—Você consegue ouvir? – Ele me pergunta, enquanto estamos ambos à frente do pilar do Pacífico Norte, parados lado a lado, vestidos em nossas escamas.

Até poucos segundos atrás, em silêncio. Apenas apreciando a companhia um do outro. Apesar da aparente tranquilidade, tanto nas leves ondulações da água sobre nossas cabeças, como em meu semblante, não é exatamente assim que sinto meu espírito. Talvez por isso não tenha compreendido de imediato a sua pergunta e olho para ele, em um questionamento silencioso do que ele quer dizer, exatamente.

—A prece de Atena... Apesar de quase imperceptível, parece tão... Firme.

—Por que diz isso?

—Por que eu a ouço em meu coração também... Você não?

Por um instante, um breve instante, ele me encarou de frente, olhando-me bem no fundo dos meus olhos. Era quase como um espelho, as íris de mesma cor que compartilhamos... Ele então sorri, ainda que minimamente, mas ainda sim um sorriso capaz de aquecer e acalmar meu espírito, que aos poucos volta a se concentrar em nossa missão de lutar por Poseidon e seus ideais, que são nossos também.

—Só existe uma única palavra que ouço em meu coração, Io... – eu finalmente lhe digo, tão baixo que apenas ele pode ouvir, ainda que se irrite um tanto com os “erres” que na minha língua fazem cócegas.

Um novo sorriso, ele pega minha mão direita e a leva até seus lábios, depositando na palma aberta um beijo leve, mas quente. E então, com um último olhar perdido em íris tão iguais, ele dá as costas a mim, rumo ao pilar do Pacífico Sul.

E tudo que consigo fazer é fechar com força minha mão, enquanto uma única palavra ecoa em meu coração...