What makes you beautiful escrita por juuh godoy


Capítulo 5
O início de um sonho




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26 de agosto de 2017.

Lily.

     -Ficou incrível! –falei animadamente para Lene.

     Eu estava dormindo na casa dela, em uma das várias festas do pijama que fizemos desde que nos conhecemos. Dessa vez, tínhamos um motivo em específico: ela queria que eu fosse a primeira a ver como ficou a edição do clipe.

     -Sério? –ela me olhou incerta.

     Marlene é uma mulher extremamente segura, desde sempre. Ela sempre soube que sua beleza é capaz de deixar as pessoas sem fôlego, que sua capacidade de pensar rápido e responder à altura era maravilhosa, e sempre usufruiu muito bem disso. Essa foi a primeira vez que a vi duvidar de sua capacidade de fazer algo.

     Acho que é por ser algo que não é só dela, mas nosso. Ela sabe que qualquer errinho pode acabar com a nossa imagem imediatamente, e por isso, está sendo tão perfeccionista.

     Isso me fez acreditar ainda mais na pessoa que colocamos a frente do projeto. Ela é dedicada com o que quer, esforçada para caramba (ao ponto de não ligar em passar madrugadas correndo atrás de seus objetivos) e extremamente talentosa.

     Admirei ainda mais minha amiga nesse momento.

     -Se você achar que precisa mudar algo, qualquer coisa, me fala, tá? Não quero ninguém passando pano porque somos amigos. –ela continuou.

     -Marlene Mckinnon –peguei suas duas mãos, e percebi que estavam suadas. Uau, ela estava realmente com medo de não ter ficado bom –ficou incrível. Eu estou falando mais sério do que nunca. Eu não sabia que você tinha tanto talento! Ficou impecável!

     -Você tem certeza? –uma sombra de sorriso começou a aparecer em seu rosto –Acha que os meninos vão aprovar?

     -Lene, quem disser que está ruim, tem problemas seríssimos de vista. Está perfeito, para com isso.

     Ela suspirou pesadamente, fechando os olhos. Quando voltou a abrí-los, sorriu brilhantemente para mim.

     -Eu quero tanto mostrar para eles agora!

     -Então vamos –ela me olhou em choque.

     Não a culpo, em seu lugar também me olharia daquela maneira. Sempre fui certinha, segui as regras ao pé da letra o tempo inteiro, e nunca fiz algo impulsivo. Fora a bebida na festa de Frank, é claro.

     -Como assim? Mandar por e-mail para eles?

     -Não –fiz um gesto displicente com a mão –quero estar lá para ver a reação deles.

     Isso não era mentira, mas também não era toda a verdade. Eu queria ver a reação de todos eles, mas a de James era a mais importante.

     Durante a gravação do clipe, me peguei quase beijando-o na sorveteria. E a câmera pegou a cena direitinho. Lene ainda fez questão de colocar essa parte em câmera lenta, fazendo com que ficássemos 20 segundos do clipe nessa posição.

     Não nego que gostei. A cena registrada ficou linda, e nela, até parecia que ele me corresponderia. Iludida, claro, mas eu não consegui não me agarrar a essa pequena esperança.

     Consegui, discretamente, acessar a câmera e tirar uma foto disso, com uma boa qualidade. Daqui alguns dias iria até revelar, para guardar em meu quarto. Sem que ninguém saiba,  obviamente.

     Apesar do medo da reação de James ao clipe, e principalmente da vergonha, coloquei em minha cabeça que eu não estava sozinha nessa. Ele também estava próximo, também me encarava com intensidade, então não tinha como ele ficar bravo comigo se participou, certo?

     Espero que sim.

     -Mas como? –Marlene me puxou de volta par a realidade –Já são duas horas da manhã, Lily!

     -Lene, o James mora na mesma rua que a gente e o Sirius está dormindo lá desde aquela briga com os pais. É só mandar uma mensagem para eles nos encontrarem na casa da árvore.

     -E o Remus vai ser excluído, coitado? –ela continuou me olhando surpresa.

     -Podemos mandar mensagem para ele também. Na verdade, vou ligar para ele agora mesmo –pesquei o celular no meio da bagunça que estava o quarto.

     Fui nos contatos e já comecei a telefonar para ele, que não demorou a atender. Remus tem sono leve, desde sempre.

     -Remmy? –perguntei, incerta. Vai que ele atendeu sem querer.

     -Lily? Aconteceu alguma coisa? Você está bem? –ouvi o desespero em sua voz, assim como o sono, que mostravam que eu tinha sim, acabado de acordá-lo.

     -Desculpe te acordar –comecei –e está tudo bem, fica tranquilo. Com todos nós –ele suspirou aliviado.

     -Então por que diabos você está me ligando de madrugada, porra? –estremeci.

     Remus geralmente é muito doce, mas tem algumas situações específicas que o tiram do sério e fazem com que ele perca o filtro. Normalmente é falta de chocolate e...bom, acordá-lo de madrugada sem um motivo importante.

     -Remmy, calma. –ele grunhiu em resposta –A Lene acabou de terminar o clipe, e bom, eu acabei de assistir, e meu Deus, está perfeito. Vocês vão amar!

     -Lily, você está me acordando para isso? –pelo seu tom de voz, ele estava se contendo para não me xingar –Não dava para esperar o dia começar?

     -Eu quero que você venha para cá –falei antes que ele desligasse em minha cara –vamos para a casa da árvore, assistir o clipe. Por favor, Remmy, eu não vou aguentar esperar até amanhã! Por favoooor. –insisti.

     -Você ficou louca? –ele arfou, e percebi que estava bastante acordado agora –Como assim? Quer que eu fuja de casa no meio da noite, invada a casa de Marlene para assistir um vídeo de o que, três minutos?

     -Bom –suspirei, admitindo a derrota –sim.

     -Lily, alguém te deu algo estranho hoje? Uma bebida, comida, algo assim? Você está drogada ou doente?

     -Eu não estou drogada e muito menos doente, Lupin –ouvi Marlene gargalhar ao meu lado –Eu estou falando sério. Poxa, nós temos 16 anos e nunca fizemos uma loucura sequer. E não estaremos fazendo nada de errado. Só amigos ouvindo música.

     -Amigos ouvindo música no meio da madrugada na casa dos Mckinnon, que por acaso não podem nem sonhar com isso, Lily? Realmente, parece bem lícito para mim –seu sarcasmo estava vindo com força.

     Credo, me lembrem de falar com Remus durante o dia.

     -Remmy –choraminguei –vai ser rápido. Ninguém vai desconfiar, e se desconfiar, é só falarmos a verdade. Não é como se você estivesse fugindo para transar ou algo assim –Lene arregalou os olhos para mim.

     -Você disse a palavra “transar”, Lily Evans? –ela não conseguiu segurar a pergunta –Meu Deus, acho que a convivência com o Diggory não está te fazendo bem –ela me olhou com malícia –ou está fazendo bem demais.

     -Cala a boca, Marlene –bati em seu braço.

     -Eu vou fingir que eu não ouvi isso –continuou Remus –Enfim, por mais que não seja a nossa intenção, é o que vai parecer para os nossos pais, Lils.

     Lils. Acho que o humor lobisomem está indo embora.

