Vital Signs escrita por CDJ


Capítulo 10
Parte 3 - Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

A Parte 3 acontece na quinta temporada, logo depois que Lúcifer é solto da sua jaula.



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Eve - Primeira Pessoa

 

 Depois de pagar cinqüenta dólares a mais pela minha conta, o atendente me deu o endereço de um cara que já estava acostumado a vender documentos falsos por um preço mais convidativo. Eu saí do Roadhouse para procurá-lo e me surpreendi ao ver quão pegajoso e sujo ele era, mas talvez eu só tenha visto isso porque ele não parava de me apalpar. Dei todos os documentos que um dia pudesse precisar: identidade, passaporte e carteira de motorista. Ele disse que tudo só ficaria pronto de manhã e que se eu fosse apenas mais uma cliente normal, ficaria pronto em uma semana. Mas como eu era especial, ele passaria a noite fazendo isso. Depois ele disse que tinha que tirar uma foto minha para colocar no novo documento, mas eu estranhei as posições que ele me pedia pra ficar, portanto deixei que ele tirasse apenas duas fotos.

 Procurei por um hotel ali por perto mesmo e encontrei um bem barato. Na manhã seguinte, já passei para pegar meus recém-feitos documentos. Deixei quase todo o resto de dinheiro vivo que tinha para aquele sujeito safado e saí correndo da cidade, literalmente. Só fui me dar conta de que já estava em Utah quando surgiu uma grande placa me indicando Salt Lake City. Tomei outro caminho; Salt Lake City era grande demais e eu queria uma cidade menor, mas não muito parada. Eu precisava ganhar dinheiro vivo rapidamente, mas não podia me ferrar na cidade grande. Então segui por mais algum tempo, cerca de cinqüenta quilômetros a mais, e cheguei numa cidadezinha chamada Park City: poucos habitantes, mas bastante turismo. Só que não parecia exatamente o clima de agitação que eu esperava, mas já era algo. Estacionei em alguma lanchonete para comer alguma coisa e depois fui para um motel barato. Descansei o bastante para ficar alerta de noite e saí novamente, procurando por um bar. 

 Antes de eu ter virado aquela maluca desvairada quebrando lâmpadas por aí, eu costumava jogar sinuca e era muito boa nisso. No Donny’s havia uma grande mesa de bilhar e eu apostava com alguns clientes que ficavam até mais tarde; é claro que eu sempre ganhava. Portanto, uma das minhas primeiras idéias foi jogar sinuca e ganhar algum dinheiro com isso ou então dar um jeito de embebedar algum cara bem endinheirado, levá-lo para o meu motel barato e roubar sua carteira. Essa última opção era plausível, mas provavelmente eu não faria isso.

 De qualquer jeito, entrei no bar e me sentei no balcão, pedindo uma cerveja. Dessa vez o atendente era uma mulher, então não teve como eu flertar com ela. Mas ao dar um gole e olhar em volta, reconheci a mesa de bilhar à minha direita, um pouco distante e com uma iluminação chamativa. Talvez não fosse só a iluminação chamativa e sim o cara que estava parado lá, com um taco na mão analisando o jogo. Ele era louro e atlético, mas não me lembrava nada Alex: seus olhos eram escuros, mas ele tinha um belo sorriso. Seu cabelo era curto e bem claro, parecia ser alto e um pouco musculoso. Eu teria olhado para o outro lado no mesmo momento, teria procurado por algum cara que estivesse usando um terno ou coisa parecida, não fosse o olhar que ele me deu quando percebeu que eu estava olhando.

 A intensidade com que seus olhos escuros como breu procuraram os meus foi tão enorme que eu simplesmente tive de continuar olhando-o. Ele sorriu, pegou sua cerveja da beirada da mesa e levantou-a brindando comigo. Repeti o gesto, sorrindo da mesma maneira. Eu só estava esperando minha cerveja acabar para ir falar com ele, mas ele se apressou e se sentou ao meu lado no balcão.

 - Oi, eu sou Eric – disse, estendendo a mão.

 - Liz – respondi, apertando-a.

 - Então, você não gostaria de jogar um pouco com a gente? – ele trouxera a cerveja e brincava com a garrafa passando de uma mão para a outra – Prometemos que seremos bonzinhos!

 Dei uma risada alta e sorri para ele.

