Hiatus escrita por November Hinny


Capítulo 1
Parte 01


Notas iniciais do capítulo

FELIZ NOVEMBER HINNY!
Essa é apenas a parte um, ainda não sabemos muito o que dizer além de agradecer todo mundo que apoiou e se inscreveu para o projeto.
Fiquem de olho nos nossos acompanhamentos para histórias Hinny novas todos os dias.
Esperamos que gostem de "Hiatus", boa leitura!



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Ginny estava exausta. Ela sabia que não deveria ter se inscrito em tantos projetos de fanfics, mas como poderia resistir? O fandom de Percy Jackson era incrível e havia tantos casais sobre os quais ela poderia escrever! Tantos temas incríveis! Era apenas muito difícil não querer participar de cada coisa que encontrava no twitter, ainda que ela soubesse que quase não teria tempo o suficiente para fazer tudo aquilo.

Suspirando após ter finalizado sua inscrição no Pride Month – já pensando na história Solangelo a qual pretendia postar para o mesmo –, Weasley jogou o celular sobre o colchão ao seu lado enquanto afundava um pouco mais contra os lençóis, ouvindo-o vibrar quase que imediatamente. Com um resmungo irritado, a garota obrigou-se a puxá-lo de volta para si antes de olhar para a tela, apenas para se deparar com uma notificação sobre… SUA FANFIC FAVORITA QUE HAVIA ATUALIZADO! ROONIL WAZLIB POSTARA UM NOVO CAPÍTULO EM "AGAINST THE GODS"!

A surpresa e agitação imediata diante da situação tiraram da ruiva qualquer resquício de cansaço, seu sono já havia esperado até tal hora, então certamente aguentaria mais alguns minutos apreciando aquela divindade. Sentindo suas forças renovadas, Ginny sentou-se e clicou no link o mais rápido que pôde, apenas para notar que o site estava demorando milênios para carregar, o que provavelmente era obra de um de seus irmãos.

Assim que a página da plataforma surgiu, a ruiva iniciou a leitura daquela preciosidade, sentindo-se um tanto frustrada ao perceber toda a enrolação pela qual o casal principal passava. Por Zeus! Já era o décimo quinto capítulo e eles sequer haviam se beijado!

GINNY! — Ela ouviu Fred – ou talvez George? – chamando-a, mas decidiu ignorá-lo em detrimento de prestar atenção nas palavras que certamente seriam consideradas como o evangelho Percabeth muito em breve.

Roonil era um autor simplesmente maravilhoso. Ele conseguia encaixar tanta emoção nos capítulos! Era como se ela estivesse vivendo o que o rapaz descrevia, tamanha era a precisão com a qual este construía suas histórias.

Encontrava-se tão presa nas sentenças ali digitadas, tão concentrada nas palavras as quais lia, que mal escutou a porta do quarto sendo aberta.

— Annabeth sorriu e disse “Não seja bobo, Cabeça de Alga” e assim... — A maldita voz de Fred a despertou, fazendo-a dar um pulo e puxar o celular para longe do irmão que estivera observando a tela por cima de seus ombros. — Vinte anos na cara e ainda lendo fanfics, Ginny? Pensei que depois que entrasse para a faculdade já teria superado isso.

— Fred!

— George!

— Foda-se! Que merda você está fazendo aqui? — resmungou enquanto sentia suas bochechas esquentarem. — Ninguém te ensinou a bater não?

— Mamãe tentou algumas vezes. — O garoto disse e então deu de ombros. — Não funcionou.

— Você é insuportável. — Ela resmungou irritada, o rosto ainda queimando de vergonha e frustração, mas tirou forças que provavelmente vinham das profundezas do Tártaro e voltou a ler a obra prima em suas mãos, ignorando a respiração ruidosa de George – que ainda se encontrava incrivelmente próximo dela – por nada além de cinco minutos.

 — Eu estou tentando ler, George, será que dá para sair?

— Eu também quero ler, Gin-Gin. — Respondeu o mais velho com um sorriso maroto em seus lábios, enraivecendo-a ainda mais.

Ela sentiu vontade de gritar, mas sabia que sua mãe poderia acabar acordando se fizesse isso, e bem, Molly não ficaria muito feliz em ser acordada pelos os dois filhos que agora eram supostamente adultos. Foi pensando nessa questão que a Weasley gemeu em frustração, desistindo de tentar fazê-lo sair, e retomou a árdua tarefa que era ler com seu irmão empoleirado em seus ombros. 