     -Remmy, eles não vão achar isso –revirei os olhos impaciente –até porque, o cenário que estivermos vai ser bem inocente. Poxa, para de raciocinar um pouco e arrisque!

     -Jesus, você realmente bateu a cabeça. Lily Evans, a Lily Evans me pedindo para arriscar mais? –ele estava falando mais consigo mesmo do que comigo.

     -Por favor, Remmy. Por favorzinho. –fiz a minha voz mais charmosa, aquela que James não resiste.

     -Tudo bem –ele suspirou –mas se você me colocar em uma furada, eu te mato.

     -Justo –concordei rapidamente –Vem logo, então. Beijo –desliguei na cara dele, para que não desse tempo de discordar.

     -Quem é você e o que fez com Lily Evans? –Marlene perguntou, me olhando com uma mistura de risada e desespero –Eu devo me preocupar?

     -Qual é, eu não estou fugindo de casa para casar, por Deus –suspirei –É só uma pequena loucura.

     Ela me analisou por uns segundos, mas deu de ombros.

[26/8 02:23] Lily Evans: Está acordado?

[26/8 02:23] James Potter: Claro, ruiva. O que deseja?

[26/8 02:23] Lily Evans: Vem para a casa da árvore.

[26/8 02:24] James Potter: Agora?

[26/8 02:24] Lily Evans: Sim. Preciso te mostrar como ficou o clipe.

[26/8 02:24] James Potter: Certeza? Não prefere esperar até amanhecer, não?

[26/8 02:24] Lily Evans: Tenho. O Remmy está vindo. Traga o Sirius.

[26/8 02:25] James Potter: Ok.

     -Já falei com James –informei à Marlene, vestindo o roupão e as pantufas –Eles já estão vindo.

     -Ele não questionou? Você só disse para ele vir e ele está vindo?

     -Sim –dei de ombros –Só falei que era para ver como ficou o clipe.

     -Bobo apaixonado—ela murmurou em resposta, pegando o notebook.

     -O quê? –questionei, com o coração acelerado.

     Apaixonado? Por mim?

     “Lily, não fique com esperanças, você deve ter entendido errado. E se entendeu certo, como ela poderia saber os sentimentos de James?” , me repreendi mentalmente.

     -Eu disse “bobo agitado” –ela me disse, levantando a sobrancelha –Você sabe, James mal consegue ficar quieto. Qualquer oportunidade para sair de casa, ele pega.

     Trouxa, Lily Evans.Larga de ser tão trouxa!

     -Ah, verdade –fingi que não me decepcionei, indo em direção às escadas.

     Fomos nas pontinhas dos pés, evitando fazer barulho para que não fôssemos pegas. Soltamos o ar, aliviadas, quando chegamos ao quintal da casa, e subimos na casinha.

     -Quão louco é pensar que precisamos abaixar a cabeça para conseguir ficar aqui agora? –perguntei a Marlene, vendo ela se contorcer toda para não bater a cabeça –E pensar que esse lugar já foi gigante.

     -Para você ainda é gigante, pequenininha –Sirius chegou, me assustando.

     Ele subiu rapidamente e com habilidade, como um gato. Teve que se contorcer ainda mais que Marlene, sendo seguido de James, que ficou na mesma, já que tinham quase a mesma altura.

     -Bom, melhor eu ser pequena e não bater a cabeça –dei de ombros, chegando para o lado para que Jay tivesse espaço para sentar.

     -Olá –ele me cumprimentou, quando ficou o mais confortável possível (o que não era muito), me dando um beijo na bochecha.

     Os arrepios que eu senti não tinham nada a ver com frio.

     -Oi, James –sorri para ele, retribuindo o cumprimento e fazendo o mesmo com Sirius –O que estavam fazendo acordados até essa hora?

     -Jogando vídeo game –responderam em uníssono.

     -Agora –Marlene se pronunciou pela primeira vez –alguém pode me explicar o que aconteceu com a nossa ruiva favorita? –perguntou como se eu não estivesse presente –Ela está rebelde! Encheu a cara, beijou o Digorry e agora está querendo dar umas escapadas no meio da noite? O que está acontecendo?

     -Encheu a cara?! –James me olhou, assustado –Quando? Por que eu não sabia disso?

     -Hum –mordi o lábio inferior, e lancei um olhar fulminante para minha amiga –Na festa de Frank –dei de ombros como se não tivesse importância.

     -O quê? Como assim? –ele cruzou os braços, me pedindo explicações. Merda.

     -Eu só estava cansada de me sentir certinha demais, então virei uma garrafa –menti. De jeito nenhum que eu contaria que fiz isso por ele. Fala sério, quão ridícula eu sou? –Fiquei bêbada, Lene e Six me deram água sem parar. Vomitei –Marlene e Sirius fizeram caretas ao mesmo tempo, provavelmente lembrando da cena –e bebi mais água. Fiquei ok e voltei para casa. Fim. Nada demais, James, não precisa se preocupar.

     Passei a mão pelos seus bíceps, para acalmá-lo. Ok, não só por isso. Mas você não pode me culpar, né? Não dava para não tirar uma casquinha!

     -Lily –ele me disse em tom de aviso –Por que você não me contou? Por que ninguém me contou? –olhou para os nossos dois amigos, que se encolheram.

     -Porque não era importante –respondi rapidamente –James, vocês bebem em todas as festas, e naquela noite, eu quis beber também. Não aja como um neandertal comigo. Não sou criança.

     -Eu sei que não é –sua expressão suavizou, e seu tom de voz abaixou –mas poxa, por que eu não sabia disso? Por que não me deixou segurar seu cabelo enquanto vomitava? –mais uma careta daqueles dois. Fala sério, eles não superaram até agora? –Por que eu não pude cuidar de você?

     -Você estava ocupado com o Jogo da Garrafa –torci para minha voz não soar amarga demais. Tem como eu ser mais óbvia? –Está tudo bem, Jay. A Lene, o Sirius e o Amos cuidaram de mim.

     -O quê? –a voz dura voltou.

     Merda. Por que eu tive que falar do Amos logo agora? Burra, burra, burra!

     –Você deixou um cara que mal conhecia cuidar de você? Você não me chamou e deixou que Amos cuidasse de você, Lily?

     Ele me chamou de Lily. Merda, merda, merda.

     -James, não é assim também –Marlene interferiu, tentando apaziguar a situação –Nós não pedimos a ajuda dele, ele só estava lá e se recusou a sair até que ela estivesse melhor. Não é importante.

     -É, cara –Sirius resolveu que era a hora de entrar na conversa também –foi só um porre. Ela ficou bem, deu tudo certo, e continua sendo sua melhor amiga.

     Isso pareceu piorar ainda mais para James. Ele puxou os fios do cabelo com força.

     -Pare com isso –repreendi, pegando sua mão com força e entrelaçando na minha –Qual a parte do “você vai ficar careca” que você ainda não entendeu?

     Ele me olhou com raiva, me fazendo notar que a brincadeirinha não tinha dado certo.

     -Eu sou mesmo o melhor amigo? Porque está parecendo que estou sendo excluído por aqui.

     -Jay, não é assim –me aproximei dele, o abraçando –Desculpe não ter te dito nada. Eu fiquei com vergonha. Eu vomitei sem parar e acordei com uma dor de cabeça de outro mundo. Foi péssimo. Eu não queria que mais ninguém me visse daquele jeito, tá? Desculpa ter escondido isso de você, viu? Não foi para te excluir ou te afastar, eu só fiquei constrangida. Entende isso, por favor –implorei.

