Estou pensando em acabar com tudo. Brincadeirinha, mas, sinceramente, to pensando em pular do carro com ele em movimento. Por quê? Bom, eu estou com a minha mãe no nosso pequeno e modesto fusca vermelho e estamos indo para o litoral, mais especificamente para a casa do meu querido e amado pai (sentiu a ironia?), onde eu vou passar as férias. Acontece que lá também mora a mulher perua dele e só de pensar que vou ter que passar um mês convivendo com ela eu imagino que me jogar do carro seja menos pior.

As paisagens vão passando rápido, estou olhando pela janela, ouvindo a minha velha e boa playlist de músicas tristes, pensando se minha mão desiste da viagem se eu começar a chorar. Não, ela não desistiria, sabe que sou dramática e choro por tudo, como é chato ter alguém que te conhece tão bem. Pego o folheto da cidade do meu pai pra ver o que tem de bom lá. Olha! Tem uma biblioteca 24 horas! Talvez eu fuja para lá, duvido que ele me encontre.

—Não vai ser tão ruim assim. - Diz minha mãe, do nada.

—Diz isso porque não é você que vai ficar lá.

—Foi o que o juiz determinou. - Continuou ela.

—Engraçado como minha opinião não é levada a sério nisso tudo.

Ela fica em silêncio e eu agradeço. Não tô brava com ela, só não quero que ela tente amenizar o quão terrível e desnecessário vai ser isso, porque sempre é e nunca melhora. Pelo menos agora que ele mudou de cidade posso andar por lá até altas horas de dizer que me perdi.

É bonito o local pelo qual passamos, tem árvores altas, uma grama verdinha, algumas fazendas. Seria perfeito se não fosse trágico. Pego meu livro, finalmente vou ler a trilogia original de Star Wars. Olho uma última vez para minha mãe e depois para a estrada antes de imergir na história. Eu amo viagens de carro, só não gosto de chegar ao destino.