Os primeiros minutos foram extremamente desconfortáveis, porém, assim que atingiu o foco total mais uma vez, mal notou a presença do outro, o que talvez, no final das contas, viesse a ser algo pelo qual se arrepender, mas quem se importava, afinal? Não ela. Não com o tão esperado momento em que o casal se beijava quase chegando – assim como o final do capítulo –, com cada momento deixando-a mais e mais tensa como se estivesse prestes a entrar em uma partida de futebol… Apenas para o capítulo se encerrar em um cliffhanger! 

Por Deus! Ela odiava a genialidade de Roonil toda vez que isso acontecia, sentia que poderia beijá-lo ou enforcá-lo até a morte por fazê-la sentir-se daquela forma.

— Eu não acredito que ele acabou justamente nessa parte. — George disse, segurando uma risada.

— E eu não acredito que você continua aqui, mas veja só, isso não torna as coisas menos reais. — A mais nova devolveu.

— Não fique brava só porque o final não foi como você esperava, maninha. Tenho certeza que você vai superar essa tristeza profunda...

— Eu sinceramente não sei por qual razão ainda estou te dando atenção. — Suspirou, rolando a tela para baixo, ainda tentando descobrir como lidar com os últimos acontecimentos nas vidas daquelas personagens.

Geralmente, Ginny não se dava ao trabalho de ler as notas finais de cada capítulo, partindo sem pensar duas vezes para a sua review, no entanto, tratando-se de seu autor favorito – e considerando o quão grande aquele texto parecia, muito mais do que o que ela estava acostumada a ver –, decidiu fazê-lo daquela vez. Foi um grande erro. Ou um grande acerto. Quem poderia dizer? A questão era que tudo começou a dar errado quando, após agradecer pelos comentários na atualização anterior, Roonil decidiu presentear aos seus leitores com a seguinte frase: "Infelizmente, há algo que eu preciso dizer para vocês..."

— Se fodeu. — George disse enquanto ria, mas Ginny não lhe deu atenção. Não quando, em pleno sábado de madrugada seu mundo inteiro começou a se despedaçar.

Não podia ser verdade, podia? Roonil deveria estar apenas brincando, certo? Porque não era... não era possível que ele estivesse fazendo aquilo. Não justo naquele momento!

Ele não era uma pessoa tão ruim, não é mesmo? Exceto que, aparentemente, ele era. Porque, mesmo depois de piscar e atualizar a página várias vezes, as palavras que quebraram o coração de Ginny continuavam ali.

 

“Infelizmente, há algo que eu preciso dizer para vocês: estou entrando em hiatus. Eu sei, eu sei que é uma péssima hora e que eu deveria ter acabado o capítulo de uma maneira melhor, mas... vocês me conhecem, não? Sabem que eu não resisto à finais assim.

Bem, minha vida está prestes a ficar super ocupada e, infelizmente, não terei tanto tempo quanto antes para poder sentar e escrever histórias. Ser adulto às vezes é um saco, mas eu espero de coração que vocês possam me esperar e não desistir de mim! Prometo que volto assim que tiver tempo (final do semestre, provavelmente)!”

 

— Final do semestre. Oh meu Deus, três meses! Isso é o tempo que precisarei esperar para que ele atualize a história! — E Ginny não se importou que seu irmão estivesse bem ali, observando-a e rindo de seu choque. Não, ela não conseguia prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse o fato de que ROONIL WAZLIB IRIA ENTRAR EM HIATUS POR TRÊS. MALDITOS. MESES. E ELA FICARIA SEM SABER O QUE DIABOS ACONTECERA COM PERCABETH!

Sem parar para pensar no que estava fazendo, Ginny voltou a encarar o celular, rolando a página até clicar no ícone do perfil de Roonil. Assim que o mesmo carregou, procurou pelo botão de envio de mensagens e digitou...

 

[...]

 

Quando clicou em publicar o capítulo, Harry sabia muito bem que seus leitores ficariam indignados com a forma que decidira terminar, mas não havia muito mais o que pudesse fazer, afinal, ele realmente não teria tempo para escrever pelos próximos meses. Sem falar que também amava deixar as pessoas que o acompanhavam sempre querendo mais – mesmo que, talvez, fazer aquilo logo antes de entrar em hiatus não fosse a melhor das atitudes.

A tentação de continuar a escrever era enorme, mas Potter sabia muito bem que a treinadora do time, Professora McGonagall, arrancaria a sua cabeça se percebesse que existia qualquer outra coisa em sua mente que não fosse treinar para o time de futebol, passes, futebol, estudar e futebol pelos próximos três meses. E, bem, por mais que amasse os leitores, o jovem tinha ainda mais amor à vida – e as ameaçadas deles eram bem menos aterrorizantes que as da professora em questão.