     Ele suspirou pesadamente, mas me puxou para o seu colo e me abraçou forte, enterrando o rosto em meus cabelos.

     -Tudo bem, ruiva –sorri aliviada –Desculpe. Só, por favor, não me exclui assim mais.

     -Eu não vou –o abracei forte de volta, fazendo cafuné em seus cabelos arrepiados –desculpe também. Você é meu melhor amigo, tá? Ninguém, nunca, jamais vai tirar esse posto de você.

     -É bom mesmo –ele riu baixinho.

     -Agora eu posso entrar? –ouvi a voz de Remus –Já terminaram a reconciliação?

     -Entra, Moony –Sirius gargalhou, puxando Marlene para si, para Remus ter mais espaço para sentar.

     “Sentar” era uma palavra muito forte. Remus é o mais alto dos três garotos, tendo mais de 1.90m, de forma que o lugar ficou apertado mais para ele. Ele se posicionou meio deitado, meio sentado.

     -Agora podemos ver o vídeo logo? –perguntou James, me segurando mais forte para que eu não saísse de seu colo. Como se eu fosse querer sair! –Estou curioso.

     Me virei, de maneira que fiquei com a cabeça encostada em seu peito. Ele me deu um leve beijo no ombro, na parte que o roupão se afrouxou.

     Não consegui evitar o arrepio.

     -Frio? –murmurou em meu ouvido, me fazendo estremecer novamente.

     -Sim –respondi baixinho, sabendo que a mentira era melhor do que lhe contar a verdade.

     Ele me segurou com mais firmeza ainda, apoiando a cabeça na minha. Melhor lugar do mundo, definitivamente.

     Reparei, de forma rápida, que Lene e Sirius estavam muito próximos, conversando com Remus.

     Próximos até demais!

     Eu e James sempre tivemos muito contato físico. Nunca foi algo que conversamos sobre, foi muito natural, então no nosso grupo de amigos e até mesmo com nossos familiares, as pessoas não estranharam.

      Já esses dois...eles não são pessoas calorosas. Não são de toque, abraços e beijos carinhosos. De jeito nenhum. Pelo contrário, são daquele tipo que acha nojentinho muito contato.

     Fiz então uma anotação mental para questionar Marlene depois.

     O vídeo começou a rodar, me tirando de meus pensamentos.

     Observei atentamente mais uma vez, a minha aproximação com James. Estávamos muito, muito próximos durante toda a gravação. Me segurei para não olhá-lo quando chegou a cena do quase beijo.

     -Caramba, Lene! –exclamou Remus, quando terminou –Você arrasou. Ficou melhor do que eu imaginava.

     -Ficou mesmo –concordou Sirius, dando um beijo leve na bochecha corada da minha melhor amiga. Hum, estranho –Você é talentosa para cacete.

     —Eu também amei –James interferiu –Ficaram bem naturais as cenas do parque, hein ruiva?

     Dei uma leve cotovelada em seu peito, provocando-o de volta.

     -Fazer o que se sou uma ótima atriz! –me gabei, recebendo risadas de todos.

     -Agora entendi porque a Lily não pôde esperar amanhecer –Remus sorriu para mim, voltando ao seu estado doce.

     -Falando nisso –arregalei os olhos para o relógio –Quase três da manhã!

     -Melhor eu ir –Remus disse rapidamente –antes que meus pais notem que saí.

     Ele se despediu de todos, e eu lhe pedi 500 desculpas por tê-lo acordado e tirado de casa, e ele só me respondeu balançando os ombros. Acho que a crise de raiva passou definitivamente.

     -Fica –James pediu, quando tentei me desvencilhar de seu abraço –só mais um pouquinho.

     Marlene e Sirius já tinham saído da casa da árvore, mas pela proximidade das vozes, estavam no jardim.

     -Fico –respondi sorrindo.

     Como eu poderia não ficar?

28 de agosto de 2017.

James.

 

     -Já tivemos cinco mil visualizações no clipe! –exclamou Alice, batendo palmas.

     -Caraca –Remus olhou para o computador, impressionado –As pessoas estão compartilhando muito.

     -E comentando –acrescentou Lene, assentindo. –Acho que gostaram mesmo.

     -Somos maravilhosos, fazer o que –riu Pads, orgulhoso –Deixa só meus pais assistirem isso. Vão me expulsar de casa.

     Olhei para Moony, que deu de ombros. Não tinha o que fazer, a família de Sirius era preconceituosa demais com músicos, atores, dançarinos...artistas em geral. Ou todos que não fossem médicos ou advogados.

     Padfoot nunca teve vocação para nenhum dos dois, e apesar de ir bem na escola, se tornou a escória da família. Nunca teve medo de responder aos pais, de ir contra todo o racismo, homofobia e machismo que habitava a casa, de forma que levou mais surras do que posso contar nos dedos.

     Não aquela surra que os pais dão quando querem ensinar algo para os filhos, uma palmada ali e pronto, não, aquela surra para machucar.

     Pads já apareceu mais de uma vez todo roxo na escola, e, da última vez, sangrou tanto que eu nem sei como conseguiu me ligar para buscá-lo.

     Ele está há mais de uma semana dormindo em casa, no quarto que meus pais fizeram para ele desde a sua primeira fuga que durou quatro dias. Aos 12 anos.

     A família de Sirius não deve ser chamada por esse nome. Podem ser tudo, menos uma família para ele. São todos nojentos e asquerosos. Contudo, Padfoot não sai de lá de forma definitiva por Regulus.

     Regulus é o irmão, um ano mais novo, de Padfoot. No início, eu até entendia essa necessidade do meu amigo, meu irmão, querer protegê-lo, mas desde o final do ano passado, ele virou outra pessoa.

     O garoto doce e inocente que conheci não existe mais. Ele se tornou alguém tão ruim quanto o resto dos Black. Os preconceitos, a forma de falar, de agir, o desprezo a todos que não fossem da mesma classe social...tudo.

     Não sei porquê Sirius ainda insiste em ajudá-lo, já que o garoto deixou mais do que claro que não quer ser ajuda.

     -E por isso –disse Lily, em tom determinado –devemos ir para a próxima gravação. Sei que temos só mais uma música, mas que tal tentarmos lançar uma nova uma vez por mês? Eu me comprometo a tentar escrever mais.

      -Você acha que consegue? –perguntei, olhando-a profundamente.

     Lily sabe que eu jamais duvidaria de sua capacidade, mas eu me preocupo se esse fardo será peso demais nos ombros dela. Não quero que fique sobrecarregada.

     -Eu já tenho uma quase pronta –corou.

     Linda para caralho.

     –E eu estava pensando em tentar marcar um show na festa de volta às aulas de Hogwarts. –continuou –Vai ser no dia 16 de setembro, então dá tempo de ensaiar vários covers e gravar outro clipe. Aí, antes mesmo de lançar, a gente toca lá, para ficar na cabeça das pessoas e manda para o Youtube na semana seguinte.

     -É um bom plano –Frank anuíu –Alice está participando do comitê de organização, então ela pode ver com Dumbledore, não é, amor?

     -Posso –confirmou –Ainda não temos uma banda, só o DJ que tocará depois.

