O Palhaço escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo Único - O Palhaço


Notas iniciais do capítulo

OneShot especial de halloween



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A banda de garagem, criada pelos amigos, Emmett, Edward, Jasper e Jacob, se preparava para mais uma noite de ensaio antes da apresentação da festa de dia das bruxas na escola. As garotas, Rosalie, Isabella e Alice estavam ali para acompanhar o ensaio.

Fora a iluminação no interior da garagem, uma lâmpada localizada pouco acima da cesta de basquete, na entrada de veículos, era a única iluminação em alguns metros.

Jasper estava sentado no sofá antigo dentro da garagem com Alice ao seu lado. Conversando com Jacob, que bebia uma cerveja de latinha, sentado em cima de pneus descartados.

Edward arrumava os últimos detalhes com ajuda de Isabella antes de começarem o ensaio. Emmett e Rosalie estavam do lado de fora, afastados da iluminação, namorando.

— Aí — Jacob se fez ouvir —, vamos começar esse ensaio hoje ou não?

— Vamos, se aqueles dois lá fora deixarem os amassos para mais tarde.  — Edward respondeu, dando os últimos ajustes na guitarra.

Jacob deixou a latinha vazia ao lado dos pneus no chão, levantou e saiu na porta da garagem.

— Aí, vocês dois — falou para o escuro onde, supostamente, estava o casal — queremos começar o ensaio, de preferência ainda essa noite.

Levou um minuto inteiro para os dois aparecerem na claridade na frente da garagem. Rosalie atrás de Emmett, ajeitando as roupas amarrotadas.

— Estraga prazer — resmungou Emmett, embora estivesse sorrindo.

— Podem continuar o que estavam fazendo depois.

Rosalie rolou os olhos, colocando a mão na de Emmett. Finalmente, entrando os dois na garagem. Jacob logo atrás deles.

— Terei de parar em alguns minutos — contou Emmett, se colocando atrás da bateria. — Preciso levar Rose na casa dos Cullen.

Isabella questionou:

— O que vai fazer na casa dos Cullen? Não me diga que é o que estou pensando.

— Esme e Carlisle vão a uma festa antecipada de halloween essa noite. Serei responsável pelas crianças até eles voltarem.

— Sério?

— Sim.

— Que coisa chata.

— Eles pagam bem. A oferta que me fizeram foi muito boa, não deu para recusar.

— Ainda assim, são três crianças. Deus me livre de ser eu a cuidar dos pestinhas.

— Se Rose mudar de ideia, vou eu no lugar dela — disse Alice. — Preciso de dinheiro para minha fantasia de amanhã.

— Usa a do ano passado — propôs Jasper.

— Não dá. — Alice chegou um pouco para o lado, afastando o braço dele de seus ombros.

— Por que não? — arriscou ele.

— Porque é do halloween passado.

— E daí? — insistiu.

— Garotos — falou Isabella do outro lado da garagem.

— Certo — disse Edward — vamos começar. Foco, pessoal.

Cada um deles se colocou atrás do instrumento que tocava: Edward na guitarra, Jasper no violão, Emmett na bateria e Jacob no baixo.

Rosalie e Isabella sentaram cada uma de um lado de Alice no sofá. O barulho ficou alto quando os meninos começaram o ensaio.

— Não quer mesmo desistir — Alice pediu, tentando uma conversa, mesmo com todo o barulho que os meninos faziam.

— Não posso — explicou Rosalie — eu teria de falar com eles. E, assim, em cima da hora, não seria legal. Sinto muito Alice.

— Que chato — lamentou Alice.

— Posso te emprestar o dinheiro para sua fantasia — sugeriu Isabella.

— Sério?

— Só não pode escolher a mais cara delas, porque aí me complica também.

Alice ficou de pé, pulando com as mãos no alto, esbarrando em Jasper, que saiu do tom, o que acabou também atrapalhando os companheiros. A música parou de tocar naquele momento.

— É — murmurou sem graça —, desculpe. Vocês podem continuar.

— Obrigado — Edward respondeu num tom de aborrecimento.

— Tampinha — Jacob acusou.