Por falar em leitores… Harry estava se segurando para não emitir qualquer som enquanto lia os comentários. Era hilariante ver a reação tanto ao capítulo quanto às notas finais e, apesar das promessas de morte e tortura às vezes serem bastante criativas – para não dizer assustadoras –, ele não conseguia deixar de sorrir diante da surpreende imaginação para ameaças que seus todos pareciam ter – talvez ele devesse anotar algumas das ideias para adicionar em sua história quando voltasse a atualizar. 

Estava finalizando sua réplica para o comentário de um de seus leitores mais antigos, Cupcake Azul – que prometera trancá-lo em um porão para descobrir o que aconteceria a partir dali –, quando a notificação de uma mensagem privada surgiu, sendo aberta logo após um toque no botão de Responder.

Harry não pôde evitar um sorriso ao ver o nome de quem  a havia mandado: era a Sapinho Cozido, sem sombra de dúvidas a sua leitora mais assídua e, possivelmente, a mais surtada dentre eles. Ele amava as reviews repletas de sarcasmo que vinham dela e sempre se sentia ansioso para respondê-las.

 

“COMO VOCÊ OUSA TERMINAR O CAPÍTULO DAQUELE JEITO???? E AINDA DIZ QUE VAMOS TER TRÊS MESES DE HIATUS???? NÃO É PORQUE EU SOU CADELINHA DA TUAS HISTORIAS QUE TU PODE FAZER ISSO!!!” 

 

Não cair na gargalhada e atrapalhar os poucos alunos que frequentavam a biblioteca da Universidade naquele horário – estudando, ou tirando um cochilo por razões simplesmente  inexplicáveis – exigiu seu esforço absoluto. É claro que estivera esperando o surto de Sapinho Cozido, mas ela sempre conseguia surpreendê-lo. Por essa razão, Potter se viu precisando parar por um minuto para elaborar a melhor maneira de responder à tamanha emoção, apenas para assistir, antes que pudesse concluir seus pensamentos, outra mensagem da garota brilhando diante de si, fazendo com ele já não fosse mais capaz de controlar o suspiro divertido que tentava escapar de seus lábios.

O texto em questão dizia:

 

“oi desculpa o surto, não tava bem na hora, mas voltando ao assunto tRÊS MESES?????? SÓ FALTA ME BEIJAR PORQUE FODENDO JÁ ESTÁ MISERÁVEL FILHO DA PUTA”

 

Conteve-se muito para não responder a mensagem com um flerte, o que foi bom porque, além de ser péssimo na área romântica – motivo pelo qual o casal principal da fanfic demorava tanto para tomar alguma atitude e sua própria vida parecia uma bagunça nesse quesito –, Harry também não a conhecia bem o suficiente – embora recebesse seus comentários há alguns anos – e não sabia como ela reagiria à tal coisa. Decidiu, portanto, se manter neutro, embora sarcástico, mas o eletroeletrônico escureceu, indicando que estava sem bateria.

Com um suspiro repleto de frustração, Harry compreendeu aquilo como um sinal do destino, lembrando-o que deveria estar estudando para as provas ao invés de respondendo leitoras. Sem falar que, como aluno-modelo, não poderia simplesmente abrir mão de suas obrigações e prioridades por causa de sua vida sigilosa de fanfiqueiro – ou era disso que tentava se convencer ao plugar o telefone no carregador e observar o símbolo 'carregando' aparecer ali. 

Ele tentou esquecer o objeto e voltar seus olhos já cansados e distraídos para o livro em sua frente, mas foi uma batalha em vão. Com caneta entre os dedos, ele batucada inconscientemente contra a mesa, dando olhares rápidos em direção ao telefone e se xingando mentalmente cada vez que o fazia. 

Passados mais alguns minutos, nos quais a bibliotecária impaciente veio puxar sua orelha pelo barulho irritante, Harry jogou o corpo para trás na cadeira, retirou os óculos e cobriu o rosto com as mãos, grunhindo audivelmente. Continuar tentando estudar ou satisfazer seus desejos procrastinadores e dar uma olhadinha rápida para responder as mensagens, principalmente aquela em específico?

Quem ele estava querendo enganar? A resposta era óbvia!

Sem mais rodeios, o rapaz esticou-se para o celular, clicando no botão de ligar. Esperou impacientemente enquanto o aparelho reiniciava, soltando uma exclamação de alívio quando finalmente conseguiu acessar o aplicativo de fanfics.

Havia mais algumas linhas vindas de Sapinho Cozido, que já soava muito mais calma:

 

“peço perdão de novo pelo surto, espero que tudo esteja bem e que dê tudo certo por aí ♥ (e perdão por chamar sua mãe de puta, tenho certeza de que ela é uma senhora adorável)”

 

Sem conseguir se controlar dessa vez, Harry gargalhou, o que lhe rendeu uma olhada de esguelha muito ameaçadora da Madame Pince, a qual interrompeu sua reação quase que imediatamente.