 - Não sei se é uma boa ideia, não sou muito boa em sinuca – menti – Sempre que eu tentava jogar, acabava perdendo. Eu sou um fracasso total para essas coisas!

 - Não se preocupe com isso, eu posso te ensinar.

 - Ah, seria um prazer, mas não sei... – continuei negando para ver se ele persistiria.

 - Qual é, vamos lá! Vai ser divertido!

 - Tudo bem, tudo bem – dei outra risada – Mas não espere que eu faça apostas altas, ok?

 - Não se preocupe com isso. Nunca apostamos alto, porque não somos exatamente cheios de dinheiro, sabe como é. Mas de qualquer jeito, pegaremos bem leve com você – e dizendo isso, ele me levou até a mesa de bilhar e me apresentou a seu amigo, Bill.

 No começo fui me fazendo de sonsa, errando todas as jogadas e apostando apenas cinco dólares por jogo. Bill era bom, mas Eric era muito melhor que ele, apesar de que eu o colocaria no chinelo. Esperei até que eles começassem a fazer apostas mais altas para começar a dar algumas jogadas sortudas e improváveis, mas nenhum deles ficou desconfiado ou contrariado, provavelmente porque sempre que eu acertava uma das minhas jogadas espetaculares, eu pulava e dava risada, feliz demais para parecer falso. Eu e Eric continuamos com olhares intensos durante todo o jogo, o que me deixou mais feliz ainda. Quando Bill e Eric apostaram tudo o que já haviam ganhado até então e mais cinqüenta dólares cada um, eu fiz minhas contas e somei um total quase duzentos dólares, foi aí que eu resolvi fazer minhas jogadas espetaculares. Ganhei esse jogo sem que nenhum deles pudesse ao menos tocar naquelas bolas. 

 Peguei o dinheiro da pilha e contei-o, com a satisfação estampada nos olhos. Eric e Bill se entreolharam, mas deram risada. Eu não sabia se eles estavam extremamente irritados por terem sido enganados por uma garota ou se estavam extremamente envergonhados. Ao terminar de contar as cédulas, coloquei-as no bolso detrás da minha calça e pulei para cima da mesa, sentando-me na beirada.

 - Ah, sua espertinha, conseguiu nos enganar – disse Eric, aparecendo e se colocando no meio das minhas pernas.

 - Não foi uma tarefa tão difícil assim – comentei com um sorriso debochado.

 - É mesmo? – perguntou aproximando os lábios dos meus.

 - É mesmo.

 Enlacei seu pescoço e puxei-o para mim, fazendo nossos lábios finalmente se encontrarem. Claro que não foi a mesma explosão que acontecera da última vez que eu beijara Sam, não. A única coisa que eu senti ao juntar os lábios de Eric era certeza, certeza de que aquilo era certo e eu devia prosseguir. Então não fiquei me culpando quando pedi a ele que fossemos para outro lugar, como o meu motelzinho barato. Ele já havia bebido mais cervejas do que podia e concordou. Nós fomos com meu carro, – eu não o considerava mais o carro de Liz, eu era Liz – pois ele viera com Bill. Assim que chegamos ao motel, voltamos a nos beijar e eu não dei conta de abrir a porta sem poder ver e com apenas uma mão. Quando finalmente entramos, joguei-o na cama de casal e pulei em cima dele, mas não foi uma boa ideia. Ele começou a gritar de dor e me pediu para sair de cima de seu órgão genital.

 - Ah, me desculpe! – sussurrei, mas ele deu uma risada – Acho que isso não está funcionando muito bem. Hum, que tal a gente comer alguma coisa ou sei lá?

 - Claro, pra mim está ótimo – respondeu ele, deitando-se na cama e ainda fazendo uma cara de dor.

 Levantei-me e fui para o lado do telefone, procurando na lista alguma coisa para que pudéssemos pedir: talvez uma pizza ou algo do gênero. Encontrei o nome de uma pizzaria que ficava aberta vinte e quatro horas, então decidi tentar pedir algo. Disquei o número do telefone e esperei que atendessem. Uma mulher com uma voz enjoativa me atendeu.

 - Olá, boa noite – respondi – Eu queria pedir uma pizza.

 - Que sabor?

 - Só um minutinho – e me virei para Eric deitado na cama – Eric, que sabor de pizza?