Emmett percebeu Rosalie sinalizando em sua direção. Deixou as baquetas de lado e se levantou.

— Vou levar Rose agora. Podem continuar sem mim, por enquanto.

— Como vamos continuar sem o baterista? — Jasper se queixou.

— Não demoro, os Cullen moram a um quarteirão.

Jacob achou que era um bom momento para cutucar.

— Isso se não pararem o carro no meio do caminho e voltarem a fazer o que faziam lá fora.

— Vai se danar — Rosalie mostrou o dedo para ele.

— Você pode enfiar esse… — Jacob se calou ao olhar de advertência de Emmett.

Com um sorriso no rosto, Rosalie acompanhou o namorado para fora da garagem. Ao lado do jipe prata, ele descansou as mãos em sua cintura e lhe deu um beijo. Depois abriu a porta e ajudou subir, se acomodando assim no banco do carona. Ele deu a volta e foi se sentar atrás do volante. Voltaram se beijar dentro do carro, antes de ele ligar o motor e partirem pelas ruas escuras com algumas casas decoradas para o halloween.

— Essa droga de ensaio já era — sentenciou Jacob. — A apresentação amanhã será um fracasso. Toda a escola vai rir de nossa cara. Vamos ficar para a história do ensino médio e não será como os populares.

— Quanto drama — Isabella interrompeu. — Ele vai voltar. Rose foi cuidar das crianças Cullen. Não é como se estivessem indo para um hotel ou coisa assim.

— Isso é o que você acha.

— Isso é como as coisas são — rebateu ela.

— Sabemos que está defendendo sua amiguinha.

— Larga mão de ser palhaço.

O olhar irritado de Jacob a Isabella levou Edward a interferir.

— Já chega! Vamos continuar sem a bateria. Logo Emmett vai estar de volta.

Alice começou dançar mesmo antes de eles voltarem a tocar. Isabella a empurrou de leve, rindo do seu jeito alegre.

— Começa logo com essa música, meninos — ordenou Alice. — Já vou aquecer os motores.

[…]

Em frente à casa dos Cullen, Rosalie saltou do jipe.

— Me ligue quando eles voltarem, para que eu possa te buscar. Ou eu ligo antes para gente conversar.

— E o ensaio da banda? Não vai voltar?

— Se eu não volto Jacob tem chilique. Avise-me quando te buscar.

Rosalie piscou para ele, em seguida, bateu a porta do jipe e se afastou.

A frente da casa dos Cullen estava decorada com aboboras iluminadas e uma guirlanda na porta, nada muito assustador. Rosalie se encaminhou para a porta, olhando para trás ainda a tempo de ver o jipe do namorado se afastando na rua escura. Tocou então a campainha. Aguardou alguém vir recebê-la, lembrando-se de Isabella dizer que não gostaria de ficar responsável pelas crianças. Talvez não fosse tão complicado quanto fez parecer. Já era noite, logo Renesmee de onze anos, Rayan de sente e Raylee de cinco, estariam dormindo. E ela teria tempo de sobra para entrar em suas redes sociais até os pais das crianças voltarem.

A porta da frente abriu revelando Esme pronta para a comemoração de logo mais.

— Que bom que é você — disse ela. — Estava a ponto de te ligar para ter certeza que estava a caminho.

— Desculpe o atraso.

— Não está atrasada, nós é que estamos ansiosos para ficar umas horinhas sem as crianças — admitiu com um sorriso. — Faz muito tempo que não vamos a uma festa sem as crianças.

— Então, aproveitem bastante.

Carlisle apareceu logo atrás das costas da esposa.

— Estou contando com isso — contou.

Esme saiu do caminho permitindo Rosalie entrar na casa.

— Nossos números de telefone estão na porta da geladeira, se precisar nos ligar.

— Não acho que será preciso, mas, é bom saber onde posso encontrar.

— Rayan e Raylee estão lá em cima, cada um em eu quarto. Renesmee me pediu para assistir a um filme antes de dormir, como não tem aula amanhã, eu permitir. Ela está na sala de tevê escolhendo agora. Não deixe que assista terror.

— Claro.

Esme pegou o agasalho na mão do marido.