Sem pensar muito naquilo o que havia planejado responder anteriormente, Potter começou a digitar:

 

"Oi, Sapinho. Desculpa mesmo avisar sobre o hiatus agora, eu realmente vou ficar sem tempo. Se quiser posso te indicar umas fanfics para ler enquanto isso. Não sei se conhece Ira dos Titãs?"

 

E, rindo consigo mesmo, adicionou uma segunda parte:

 

"AH, vi aqui. Ela é SUA. E VOCÊ NÃO ATUALIZA DESDE 2017"

 

Com o coração e a alma mais leves, ele jogou o telefone no canto da mesa e voltou aos estudos calmamente, como se nada tivesse acontecido.

 

[...]

 

Ginny Weasley estava ultrajada, para dizer o mínimo. E completamente eufórica também. Seu maior ídolo escritor lia sua fanfic! A vontade de gritar consumia cada ínfima célula de seu corpo e, enquanto ela se debatia alegremente na cama – feliz por George ter finalmente deixado-a só e soando como um golfinho tentando se comunicar com a família perdida –, outra parte de si adormecida desde seu hiatus a cutucava com uma grande vareta intitulada "vergonha na cara". 

Ginny sabia que tinha que escrever, e por mais que não gostasse de ter sido alfinetada daquela forma – e até diria que ele magoara seus sentimentos se ela tivesse algum – também sabia que o garoto tinha um pouco de razão. Entretanto, ela era, acima de tudo, perfeccionista, e se negava a continuar tentando escrever sabendo que não daria o melhor de si. Sem falar que, se fosse ser honesta consigo mesma, ficar na cama sendo completamente inútil era tão bom! 

Como naquele exato momento… A jovem simplesmente sabia que merecia tal luxo, afinal, o final de semana estava quase acabando e, assim que segunda chegasse, a mesma seria obrigada a voltar para as aulas, o que significava que não teria mais tempo para descansar. Por essa razão, ao invés de se preocupar com o fato de que tivera sua orelha puxada pelo seu autor favorito no universo  de Percy Jackson – logo após o próprio Rick  – decidiu focar no fato de que o ÍDOLO DO MUNDO DAS FANFICS ESTAVA LENDO SUA HISTÓRIA!

 

[...]

 

Quando acordou, a primeira coisa que fez foi checar sua conta no site de fanfictions a fim de ter certeza de que recebera a mensagem de Roonil no dia anterior. 

Sim, lá estava. Linda, maravilhosa e totalmente desaforada. Ginny ainda sentia-se muito nervosa para ser capaz de responder, mas era oficial: ela tinha recebido uma mensagem DE ROONIL WAZLIB! QUE LIA SUA FANFIC!

Ah, como a vida era boa.

Erguendo-se sem qualquer resquício de sono, Ginny direcionou-se para o banheiro a fim de tomar banho e fazer sua rotina matinal. Já era quase meio dia de sábado e, sabendo o que encontraria no momento que descesse as escadas, decidiu se arrumar um pouco mais do que o necessário. 

A questão era que almoço de sábado dos Weasley significava: Família Potter, Sirius Black e Remus Lupin, todos amontoados enquanto Arthur, seu pai, fazia churrasco para alimentar uma tropa de pessoas. Era uma tradição e Ginny nem conseguia lembrar quando é que tudo aquilo começara – antes dela ter nascido –, mas ela amava aqueles momentos, principalmente porque a chefe Lily – dona e proprietária do Caldeirão Furado, o melhor restaurante de Hogsmeade – sempre fazia alguma receita espetacular. Era como uma única, grande e barulhenta família e, embora a menina se irritasse muito quando os gêmeos e Sirius estavam no mesmo cômodo, ela ainda os amava demais para se afastar – não que fosse dizer aquilo para qualquer um deles, é claro.

Além de tudo, o almoço em dias como aquele também significava ter Harry Potter ajudando na cozinha. O que era, sem sombra de dúvidas, a maior benção e o maior carma de sua vida, afinal de contas, Harry Potter não era apenas lindo de morrer, inteligente, aluno-modelo, capitão do time de futebol de Hogwarts, engraçado, fofo, humilde e gostoso para um caralho. Não. Ele também era o garoto que a vira crescer, que a conhecia desde que ainda estava nas fraldas e chupava os próprios dedos – o que era constrangedor, mas, como nessa época ele não era assim tão diferente, ela ainda se via capaz de manter um pouco de dignidade ao lembrar. 