     -Perfeito –murmurei –Fica ótimo assim. Mas...-pigarrei –eu não quero cantar “What makes you beautiful” sozinho. Pads, Moony, quero vocês no coro e ruiva –ela me olhou, surpresa –quero que cante comigo o refrão.

     -Certeza, James? –ela mordeu o lábio inferior.

     Caralho, eu quero beijá-la.

     -Certeza. Não canto sem você –o rosto dela adquiriu um tom de rosado intenso. Como alguém pode ser tão bonito?

     -Ok –disse lentamente –mas eu preciso ensaiar. Quero dizer, claro que preciso, mas eu estava me referindo a cantar só nós dois para ver se tem a mesma conexão da outra música.

     Ensaiar com Lily? Passar o dia inteiro cantando uma música romântica para ela? Tem como ser mais perfeito que isso?

     Bom, eu poderia passar o dia inteiro beijando-a...

     -Precisamos estar em completa sintonia –assenti.

     -Ótimo –disse Pads, nos puxando de volta para o grupo –eu pensei também em promover o vídeo, sabe? Criar um Instagram para a banda, postando os bastidores, ensaios, spoilers de futuras músicas e tal. Aí, para chamar atenção, podemos pagar uma promoção para atingir mais pessoas.

     -Boa! –Marlene concordou, anotando em uma caderninho –Alice, você fica responsável por essa parte?

     -Claro –concordou rapidamente –Posso começar hoje mesmo.

     -Seria perfeito –falei.

     -Então faremos o seguinte –disse Lily, no tom de voz de “nerd organizada” –Eu e James ficaremos aqui ensaiando, -me dei bem –Alice vai à escola pedir a autorização de Dumbledore, Lene fica de olho nas estatísticas do vídeo, responde comentários e tudo mais, e vocês três –apontou para Remus, Sirius e Frank –começam a criar a playlist do show. Precisamos de uma para começar os ensaios. Alice, quando terminar com Dumbledore, já começa no Instagram.

     Todos concordaram com a cabeça, saindo do porão para cumprir suas devidas tarefas, me deixando sozinho com Lily.

     -Ok, que tal fazer no teclado e no violão primeiro? –sugeri –Fica mais fácil de ver a sintonia. E os caras não estão aqui para acompanhar, né.

     -É uma boa ideia –sorriu, se posicionando atrás do teclado –Como nos velhos tempos?

     -Como nos velhos tempos –meu sorriso foi ainda maior que o dela.

You're insecure, don't know what for

You're turning heads when you walk through the door

Don't need make-up to cover up

Being the way that you are is enough

 

Everyone else in the room can see it

Everyone else but you

 

     Cantei até agora sozinho, com ela me olhando com um grande sorriso, sem perder o ritmo. Lancei-a uma piscadinha, deixando claro que era a hora dela me acompanhar.

 

Baby, you light up my world like nobody else

The way that you flip your hair gets me overwhelmed

But when you smile at the ground it ain't hard to tell

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful

 

If only you saw what I can see

You'll understand why I want you so desperately

Right now I'm looking at you and I can't believe

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful oh oh

But that's what makes you beautiful

 

     Ela assentiu, sabendo que era a minha vez de cantar sozinho.

 

So come on, you got it wrong

To prove I'm right I put it in a song

I don't know why, you're being shy

And turn away when I look into your eyes

 

Everyone else in the room can see it

Everyone else but you

     Lancei-a outra piscadela. Ela sorriu abertamente.

 

Baby, you light up my world like nobody else

The way that you flip your hair gets me overwhelmed

But when you smile at the ground it ain't hard to tell

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful

 

If only you saw what I can see

You'll understand why I want you so desperately

Right now I'm looking at you and I can't believe

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful oh oh

But that's what makes you beautiful

 

Baby, you light up my world like nobody else

The way that you flip your hair gets me overwhelmed

But when you smile at the ground it ain't hard to tell

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful

 

Baby, you light up my world like nobody else

The way that you flip your hair gets me overwhelmed

But when you smile at the ground it ain't hard to tell

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful

 

          Mordi a língua algumas vezes para não dizer “Lily” ao invés de “baby”, e ela me olhou estranho nesses momentos.

 

 

If only you saw what I can see

You'll understand why I want you so desperately

Right now I'm looking at you and I can't believe

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful oh oh

You don't know you're beautiful oh oh

That's what makes you beautiful

 

     -Acho que não perdemos a sintonia –sorri.

     -Definitivamente não –ela sorriu de volta, mas o sorriso não alcançou os olhos.

     Me aproximei dela, tirando-a de trás do instrumento e levando-a para os pufes.

     -O que aconteceu? –questionei –Você se sente tão desconfortável assim em ter que cantar? Eu quero muito você comigo, ruiva, mas se você se sentir mal, não precisa. Eu nunca te forçaria a fazer algo que não quer.

     -Não é isso, James –suspirou, colocando a cabeça em meu pescoço –Você mordeu a língua todas as vezes que disse “baby”. –enrijeci.

     -O quê? –foi só o que eu consegui perguntar.

     -James, você não precisa mentir para mim –se afastou para me olhar nos olhos –Eu sei que a música foi para Mary, então comigo, não precisa fingir. Pode cantar o nome dela. –analisei sua expressão.

     Novamente, ela sorria, mas seus olhos não estavam brilhando. O tom de verde tinha escurecido e eu sabia que isso só acontecia quando ela ficava para baixo. Mesmo quando tem surtos de raiva, os olhos brilham. Eles só não o fazem quando está chateada.

     Mas Lily está chateada com o que? E que história absurda é essa de Mary?

     -O que Mary tem a ver com isso? –consegui perguntar, depois de um tempo tentando entender, sem sucesso.

     -Eu sei que você gosta dela e escreveu a música para ela –revirou os olhos –Fala sério, James, “Mary you light up my world like nobody else”.

     O choque foi tão grande que eu não consegui reagir. Nem piscava, nem abria a boca, não fazia qualquer movimento.

     Lily ficou louca? De onde ela tirou que a música era para Mary? Eu nunca dei tanta atenção para a garota assim!

     -James? –ela estalou os dedos diante dos meus olhos, me fazendo acordar do transe.

     -Lily –falei seriamente, me levantando –do que você está falando? Eu juro que estou tentando entender.

     -Sirius fez um comentário quando você mostrou a música para a gente, sobre substituir o nome de uma menina para “baby” –ela suspirou pesadamente –E você ficou recentemente com Mary, estava todo todo com ela na festa de Frank, claro, antes de ficar com a Vance –fez uma careta de nojo –e Mary combina.

     -Lily –agachei em sua frente, segurando suas mãos –eu não escrevi essa música para Mary, ok? O que eu e ela tivemos foi algo passageiro, nunca gostamos o suficiente um do outro para virar namoro. Sou amigo dela e estou tentando ajudá-la com Remus, por isso ela estava próxima de mim na festa. Só isso.

     Os olhos dela se arregalaram, em choque. Quando o choque foi passando, deu lugar ao constrangimento, apontado por suas bochechas vermelhas.

     -Oh –disse –ai, que vergonha! –retirou as mãos das minhas para tapar o rosto –Eu tirei conclusões extremamente precipitadas e não tinha nada a ver –gemeu –desculpe.