— Até mais tarde — disseram os dois deixando a casa. Rosalie esperou até eles entrarem no carro para fechar a porta. Retirou o próprio agasalho pendurando no gancho ao lado da porta antes de ir encontra-se com Renesmee. No cômodo com uma televisão gigantesca encontrou a menina de pijama, o controle remoto na mão, lendo o resumo de um filme de terror.

— Seus pais disseram que não pode assistir a esse tipo de filme.

— Eles não estão aqui agora — respondeu fazendo pouco caso. Olhou brevemente no rosto de Rosalie e voltou atenção à televisão.

— Mas eu estou — colocou Rosalie, retirando o controle de sua mão.

— Essa casa é minha — Renesmee revidou tomando o controle de volta. — Esse controle me pertence. Tudo aqui me pertence.

— Eu não pertenço a você — Rosalie zombou.

O rolar de olhos mostrou que achava besteira o que dizia.

— Não estou falando de você.

— Que bom! — Rosalie sentou no confortável sofá.

— Idiota! — Renesmee resmungou, voltando olhar a seleção de filmes na tela gigante.

— Você é sempre marrenta assim?

Sem olhar para Rosalie, respondeu:

— Só com babás chatas e idiotas.

— Eu não sou chata, muito menos idiota, garotinha.

— Não me chame de garotinha. Meu nome é Renesmee.

— O meu é Rosalie, muito prazer.

— Não estou sendo amigável, sua burra.

— Que pena…

Passado um instante, Rosalie voltou falar:

— Qual a origem de seu nome, afinal?

— Não é de sua conta. — Escolheu um filme de bruxas, voltado ao público infantil e apertou o play.

— Seus irmãos são chatinhos assim como você?

— Não me interrompa babá. Não vê que estou assistindo?

Rosalie sinalizou com as mãos que havia parado, supostamente, de incomodá-la.

— É apenas um filme, depois vai para cama.

— Cale a boca, babá.

Rosalie balançou a cabeça.

— Meu Deus como você é… — parou de falar ao som de passos se aproximando. Olhou sobre o encosto do sofá e viu o garotinho de cabelos cor de mel e olhos escuros, usando pijama com estampas de carrinhos, e chinelos nos pés.

— Olá! — Rosalie o cumprimentou.

Ele coçou o olho dando um passo à frente.

— Quem é você? — pediu.

— Sou Rosalie. A pessoa que está encarregada de cuidar de vocês essa noite.

— E a Clarice?

— Clarice é a pessoa que fica com vocês quando seus pais precisam?

O menino concordou com um meneio de cabeça.

— Eu não sei. Acho que ela não pôde vir. Seus pais me chamaram, então, eu aceitei.

O menino se aproximou do sofá, pondo as mãos no encosto, olhando ela de perto.

— Você é o Rayan, certo?

— Certo.

— E por que não está na sua cama agora, Rayan?

— Fiquei com sede.

Renesmee interrompeu aos dois.

— E você não tinha que calar a boca, babá? — Ela mostrou com a mão a televisão. — Estou assistindo, lembra?

Rosalie ignorou sua grosseria prestando atenção ao menino.

— Ela é sempre assim tão grossa?

— Nessie não gosta de babás.

— Percebi isso. Nessie é apelido dela?

Renesmee bateu com o controle remoto na almofada, elevando o tom de voz.

— Sai daqui babá.

— Okay, garotinha. — Rosalie se levantou, dando a volta, chegando perto do menino. — Fique aí com seu filme legal pra caramba. — Ainda a ouviu grunhir. — Como sua irmã é difícil. O que você queria mesmo? — perguntou ao menino. — Desculpe, eu esqueci.

— Água — respondeu ele. — Eu quero água, babá.

— Por que ficam me chamando de babá o tempo todo? Eu já disse que meu nome é Rosalie. Se quiser, pode me chamar de Rose.

— Babá — ele chamou, dando a Rosalie a sensação de ser uma piada. — Você pode ir comigo a cozinha. Está escuro lá, e eu não gosto de escuro.

— Claro, vamos lá. — Ela foi na frente. — Por acaso a menorzinha também não gosta de babás ou é só coisa de Renesmee mesmo?

