Nos conhecemos no verão, depois do ensino médio, e foi como se milhares de borboletas tivessem se mudado para minha barriga. Você me disse que eu era a coisa mais interessante que você tinha vista naquele baile de verão e eu acreditei.

Depois disso passávamos todo nosso tempo livre juntos, saímos para comer, para dançar e até só para ficar no carro, ouvindo nossas músicas favoritas enquanto aproveitávamos juntos. Às vezes, nos deitávamos no capô do carro, olhando para o céu, contando estrelas, pensando que tudo aquilo seria eterno.

Quando eu fiz 18 anos fizemos tatuagens que se completavam, o meu era o símbolo de Yin no pulso direito e o seu de Yang no mesmo lugar. Eu era a noite, a lua, a calmaria e você sempre foi o dia, o sol, a energia, minha energia.

Quando íamos para a casa dos seus pais, pegávamos as bebidas do armário e subíamos até o telhado, conversando sobre nosso futuro, discutindo sobre se nosso casamento seria em uma praia ou em Vegas, quantos gatos teríamos, será que teríamos um cachorro? É engraçado pensar nisso agora, naquela época não sabíamos o quanto estávamos enganados.

Éramos inseparáveis, nunca ficávamos sem o outro, até ficarmos. Tudo começou a ruir e eu simplesmente não sabia como reagir. Apesar de nos amarmos, tínhamos sonhos diferentes e não encontramos uma forma de segui-los e continuarmos juntos. Só que você continuou tentando, enquanto eu só me afundava mais em mim mesma, tentando entender por que tinha que ser desse jeito.

E então você foi embora e eu não consegui dizer, e eu me arrependo muito disso. Eu simplesmente não consegui dizer a você o quanto você era importante para mim, as palavras ficaram presas em minha garganta enquanto eu assistia você partir. E você não olhou para trás.

Eu passei um tempo só lembrando de todos os momentos que tivemos juntos, ouvindo as músicas que costumávamos ouvir, tentando me apegar ao que me restava de você, as lembranças. O tempo foi passando e eu entendi que você não voltaria, e isso deveria ter me libertado para seguir em frente, mas não libertou.

Ouvi um antigo amigo seu falando que você tinha removido sua tattoo. O dono da lanchonete onde costumávamos ir colocou um vídeo seu para tocar na TV, você tocava em uma rua movimentada e todos olhavam impressionados para você, como eu fazia antes, só que quando você cantava antes, era sempre dedicado a mim. Mas não mais, eu não era mais sua musa.

E os dias foram passando e eu pensei ter superado, até aceitar o convite da Julie e vir para o baile de verão que acontecia todo ano nessa cidadezinha pequena, e que eu tinha deixado de ir por sua causa, mas eu pensei, tenho que superar não é? Então eu vim.

E agora eu estou paralisada no meio da pista de dança porque você está aqui. Por que você está aqui? Há anos eu não via você tão de perto e agora, você está a alguns passos de mim, sem me ver de fato, conversando com seus velhos amigos. Eu abraço a mim mesma tentando me confortar, mas não adianta. Eu pensei que tinha superado, pelo menos minimamente, mas eu não superei porra nenhuma e agora eu não consigo me mexer, nem para fugir de você.

Eu vejo sua cabeça virando lentamente em minha direção e como em um milagre consigo me mexer e então eu só te dou as costas, porque eu não consigo encarar você, só, não consigo. Mas foi tarde demais, e eu percebo isso quando escuto sua voz chamando meu nome em um sussurro.

— Kate?

E eu travo de novo, ouvir você me chamando foi como levar um tapa e eu não consegui mais me mover, só consegui sentir meus olhos enchendo de lágrimas enquanto ouvi você se aproximando. E aí você me tocou e disse meu nome de novo. Eu só consegui olhar para você e sorrir, segurando as lágrimas, antes de sair correndo dali, porque eu sabia que se continuasse em sua presença, eu não conseguiria mais me livrar dela.