respondeu monossilabamente, obviamente nervoso.

De relance, Adrian pôde ver Browen soltar um riso debochado. O fuzilou com o olhar. Não havia nada para se rir naquilo.

— Então posso parar de quicar — Riley disse contente, voltando ao seu lugar original. Bebeu um gole, finalizando seu copo e servindo-se de mais.

Dany seguiu o exemplo de Melissa e bebeu para afastar o nervosismo. Browen o lembrou que ainda era sua rodada, sem nenhuma delicadeza nas palavras, e o albino fez o que lhe foi pedido.

— Verdade ou consequência?

— Verdade — Adrian respondeu ao amigo.

— Você já roubou alguma coisa?

Adrian teve de se segurar muito para não rir. O ato foi quase automático.

— As bebidas que estamos tomando contam? — disse ao levar o copo à boca.

Browen quase se engasgou, pois engolia o líquido no exato momento em que o garoto falara.

Algumas horas antes, quando invadia os fundos daquele bar, quando andava sorrateiramente na ponta dos pés, selecionava as melhores bebidas, ouvia Luke falando sem parar do outro lado da porta, sentia o peito doer com o coração batendo mais rápido do que o normal e morrendo de medo da possibilidade de ser pego, Adrian nunca pensara que um dia faria piada da situação. Agora era exatamente o que ele fazia. Poderia ser o efeito da bebida tomando conta. O que realmente importava, no entanto, era o quão divertida aquela noite estava se tornando.

— Você roubou essas bebidas? — perguntou o mais velho.

— Culpa de Luke, ele me convenceu a fazer isso — defendeu-se.

Todos olharam para Luke, exceto por Adrian e Sasha que bebiam tranquilamente, sem se importar com a nova fofoca que já conheciam.

— O que eu posso dizer? — Luke perguntou ironicamente a ninguém em particular. — Eu sou mesmo uma péssima influência.

— Não creio nisso — murmurou Dany para si mesmo em voz baixa.

— Por que fizeram isso? — Foi a vez de Riley falar. — Vocês são doidos. — Não foi uma pergunta e, sinceramente, Adrian não poderia concordar mais com a afirmação.

— Em minha defesa, Luke e Sasha me ajudaram. Luke distraiu o cara e Sasha apareceu para me ajudar com uma mochila justo quando eu estava saindo.

— Timing perfeito! — exclamou ela, ajeitando seus óculos no rosto com ar triunfante. Como se aquilo fosse motivo para se ter orgulho.

— Vocês são o que? Ninjas, por acaso? — disse Melissa.

— Acho que estamos perdendo o foco — disse Riley.

— Tem razão. Minha vez. — Adrian girou a garrafa.

Seu coração pulou uma batida ao ver para quem a boca da garrafa apontava.

— Verdade ou consequência?

— Consequência! — Um riso maroto surgiu nos lábios de Sasha. O que ele significava?

Era sua chance. Finalmente poderia tentar algo a mais, não poderia perder essa oportunidade.

— Me beija! — Adrian a desafiou finalmente, fazendo os demais prenderem a respiração.

O sorriso de Sasha aumentou. Ela colocou a garrafa de lado e se inclinou, passando por cima de Dany para chegar ao loiro.

— Como desejar...

Seus rostos se aproximaram um do outro, Adrian já podia sentir a respiração da garota em seu rosto quando fechou os olhos, sendo tomado pela escuridão. Sentiu sua nuca ser puxada e os lábios dela se colarem aos seus. Lentamente, sua língua pediu permissão para adentrar a boca alheia, sendo delicadamente recebido pela língua dela. Adrian puxou Sasha para cima de si, mantendo o beijo calmo e acalorado, o chão tocou suas costas e o loiro foi prensado por ele e pela garota sobre si.

Sentia o peso do corpo dela, a viscosidade de sua língua e o calor de sua boca e corpo, era delirante. Não conseguia se controlar e logo sentiu seu membro endurecer, acordando dentro de suas calças. Sasha percebeu a mudança em seu corpo e riu em meio ao beijo, correspondendo ao avanço ao deslizar as mãos por seu peito por debaixo da camisa.