Ao entrar na cozinha Rosalie sentiu frio. Rayan tornou em palavras antes que pudesse fazê-lo.

— Está muito frio aqui.

Ela acendeu as luzes, reparando na porta aberta.

— Por que a porta está aberta?

— Eu não sei — disse Rayan.

— Seus pais não costumam fechar com a chave? Bem, o vento deve ter aberto. — Chegou mais perto para fechar a porta com tranca.

— A mamãe sempre fecha.

— Certo. Bebe sua água e eu vou te levar de volta para cama.

Rayan pegou o copo na ilha da cozinha e foi encher com água direto na porta da geladeira.

Um grito aterrorizado soou no andar de cima. Rosalie deu um salto com um duplo susto, primeiro ao som do grito, depois com o copo que Rayan deixou cair com água no chão. Ele correu para junto dela no mesmo instante.

— Estou com medo babá.

Mesmo o coração pulsando acelerado, Rosalie tentou não demonstrar que também sentiu medo.

— Renesmee deve ter aproveitado para mudar de filme agora que está sozinha na sala de televisão.

— Não foi na tevê — disse Rayan, as mãos grudadas no braço dela. — Foi a Raylee, lá em cima.

Rosalie ouviu o choro da menina.

— Ai meu Deus, Rayan. — Ela correu para fora da cozinha, levando o menino pelo braço. Cruzaram a sala de estar alcançando a escada. Renesmee saiu da sala de televisão para ver o que estava acontecendo.

— Foi você? — Rosalie perguntou logo que a viu.

— Claro que não. A Raylee deve ter tido um pesadelo.

Rosalie continuou subindo a escada com Rayan grudado a seu braço. Seguindo pelo amplo corredor para o quarto da menina. Encontrou a porta aberta. Ela e Rayan entraram no quarto de supetão.

A mais nova das crianças Culen estava chorando, sentada na cama, os olhos arregalados, o cobertor na altura no queixo. Seus cabelos e olhos eram na mesma cor dos de Rayan, o que os torvavam muito parecidos um com o outro.

Rosalie se aproximou da cama dela. O quarto estava parcialmente iluminado pela luz noturna que dava o efeito estrelado no teto.

— Ei — murmurou sentada ao lado da menina —, o que aconteceu?

Rayan subiu na cama ficando ao lado da irmã.

— O palhaço — contou Raylee sem deixar de chorar.

Rosalie passou a mão em seu rosto.

— Você teve um pesadelo. Vai ficar tudo bem.

— O palhaço — repetiu Raylee, olhando a porta aberta do quarto.

— Não tem palhaço aqui Raylee. Você sonhou com um. Foi só um sonho ruim.

— Não — Raylee negou. — O palhaço — tornou dizer.

— Não tem palhaço aqui.

— Tem, sim.

Rosalie tentou fazer ela deitar, mas Raylee foi firme em ficar sentada.

— Ele não deixa — falou com voz de choro.

— Foi um sonho ruim, mas já passou.

— Balões — contou.

Rosalie levantou e foi acender a luz do teto. Ficou assustada novamente, haviam balões estourados no carpete aos pés da cama da menina. Balões nas cores vermelha e azul. Não tinha sido sonho, e, talvez, o palhaço também fosse real. Apressou-se até a porta espiando no corredor, ouviu Renesmee chamando na escada. Viu a sombra do que poderia ser um palhaço carregando balões, no outro lado.

— Babá — Renesmee chamou mais uma vez.

— Renesmee, volte! — gritou para a menina.

— Você não me diz o que fazer babá — reclamou alcançando o final da escada.

— Volte! — Rosalie tornou pedir.

A risada do palhaço a fez silenciar. Renesmee ficou com expressão de choque quase que no mesmo instante. Rosalie se desesperou, por si mesma, e pelas crianças. A sombra do palhaço parecia se aproximar indicando que estava chegando perto. Ele surgiu no corredor com um sorriso assustadoramente desenhado no rosto. Renesmee gritou tão alto quanto Raylee havia gritado segundos atrás. A risada do palhaço soou mais uma vez, e um balão foi estourado. As crianças dentro do quarto gritaram.

