Vital Signs escrita por CDJ


Capítulo 8
Parte 3 - Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A Pare 3 acontece na quinta temporada, logo depois que Lúcifer é solto da sua jaula.



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Eve - Primeira Pessoa

 

 Como praticamente tudo na minha vida, isso começou quando eu acordei. Era um dia quente e o sol estava a pino no meio do céu, o que me surpreendia, pois eu nunca acordava tão tarde. Olhei em volta e me levantei, percebendo que estava no meio de uma praça pouco movimentada. Olhei para onde estava deitada e levei as mãos à boca. Eu estava em um banco de pedra. Como eu havia chegado ali? O que estava acontecendo?

 Encarei o sol no mesmo momento, como se pedisse o máximo de respostas que eu poderia obter. Só consegui uma dor de cabeça incrível e várias imagens estranhas na mente. Fechei os olhos e apertei as têmporas, tentando ignorar tantas lembranças que me invadiam a consciência. Minha cabeça pulsava e as imagens iam passando com a proporção de um bilhão por segundo. Gritei bem na hora em que as imagens pararam de rodar e uma me tomou a cabeça. Era um homem de cerca de vinte e poucos anos; ele tinha cabelo escuro e um pouco comprido, seus olhos eram verdes e seu sorriso era grande e bondoso. Só o nome dele restou depois disso: Sam.

 Levantei do meu banco e tentei caminhar, mas era como se minhas pernas estivessem sem uso há anos. Estiquei-as e aproveitei para esticar os braços também. Passei a mão no meu cabelo embolado e me dirigi à pessoa mais próxima de mim. Era uma mulher com um carrinho de bebê.

 - Com licença? – chamei-a com uma voz rouca.

 Ela se virou e sorriu para mim.

 - Oh, olá – disse ela, estendendo a mão.

 Apertei sua mão desajeitadamente, sem saber exatamente o que estava fazendo. Eu devia estar tão embolada e amassada que desconfiei da atitude tão amigável.

 - Olá. Você poderia me dizer onde eu estou exatamente?

 - Esse é o parque da universidade, no centro da cidade – disse a mulher sorrindo, bondosa – A maioria das pessoas do oeste ou do sul não vem pra cá mesmo.

 - Hum, não. O que eu quero saber é: que cidade é esta?

 A mulher riu e me encarou como se eu estivesse ficando louca. Minha expressão não mudou e ela parou de rir, porque percebeu que a pergunta era séria.

 - Lawrence, querida.

 - Lawrence? – reclamei – Lawrence onde?

 - Lawrence, Kansas.

 - Tem certeza? – perguntei, olhando em volta novamente.

 - Sim, claro. Você está bem, querida? – ela perguntou, chamando minha atenção para ela com um toque de seus dedos frio no meu ombro.

 Encarei seus dedos em mim e encarei-a de volta. Ela deu um sorriso tímido e compreendeu que eu não queria ser tocada naquele momento.

 - Sim, estou. A que direção fica Gainesville, na Florida?

 - Creio que à sudeste, mas é um pouco longe. Você poderia pegar um ônibus na estação central. Fica a algumas quadras daqui - e então sorriu me indicando a direção.

 Eu sorri de volta, com os músculos faciais um pouco travados, e fiz meu caminho até a estação. Caminhei por alguns quarteirões sem realmente me preocupar com muita coisa, passando pelas pessoas e pelas ruas sem dar duas olhadas. Eu não sabia exatamente onde estava indo, mas tinha que voltar para casa. E rápido.

 - Olá – cumprimentei a mulher sentada atrás do balcão da bilheteria – Quando sai o próximo ônibus para Gainesville?

 Ela abaixou o rosto para verificar e digitou algumas coisas. Logo subiu os olhos e disse:

 - Em aproximadamente três horas. A passagem é setenta e cinco dólares.

 Sorri e coloquei a mão no bolso dos meus jeans, procurando pela carteira ou por dinheiro. Vasculhei todos os bolsos da frente e os bolsos de trás. Nada. Eu estava completamente limpa. Não tinha dinheiro. Voltei a encarar a moça atrás do balcão e abri a boca para começar a falar.

 - Sem dinheiro, sem passagem – resumiu ela em quatro palavras.

 - Tudo bem, muito obrigado.

 Então me virei, pronta para fazer uma ligação para Jasmine. Ela saberia como me ajudar; talvez ela e Alex pudessem vir me buscar, e eu sairia daquela cidade estranha. Eu queria chegar em casa logo para poder tranqüilizá-la, pois ela devia estar maluca procurando por mim.