Ele não ficou para trás. Puxou sua nuca de volta ao beijo com uma das mãos, enquanto a outra puxava sua cintura para que seus corpos se colassem ainda mais. O beijo era bom, era quente, e logo ele tomou mais força e intensidade, já não era mais calmo, era violento e faminto. Faminto pelo toque, pelo contato. Seus corpos se esfregavam um no outro com vontade, querendo mais.

Adrian não sabia para onde tinha mandado sua consciência e nem queria saber, só queria aproveitar o momento. Logo descobriu que não deveria ter pensado tanto com a cabeça de baixo.

— Ei! — Luke os empurrou com os pés, de forma que Adrian, que já estava no chão, virasse sobre ele, e Sasha caísse. Seus corpos foram enfim separados. — Vão querer mesmo transar na nossa frente?

— Não, obrigada — murmurou Sasha, claramente não havia gostado de ser interrompida. Mas voltou ao seu lugar em silêncio.

Adrian acompanhou seu movimento com o olhar, notando como a roupa estava amassada. As suas deviam estar no mesmo estado. Em dado momento, seus olhos se encontraram com os amarelos de Dany. Então a verdade veio à tona: Dany estivera o tempo todo aí, o observando. Um sentimento de culpa o inundou, sentiu-se sujo. Por que se sentia assim diante de alguém que provavelmente nem se importava com sua vida amorosa ou, nesse caso, sexual?

— Verdade ou consequência? — Nem sequer percebeu que Sasha já havia girado a garrafa.

— Verdade — disse Browen. Era sua primeira rodada no jogo.

Adrian pegou seu copo e o levou à boca. Esperou a ardência, mas ela não veio, o copo estava vazio. Pegou a garrafa que continha a bebida e serviu-se de mais, terminando seu conteúdo e a largando de lado. Notando o acontecido, Riley se levantou, foi até a sacola e pegou uma segunda garrafa. Não foi necessário substituir o energético, ainda havia metade de seu conteúdo. Boa parte dos jogadores preferia beber vodca pura.

— Qual é a sua maior fantasia sexual?

Ele pensou por um momento antes de responder.

— Transar amarrado, com a pessoa em cima de mim. — Sorriu provocador, certamente em uma tentativa de sedução. O que deveria ser sexy, causou ânsia em Adrian. — Quer realizar para mim?

— Não, valeu.

Luke riu.

— Que fora, cara. Eu não queria ser você. — Browen deu um empurrão de brincadeira em seu ombro.

— Vai se foder! — exclamou, segurando o riso. — Minha vez. — Ele girou a garrafa que apontou para a última pessoa que Adrian desejava naquela sala: Dany. — Verdade ou desafio, garotinha?

— Desafio! — disse Dany em forma de protesto.

Adrian não teria feito essa escolha se fosse Dany, não quando estava ciente de toda a rixa que havia entre eles, era um pedido arriscado. Não, na verdade estava além disso. Era quase como uma forma de suicídio e humilhação. O que o garoto tinha na cabeça para fazer tal escolha? Aquilo não ia dar certo. Entretanto, não era decisão de Adrian, e Dany havia feito a sua escolha. Ainda havia vontade de pará-lo e fazê-lo voltar atrás, porém o garoto se segurou.

Outra coisa que Adrian segurou foi a vontade de mandar Browen ao inferno. Quem ele pensava que era? Chamar Dany de garotinha? Era ridículo demais até para um babaca como ele. Isso era por causa de sua sexualidade, por causa de seus traços mais finos e delicados ou uma simples implicância sem motivo? Bom, o motivo não importava. Browen era nojento.

— Desafio você a trocar de roupa com uma das garotas até o fim do jogo.

Dany engoliu em seco. Adrian, por sua vez, relaxou. Não era um desafio tão absurdo. Mas isso não fazia Browen menos idiota do que era.

— Eu me ofereço — disse Sasha, se levantando antes que Dany pudesse protestar. — Onde fica o banheiro? — Luke apontou para uma porta no quarto.

Ela enganchou seu braço no de Dany e o puxou até lá, fechando a porta logo depois. Alguns minutos depois, os dois saíram com as roupas trocadas. Dany usando o vestido vermelho de Sasha e ela, a bermuda branca e camiseta azul clara dele. Retomaram seus lugares.

