Quinta-feira escrita por akire


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Isso aqui era pra ser uma oneshot, mas como isso nunca dá certo, vamos ao primeiro capítulo de três haha.

Espero que gostem! :)



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Eu definitivamente odeio as quintas-feiras.

Talvez eu devesse ter entendido o primeiro sinal do universo e ficado no conforto do meu quarto em Valhala, com o som acolhedor das árvores balançando, a brisa perfumada de louros e a grama fofa sob meus pés. Mas não, o ingênuo Magnus do passado não sabia como o seu dia seria incrivelmente louco. Só que... Bem, você percebe que terá um dia agitado quando morre antes mesmo do desjejum.

Obviamente, tudo começou no elevador.

Três semanas haviam se passado desde os eventos de quase Ragnarok, vitupério e abertura do Espaço Chase, então os dias passavam com uma agradável quase tranquilidade. E o quase está nessa frase justamente por momentos como este.

Quando saí para o corredor do andar 19 naquela manhã, apesar de não muito cedo, não esperava encontrar muitos einherjar acordados, dado o massacre da noite anterior. Mas é óbvio que ela estava, recostada casualmente na parede, enquanto aguardava o elevador.

Eu nem reparei que tinha parado de andar, o olhar preso em cada detalhe dela, desde os cabelos curtos tingidos de verde com as raízes pretas até os tênis de cano alto cor-de-rosa. Confesso que senti meus batimentos acelerarem enquanto fitava seus lábios entreabertos, os olhos heterocromáticos lindos e perturbadores que brilhavam sempre que ela me assassinava.

Apesar do tempo que passara, não havia mudado muito entre nós. Eu não sabia classificar bem o que tínhamos ou se tínhamos algo de fato, mas todas as vezes que Alex Fierro me beijava ou simplesmente segurava a minha mão eu me sentia completo e o resto parecia não importar. Alex era uma força da natureza, em mudança constante, então eu estava satisfeito em curtir cada momento que ela me quisesse ao seu lado.

Senti o rosto corar quando o olhar dela encontrou o meu, o típico sorriso sarcástico se formando, como se dissesse "fecha a boca, Chase". Encantadora.

— Você também está ótimo hoje, muito obrigada. – ela disse, ainda sorrindo, quando eu finalmente me aproximei. Resolvi responder à altura, de forma inteligente.

— Uh, de nada. – ela gargalhou.

— Você é tão bom com as palavras que acho que o efeito do hidromel de Kvásir ainda não passou.

— Muito engraçada você em – ela acenou com a cabeça, como se dissesse sou mesmo. Como sempre que passo vergonha, resolvi mudar de assunto. – Sabe se ainda está tendo café da manhã?

— Nem perca seu tempo. O salão do nosso andar está completamente deserto, acabei de vir de lá.

— O quê? Eu estou morrendo de fome – reclamei, fazendo a garota rir.

— Ouvi uns boatos pelo hotel de que hoje todas as refeições serão servidas no Salão dos mortos... Algo sobre o grande evento de hoje. - pelo visto minha expressão foi bastante explicativa, pois a garota abriu um sorriso divertido, com aquele ar de "claro, você nunca sabe de nada". – Eu também não sei exatamente o que vai ser, mas deve ser algo grande. Eu nunca vi o elevador mágico atrasar aqui, mas já estou esperando há séculos. Além disso, o pessoal do andar 27 está em Valhala há mais tempo e pareceu bastante animado...

— E quando foi que você esteve no andar 27? – ela se limitou a me dar uma piscadela espirituosa, enquanto entrava no elevador que finalmente chegara. Típico.

Apesar da demora, a cabine estava vazia, exceto por nós dois, o que sempre me deixava levemente ansioso. Talvez minha mente estivesse um pouco influenciada pelos filmes de Hollywood. Me perguntei se Alex sentia aquele mesmo tipo de tensão, mas, diferente de mim, ela era extremamente bem resolvida e fazia o que queria quando queria. O elevador começou a andar, enquanto tocava That old black magic em norueguês antigo. Conhecer a letra não ajudou o meu estado de concentração.

Minhas mãos suavam e meu coração pulava no peito de forma incoerente, enquanto observava Alex discretamente. Ela tinha os olhos fechados em um semblante tranquilo, com as costas apoiadas na lateral do painel. O efeito que a garota me causava era quase incendiário. Alguma parte do meu cérebro fantasiava acabar com aquela distância estúpida e sentir os lábios dela nos meus, enquanto prensava seu corpo contra a parede. A outra parte mantinha meu corpo firmemente preso ao chão, com a atitude e a insegurança de uma criança. Deuses, como eu era patético.

— O elevador já está chegando, sabia? – Alex falou, de súbito, me dirigindo um sorriso malicioso – Que tal você se decidir?

— E-eu... Eu s-só... – meu rosto queimava tanto que tive a sensação que começaria a incandescer. Suspirei pesadamente, enquanto tentava destravar minha mente. Feliz ou infelizmente, o elevador parou.