— Corre, Renesmee! — Rosalie gritou. — Corre!

A menina, assustada, olhou de um lado para o outro sem saber o que fazer. Com o palhaço indo em direção à escada, começou descer depressa. Sentiu o coração pulsando forte no peito. A respiração se tornando ruidosa à medida que avançava pela escada tentando fugir. Ouviu passos e a risada do palhaço outra vez. Rosalie gritando para se esconder.

— Babá!

Rosalie ouviu seu grito. Imaginando o que poderia fazer, voltou para dentro do quarto.

— Rayan — chamou o menino. — Preciso que fique aqui com a Raylee. Feche a porta e só volte abrir quando eu ou sua irmã voltarmos. Você me entendeu?

Rayan saiu da cama, mesmo assustado, indo até ela.

— Estou com medo, babá.

— Eu sei… Mas, preciso que fique aqui. — Ela olhou a menorzinha, chorando, ainda na mesma posição de quando a encontrou. Pôs as mãos nos ombros de Rayan. — Feche a porta. Não saía de perto de Raylee. — Com isso, se apressou pelo corredor. Ainda pôde ouvir quando Rayan fechou a porta por dentro. Apressou-se em entrar no quarto do casal. No desespero, olhou em volta procurando pelo telefone fixo, o encontrou na mezinha de cabeceira no lado oposto. Passou por cima da cama, agarrando o telefone no impulso levando ao ouvido. Foi somente nesse momento que se deu conta que estava sem sinal de linha. Puxou o fio de detrás da mesinha e ele veio partido ao meio.

— Droga!  — resmungou. — Não acredito. Que droga! — O telefone celular havia ficado em algum lugar lá embaixo. Apressou-se para fora do quarto, olhando em curto intervalo de tempo para trás, com medo de ser surpreendida. Ouviu Renesmee gritando, e outro estouro de balão. Alcançou a escada se agarrando ao guarda-corpo enquanto descia os degraus. Há apenas quatro degraus de estar na sala, um balão estourou atrás de suas costas, fazendo tropeçar nos próprios pés. O palhaço estava logo atrás. Ela rolou os degraus restantes até estar no chão ficando com um pequeno machucado na testa.

De dentro do armário embaixo da escada, Renesmee a viu rolando no chão. Viu os pés do palhaço em seus sapatos grandes. Esforçou-se em controlar a respiração, imaginando que pudesse ouvi-la. Viu quando Rosalie tentou levantar, o palhaço chegando cada vez mais perto dela.

Rosalie rastejou para longe no momento em que ele tentou pegá-la pelo pé. Suas costas atingiram a frente da lareira. O palhaço continuou indo em sua direção. Renesmee cobriu a boca com as mãos para segurar o grito. O grito que ouviu não foi o seu, foi de Rosalie. O palhaço estava arrastando ela pelos pés para longe da lareira. Ela agarrou uma mesinha onde ficava um abajur, o objeto se quebrou no momento que atingiu o chão, após a mesa tombar de lado. Conseguiu pegar um pedaço dos cacos e deixá-lo na mão. Debateu-se, gritou sendo arrastada pela sala a caminho da cozinha.

Quando passava na frente do armário onde Renesmee se escondia, tentou novamente se agarrar a alguma coisa.

— Babá — sussurrou a menina lá dentro, com as mãos cobrindo a boca. Renesmee viu no canto do armário a bolsa de taco de golfes do pai. Sabia que precisava fazer alguma coisa para ajudar. Agarrou um dos tacos, respirou fundo e abriu a porta do armário. Rosalie viu quando ela saiu e, no modo como a olhou, pediu que voltasse se esconder. Se ela percebeu, certamente a ignorou.

A menina ergueu a mão segurando firme o taco de golfe. Antes que pudesse acertar o palhaço, ele se virou soltando uma das pernas de Rosalie para pegar pegá-la. Ela se desequilibrou caiando de costas, o taco fez barulho ao atingir o chão. Rastejou tentando escapar da mesma forma que Rosalie havia feito antes.

Na agonia de querer ajudar, Rosalie usou o caco do abajur para atingir a perna do palhaço. Ele a soltou, e ela rastejou para longe. Viu o palhaço voltando em sua direção. Renesmee alcançou um vaso em outra mesinha junto à escada e, com um grito de libertação, atingiu o palhaço nas costas.