Agora mais próximos, Adrian pôde observar melhor o amigo. O vermelho destacava sua pele clara, destacava mais ainda seus lábios. A roupa também dava-lhe uma aparência de fragilidade, fazendo seus traços parecerem mais finos do que já eram. Seu corpo e o de Sasha eram diferentes, mas, de alguma forma, o vestido lhe caiu bem, como se fosse feito para ele, talvez ficasse melhor em seu corpo do que no de Sasha. Dany estava simplesmente adorável.

Espera... que merda de pensamentos são esses?

O garoto se censurou mentalmente, no que diabos estava pensando? Não se importava de achar outros garotos bonitos, até achava Nate bonito, mas nunca chegara a analisá-lo detalhadamente. O que foi isso agora?

— Verdade ou consequência?

Adrian procurou na roda a pessoa para quem Dany perguntava.

— Verdade. — Melissa escolheu.

— Quem dessa roda você gostaria de ver nu?

Melissa nem sequer pensou na resposta, ela veio tão impulsivamente e clara que Adrian se perguntou se realmente ouvira certo.

— Você, sem dúvida nenhuma — disse sem pudor, colocando mais bebida em seu copo e o levando à boca. Estava claramente alcoolizada.

Dany engasgou.

— Eu? — perguntou incrédulo, ganhando um aceno positivo em resposta. — Mas eu sou gay.

— E daí? Isso não significa que você não tenha um corpo gostoso. — Ela se virou para a amiga. — Ai, Sasha, o que eu não daria para ver o que você viu naquele banheiro.

As bochechas de Dany adquiriram um tom avermelhado, fazendo-o desviar o olhar. Estava tão lindo. E Sasha riu das palavras de Melissa.

— Talvez um dia, amiga. Agora gira essa garrafa que eu quero jogar.

Melissa fez o que lhe foi mandado.

— Verdade ou consequência?

— Verdade — disse Luke.

— Você já fez sexo ao ar livre?

— Já — disse orgulhoso. Isso era algo para se orgulhar? Era no mínimo imoral. — Na piscina. — Estava ficando pior a cada palavras, Adrian não podia acreditar no que ouvia.

Sabia que era errado e imoral. Mas não pôde deixar de desejar fazer o mesmo. Imaginou o local, o escuro da noite, a água morna tocando sua pele, seu corpo nu roçando em alguém, a adrenalina de ser pego a qualquer momento. Era excitante, para dizer o mínimo.

— Safado! — Browen caçoou.

— Sei que sou — admitiu, girando a garrafa.

Ela apontou de volta para Melissa.

— Parece que o jogo não sai de você hoje — disse Sasha.

— Desafio — disse ela antes que Luke perguntasse algo.

— Desafio você a me pegar — disse ele, estendendo os braços como que para recebê-la contra seu corpo.

— Mas... eu não quero te pegar — respondeu ela. Para a surpresa dos presentes, uma lágrima nervosa já se formava no canto de seus olhos, ameaçando escorrer.

— Tudo bem! — disse o desafiante rapidamente. — Tudo bem, não precisa me pegar se não quiser. Está tudo bem.

Era uma cena um tanto cômica e irônica. O garoto que levou um fora consolando a garota que o dispensou. Ninguém foi capaz de segurar a risada, apesar de discreta, ela estava presente.

— Quem estava falando do fora que tomei mesmo? — Browen alfinetou-o.

— Vai se foder! — disse, fingindo raiva enquanto tentava impedir Melissa de chorar. — Melissa, vamos esquecer isso. Gire a garrafa.

Ainda contendo as lágrimas, Melissa pegou a garrafa e a girou, conforme a sugestão de Luke. Não demorou muito e ela já estava sorrindo novamente, os olhos brilharam em excitação.

— Verdade ou desafio, Dany?

— Desafio.

— Okay, desafio você a me beijar.

— Trocado por um viado? — disse Browen para Luke, rindo de sua cara.

Dany apertou os punhos diante da palavra usada, mas novamente, não demonstrou. Adrian apenas percebera o movimento sutil porque estava procurando intencionalmente uma reação física no outro. Dany sabia esconder bem suas emoções, parecia um livro aberto e era exatamente o oposto, cheio de segredos. Desde o momento em que o viu, Adrian imaginou que escondesse algo do mundo, mas na maior parte do tempo, não era difícil lê-lo.