     -Mas afinal...por que seria tão ruim que a música tivesse sido escrita para ela? –questionei, levantando-me e cruzando os braços.

     Dessa resposta ela não iria escapar.

     -Nada –respondeu rapidamente –só acho que ela não é boa o bastante para você. Ou você para ela. Sei lá, vocês só...não combinam –segurei o riso.

     -Ruiva, você estava com ciúme? –ri abertamente agora.

     Mal sabe ela que a música foi escrita em sua homenagem.

     -Não! –disse horrorizada. Ri mais ainda, sabendo que estava mentindo –Não estava.

     -Quando você vai aprender que não consegue mentir para mim, hein?

     -Ok –bufou –eu fiquei com ciúme. Escrever uma música romântica para alguém é algo grande, James. Muito grande. Fiquei com medo disso significar que eu estaria te perdendo.

     -Ruiva –falei suavemente, voltando a sentar ao seu lado, puxando-a para o meu colo, no qual ela veio rapidamente, se aconchegando em mim. Eu amo poder fazer isso –você nunca me perderia. Não para uma namorada, ok? Eu prometo.

     -Promete mesmo? –me olhou, segurando as lágrimas.

     Merda, não aguento vê-la chorar.

     -Prometo, amor –falei suavemente, limpando as lágrimas que agora caiam sem parar –eu te amo, ruiva. –percebendo o que falei, tratei logo de acrescentar antes que ela fugisse de mim, com medo –Você é a melhor amiga que eu poderia ter.

     Amiga. Essa palavra ainda trazia amargura.

     -Eu também te amo –me puxou para um abraço forte.

     Quando parou de chorar –finalmente –levantei-nos e a ergui, girando-a. Esse é o abraço que mais gosto de dar, já que ela sempre responde me agarrando com firmeza e com altas gargalhadas.

     -Pronto para voltar para o ensaio? –perguntou-me, quando a desci.

     -Mais do que pronto, ruiva.

31 de agosto de 2017.

Lily.

 

     —Dumbledore acabou de confirmar! –Alice me abraçou, pulando sem parar. –Vocês vão abrir o show mesmo!

     -Sério? –ofeguei, segurando-a pelos ombros.

     -Sério! Ele já até convocou o comitê que está responsável pela parte de marketing para a divulgação! Assim que eles postarem, eu posto no Instagram da banda também.

     -Lily! –Lene veio rapidamente até mim –Está atrasada!

     -Desculpe –fiz uma careta –Petúnia me prendeu em casa. Ela vai sair com um namorado novo dela e estava toda paranoica, achando que eu tinha pego as coisas dela sem permissão. Uma saia, fala sério! Por que eu iria querer uma saia dela? O gosto dela é péssimo.

     -Preciso concordar –Alice assentiu veemente.

     -Não importa –Marlene me puxou pelo braço até o banheiro –Aqui está o biquíni –me entregou rapidamente –Vista-se! E pelo amor de Deus –começou a sussurrar –me diz que você depilou.

     -Claro que depilei –bufei –eu não sou louca de gravar um clipe na piscina com os pelos todos amostra.

     -Ótimo –suspirou aliviada –Agora, anda, que os meninos já estão prontos. Já gravei as cenas individuais de cada um, as duplas e os três juntos. Só falta você para gravar.

     -Desculpe –fiz uma careta novamente, fechando a porta do banheiro na cara dela para começar a me arrumar.

     Quando o coloquei, me olhei no espelho de olhos arregalados. Caraca, que biquíni lindo. Alice teria que me passar o nome da loja em que comprou.

     Percebi com essa escolha, o tanto que a minha amiga me conhece. Ele era estampado, com a cor principal sendo verde-água. A parte de cima tinha bojo, e segurava meus seios com perfeição.

     Eu sempre tive problema com essa parte de meu corpo, afinal, eu tenho muito, e ele é pesado, de forma que seja mais caído do que o das meninas da minha idade. Mas, com esse biquíni, ele ficou bem firme e fez com que parecesse que eu tenho uma quantidade menor do eu realmente tenho.

     A parte debaixo tinha cintura alta, de maneira que não mostrasse muito. Era delicada, com tiras dos lados e mais recatado. Não me sentia confortável mostrando meu corpo em um vídeo para qualquer um assistir.

     Precisava agradecer Alice urgentemente.

     -Lily, anda logo –chamou Marlene, impaciente.

     -Pronta –saí do banheiro, indo em direção a parte da piscina.

     Quando olhei para os meninos, assim que me aproximei, fiquei chocada. James me fez perder o fôlego, senhor.

     Ele usava apenas um calção de banho, com a cor combinando com o que eu vestia. Estava sem camisa.

     James Potter, na minha frente, sem camisa.

     Vocês estão entendendo a questão?

     James não tinha um corpo super bombado, como o Emmet de Crepúsculo, não. Ele malhava, então tinha alguns por ali, sim. Discretos. Daquele que a gente não vê quando veste camisa.

     Ele era lindo para caralho.

     O peito musculoso na quantidade certa. Não muito, e muito menos pouco. Ele estava um pouco molhado, provavelmente de suor, já que me esperavam para entrar na piscina.

     Porém isso não o deixou menos sexy. Pelo contrário.

     -Lily? –Remus me tirou transe, contendo o riso.

     Pigarreei, já que subitamente senti a garganta seca.

     -Desculpem o atraso –murmurei –Preciso de água –falei para ninguém em particular.

     Não importa quantas vezes eu limpei a garganta, minha voz simplesmente não estava saindo.

     Estava rouca. Muito rouca.

     -Aqui, ruiva –James me estendeu uma garrafa –Pegue.

     Foi difícil me concentrar em matar a sede com ele tão perto de mim.

     Porra, James, se afaste.

     Não, fique.

     Se afaste.

     Fique.

     Senhor!

     -Lily –Frank me chamou, me fazendo virar para ele e sentir os pensamentos voltando ao normal –primeiro vamos gravar os quatro juntos. Fique entre Sirius e Remus, por favor.

     Me posicionei ao lado dos garotos, aliviada de não estar mais atordoada.

     -Não sei quem disfarça pior –ouvi Remus murmurar para si mesmo.

     Ignorei.

     -Ótimo –Lene elogiou –Finjam que estão conversando e rindo.

     A partir daí as coisas foram mais automáticas. Sem James tão perto de mim, foi fácil de atuar daquela maneira. E na verdade, nem precisei atuar tanto assim. Os dois me fizeram rir bastante, de forma espontânea e natural.

     -Agora –disse Alice –vocês dois –apontou para Remmy e Six –venham para cá. Jily, se aproximem.

     —Jily? –perguntamos em uníssono, nos entreolhando confusos.

     -James e Lily –deu de ombros –Jily. Estão chamando vocês assim, no Instagram. Já tem um monte de gente shippando.

     -O quê? –perguntei atordoada.

     -Desde que fizemos a promoção –Marlene explicou rapidamente, perdendo a paciência –tivemos um número muito maior de visualizações. Chegamos aos 30 mil hoje. As pessoas começaram a interagir mais, tanto no Youtube, quanto no Insta –deu de ombros –e como vocês cantam juntos e são fofinhos, começaram a fazer vídeos super fofos dos dois. Casal Jily –James abriu a boca para falar, mas foi cortado por Lene –Eu sei, eu sei, melhores amigos, blá blá blá. –bufou –Mas estão shippando, estão comentando e estão gerando visualizações em nossos vídeos. Não podemos fazer nada.