Rosalie foi rápida ao sair do caminho quando o palhaço caiu aos seus pés. Em seguida, correu para encontrar Renesmee do outro lado.

— Babá — Renesmee gritou estendendo a mão para pegar na sua. — Babá.

— Os pequenos — Rosalie falou para ela, puxando-a escada acima.

— Ele está se levantando — observou Renesmee.

Rosalie a colocou na frente forçando subir mais rápido a escada.

— Corre! — elevou a voz para ela. As duas olharam para trás em simultâneo. O palhaço estava de pé, o pescoço levemente curvado para o lado, olhando para elas.

Renesmee correu escada acima. Rosalie logo atrás, puxando o braço da menina quando ela quase foi para o lado errado.

— O quarto de Raylee — disse. Seguiu juntas então o caminho certo. Ouviram passos na escada e a sombra do palhaço crescendo na parede ao lado.

— Ele está vindo — Renesmee choramingou.

As duas juntas alcançaram a porta do quarto de Raylee, esmurrando em desespero a madeira.

— Rayan! — Gritou para o irmão.

— Abre a porta, Rayan — dessa vez foi Rosalie quem pediu. Forçaram a porta com o peso do corpo. O palhaço chegou ao patamar, então, parou e ficou olhando o desespero delas. A porta abriu, as duas se lançaram para o lado de dentro derrubando Rayan no chão.

Rosalie fechou a porta a tempo de ver quando o palhaço começou andar outra vez. Correu para empurrar a cômoda contra a porta.

— Me ajude Renesmee.

Rapidamente, Renesmee estava ao seu lado fazendo força para retirar a cômoda do lugar.

Rayan levantou do chão com olhar assustado vendo o que elas faziam. Raylee ainda chorava, agora abraça a um coala de pelúcia. Rosalie se aproximou da janela abrindo o vidro.

— O que está fazendo babá? Vai ficar muito frio aqui dentro — lembrou Renesmee.

— Nós vamos descer por aqui — respondeu, avaliando a altura e o que tinha embaixo da janela.

— É alto demais. Não vamos conseguir — continuou a menina no auge do desespero.

— Vamos ter de tentar. É nossa única saída. — Se virou para as crianças. — Não sei onde ficou meu celular. O telefone fixo está sem sinal de linha.

— Foi o palhaço — Renesmee falou para si mesma.

— Peguem todos os cobertores e lençóis que encontrarem no closet de Raylee. Vamos fazer uma corda com eles.

Um balão estourou no corredor. As crianças gritaram, em seguida, silenciaram totalmente.

— Vamos! — Rosalie os apressou.

Rayan e Renesmee pegaram todos os cobertores e lençóis, inclusive os que estavam na cama, e foram entregando a ela, que foi fazendo os nós. Depois de pronta a corda, Rosalie prendeu uma ponta na cômoda e a outra, jogou pela janela ficando junto a lateral da casa. Apressou-se em pegar no closet agasalhos de Raylee.

— Não podem ir assim, está muito frio lá fora — disse para os pequenos, vestindo o agasalho na menorzinha, depois em Rayan.

— É de menina, e está apertado — ele se queixou.

— É o que temos, Rayan — respondeu, e se voltou para Renesmee. — Nenhum deles vai servir em você.

— Eu sei — murmurou a menina. — E nem em você.

Rosalie sinalizou para ela.

Melodia de circo, em uma caixa de música, começou tocar atrás da porta. Depois, uma risada.

— Você primeiro — Rosalie disse para ela, depois de olhar a porta do quarto fechada.

Renesmee passou por ela, se colocando na janela. Pareceu indecisa ao olhar para baixo.

— Não olhem para baixo — avisou Rosalie a todos eles. — Renesmee, você vai esperar pelos menores quando estiver lá — orientou.

A menina começou a descida. Rosalie esperou até ela estar lá embaixo para chamar Raylee.

— Agora é sua vez — disse para a menina.

— Estou com medo.

— Sua irmã vai pegar você quando chegar lá.