— Melissa, eu já disse que sou gay.

— Já beijou uma garota?

— Não, mas eu realmente... — Não chegou a completar a frase, em vez disso suspirou e deu-se por vencido. — Está bem, me beija de uma vez.

— Uhul! — Melissa comemorou como uma criança que acabara de ganhar o brinquedo que tanto queria.

Assim como Sasha passou por cima de Dany para chegar em Adrian, Melissa passou sobre Sasha para chegar a Dany. Ela engatinhou até ele e puxou seu rosto delicadamente pela nuca e aproximou seus lábios.

De onde estava, Adrian teve uma visão privilegiada do beijo, pôde ver com perfeição o momento em que as bocas se abriram e se juntaram, pôde imaginar o movimento das línguas. Dany segurou os ombros de Melissa, ela passou os braços pelo seu pescoço. A expressão dela era de êxtase puro, enquanto ele contraía olhos e enrugava a testa em uma expressão de nojo, entretanto, não fazia nada para parar o beijo. Se fosse esperar pela iniciativa de Melissa, demoraria uma eternidade, ela não parecia ansiosa para se separar.

A sensação estranha em seu peito voltou.

— MEU DEUS! — A voz de Sasha chamou sua atenção.

Adrian não entendeu de imediato, mas logo percebeu o que a deixara perplexa e não demorou muito para que o sentimento o contagiasse. Ele estava tão focado nos rostos, no beijo, que nem percebera o que ocorria no resto do corpo. Melissa havia abaixado o vestido de Dany, de modo que o ombro esquerdo do menino ficasse nu, ela massageava a área sem interromper o beijo. A visão causou náuseas a Adrian, seu estômago revirou ainda mais quando observou Melissa expor o segundo ombro, quase deixando-o de peito nu.

— Chega! — Dany interrompeu o beijo e afastou Melissa com cuidado.

— Tudo bem, foi o suficiente. — A garota sorriu e voltou ao seu lugar, lançando à amiga um olhar significativo. Dany cobriu seus ombros novamente.

O peito de Adrian se acalmou com o término do beijo. Estranhamente, sentia algo negativo em relação a Melissa. Não era ódio, mas também não tinha vontade de abraçá-la e saltitar com ela por aí como se fossem amiguinhos.

Que horror. Quanto tudo isso acabar, vou procurar uma psicóloga.

Dany girou a garrafa. Passava as mãos pela boca como se assim fosse capaz de limpá-la.

— Verdade ou desafio, Luke?

— Verdade, com certeza.

— Qual seu maior desejo sexual?

— Dominar. Usar chicotes, algemas e mordaças. Mas sai fora que não vou fazer nada com você.

— Não pedi para fazer. — As palavras de Dany o fizeram enrugar a testa. Diferente do albino, ele não sabia esconder direito o que sentia.

— O que foi? — Adrian não podia deixar de provocá-lo. — O hetero frágil não suporta a rejeição?

O olhar que Luke lançou para ele era afiado e mortal, com uma clara intenção assassina. Pelo visto Adrian tocara em um ponto frágil e ter sido rejeitado duas vezes na mesma noite não ajudava muito. Se não houvessem outras pessoas no recinto, ele provavelmente o mataria ali mesmo. Tinha de fazer uma anotação mental para si mesmo de dormir com os olhos abertos ou com um canivete embaixo do travesseiro.

— Ai, parem com essa porra e girem logo essa garrafa — disse Sasha, já notavelmente alterada por conta do álcool, assim como a maioria ali presentes.

À contragosto, Luke fez o que Sasha disse. Segundos depois, ela parou, apontando para Browen.

— Verdade ou consequência?

— Consequência.

Luke sorriu, como que para dizer que ele havia feito a escolha certa. Ele se inclinou sobre o amigo até que sua boca estivesse na altura de seu ouvido. Sussurrou alguma coisa que os outros não puderam ouvir, mas que ocasionou um sorriso enorme nos lábios de Browen.

— Parece que esse jogo vai começar a ficar interessante — falou para o outro, se levantou e deixou o círculo.