— Parece que seu tempo acabou – disse a garota, se adiantando para a saída, enquanto as portas se abriam.

— Espere!

Eu queria poder dizer que me enchi de coragem, tomei Alex em meus braços e a beijei intensamente, como vinha sonhando em fazer; mas não foi bem assim. Quando as portas se abriram às suas costas, vi colinas e penhascos gigantescos ao longe, o chão milhares de metros abaixo de nós. Segurei-a pelo braço no exato segundo que o vento forte nos atingiu e a puxei de volta para o fundo da cabine, abaixando bruscamente nossos corpos, na tentativa de não sermos jogados para a morte certa.

— A-acho que não estamos no Salão Principal – a garota tremia em meus braços, devido ao susto. Abracei-a mais firmemente.

Todo o elevador sacudia abruptamente com o impacto dos ventos do que parecia ser Jötunheim. Não demoraria muito para que fôssemos jogados para uma queda livre não programada. Em uma atitude desesperada, tirei o pingente de runa do pescoço, que logo se transformou em uma espada de setenta e cinco centímetros, entalhada com runas brilhantes.

— Jacques, precisamos fechar as portas! – eu apontei a lâmina a esmo para o painel de controle, mas permaneci segurando-o firmemente pelo cabo. Jacques não ia gostar nem um pouco de ser jogado repentinamente pelo ar do reino dos gigantes.

— Eu não sei operar essa coisa! – ele respondeu, com um tom exasperado e surpreso, brilhando em um amarelo intenso.

— Só feche as portas! Aperte a runa dagaz, é a que parece uma ampulheta de lado...

— É claro que eu sei como é dagaz – se Jacques tivesse olhos, tenho certeza que ele estaria revirando-os nesse momento. Engoli minha resposta. Meus dentes batiam de forma assustadora com o sacolejar e eu gostava de ter a minha língua no lugar.

Quando as portas finalmente se fecharam, nenhum de nós disse nada por alguns minutos. Apenas ficamos ali, jogados no chão da cabine, com a respiração ofegante e o coração acelerado. Como era de se esperar, Jacques foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui?

— Eu também gostaria de saber... – respondeu Alex, se levantando, o que me obrigou a fazer o mesmo – Tudo bem que eu sou péssima nesses controles de runas, mas Jötunheim? O hotel devia ter mais consideração com o bem-estar dos seus mortos.

— Nem me fale – suspirei, enquanto apertava alguns botões do painel – No meu primeiro dia em Valhala, o elevador se abriu diretamente para Muspellheim... Não foi uma experiência agradável.

— É impressão minha ou você também não sabe o que está fazendo? – perguntou Jacques, fazendo Alex sorrir.

— E quando foi que ele soube? – levantei as mãos, exasperado, mas não pude deixar de sorrir também.

Contra todas as probabilidades, eu devia ter feito algo realmente certo, pois o elevador logo recomeçou a se mover e o barulho e o sacolejar foram se extinguindo. Quando enfim me virei, triunfante, vi Alex na tentativa, de não muito sucesso, de desamarrotar suas roupas e pentear os cabelos verdes completamente desalinhados.

— Incrível como as coisas estão difíceis hoje; alguns diriam que é um sinal... – ela disse, ainda passando a mão pela blusa, inutilmente. – Será que consegue retornar ao andar 19? Preciso dar um jeito nisso.

— Pra mim você continua ótima – a resposta pulou da minha boca involuntariamente e corei quando ela levantou os olhos para me encarar. Sacudi a cabeça por um instante e me concentrei novamente no painel.

Não demorou para que o elevador parasse e, como por um milagre, suas portas realmente se abriram para o tão familiar andar 19. Alex se adiantou para a saída, passando por mim e deixando seu maravilhoso cheiro cítrico no ar.

— Você não vai se trocar também? – perguntou ela, conferindo o estado das minhas próprias roupas.

— Nah, no momento só preciso me alimentar e colocar esse dia nos eixos...

— Ah, que pena, poderíamos fazer isso juntos... – ela respondeu, casualmente, me lançando um sorriso sugestivo. Pisquei, sem reação, enquanto as portas finalmente se fechavam. – Te vejo mais tarde, Magnus.

Controlei o impulso de me jogar pela fresta entre as portas no último segundo e acompanhar Alex, que piscou alegremente para mim e se virou em direção ao próprio quarto.

— Uau, você é mesmo ótimo no flerte em – ironizou Jacques, me tirando dos meus devaneios.

— Calado.

Controlei minha respiração, que eu nem sabia que estava acelerada, e convenci Jacques a retornar ao formato de pingente, enquanto o elevador rumava finalmente ao Salão dos Mortos.

Apesar de toda a agitação daquela manhã, nada ficava entre o Magnus aqui e um café da manhã completo. Portanto, sairia do elevador direto pro primeiro omelete triplo que encontrasse, para começar mais um dia normal e magnífico de morto honrado, certo? Deuses, como estava errado.

