Espelho d'água escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Espelho d'água




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Regi jurou que em meia horinha eles chegavam na cachoeira. Passou a semana toda falando nesse lugar e Pedro ficou super empolgado, embora não fosse muito fã de fazer trilhas pelo mato. Pelo menos estavam em um grupo de quatro pessoas e levavam algo para comer nas mochilas. Quando precisassem, podiam beber água nas nascentes e bicas que pareciam ser infinitas naquele lugar abençoado.

Contudo, a animação foi dando espaço para outros sentimentos.

Já haviam passado a estrada de terra, onde estacionaram Bianca num rancho pouco movimentado, próximo de uma furda, abrigo de alguns bichinhos que Pedro não quis nem saber o que eram. A pé, caminharam por uma plantação de bananeiras e a trilha até se perdeu no meio do mato. Agora, Igor ia na frente, abrindo caminho com um facão.

Um tipo de instrumento que ele só viu na mão de sua avó para cortar galhos no quintal, ou nos filmes.

Pedro nunca em sua vida passou por uma situação como essa. Mas não conseguia deixar de achar atraente olhar as costas suadas de Igor, enquanto manuseava aquela arma, para atacar as pobres plantinhas pelo caminho.

Pararam para descansar um minuto, e voltaram a andar.

Olhando para o lado, ele viu Caio batendo com gosto num pernilongo no braço. Depois, foi a vez de Pedro sentir a mãozada dele nas suas costas.

— Matei. — Caio falou, esfregando a mão na roupa.

— Meu Deus, o que você matou? Uma tarântula? — Pedro alisou onde dava nas costas, sua mão não alcançava o lugar do tapa. Ele deu um singelo sorriso para o namorado, quando Igor virou-se. Sorte que ele não ouvia nada do que Pedro dizia, ou ele ia ficar morrendo de vergonha dos gritinhos assustado cada vez que via um bicho diferente.

Foram duas hora e vinte e seis minutos, nada de meia hora. Pedro quase estava dando um chilique, quando ouviu o barulho mais intenso da cachoeira. Agora, ele só pensava em mergulhar na água de roupa e tudo. Só que antes, precisava passar um creminho nas áreas picadas, ou ficaria uma mancha horrorosa. E ele não poderia se dar ao luxo.

Com a ajuda de Igor, ele foi descendo com cuidado as pedras. Mas estavam tão escorregadias que acabou caindo de bunda. Não era o maior vexame da sua vida, doeu tudo, mas não queria ser o estraga prazeres, causando azoada no grupo.

Com gentileza, Igor segurou-o pelo braço e passou a outra mão ao redor de sua cintura. Cair até que não foi assim algo tão horrível. Pedro sorriu, piscando para ele, levando uma mão à cabeça e fazendo o movimento de sinal de obrigado.

A cachoeira espelho tinha esse nome porque, do morro, era como olhar para um espelho do céu. Muito bonito, mas Pedro não queria que ninguém tivesse a ideia de subir aquele morro só para se olhar no espelho, obrigada, de nada.

Apesar do humor um pouco ranzinza, Pedro adorou o lugar. Ele passava o creme, observando o entorno, dava uma sensação jubilosa estar em contato com a natureza. A eutimia daquele pedacinho de pedras apinhadas umas sobre as outras, o barulho da água, os passarinhos cantando. Não poderia ser assim tão ruim, não é?

Pedro era um rapaz de movimento, balada e cidade. Gostava do furdunço de São Paulo. Naquela viagem, aprendeu muito mais do que fazer economia comendo pão com mortadela, ele aprendeu a apreciar também lugares assim.

Ajudava muito quando um homem como Igor estava saindo da água. Vestindo um short colorido e sem camisa, ele passou as mãos nos cabelos e depois subiu as pedras. Sinalizou para Pedro descer na água, e que estava boa. Pelo menos foi isso que Pedro entendeu.

Ele pediu para Caio cuidar da sua mochila e desceu as pedras. Igor o segurou com precisão novamente na cintura. Mas quando Pedro colocou o pé na água, um arrepio tomou conta de seu corpo e ele sentiu-se como no polo sul junto dos pinquins.

— A água está fria. — Ele falou, mas Igor apenas sorria. Depois, interpretando a sua expressão pavorosa, ele o abraçou e foi puxando para dentro da água, mergulhando de uma vez.

Pedro afundou com Igor na água, ele nem conseguia pensar direito, mas subiu a superfície em busca de ar. Um drama e tanto, disse Caio, do alto da pedra, enquanto gargalhava da cena.

Foi aos poucos que ele se acostumou com a água fria, não foi tão complicado, tendo ao seu lado um ótimo nadador. Eles nadaram juntos, mergulharam e riram. Chegou uma hora que Pedro nem mais se importava com o frio da água, o corpo se acostumou. Ele também se acostumou com os beijos, as carícias delicadas em seu rosto.

Igor era assim, gentil e amável, não ousava passar dos limites, mesmo que Pedro não tenha imposto nenhum a ele. Mas era bom, um cortejo de beijos amorosos pelo seu rosto e pescoço, abraços sinceros e mordidas leves no pescoço. Isso sim era ousado, demonstrando aquele comportamento estral, cheio de entusiasmo e inspiração quando boiavam abraçados na água.

Pedro estava feliz, até lembrar que precisava voltar para casa. E lá foram eles novamente, pela mata, no fim da tarde, passando pelas plantações de bananeiras e chegando até o rancho. Bianca estava sã e salva, até havia sido lavada pelos filhos do caseiro daquelas terras.

Caio deu um trocado para eles, e todos entraram em Bianca.

— Eu estava pensando, seria uma boa ideia a gente viajar mais pelas redondezas. — Caio e Regi conversavam no banco da frente. — Você conseguiria mais shows para a gente?

— Com certeza. — Regi respondeu.

Pedro, a essa altura, não estava mais prestando atenção. Cansado, com as canelas cheias de marcas de picadas, um friozinho se abateu e ele aconchegou-se nos braços de Igor. Ficaram bem assim, juntinhos, a viagem toda. Nessas horas valia a pena encarar uma mata fechada e bichos indecentes. Valia a pena ficar nos braços de quem cuidava dele. Ele não precisava de nada mais do que os olhos de Igor para que pudesse enxergar a si mesmo, como um espelho real e sincero.


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Notas finais do capítulo

Aiaia eu precisava fazer algo com Igor e Pedro.
Agora sim, gostaram? sim, nao? podem comentar.
Beijos



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