— O que ele disse? — perguntou Riley.

— É! Não é justo não sabermos do desafio — disse Melissa.

— Calma. — Browen tentou amenizar a curiosidade de ambos. Pegou a última garrafa de vodca, retirou a tampa e voltava para junto dos demais. — Vocês vão descobrir logo logo.

Como prometido, eles logo descobriram qual era o desafio, mas preferiram não terem descoberto. Browen despejou todo o conteúdo da garrafa em um Dany completamente desavisado. Ele tentou se proteger colocando as mãos sobre a cabeça, mas pouco adiantou, pois Browen chegava com a bebida por todos os lados. Só parou quando a garrafa estava vazia e foi se sentar ao lado de Luke.

— Agora sim, viadinho, espero que goste de vodca — disse Luke, rindo descontroladamente.

Os outros nada fizeram, chocados demais com um desafio tão desumano e insensível. Mesmo depois que tudo acabou e apenas as risadas dos dois podia ser ouvida, ninguém se mexia. Adrian estava paralisado em seu lugar, totalmente incapaz de se mover. Queria se aproximar de Dany e consolá-lo, ao mesmo tempo em que temia represália e ser o alvo de seus sentimentos. Não sabia o que deveria fazer.

Pela primeira vez na noite, os verdadeiros sentimentos de Dany foram visíveis, não somente por Adrian, mas por todos ali. Não foi capaz de esconder o que realmente sentia, não quando suas mãos tremiam sobre seus joelhos e lágrimas corriam insistentemente ao longo de seu rosto, se misturando com a bebida.

— Dany... — Acabou o chamando por fim, estendeu a mão para tocá-lo. O toque nunca feio a ocorrer, pois Dany se levantara e saiu correndo porta afora, deixando um clima pesado para trás. Nem isso foi capaz de tirar o sorriso de duas pessoas ali presentes.

Adrian permaneceu ali, com a mão estendida para o nada. Pelo menos até a voz de Sasha despertá-lo de seu torpor:

— Isso não foi legal, galera. Nada legal.

— Vocês são uns lixos! — exclamou Adrian, se levantando e correndo pelo caminho que Dany fizera para sair do quarto.

— Como se alguém se importasse com sua opinião — disse Luke em meio às risadas, mas Adrian não parou para discutir.

— DANY! — Adrian gritou pelo corredor, indo em direção às escadas. — DANY!

Pouco se importava se alguém poderia ouvi-lo, pouco se importava se alguém se acordasse ou se o professor responsável o repreendesse por estar gritando e correndo pelo dormitório naquele horário. Naquele momento, não se importava com mais nada, tudo o que lhe interessava era Dany, o garoto precisava de ajuda. Talvez ele não fosse a pessoa mais indicada para ajudar, mas alguém tinha de fazê-lo e Adrian simplesmente não podia ficar parado vendo tudo aquilo acontecer com seu amigo e não fazer nada.

— DANY! — Voltou a gritar por ele dormitório afora. — DANY, ESPERA!

Já conseguia vê-lo correndo pelo gramado, mesmo de vestido o garoto era rápido. Por sorte, Adrian era mais, de forma que em menos de três minutos conseguiu alcançá-lo.

— DANY! — Em um ato impulsivo e idiota, Adrian se jogou em cima dele, levando os dois ao chão, onde rolaram pela grama até pararem. — Finalmente te alcancei — disse em meio à falta de ar. Dany estava deitado no chão, enquanto Adrian estava por cima, encurralando o quadril do outro com as pernas e apoiando as mãos nos joelhos.

— Me solta — pediu ele, socando o peito do loiro. — Sai de cima de mim, Adrian.

— Calma, Dany, se acalma. — Tentou segurar os pulsos do albino, seus punhos começavam a machucá-lo. Porém, ele era rápido e difícil de ser contido. — Espera.

— Só me larga, Adrian, me solta de uma vez e sai de cima de mim. — Sua voz era chorosa, as lágrimas ainda escorriam de seus olhos, agora vermelhos e inchados, e o corpo fedia a álcool. Vê-lo naquele estado partiu seu coração. — Seu idiota! Idiota, idiota, idiota!