Mais do que isso. Ele e Ron, o mais novo dos seus seis irmãos, eram melhores amigos desde sempre e isso fazia com que o moreno estivesse em sua casa com uma frequência gigantesca, o que, dado ao fato de que moravam frente à frente, não era assim tão assustador, embora, é claro, tivesse causado grandes constrangimentos durante a triste existência de Ginny Weasle, porque sim, Fred e George jamais a deixariam esquecer do crush gigantesco que esta alimentara pelo garoto durante sua infância e metade da adolescência – e, talvez, apenas talvez, ela ainda sentisse o coração acelerar levemente cada vez que ele olhava muito para ela e seu dia ficar 100% pior toda vez que via Harry beijar Cho Chang pelos corredores da Universidade, mas aquilo era algo que ninguém, além de suas amigas ficwriters, precisassem saber.

Só que nem mesmo a zoação dos gêmeos – não, Fred, George ou quem quer que fosse, Ginny não estava babando vendo os músculos de Harry enquanto ele amassava o pão, mesmo que os braços dele fossem ilegais de tão fortes e a fizessem pensar em coisas tão baixas que poderiam ter sido tiradas do Tártaro – poderia estragar o seu dia. Sinceramente, depois daquela MP – por Zeus, ela havia sido notada! –, nada conseguiria a abalar. 

Contudo, é claro que, para a sua sorte, quando resolveu se juntar à família e suas vozes animadas, precisou cruzar o caminho do filho dos Potter, rindo junto de Ron enquanto se apoiava no canto da escada e, oh Deus, ele estava usando uma regata?! Com todo aquele frio do lado de fora Harry James Potter ousava entrar na casa de Ginny usando tão pouco tecido cobrindo seu corpo como se aquilo não fosse totalmente inapropriado e certamente ilegal em alguns países! 

Os pensamentos completamente ultrajados tomaram tanto sua mente que a fizeram tropeçar no nada absoluto, perder alguns degraus, e cair… Cair justamente em cima do dito cujo. O lado bom, imaginou, era que não se machucara – não, a única coisa seriamente danificada era seu ego. E, bem, se Harry estivesse ferido era total e completamente sua culpa, afinal, ele estava usando uma regata debaixo de seu teto, o que podia ser claramente tido como um afronte.

— Uau, Gin-Gin, sempre soube que tinha uma queda pelo Harrykins, mas a ponto de se jogar em cima dele? Superou minhas expectativas. — Fred comentou, debochado.

Aparentemente aquele seria o dia em que sua mãe iria enterrar um dos filhos. Já estava planejando o que diria para Dona Molly – certamente não faria tanta diferença, eles tinham um extra! – quando a risada sem graça de Harry a fez se dar conta que ainda estava jogada em cima do menino feito uma idiota. Rapidamente, Ginny tentou se recompor, mas na pressa para se levantar acabou dando uma joelhada nas costelas do rapaz, como se já tivesse se humilhado o suficiente! Seu rosto certamente estava ainda mais vermelho do que seu cabelo.  E apesar de toda a cena, ao invés de pedir desculpas como um ser humano normal ou ajudá-lo colocar-se de pé – assim que estava equilibrada sobre as próprias pernas –, voltou-se para o mesmo e apontou um dedo acusadoramente em sua direção, ainda que sequer fosse capaz olhar nos olhos dele.

— O que diabo você estava fazendo parado e fofocando nas escadas, Potter? 

Revirando os olhos e se levantando com ajuda de Ron, que estava gargalhando em excesso para o que possivelmente seria um futuro defunto – enterro duplo era mais barato? – Harry apenas deu uma risada levemente sarcástica, mas não irritada – como você esperaria de alguém que acabou de ser atacado com 1,60m de ruiva.

— A culpa é minha se você não tem equilíbrio, Weasley? É assim que pretende virar capitã do time de Rugby?

— Olha aqui garoto, você não me testa, caso contrário... — Ginny comentou a responder, sentindo o calor do rosto que outrora fora de vergonha, começar a mudar para irritação.

— Caso contrário o quê? — Harry teve a audácia de perguntar, um sorriso debochado no rosto e as sobrancelhas arqueadas.

— Sem querer interromper o casalzinho dando show, mas a tia Lily tá chamando o Harry na cozinha. — a voz irritante de um dos gêmeos interrompeu o que seria uma resposta bastante suja da garota.

Com mais um olhar divertido, Potter se aproximou rapidamente, lhe deu um abraço e bagunçou seus cabelos antes de ir ajudar a mãe, deixando Ginny paralisada por alguns segundos, o cérebro completamente incapaz de compreender o que diabos havia acabado de acontecer.

Certo, então.... Talvez seu quase inexistente, pequeno e desimportante crush, não fosse tão inexistente assim, mas, honestamente, quem poderia culpá-la?