 Procurei por um telefone público e utilizei o primeiro que achei. Disquei o número com o fone no ouvido e esperei até que alguém atendesse. Cada toque era mais uma respiração acelerada. Droga, Jasmine. Atenda ao telefone. Ela sempre fazia isso, eu sempre tinha que me desdobrar para atender.

 - Alô? – disse ela na outra linha.

 - Alô, Jasmine? Sou eu.

 - Eu quem? – perguntou ela, entediada.

 - Eu, Eve. Olha, eu estou presa numa cidade aqui e eu não sei como... Enfim, é no Kansas. Chama-se Lawrence.

 Esperei pela resposta dela, mas aguardei em vão, pois ela logo desligou o telefone. Xinguei e liguei de novo, esperando que ela atendesse. Nada, caiu na caixa postal. Comecei a deixar uma mensagem de voz na secretária eletrônica.

 - Jasmine, atenda! Sou eu, Eve. Pelo amor de Deus, venha me buscar. Não sei como vim parar aqui.

 Ela pegou o telefone violentamente e gritou antes de desligar novamente:

 - PARE DE ME LIGAR!

 Fiquei encarando o fone como se estivesse alguma coisa errada com ele. Será que ela não conseguia me ouvir e achava que era algum estranho ligando? Afinal, era o número de um telefone público, poderia ser qualquer um.

 Ignorei minha teoria e tentei mais uma vez, mas desta vez ela atendeu no primeiro toque:

 - Pare de me ligar ou eu chamo a polícia! Eve está morta, me deixe em paz!

 - O que? Jasmine, espera. Sou eu, me ajuda.

 - Para com essa brincadeira!

 - Mas Jasmine, não é brincadeira. Eu estou aqui em Lawrence, sem dinheiro. Por favor, venha me buscar. Por favor.

 - Vá para o inferno – e desligou mais uma vez, acabando com as minhas esperanças de sair daquela cidade.

 

 Eu não tinha mais nenhuma saída a não ser procurar por outras pessoas que eu conhecesse, mas quem mais? A resposta surgiu na minha cabeça mais rápido que o tiro de uma bala de canhão. Eu só precisava da biblioteca municipal para procurar alguns endereços e algumas pessoas. Eu precisava achar Sam.

 Não precisei perguntar para muitas pessoas onde era a biblioteca; após duas indicações eu consegui achar meu caminho facilmente. Era um prédio grande e com tijolos avermelhados a mostra. Entrei e tomei conta de um computador, tentando ignorar os roncos que meu estômago dava. Se eu tivesse dinheiro, poderia comer alguma coisa, mas não tinha. Então me concentrei em procurar por algum Sam. Comecei em Gainesville no jornal mais velho de lá, pois devia aparecer sobre o nascimento de algum bebê chamado Sam.

 Todos os que encontrei não eram o que eu realmente estava procurando. Mesmo não sabendo o sobrenome, eu sabia que em algum momento eu ia parar e ia ter um click de memória ou de certeza. Continuei procurando na Florida, em jornais de outras cidades. Resolvi passar para Kansas, pois eu tinha acordado ali, afinal. Não encontrando nada em Wichita, procurei em Lawrence. As páginas sobre algum Sam eram cheias, mas ainda nenhum click. Fui passando por elas e cada vez as notícias ficavam mais velhas. Algo me disse para não parar, para continuar procurando e foi o que fiz. Quando vi, estava em 1983 e parava abruptamente para ler a manchete.

 “Casa dos Winchester é incendiada” estava escrito. Winchester. Não era Sam nem nada, mas o sobrenome me parecia familiar. Comecei a ler, prestando bem atenção. Era sobre uma família que morava em Lawrence e sobre um incêndio que ocorreu na casa deles. O incêndio matou Mary Winchester, mulher de John Winchester e mãe de Dean e Samuel Winchester.

 Samuel Winchester? Não era esse o nome que eu queria? Sam Winchester. Era isso mesmo. Era esse o cara que estava em minha cabeça, eu sabia, eu tinha certeza. Mas como encontrá-lo? Se eu pudesse descobrir onde ele morava ou se pudesse descobrir seu número de telefone, eu ficara agradecida. E me dediquei a esse trabalho. Peguei as listas telefônicas da cidade mais recentes e procurei por John Winchester. Sam tinha uns vinte e poucos anos, então provavelmente ainda morava com o pai e o irmão.