     -Agora, fiquem mais próximos –Frank comandou, quanto ficamos em silêncio, nos olhando sem saber como reagir –James, dê um beijo na bochecha dela –ele se aproximou, me fazendo fechar os olhos. Senti os joelhos tremerem quando ele me beijou ali, sentindo seu peito encostar levemente no meu corpo –Isso, ótimo. Segure-a pela cintura –ele o fez, me puxando para si –Mexe no cabelo dela –ele não tirou os olhos de mim quando seguiu o comando, e tive que me esforçar muito para não ofegar.

     -Lily –Alice comandou dessa vez –fique mais perto –nossos corpos roçaram, e eu senti como se meu corpo inteiro estivesse em chamas –passe o braço pelo pescoço dele –o fiz, fazendo carinho em seus cabelos macios –sorria –sorrimos um para o outro, sentindo a tensão saindo.

     Ou pelo menos parte dela.

     -Vocês estão perfeitos –dessa vez foi Remus quem disse. Não o olhei, nem James. Não tiramos os olhos um do outro –Prongs, a abrace daquele jeito.

     Jay sorriu malicioso para mim, agarrando minha cintura com força e me levantando, girando-me. E como sempre, eu só consegui gritar e rir.

     Era meu tipo favorito de abraço. Claro, só se viesse dele.

     -Agora coloque ela no chão –Marlene mandou. James a obedeceu, me colocando com delicadeza e me segurando para que eu não me desequilibrasse –Vire de costas, Jay, e Lils, suba nele de cavalinho.

     Eu gargalhei, pulando em cima das costas dele. Ele segurou minhas pernas, e eu não consegui evitar o arrepio.

     -Pronto! Põe ela no chão –disse Sirius, em um tom de...expectativa? –Fiquem de frente um para o outro. Isso, mais perto. Lil, ele não vai te morder, mais perto. Perfeito. Fiquem se olhando um pouco –eu não conseguiria desviar o olhar nem se eu quisesse – Prongs, segura ela na cintura. Lily, nos ombros. Ótimo, ótimo. Se aproximem mais, devagar. Fechem os olhos. Perfeito, perfeito. Prongsie, beije ela.

     A realidade me bateu com tudo. Arregalei os olhos, arfando. Saí lentamente de seu abraço.

     Não consegui ler exatamente a sua expressão, mas estava óbvio que ele tinha ficado chateado.  Comigo? Com Sirius?

     Eu estava chocada. Chocada mesmo. Não que beijar James teria sido ruim, muito pelo contrário, seria incrível. Estou esperando por isso há mais tempo do que gostaria de pensar. Porém, eu não esperava por essa. Ter que beijá-lo para a gravação do clipe? Não.

     Quando nos beijarmos, será para nós dois. Só nós dois. Sem câmeras e pessoas em volta comandando a hora de ficar mais perto ou me afastar. De jeito nenhum.

     -Esquece o que esse pateta disse –Remus contornou a situação –Acho que esse material está ótimo, não é, Marlene?

     -Sim, suficiente –concordou –Agora, Remmy, quero que você jogue Lily na piscina.

     -Não! –exclamei .

     -Larga de drama, Evans –Sirius bufou dramaticamente.

     -Eu posso pular –sugeri, olhando desesperada para Lene.

     -Não, vai ficar mais bonito sendo jogado –gemi –Façam o seguinte: James e Sirius, pulem na piscina com tudo. Lily, deita na espreguiçadeira e pega um livro para ler. Ou fingir.

     Rapidamente todos se posicionaram.

      -Ótimo, aí o Remus chega, tira o livro da sua mão e te pega no colo. Estilo nupcial, Lupin, para ficar mais fofo. –continuou Lene.

     -Ótimo! –Alice bateu palmas, novamente. Ela realmente adora fazer isso, credo –James e Sirius...já!

     Ouvi o barulho de ‘tibum’ na água, mas não desviei o olhar do livro que fingia ler.

     -Remus, sua deixa –suspirei quando ele se aproximou.

     Ele fez um comentário engraçadinho, me fazendo rir e tirou o livro de mim, me fazendo olhá-lo com uma suposta raiva. Me pegou no colo então, enquanto eu me debatia e gritava, nos jogando na piscina.

     -Minha! –James me pegou quando vim para a superfície.

     Seus braços fortes me seguraram no quadril e me levantaram, me jogando na água novamente.

     Tossi, voltando para a superfície.

     -Ruiva –Jay veio rapidamente até mim, batendo em minhas costas –Porra, desculpa.. Você engoliu água? Eu deveria ter te avisado. Não, eu não deveria ter feito isso. Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa...-em cada pedido, ele me dava beijos pelo rosto.

     -Tá tudo bem –falei quando parei com a tosse –Tudo bem, James –repeti, quando ele me puxou para um abraço forte.

     Ele me segurou e eu que não ia perder a oportunidade, né? Entrelacei minhas pernas em seu quadril, de forma que ele me sustentasse.

     Ele ficou subitamente tenso.

     -Tá tudo bem mesmo? –me desvencilhou rapidamente.

     Não vou mentir, sua recusa doeu.

     -Tudo –assenti –Só não faça mais isso –apontei o dedo para ele –Ouviu, mocinho?

     -Sim, senhora –deu um beijinho na ponta do dedo que apontei.

     -Lily, agora vá interagir mais com Sirius –ouvi Alice falando, me tirando do nosso mundinho.

     Por um instante esqueci que estávamos gravando. E que não estávamos a sós.

     Fui para o lado do outro Maroto, seguindo as instruções de Frank. Depois, fiz o mesmo com Remmy. Brincamos, fizemos guerrinha de água, briga de galo.

     Por mais que inicialmente eu não me sentisse confortável na frente de todos aqueles equipamentos, admito que agora, nem mesmo notei que estavam por perto. Foi muito parecido com uma tarde de amigos.

     Foi uma tarde de amigos, na verdade.

     E nessa mesma noite, consegui finalizar a minha canção.

16 de setembro de 2017.

James.

     -Nosso primeiro show, caralho! –Pads exclamou, no banco traseiro do carro.

     -Nem acredito que seu pai deixou que você dirigisse sem carteira, James –Lily, que estava sentada ao meu lado, sorriu para mim.

     Ela estava linda. Ela é linda, aliás. Mas hoje...cacete, ela estava hipnotizante. A maquiagem estava mais forte, mais brilhosa e suas roupas mais justas e...bem, sexy.

     Nunca havia imaginado Lily em um traje daqueles, mas eu tenho certeza que essa imagem voltaria com frequência aos meus sonhos. Assim como o dia da gravação na piscina.

     Se não fosse Remus me dando uma cotovelada forte, tenho certeza que babaria ali mesmo. Ela estava delicada naquele biquíni, e sua pele macia parecia que me chamava. Tive que me conter muito para não pegá-la da forma que queria.

     E ela quase me matou quando, dentro da água, colocou as pernas ao meu redor. Caralho, eu não sei como não morri ali mesmo. Foi difícil demais afastá-la, mas se eu não o fizesse, teria agarrado aquela ruiva sem pestanejar. Todavia, acho que ela não teria gostado. Por isso, tirá-la de mim foi a melhor opção.