— Você realmente precisa aprender a disfarçar melhor. — Ron, que continuava parado ao pé da escada ao invés de acompanhar Harry – como um bom melhor amigo deveria fazer, aliás! – comentou, divertido, no momento em que o outro desaparecera pela porta da cozinha.

— Não há nada para disfarçar. — Ginny sacudiu a cabeça enquanto tentava se recompor. — Vocês projetam demais o desejo de ter alguém nas suas vidas em mim e isso não é nada legal, sabia? Está bem longe de ser uma coisa saudável, Roniquinho.

— Não me chame assim. — Ron reclamou, corando fortemente enquanto ela observava, divertida, a forma como as orelhas do irmão ganhou um tom vermelho que rapidamente se espalhou por suas maçãs do rosto e pescoço.

Aquilo quase a fez se esquecer de se pequeno desastre. Quase. Porque, no final das contas, observar a forma como ele corava descaradamente apenas a fez sentir mais vergonha, pois tinha certeza de que fora exatamente com aquela cara que encarou Harry James Potter segundos atrás.

"Poderia ser pior, ele poderia ter descoberto suas fanfics", ela estremeceu com seu próprio pensamento, mas, ainda assim, sentiu a humilhação latente de tal forma que provavelmente seria atormentada durante a noite imaginando todas as outras possibilidades existentes nas quais poderia ser envergonhada na frente daquele garoto – não haviam tantas outras opções restantes, é claro, já que Ginny parecia ter como meta de vida se envergonhar diante dele.

Decidindo encerrar tais pensamentos – ou, melhor: deixá-los para mais tarde, afinal sua mente ansiosa certamente complementaria tal acontecimento – arqueou uma sobrancelha de forma indagativa para Ron:

— Ou então o quê?

Mas ele não respondeu, apenas retribuiu o olhar. Era o que eles chamavam de “jogo de encarar”, e ela sabia que Ron odiava aquele jogo, principalmente porque Ginny era um talento nato quando se tratava dele.

No momento em que Ron finalmente desviou o olhar, soltando um bufo irritado, Ginny sabia que tinha ganho mais uma vez. Com um sorriso vitorioso no rosto, a menina andou calmamente até a cozinha como se nada tivesse acontecido e, após dar bom dia a todos que lotavam a enorme cômodo, ela prontamente começou a ajudar nos preparos e na organização do almoço. 

 

[...]

 

Cerca de meia hora depois, dentro da cozinha, Harry, Lily, Molly e Fleur se movimentavam como se estivessem em uma dança silenciosa e absurdamente síncrona. Talvez fosse pelos vários os anos que essa tradição existia, pois todos pareciam saber exatamente o que o outro faria, quando e como. 

Molly, com suas luvas de proteção e cabelo ruivo preso em um coque totalmente desarrumado, caminhava apressadamente para o quintal onde Ginny e os gêmeos estavam organizando as coisas, levando em suas mãos um enorme empadão de rins enquanto Fleur, no outro canto da cozinha, preparava limonada e suco de laranja para que as pessoas se servissem, deixando Harry encarregado de ajudar sua mãe no preparo da sobremesa: um belíssimo mil foiles que a Sra. Potter havia aprendido a fazer recentemente e que acabara virando a segunda paixão de James – que basicamente implorava para a esposa para que ela o fizesse todo dia.

— Então, querido... — Lily começou a falar, aproveitando que não havia ninguém por perto, os olhos focados na massa a sua frente e um sorriso amável em seu rosto. — Realmente vai entrar em hiatus? Eu entendo que tanto o time quanto os estudos são importantes, mas você fica tão feliz toda vez que escreve... — Ela suspirou, tentando afastar uma mecha do cabelo com seu ombro e dirigindo uma breve  careta para Harry. — Não acha que dá para encaixar tudo não? Eu posso te ajudar com um horário, se quiser. 

O menino foi incapaz de impedir o sorriso de surgir em seu rosto. Amava sua mãe mais que tudo, e a forma com que ela o apoiava em todas as coisas que fazia, sempre o assegurando e dando forças, era uma das coisas pelas quais era absurdamente grato em sua vida. 

— Tá de boa, mãe. Vão ser só três meses. — Ele respondeu e se esticou para colocar a mecha de cabelo dela no lugar antes de voltar sua atenção para a massa, pronto para começar a ajudar quando ela pedisse. — Não significa que vou parar de escrever, mas sim que não vou ter mais os dias para postar obrigatórios e nem nada do tipo. Ainda vou escrever, mas sem muito "compromisso" e pressão, por assim dizer. — Ele concluiu, passando-lhe o rolo de massa assim que ela desviou levemente o olhar para o objeto. 

Lily o pegou e começou a abrir a massa com concentração, o cenho franzido e a boca crispada em uma linha fina. 