 Ele não me respondeu e eu perguntei novamente, mais alto. Aproximei-me da cama e cutuquei-o, mas só o que ouvi foi seu ronco regular. Droga, ele já havia dormido.

 - Hum, quer saber? Deixa pra lá. Obrigado – e desliguei o telefone.

 Esfreguei os olhos e sentei ao seu lado na cama; minhas mãos escorregaram até seu bolso e encontraram sua carteira. Puxei-a para mim e a abri: ainda havia um pouco de dinheiro, mas seria o suficiente para meu pequeno monte se tornarem duzentos dólares. Fechei a carteira e coloquei-a em seu lugar. Eu não podia fazer isso, não com Eric. Lembrei do sentimento de certeza que tive ao beijá-lo e me martirizei ainda mais. Passei a noite cochilando algumas vezes na poltrona do outro lado do quarto. Sempre que eu acordava, encarava a cama desesperada para ver se Eric estava bem, mas ele continuava na mesma posição, dormindo do mesmo jeito; só depois de ter essa certeza que eu me obrigava a cochilar de novo. 

 

 Acordei com alguém me sacudindo gentilmente e assim que a luz do sol atingiu meus olhos, esfreguei-os para ver melhor quem era. Um sorriso bonito foi a primeira coisa que eu vi, logo depois um nariz reto e mais acima, olhos escuros e intensos.

 - Bom dia – disse Eric.

 - Bom dia – grasnei, ainda meio rouca por passar tanto tempo sem usar a voz.

 - Desculpe por ter dormido na cama, você devia ter ido se deitar comigo.

 Sorri e fiz um não com o dedo indicador, dando uma risada alta.

 - Não devia, não! Sou uma moça direita e moças direitas não dormem com caras que nem conhecem – comentei, bocejando na maior parte da frase.

 Ele riu e selou os lábios nos meus.

 - Já que você não me conhece, moça direita, que tal irmos jantar esta noite? Prometo que vou pagar e não vou dormir dessa vez.

 - Hum, parece tentador – respondi, sorrindo – Eu aceito, completamente.

 - Então eu passo para te pegar aqui, ás sete.

 - Tudo bem, Romeu – brinquei.

 Ele saiu pela porta da frente, exibindo um sorriso antes de fechá-la atrás de si. Em cima da cama havia um café da manhã bonito e delicioso, que não tardei a devorar. Tomei um banho para aliviar a dor de passar a noite toda numa poltrona e passei o dia assistindo TV, esperando até que ficasse tarde o bastante para poder me arrumar. Quando Eric apareceu estava usando uma pólo branca e uma jaqueta de couro bem cara por cima. Pelo visto eu havia me enganado sobre ele: ele era endinheirado, mesmo que quisesse dizer o contrário. Entramos no seu carro desta vez e fomos para um lugar que eu não conhecia. Parecia ser uma estação de esqui, mas eu duvidava muito. Quem levaria uma garota para jantar numa estação de esqui? Só consegui captar o nome do lugar: Deer Valley.

 Assim que chegamos perto a uma mansão, Eric parou o carro e sorriu para mim, provavelmente esperando que tivéssemos uma pequena conversinha antes de entrarmos. Eu ainda estava em dúvida sobre onde estávamos, mas ao meu lado direito havia um depósito e a porta estava entreaberta, mas tudo que eu conseguia enxergar eram equipamentos de esqui. Era impossível; se Eric tivesse feito isso ele nunca mais ia me ver na vida.

 - Isso aqui é uma estação de esqui? – perguntei, acabando com meu sofrimento.

 - Sim – a resposta até doeu meu coração, mas ele continuou falando – Meus pais são donos desse lugar. Ele já foi usado para eventos de esqui e snowboarding em 2002, nos Jogos Olímpicos.

 Fiquei impressionada e isso ficou revelado em minha expressão. Eric sorriu, entusiasmado pela minha reação.

- Eu não venho aqui há muito tempo, mas me parecia o lugar certo para te trazer. Lá dentro – ele apontou a mansão – tem uma fila de cozinheiros fazendo a melhor comida francesa que você já provou na vida, mas, você sabe, eles demoram.

 - Hum – comentei, já entendendo o que ele queria dizer – E você sugere que façamos algo enquanto esperamos?

 - Sim. Gosta do frio?