     -Nem eu –dei de ombros –mas ficou mais fácil assim.

     -Olha só –Lene disse, no banco do meio –a festa começa às 20hs. Vocês irão tocar às 21hs, então não bebam –olhou para Sirius em advertência –Não comam até passar mal. Não agarrem qualquer pessoa, isso vai bagunçar a roupa. E principalmente, não sumam. Estamos entendidos?

     -Estamos –respondemos em uníssono, rindo logo em seguida.

     -Caramba –ouvi Moony arfar.

     -O que aconteceu? –Lils perguntou, virando para olhá-lo.

     -Batemos 100K visualizações –ele respondeu, ainda olhando para o celular, em completo choque.

     -100K? –perguntei, pensando não ter ouvido direito –Você não pode estar falando sério.

     -Eu estou falando sério –continuou –Caralho, 100K!

     -Meu Deus –Lily desmoronou ao meu lado.

     -Nós somos fodas –Sirius gargalhou alto –Meu Deus, se eu já não tivesse fugido de casa, eu teria que fazer agora.

     Pois é, Sirius finalmente saiu daquela casa nojenta.

     No dia anterior à volta as aulas, ele resolveu voltar para casa, dizendo que queria conversar com Regulus.

     Ele foi, mas voltou para minha casa, nossa casa, no mesmo dia. Pelo visto, o pai dele ouviu sobre a banda e não gostou nada. Outra vez, acabou com Padfoot. Psicologicamente e fisicamente. Eu não consigo nem dizer como foi doloroso vê-lo, novamente, naquela situação.

     Conversei com meus pais e resolvemos que a partir daquele momento, ele moraria conosco. Meu pai foi até a mansão Black, confrontou aqueles filhos da puta e trouxe as coisas de Sirius.

     Ele até ofereceu moradia para Regulus também, caso ele quisesse morar com o irmão, mas o garoto recusou.

     Pads ficou aliviado ao saber que não deixou Reg sem desamparo, já que meu pai deixou nosso número e disse que caso ele precisasse, estaríamos de braços abertos. Se ele fosse aceitar a ajuda em algum momento, seria escolha dele.

     Depois de muita conversa, minha mãe...nossa mãe, conseguiu fazê-lo entender que estava na hora de deixar aquele ambiente tóxico para trás. Que Pads não merecia aquela vida, e que nós faríamos de tudo para vê-lo bem.

     Acho que ele estava de saco cheio também, de forma que agora ele virou um morador definitivo da casa dos Potter.

     -Fala sério, podem me agradecer –continuou ele –minha ideia da divulgação foi perfeita.

     -Foi –Remus concordou –mas foi o nosso talento que nos fez ganhar 25K inscritos.

     -Meu Jesus –Lily hiperventilava.

     -Somos incríveis para caralho –falei, rindo alto.

     Aos poucos todos foram se soltando, de forma que fomos rindo e cantando o resto do caminho até a escola.

     Chegando lá, fomos cada um para um lado. Somos muito próximos, mas normalmente, em festas como esta, temos a tendência de nos socializar mais com quem não vamos com tanta frequência.

     -James, oi –Emmeline me cumprimentou com um beijo na bochecha –Como você está? Não ouvi mais falar de você desde a festa de Frank.

     -Realmente –concordei –acho que com a banda, as coisas ficaram corridas. E agora as aulas voltaram, sou capitão do time...ficou difícil arrumar tempo para qualquer coisa.

     -Olha só, que menino ocupado –sorriu –eu vi que vocês vão tocar hoje. Está nervoso?

     -Não, na verdade –dei de ombros –Quero dizer, agora não estou, mas quando chegar a hora, provavelmente vou surtar –ela riu.

     -Pense em mim –lançou-me uma piscadela –estarei na primeira fila para assistir. Inclusive, eu vi o clipe, vocês arrasaram.

     -Obrigado. Deu um trabalhão da porra, mas valeu a pena. Acabamos de bater 100K.

     -100K! Parabéns –me deu um abraço de urso.

     A afastei com gentileza. Ela sempre foi educada comigo e vice e versa, mas nunca fomos próximos o suficiente para este tipo de contato.

     Sei que ela atormentou muito Lily e Lene, mas isso aconteceu quando éramos crianças, e eu mesmo tenho meus pecados nas costas, então não posso julgá-la.

     -Valeu –sorri levemente –mas vamos parar de falar de mim. Como foram as suas férias?

     Ela afastou a mechedeira loira que caía em seus olhos azuis. Bonitos, mas não tanto quantos os verdes de uma certa ruiva.

     -Ótimas –sorriu largamente –fui à Paris com os meus pais, e depois viajei com alguns amigos para Alemanha. Conheci vários lugares novos, fiz alguns amigos no caminho e tudo.

     -Legal. E voltou quando?

     -Dois dias antes da festa de Frank, acredita? –ela riu pelo nariz –Foi uma sorte grande! Adoro viajar, mas detesto perder as festas, sabe?

     -Nem me fale –concordei.

     -Ei, o sofá está livre –apontou para uma área mais afastada do salão –Vamos sentar, rockstar?

     -Vamos –ri pelo apelido e a segui.

     Conversar com ela era fácil, principalmente porque ela monopolizava boa parte do papo. Não que ela fosse entediante, não era, mas eu preferia ouví-la a falar de mim. Principalmente porque boa parte de mim é Lily, e eu sei que elas não se dão bem.

     -Ei, acho que já falei demais. Desculpa, estou te entediando? –mordeu o lábio inferior.

     Diferente do gesto de Lily, que era sempre espontâneo, percebi que o de Emme era intencional, para que parecesse sexy.

     Não que ela não fosse, sexy eu digo, ela era. Para outros caras. Pra mim, só Lily Evans era sexy.

     -Não está, gosto de ouvir –respondi rapidamente.

     -Certeza? –bateu os cílios com rapidez. Outro gesto intencional.

     -Certeza –assenti, dando um gole no refrigerante.

     -Rockstar –ela me chamou assim a noite inteira. Eu não me incomodava, alimentava meu ego –eu estive pensando...desde aquele beijo na festa, eu senti algo diferente em relação a você –começou e mexer nos fios loiros, provavelmente fingindo nervosismo. –E acho que você sentiu também. O que você acha de tentarmos algo? Sair comigo?

     Olhei ao redor, tentando buscar uma escapatória. Quando vi que teria que responder, baguncei os cabelos e voltei a olhá-la.

     -Emme, eu acho você incrível, mas...

     -JAMES! –Alice chegou correndo, me gritando –Está na hora do show, vamos –puxou minha mão –Depois eu te devolvo, querida—disse de forma ácida para Emmeline.

     Salvo pelo gongo.

     -Vamos –dessa vez, eu quem puxei Alice em direção a atrás do palco –Caramba, você me tirou a tempo.

     -Eu percebi –bufou –ainda restam 15 minutos, só falta o Sirius.

     Assenti, entrando no camarim. Remus andava de um lado para o outro, Marlene conversava exasperada com um cara que eu imagino ser o técnico do som, junto a Frank e Lily estava de olhos fechados, contando até 10.

     -Ei –sentei ao lado dela no sofá –vai dar tudo certo, ruiva.

     -Vai mesmo? –me olhou desesperada –James, e se eu errar uma nota? Uma letra?