— Se você diz... — Ela o lançou um olhar rápido em sua direção, dando um sorriso carinhoso antes de voltar ao processo. — Qualquer coisa, pode falar comigo, sabe disso, não sabe? 

Antes que Harry pudesse abrir a boca para responder, a porta do quintal se abriu de supetão, assustando-o até a morte. 

— Falar sobre o quê? — Sirius perguntou ao entrar na cozinha, prendendo novamente o longo cabelo num coque e se aproximando dos dois. — Mil foiles? De novo? É a quinta vez essa semana que eu te vejo fazendo isso, Evans. Você e o James já casaram, não precisa mais conquistar ele pelo estômago. — E então, piscando, adicionou: — Na verdade, nunca precisou. — Arqueou a sobrancelha, colocando as mãos na cintura e sorrindo animado. 

— Sirius, você é um belo pé no saco. — Remus comentou, revirando os olhos e abraçando os dois Potter na cozinha. — Vai fazer alguma coisa de útil, vai. 

— Nem vem. — Fleur disparou ao ver Black olhando ao redor da cozinha, pronto para "ajudar" no que desse. — Da última vez vucê acabou com a cozinha completamente coberrta du farina. No, no. Vá sentarr na sala ou ajudarr Ginny a montarr a tenda, mas na cozinha você nah fica. — Completou, apontando ameaçadoramente a colher que usava, fazendo com que gotas de limonada caíssem no chão. 

— Vocês cansam a minha beleza. — Sirius respondeu, revirando os olhos teatralmente antes de voltar-se em direção ao quintal em busca dos gêmeos, para, com toda certeza, contar mais alguma ideia completamente dúbia e errada que tivera nos últimos dias. 

Fleur, também revirando os olhos, pegou as grandes jarras e levou-as para o quintal, deixando os Potter sozinhos com um Lupin um tanto sonolento e sorridente. 

— Precisam de algo? — Perguntou, levantando as mangas de seu cardigã e se posicionando. 

Então, sem mais nenhuma palavra, a pequena dança silenciosa recomeçou, só que dessa vez, a cabeça de Harry se preocupava com quem quer que pudesse ter ouvido o que sua mãe disse.

Não que o rapaz tivesse vergonha do que fazia... não exatamente. 

Ele adorava escrever fanfics. Era apaixonado pela ideia de poder criar mil e uma histórias a partir de universos e personagens pelos quais tinha imenso carinho, e adorava a possibilidade de extravasar tudo aquilo o que sentia através das palavras, tornando o mundo real um pouco mais fácil de lidar, no entanto, as pessoas não costumavam ser as melhores do mundo quando se tratava desse assunto. Para alguns, fanfictions eram um monte de besteira e nem mesmo poderiam ser consideradas como histórias de verdade, para outros, eram brincadeira de criança e precisavam ser deixadas para trás, e, apesar de sua família e amigos serem absolutamente incríveis em cada aspecto de sua vida, Potter não pretendia se arriscar a deixar todos saberem sobre essa pequena parcela dela.

Foi durante tais pensamentos que Harry se lembrou das mensagens privadas em seu perfil, rindo um pouco com a memória do quão divertidas as mesmas haviam sido e decidindo checar rapidamente o aparelho celular em busca de uma resposta que, para a decepção do garoto, não existia.

Enquanto uma parte sua se esforçou para colocar na cabeça que Sapinho provavelmente era uma pessoa normal e com apreço por seu relógio biológico, e não alguém que, como ele, virava a noite numa biblioteca 24h para estudar e tinha apenas uma hora de sono antes de ajudar a preparar um almoço para mais de uma dúzia de pessoas, seu outro lado se viu um tanto preocupado com a possibilidade de ter dito alguma coisa errada, fazendo-o concluir que precisava enviar qualquer outro texto, apenas por precaução.

Será que Sapinho era o tipo de autora que odiava ser cobrada por atualizações?

Será que a notícia de seu hiatus havia a afetado de verdade e agora ela se encontrava deitada em sua cama chorando por causa dele?

Ou será que, consumida pela raiva, Sapinho havia decidido escrever um novo capítulo de sua própria história apenas para contrariá-lo? E se fosse isso, poderia ela estar naquele exato momento sentada de frente para o computador, aproveitando a calmaria de sábado para digitar sentenças que provavelmente o fariam perder a cabeça?

EU VOU ACABAR COM VOCÊS! — O grito de Ginny alcançou a cozinha de repente, fazendo-o olhar ao redor antes de se lembrar que a mesma estava no quintal.

Harry riu consigo mesmo, pensando que era quase preocupante a frequência com a qual a caçula dos Weasley ameaçava assassinar sua própria família.