— Dany, me escuta! — Estava implorando, desesperado. Não sabia mais o que fazer para ajudá-lo. Pelo menos conseguiu pegar seus braços, impedindo que ele continuasse a agredi-lo. — Eu só estou tentando te ajudar. — Sem mais poder bater nele, Dany desviou o olhar. — Olha para mim, por favor. — Voltou a implorar, se não se controlasse logo seria ele a chorar também. — Por favor...

O garoto voltou os olhos marejados para ele. Seus lábios tremiam de emoção.

— Fale algo...

— Sai de cima de mim.

— Não. Se eu sair, você vai fugir. — Não podia arriscar, não tinha como saber o que ele faria naquele estado emocional.

— Não vou fugir. — Adrian o olhou com desconfiança. — Eu prometo que não vou tentar fugir. Agora saia de cima de mim, idiota.

Decidiu dar a ele um voto de confiança. Se quebrasse com a palavra e corresse, poderia alcançá-lo e pegá-lo, já o fizera uma vez e poderia fazer de novo. Como se fechassem um acordo não escrito, Adrian saiu de cima do garoto que, por sua vez, ficou deitado por mais um tempo antes de finalmente se sentar. Esfregou os olhos com as mãos, enxugando as lágrimas que restavam antes de erguer o olhar para ele.

— O que você quer?

— Por que essa hostilidade voltada para mim? Eu só estou tentando te ajudar.

— Você está perguntando isso a sério? — Adrian confirmou. — Por que me convidou para esse maldito jogo se sabia que Luke e Browen iam estar lá? Por que me convidou sabendo de tudo o que eles fizeram para mim? — Havia amargura em sua voz, um claro ressentimento, suas palavras eram afiadas e, por um instante, ele ficou com medo de Dany.

Ele sabia o que tinha que falar: a verdade. Mas deveria mesmo falar a verdade quando ela soava tão besta e sonhadora? Deveria mesmo correr o risco de perder a amizade do garoto com algo assim? Suas intenções foram as melhores, mas os resultados foram os mais desastrosos possíveis.

— Para falar a verdade, achei que pudesse melhorar as coisas entre vocês. — Optou por ser sincero. Se Dany não quisesse mais sua amizade, era um direito dele, assim como era seu direito saber da verdade depois de tudo o que passara. — Pensei que se passassem uma noite amigável juntos, jogando como pessoas civilizadas, as coisas poderiam mudar, que eles te veriam como o cara incrível que eu vejo.

— Cara incrível? — Havia um pequeno tom de deboche e incredulidade. — Adrian, você mal me conhece.

— Eu sei — admitiu. — Eu sei... Mas também sei o quanto você é legal, passamos o dia inteiro juntos e eu pude te conhecer. Achei que eles deixariam de ser tão babacas se tivessem a mesma oportunidade que eu tive, principalmente porque quando conheci Luke ele não parecia um cara tão ruim assim.

O albino soltou um sorriso. Adrian daria tudo para saber o significado daquele sorriso, saber o que se passava na mente do amigo, se ainda poderia chamá-lo assim. Significaria que entendia seus motivos e o perdoava? Ou significava que o achava o maior imbecil do mundo?

— Entenda, Adrian. — Seu humor parecia melhor, menos choroso. — Eu sou o típico nerd antissocial que todos detestam, eu estudo e apenas isso. Eles são os caras populares que se aproveitam de gente como eu. Eu tenho notas, bom currículo e recomendações, eles têm amigos, contatos, popularidade e influência acadêmica.

— Mas notas não são tudo o que importa?

Dany riu, como se não acreditasse no que o outro havia dito.

— Adrian, você ainda tem muito o que aprender. Academicamente e profissionalmente o que eu tenho importa. Mas aqui o que importa é o que eles têm, as pessoas daqui só valorizam isso.

Então era isso. Ele estava certo o tempo todo. Adrian fizera apenas suposições, tirara conclusões precipitadas, mas no fim elas estavam certas. Eram apenas adolescentes ricos e mimados que não se importavam com as consequências de seus atos. Apenas pessoas fúteis e filhinhos de papai. O que Dany lhe trazia era a maior prova disso. Os únicos que talvez ainda se salvassem poderiam ser Riley e Sasha. Melissa, apesar de gentil e doce, não parecia passar muito longe dos outros.