     -Então eu vou te cobrir –respondi rapidamente –você não está sozinha. Todos estaremos com você, e não te deixaremos cair de forma nenhuma, não se preocupe.

     -Ok –respirou fundo, contando novamente –obrigada.

     -Não há de quê –passei o braço por seu ombro –você vai arrasar, ensaiou mais que todo mundo, sabe todas as letras e todas os acordes, ruiva. Não tem o que temer. Você está mais do que preparada.

     -Preparada, ok –respirou fundo mais uma vez, dessa vez enfiando a cara em meu peito –como você não está nervoso?

     Eu ri do seu tom revoltado.

     -Você estará comigo –dei de ombros –eu confio em você. Não tem o que temer –repeti.

     -Você sempre sabe o que dizer –resmungou.

     -É por isso que eu sou seu melhor amigo, ruiva –senti um aperto no peito ao dizer isso. Só amigo. Sempre.

     -Aleluia –Marlene deu um tapa forte no braço de Sirius –eu estava preocupada!

     -Preocupada comigo, Mckinnon? –provocou, abrindo o sorriso que ele e algumas outras garotas consideravam sedutor.

     -Preocupada com a vergonha que passaríamos sem um baterista –bateu nele novamente –agora andem, todos vocês, vamos tirar algumas fotos.

     O resto do tempo antes de entrar no palco foi gasto com dezenas de fotos para postar no feed do Instagram.

     -Hora de entrar –sussurrei para Lily, entrelaçando nossos dedos –Pronta?

     -Pronta –assentiu, mordendo o lábio inferior e apertando minha mão –Juntos?

     -Sempre –respondi, antes de puxá-la comigo para o palco.

16 de setembro de 2017.

Lily.

     O show foi incrível. Incrível! O medo deu lugar a excitação quando fomos aplaudidos com fervor após a primeira música. A partir daí, tudo passou como um flash.

     Eu não consigo lembrar com detalhes de cada parte, mas lembro direitinho de ter cantado grudada em James mais de uma música. E quando tocamos “What makes you beautiful”, eles enlouqueceram.

     Sério, eu fiquei emocionada com o tanto que eles gostaram. James gargalhava alto, e meu peito enchia de orgulho. A música dele ali, gente.

     E quando foi a hora de “Count on me” eu chorei para valer. Chorei mesmo. Não o suficiente para estragar a música, não. Mas ver todas aquelas pessoas cantando com a gente...cantando algo que eu escrevi sem nem errar a letra, foi intenso demais.

     Saindo palco nos abraçamos, um por um e coletivamente. James me segurou tão forte que achei que fosse desmaiar em seus braços. Eu senti, em seu toque, o orgulho que ele tinha da gente naquele momento.

     Melhor noite da minha vida.

     Quando saímos do camarim para a festa, as pessoas já estavam dançando na pista com o DJ. Passamos por várias pessoas que nos parabenizaram e até pediram autógrafo –autógrafo!

     -Posso ter um minuto com a estrela? –ouvi Amos perguntar quando não tinha mais ninguém querendo a minha atenção.

     -Amos! –me joguei em cima dele, o abraçando –Você veio!

     -Eu vim –ele riu, me abraçando mais forte ainda –Você estava incrível. Todos estavam, aliás, mas você estava mais.

     Eu ri de suas palavras, me soltando.

     -Para –dei um soquinho em seu ombro –achei que não viria.

     -Eu também achei que não –deu de ombros –minha mãe não estava querendo que eu saísse, mas a convenci.

     A mãe de Amos o amava muito, mas era excessivamente protetora. Acho que ela pensava que ele ainda era um neném, já que o tratava como tal. Por isso, ele sempre chega atrasado nas festas, quando conseguia ir.

     Convencê-la de que ele pode sair é bem difícil.

     -Fico feliz com isso –sorri.

     Depois da minha noite bêbada, passamos a conversar todos os dias pelo celular. Ele era inteligente, engraçado, atencioso, e a companhia dele me fazia bem.

     Nunca passou daquele mísero beijo naquela madrugada, então nunca me preocupei. Ele era maravilhoso, mas era só meu amigo, nada mais que isso.

     -Vamos comer alguma coisa –me puxou para a mesa de salgadinhos –nossa, eu amo o banquete de Hogwarts.

     -Nem me fale –assenti, enchendo um prato de comida.

     Assim que terminamos de comer fomos dançar com Lene e Remus. Eles estavam se divertindo, fazendo um monte de palhaçada sem se importar com a opinião alheia, então tive que acompanhá-los.

     Já eram mais de três horas da manhã quando vi James. Ele estava dançando com uma garota. Forcei os olhos para enxergá-los. Era Emmeline Vance! Não acredito!

     Não consegui suportar o desgosto, então dei a desculpa de que precisava ir ao banheiro para me afastar da cena. Molhei meu rosto mais de cinco vezes, respirando profundamente e falando comigo mesma:

     -Vamos, Evans, você consegue. Eles só estão dançando e você não é nada além de amiga dele. Não seja tão dramática.

     Assenti para mim mesma, com determinação e saí do banheiro. Para a minha surpresa, Amos estava na porta, me esperando.

     -Você demorou –me disse, preocupado.

     -Ah –respondi –tive que respirar um pouco, hoje o dia foi intenso –não era mentira.

     -Tudo bem. Quer dar uma volta no jardim? –apontou para o lago do castelo.

     Sim, castelo. A escola onde estudo é um castelo. Quão chique é isso?

     -Quero –concordei, puxando-o pelo braço.

     Nos sentamos em um banco isolado, sem dizer nada. Só...respirando fundo e apreciando a vista.

     -Lily –ele me chamou depois de alguns minutos em silêncio.

     O olhei e percebi que seu olhar estava intenso sobre mim.

     -O quê? –questionei.

     Ele se aproximou e a próxima coisa que pude perceber era que seus lábios estavam colados nos meus. Não consegui reagir, tamanho o choque. Quando ele percebeu que fiquei quieta, afastou-se.

     -Desculpe –disse rapidamente –achei que você também queria. Não tive a intenção de desrespeitá-la –me olhou em desespero.

     -Amos –segurei suas mãos nas minhas –tudo bem. Não me desrespeitou, eu só fiquei surpresa.

     -Então...-começou timidamente –você também gosta de mim?

     -Na verdade –suspirei profundamente. Não podia iludí-lo daquela forma –eu gosto de James. Sinto muito –acrescentei rapidamente, ao ver seu olhar triste.

     -Não é sua culpa –sorriu tristemente –é uma pena. Eu realmente estou a fim de você, Lily. Mas não posso fazer nada se não sou correspondido, né? Se quiser parar de falar comigo, eu vou entender, mas eu não gostaria. Mesmo que você não sinta o mesmo, gosto de sua amizade.

     -Eu também gosto –falei com sinceridade –Sinto muito se o confundi em algum momento, não foi a minha intenção.

     -Não –balançou a cabeça –eu que vi coisa onde não tinha. A culpa não é sua.

     -Nem sua.

     -É, acho que não –deu de ombros –mas ainda quer ser minha amiga?

     -Quero –sorri.

     Ele sorriu de volta, dessa vez, com alívio.

     -Vamos voltar para a festa? –perguntei, e ele me respondeu estendendo a mão e nos direcionando para o salão.


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