Eu mal tive a chance de colocar os pés para fora do elevador.

Enquanto era arrastado pela multidão de einherjar fortemente armada, algumas perguntas pipocaram na minha mente: por que de repente o hotel inteiro estava no salão, em pleno horário de atividades?quem eram as garotas brilhantes? e mais importante, onde estavam os omeletes?

Bem, vamos por partes.

Quando consegui sair da linha do pisoteamento certo, pude ver a origem de tanta agitação: a mulher mais bonita dos nove mundos. Como na última vez que a vi, Freya tinha os longos cabelos louros trançados, olhos azuis claros e um sorriso que faria qualquer homem pular diretamente em Ginnungagap por ela. Sua intensa aura dourada pairava pelo salão, onde todos pareciam hipnotizados enquanto ela falava.

Aliás, já mencionei que ela também era a minha tia?

— ...com grande honra. Agora, vanires, aproveitem esta agradável manhã; mas preparem-se, os jogos começarão ao entardecer.

Quando a rainha finalmente se sentou, todo o salão gritou em comemoração, o que ajudou a clarear minha mente. Busquei meus amigos com o olhar, a procura de respostas, e logo encontrei-os em um canto. Enquanto me aproximava, registrei os olhares perdidos e sorrisos bobos nos rostos de Mestiço Gunderson e T.J., enquanto Mallory Keen rolava os olhos de impaciência, tentando trazê-los à realidade.

Notei que Alex já se encaminhava para nossos amigos, vindo do elevador, e me admirei com a velocidade que se arrumara. Ou, respondeu meu inconsciente, quanto tempo você ficou embasbacado durante o discurso de Freya. Afastei aquele pensamento e me esforcei um pouco mais pela multidão, tentando alcançar a garota que finalmente me vira e me dirigia um sorrisinho discreto.

Foi quando seus olhos desviaram levemente para algo às minhas costas que eu percebi que tinha problemas. Me virei automaticamente, não sem antes ver o sorriso sumir do rosto da filha de Loki.

— Magnus Chase, que honra encontrá-lo.

Veja bem, eu já havia morrido de formas bem criativas. Queimado, decapitado, empalado e até com um tiro acidental de rifle durante uma aula de produção de cerâmica(longa história). Mas uma overdose de pessoas bonitas nos primeiros minutos do meu dia? Essa era nova. O meu pobre cérebro já afetado mal resistiu quando contemplei a recém-chegada.

Seus longos cabelos negros ondulavam sobre o colo, emoldurando o rosto bronzeado e bem marcado de uma garota que aparentava ter seus 20 anos. Os olhos de um azul elétrico me avaliavam tão intensamente que fiquei constrangido. Logo percebi que ela era uma das garotas brilhantes. Eu sei, sou muito observador. Uma luz dourada semelhante a de Freya cintilava como uma aura sobre seu corpo não muito coberto, o que não ajudava a manter o olhar decentemente. Tal como com Freya, decidi focar em sua sobrancelha esquerda.

— Uh, nós nos conhecemos?

A garota riu graciosamente, fazendo tudo dentro de mim chacoalhar. Epa, o que diabos estava acontecendo?

— Ainda não tive a honra, Magnus, mas ouvi muito a seu respeito. O filho de Frey que foi escolhido para o exército de Odin, quem diria? Aquele que impediu o Ragnarok vencendo um vitupério contra o próprio Loki... Além disso, ouvi dizer que você era quente – ela piscou pra mim, com um sorriso agora quase que imoral.

— Aan, n-não foi... E-eu... – inconscientemente ou não, me vi fazendo "socorro" em linguagens de sinais.

— Ah, não seja modesto. Não quero me arrepender da escolha do meu campeão. Você aceita, não é mesmo? – senti Jacques esquentando no meu peito, a runa Fehu vibrando em aviso.

— Campeão? Eu... uh, é. Claro – seu sorriso se alargou.

— Ótimo. Vejo você no campo de batalha, filho de Frey.

Enquanto ela se afastava, senti uma mudança na gravidade. Uma vertigem repentina me trouxe de volta e, quando pisquei, mal sabia meu nome e o que estava fazendo ali. Virei a tempo de ver enquanto a bela garota abria caminho pelo salão, a atenção de todos voltando-se para si, até parar onde antes Freya falava.

— Guerreiros de Valhala e Vanaheim, fiz a minha escolha. – de alguma forma, previ o que aconteceria antes mesmo que ela terminasse. Seu olhar mirou o meu – Eis Magnus Chase, meu campeão.

Eu não tive nem tempo de sacar a espada, mas pude ouvir Jacques em meus pensamentos antes que cerca de 200 einherjar fortemente armados partissem pra cima de mim.

— Oh cara, você está muito ferrado agora.


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Notas finais do capítulo

Todos já sabíamos que ele ia morrer, não é mesmo?.. de novo rs



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