— Fred e George, entrem imediatamente! — Todos na cozinha ouviram Molly ralhar antes de retornar ao cômodo com uma expressão exasperada.

— Esses dois ainda vão enlouquecer a pobre garota. — Fleur balançou a cabeça, acompanhando-a.

— Esses dois ainda vão me enlouquecer, isso sim... Ela terá que começar a montar outra vez, e eles quase mandaram a torta para os ares. Às vezes acho que criei homens das cavernas!

— Não se estresse, Molly. Harry pode ajudá-la, não pode, querido? Já estamos com tudo adiantado e Remus pode lidar com isso por alguns minutos.

— Claro. — Ele respondeu. — Só preciso enviar uma mensagem e já vou. — completou, indicando para o aparelho em suas mãos antes de se afastar da bancada e se encostar na parede, pensando no que estava prestes a escrever.

 

"Me mostra seu spoiler que eu mostro o meu." 

 

Seguido de:

 

 "Se não estiver morta, é claro, o que eu não tenho como saber já que aparentemente está fazendo hiatus de responder dm também."

 

[...]

 

Foram aquelas as mensagens que Ginny Weasley leu em seu telefone após, com muito esforço, remontar a tenda com a ajuda de Potter e manter seus punhos, com mais esforço ainda, longe da cara dos seus irmãos que apenas riam ao fundo enquanto eles faziam todo trabalho braçal.

Com um leve som de indignação ela sentiu suas orelhas ficarem quentes e crispou os lábios como uma boa filha de Molly faria. Como ele ousava falar isso pra ela? Ela não estava de hiatus nem nada de mensagens, ela estava usando seu precioso tempo para não estrangular seus irmãos e manter seu réu primário intacto para o momento certo, como um homicídio em massa de ruivos. Talvez ela deixasse Bill e Charlie vivos, afinal, eles não incomodavam uma mosca na grande maioria do tempo e ela era a irmã preferida deles, mas de resto, com toda certeza ela os enterraria no quintal e quando descobrissem os corpos – isso se descobrissem – ela diria que eram apenas cenouras mutantes que coincidentemente pareciam com seus irmãos.

Pensamentos homicidas a parte, a garota resolveu focar na primeira mensagem.

"Mostra seu spoiler que eu mostro o meu". Era uma ótima proposta, pensou empolgada por um instante, antes de lembrar que não fazia a mínima ideia do que tinha planejado para o resto da história. Fazia tanto tempo que ela não lembrava nem onde tinha parado, quiçá o que aconteceria! Mas ainda assim era uma oferta irrecusável.

Olhando rapidamente para os lados, vendo todos ocupados com seus afazeres, Ginny correu em disparada, com a maior discrição possível, e entrou em seu quarto, disparando na direção de seu notebook e abrindo-o. Com o balançar inquieto das pernas, esperou o aparelho inicar e abriu o Word o mais rápido que o seu pobre processador conseguiu. Ela passou os olhos rapidamente pelas anotações que tinha feito, além de dar uma relida nos últimos parágrafos do último capítulo escrito para refrescar sua memória e, não que a surpreendesse, não gostou do que leu. Três anos haviam se passado desde que tinha escrito aquilo e o rumo que a história estava tomando não agradava sua versão atual.

Ela tamborilou as unhas na escrivaninha enquanto encarava a página em branco em sua frente.

Talvez fosse hora de realmente voltar a escrever, mas se ela fosse fazer isso, faria o mais bem feito possível, o que, em outras palavras, significava que ela iria reescrever todos os capítulos até o momento e dar uma nova luz para a história que havia criado.

A Weasley desviou o olhar do computador para o telefone e com seus dedos ágeis escreveu uma breve resposta para Roonil, que talvez não fosse a qual ele esperava.

 

"Focando na parte da troca de spoilers e ignorando completamente o fato de você ter sido levemente insolente ao me responder, eu adoraria te dar spoilers, mas sendo extremamente sincera, eu não faço ideia do que acontece agora." 

 

Contraiu os lábios com a resposta, mas decidiu enviar mesmo assim. Não havia mais volta.

GINNY, O ALMOÇO TÁ PRONTO! ― a voz de seu pai soou do andar inferior, dando-lhe um belo susto e fazendo-a acordar para a vida.

JÁ VOU, PAI!

Ela olhou mais uma vez para o computador e desligou a tela. Pegou o telefone por tempo o suficiente para digitar outra resposta e deixou-o no quarto, afinal Molly Weasley e Lily Potter proibiam qualquer tipo de aparelho durante o almoço, era um evento de família e elas não iam permitir distrações daquele tipo.

 

"Mas acho que sei o que fazer com a história. Só que dessa vez quem vai ter que aguardar é você."


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Notas finais do capítulo

ATÉ DIA 30 rs