 Mas não encontrei nenhum John Winchester. Não encontrei nenhum Winchester sequer. Tudo bem que a casa deles tinha queimado até as cinzas, mas ainda assim, será que eles haviam se mudado? Se mudado de cidade, talvez. Mas não havia listas telefônicas de outras cidades da região, apenas de Lawrence. Praguejei a biblioteca e voltei à minha pesquisa. Procurei por Samuel Winchester no Google e o encontrei numa lista de pré-alunos para Direito em 2005. Naquela época, o endereço dele era em Palo Alto, em um apartamento no subúrbio da cidade. Era muito longe do Kansas e o endereço era de 2005, quem sabia se ele ainda estava lá, mesmo tendo se passado apenas um ano? E além disso, ele só estava na lista de pré-alunos, não estava na lista de alunos; isso significa que ele não cursou a faculdade.

 Mas não tinha como eu ter certeza, então o que fiz foi anotar o endereço com uma caneta esferográfica nas costas da minha mão esquerda. Eu não sei exatamente por que fiz isso; talvez eu estivesse pensando que se Jasmine continuasse a ter seus ataques, eu pudesse procurar esse homem.

 - Com licença, senhorita. Vamos fechar a biblioteca – disse uma mulher jovem de cabelos cacheados cheios e um óculos na ponta do nariz.

 Assenti e me levantei, me dirigindo até a porta. Droga, já estava escurecendo e eu não tinha saído daquela cidade, não tinha comido nada e não tinha encontrado um lugar para ficar. Ainda assim, eu sabia que poderia usar o banco em que havia acordado. E foi pensando assim que me dirigi à praça, atualmente vazia com predominância de sombras. Sentei no meu banco e suspirei.

 - Ei, você aí! – gritou alguém atrás de mim.

 Virei para olhar. Era a moça com a criança, aquela que me disse onde era a estação.

 - Oh, olá – eu disse, sendo educada.

 Ela estava de carro, um Ford sedan quatro portas, e acenou para mim.

 - Você tem algum lugar para ficar, querida? – perguntou ela soando amável, como sempre.

 - Eu me ajeito, obrigado por se preocupar.

 Ela desligou o motor, tirou o cinto de segurança e saiu do carro. Logo estava sentada ao meu lado no banco de pedra e eu estava tentando pular para o lado. Por algum motivo aparente, eu estava tentando ficar longe daquela mulher. E eu nem mesmo sabia o porquê.

 - Você tem dinheiro? Tem alguém para quem ligar? Tem algum lugar para ficar além desse banco?

 Todas as minhas respostas foram um balanço de cabeça e todas significavam: não. Eu não tinha dinheiro; até tinha alguém para ligar, mas ela não me atendia e não tinha nenhum lugar onde ficar. Se eu tivesse um carro, eu até poderia dormir no carro, mas adivinha? Também não tenho.

 - Venha, garota. Eu vou te ajudar – e ela me puxou pelos braços, me levando gentilmente até seu carro.

 

 Eu não tinha como recusar. Ela me ofereceu comida, casa e uma boa companhia. Sua filhinha se chamava Laura e era um amor de bebê; praticamente nunca chorava e estava sempre dando risada. Quando a peguei em meus braços, imaginei como seria se eu tivesse um filho, mas tratei de tirar essa ideia da cabeça. Alex não ia gostar nada disso.

 - Você não precisa de ajuda, Liz? – perguntei quando ela estava lavando a louça.

 - Fique de olho na Laura, por favor – ela pediu com um sorriso.

 Voltei para a sala e fiquei brincando mais um pouco com a bebê. Algum tempo depois ela já estava sonolenta e eu a coloquei no carrinho, mas continuei movimentando-o num leve vai e vem para que ela logo pegasse no sono.

 - Você tem vocação para ser mãe – disse ela me observando no fim da sala.

 Virei e sorri, agradecendo.

 - Obrigado, mas não acho que eu seja mãe algum dia.

 Ela deu uma risada como se estivesse rindo para uma piada que ela mesma havia contado e foi conferir Laura. Logo depois a pegou no colo lentamente para não acordá-la e levou-a para cima. Eu continuei sentada no sofá, esperando ela voltar para que pudéssemos conversar ou algo do tipo.

 - Bom, agora que Laura está dormindo nós podemos começar nossa diversão.

 Eu me levantei e encarei-a, sorrindo.

 - O que você estava pensando em fazer?

 - Ah, você não vai acreditar se eu contar – e deu uma risada antes de me jogar contra a parede sem ao menos me tocar.


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