 Nos próximos trinta minutos, Eric me ensinou algumas coisas sobre esquiar. Afinal, ele tinha uma estação de esqui, devia ter crescido por ali. Nós subimos até o topo de uma pequena colina e eu consegui realmente não ficar congelada durante alguns minutos, até me levantar para observar um pouco mais a vista, tropeçar e cair de cara na neve. Levantei e ignorei minha pequena queda. Continuamos lá por mais ou menos uma hora, conversando enquanto o vento lambia nossas bochechas e nos deixava ruborizados. Conversamos sobre tudo; foi uma boa maneira de conhecê-lo melhor. Quando descemos a colina, corremos direto até a mansão. Havia mesmo uma fila de cozinheiros a nossa espera, mas também havia outra fila de empregados tirando nossos casacos e nos levando até a mesa. A comida estava maravilhosa e o vinho, soberbo. Nada que eu já havia provado se comparava àquilo.

 - Essa costumava ser a casa dos meus pais – começou Eric, após termos acabado com o prato principal e enquanto esperávamos a sobremesa.

 - Costumava ser?

 - Eles morreram ano passado em um acidente de carro. Atualmente quem cuida desse lugar é o nosso advogado, porque eu me recusei. Não venho aqui desde o dia da morte deles.

 Senti como se tivesse acabado de ingerir uma pedra e ela tinha ido direto pro meu estômago. Eu fechei os olhos por um momento e voltei-os para cima, encarando Eric. Ele não parecia exatamente triste, parecia ter superado a morte dos pais, mas era sempre algo difícil. Ás vezes era difícil até mim e eu havia pedido meus pais há vinte e dois anos.

 - Sinto muito. Talvez não tenha sido uma boa ideia você voltar aqui – murmurei, com algo ainda preso na garganta.

 - Talvez não, mas sei que meus pais se orgulhariam de saber que estou seguindo em frente.

 A sobremesa chegou e nos tirou do assunto trágico de antes. Comemos em silêncio porque não sabíamos o que dizer. Parte de mim queria consolá-lo e tratá-lo como uma criança, abraçando-o, mas outra parte queria apenas se afastar e pensar nos próprios problemas. Solidariedade e egoísmo lutando pela minha cabeça ao mesmo tempo e eu quase fiquei louca com o silêncio.

 - Mas e você, a sua família? – perguntou ele, quebrando o silêncio.

 - Eles morreram quando eu tinha quatro anos de idade.

 - Ah, jura? – surpreendeu-se ele, percebendo que eu não havia tocado no assunto antes que ele me perguntasse.

 - Sim. Minha mãe morreu por um – pigarreei – problema no pulmão e meu pai se matou uma semana depois. Eu tinha três irmãos, mas fomos separados. Até hoje não me encontrei com nenhum deles.

 - Sinto muito.

 - Está tudo bem, já faz muito tempo.

 Mas não era tempo suficiente. A imagem dos pulmões da minha explodindo voltaram a minha mente e eu não consegui apagá-la. Em poucos segundos já estava lutando contra as lágrimas, mas era uma batalha vencida. Eu decidi parar de chorar desde o dia que Sam saiu da minha vida; para mim, chorar era um sinônimo de extrema fraqueza e eu não era mais fraca.

 - E o seu olho? O que aconteceu? – perguntou ele, apontando o indicador para o meu olho esquerdo.

 - É uma longa história. Quando eu tiver coragem e disposição, você saberá do que se trata. Por enquanto, não há a necessidade de se preocupar com essas coisas.

 Ele suspirou e abaixou os olhos.

 - Não queria que o encontro acabasse assim, tão cheio de tristeza.

 - Não precisa acabar assim. Ainda estou esperando que você levante daí e venha aqui me dar um beijo – disse, sorrindo para espantar as lágrimas vencidas.

 Ele sorriu e se levantou da cadeira, caminhou até mim lentamente e colou os lábios nos meus. A partir desse momento eu soube que tinha de continuar com Eric, pelo menos para suprimir a minha saudade e a promessa de Sam Winchester de que, se estivéssemos no mesmo lugar, ele estaria em minha vida. Mas eu ainda tinha aquele acordo com Benny Harrison e assim que este achasse Sam, lá estaríamos nós mais uma vez no mesmo lugar e ele faria parte da minha vida. Até lá, Eric seria o melhor substituto possível.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me pela demora, pessoal ): Muita coisa tem acontecido, mas agora eu vou voltar a postar aqui ok? Obrigado, obrigado s2



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