— Eu sinto muito. — Não mentiu, realmente estava arrependido, culpando-se por sua ingenuidade. — Realmente achei que as coisas poderiam mudar para você.

— Adrian, você é ingênuo. — Claro que era, e Dany apenas confirmava seus pensamentos e arrependimentos. — Gente assim não muda, por mais que você tente.

Por mais que estivesse enganado sobre eles, aquilo era algo meio pesado para se afirmar. Principalmente porque Adrian ainda tinha esperança de que mudassem.

— Não acha que deveria ter um pouco mais de fé nas pessoas?

— Deveria? — Dany devolveu a pergunta com tamanha intensidade que Adrian não soube o que responder, nem sabia se seria capaz de tal ato. As lágrimas voltaram, escorrendo violentamente pelos olhos inchados. — Eu já perdi essa fé há muito tempo. E eu confiei em você ontem, confiei em alguém pela primeira vez em muito tempo, e você me convidou para jogar com meus maiores agressores. Traiu minha confiança.

Aquelas palavras lhe machucaram. Doeram mais do que Adrian poderia imaginar. Por que doía tanto? Seria por que traiu seu amigo? Porque perdia alguém de confiança? Ou seria porque suas falhas provavam o quão ferrado e falho ele era? De qualquer forma, doía.

Sem pensar direito no que fazia, Adrian puxou Dany para um abraço, apertando-o contra seu corpo. Recebeu o corpo frágil do menino no seu, mas também se acomodou no corpo dele, só então notando o quanto ele tremia.

— Me desculpa! Me desculpa mesmo — implorou pelo perdão do outro. — Eu realmente não sabia que isso ia acontecer, se soubesse nunca teria te convidado para essa noite horrível. Juro que só tentei melhorar as coisas para você. Você é o primeiro amigo que fiz desde que cheguei aqui, não quero te perder assim.

Ambos ficaram em silêncio por um tempo, Adrian se perguntou se o outro iria respondê-lo, a falta de uma resposta o mutilava por dentro. Realmente não entendia o porquê de tanto incômodo. Mas enfim, para o melhor ou pior, as palavras saíram. Apenas não foram as que ele queria ouvir:

O choro se acalmou.

— Você traiu minha confiança, Adrian.

Adrian suspirou, convencido de que havia perdido o amigo por causa de suas bobagens. Então, com esses pensamentos em mente, nunca pensou que viria a sentir os braços de Dany correspondendo ao seu abraço, muito menos que ouviria as seguintes palavras:

— Mas fez tudo na melhor das intenções. Só estava pensando em me ajudar. — Sentiu seu corpo ser apertado com mais força. — Então acho que talvez eu possa te perdoar. Posso te dar uma segunda chance, mas não abuse.

— Sério?

— Sério. E... bom... obrigado pelo que disse antes.

Ele dissera algo bom? Porque em sua mente não fizera mais nada além de decepcioná-lo.

— A que parte se refere?

— Você disse que sou seu primeiro amigo. Para ser sincero, mesmo estudando aqui todos esses anos, eu não tinha nenhum amigo. Pelo menos não antes de você chegar. Mas não fique se achando só por isso. — Dany não resistiu à brincadeira. Adrian encarou o ato como algo positivo, o humor dele havia melhorado novamente.

— Eu nunca nem sonharia com isso — brincou de volta.

— Obrigado, Adrian.

— Na verdade, sou eu quem precisa agradecer.

Pela primeira vez desde que Dany correu por aquela porta, Adrian pôde sorrir, sentindo-se estranhamente feliz com o rumo daquela conversa.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam do capítulo de hoje? Dany é muito fofo, ele é bom demais para esse mundo, só agradecemos que ele tem Adrian para tacar fogo nas pessoas más. Vontade de guardar os dois num potinho bem fechado ♥ ♥ ♥.
Teorias sobre o próximo capítulo? O que será que vai acontecer entre Dany e Luke? Esperemos que uma vingança bem... inflamável kkkkkkkkkkkkkk

Por fim, obrigado a quem está lendo e acompanhando Tempestade Azul, comentários são sempre muito bem-vindos, sejam críticas, elogios, sugestões ou teorias malucas ♥



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