— Não posso ir sem o senhor Tonto.

Como Rosalie demonstrou não ter entendido, explicou:

— É o meu coala de pelúcia.

— Ah — murmurou, olhando a menina. — Quando for minha vez de descer, levo o senhor Tonto para você.

— Você promete?

Rosalie fechou o agasalho dela.

— Prometo. — A levou para perto da janela e ajudou subir. Uma forte batida na porta fez os três dentro do quarto estremecer. Raylee voltou chorar. O irmão ficou perto de Rosalie, a ponto de chorar também.

— Vai Raylee, sua irmã está esperando por você.

A pequena começou descer a corda de lençóis muito devagar, chorando, intercalando em olhar ora para baixo, ora para cima.

Rosalie esperou ela estar com Renesmee para chamar Rayan.

— É sua vez.

O menino balançou a cabeça, se recusando.

— Vai, Rayan.

— Não consigo — choramingou.

— Se não descer agora, nós vamos morrer aqui.

— Babá… — ele tinha lágrimas nos olhos, quase implorando.

A porta foi atingida por mais uma pancada.

— Rayan.

— Babá.

— É um menino corajoso, vai conseguir.

Mesmo chorando se deixou ajudar por ela. Então, estava pendurado na corda de lençóis, sem se mover.

— Rayan, você precisa descer agora.

Outra pancada na porta, e a madeira rachou.

— Rayan.

Lá embaixo, Renesmee estava impaciente, se dividindo em olhar para os lados e para cima, com Raylee grudada em seu braço.

— Tá bom — disse o menino chorando. — Eu vou, eu vou.

Rosalie pegou o senhor Tonto e colocou dentro da blusa, dessa forma levaria a pelúcia e ficaria com as mãos livres. Outra batida na porta. Ela se colocou na janela e, assim como as crianças haviam feito, ela também começou descer a corda de lençóis. Dentro do quarto o barulho da cômoda sendo empurrada do lugar.

Renesmee ajudou o irmão sair do caminho ao alcançar o chão.

— O palhaço — alertou Raylee, erguendo a mão mostrando a janela do quarto. Todos olharam onde ela indicava. O palhaço estava tentando soltar a corda de lençóis. Rosalie começou descer mais rápido. A poucos metros do chão, despencou no gramado com a corda de lençóis sobre ela. Deixou escapar um gemido de dor no momento do impacto. Ao tentar levantar, não conseguiu firmar o pé esquerdo no chão. Chegou sentir o estômago embrulhar com a dor.

— Babá — as crianças se aglomeram ao redor dela no chão, preocupadas. Renesmee tentou ajudar ela ficar de pé.

— Vão! — Rosalie mandou. — Vocês precisam ir agora.

— E quanto a você, babá?

— Não vou conseguir me mover de maneira rápida. Acho que quebrei o pé. — Gemeu, apertando os olhos por conta da dor quando tentou andar.

— Babá.

— Leve seus irmãos para longe daqui, Renesmee. Peça ajuda a algum vizinho. Chame a polícia.

— Babá…

— Faça como estou dizendo — ordenou Rosalie. Erguendo o rosto, viu o palhaço na janela, olhando eles no jardim. — Vou estar logo atrás de vocês.

— Não vai conseguir — lamentou Renesmee. — Não quero deixar você sozinha, Rose.

Mesmo com dor, Rosalie se alegrou com que ouviu.

— Não me chamou de babá.

Renesmee a olhou com lágrimas nos olhos.

— Não quero deixar você para trás.

— Tire seus irmãos daqui — pediu, se segurando para não gritar de dor.

A menina pegou nas mãos dos irmãos menores e, juntos, começaram correr. Rosalie se movimentou como pôde se afastando da casa pelo gramado. Doía demais seu pé tendo de se movimentar sem um apoio. As casas ficavam distantes umas das outras. De tempos em tempos, olhava para trás. Sabia que estava vindo. Mesmo não conseguindo vê-lo, ouvia sua risada de causar calafrios. Também não conseguia ver mais as crianças. Sentiu que logo não aguentaria mais continuar fugindo. Era provável que ele a alcance mesmo antes disso. Assustou-se com um guaxinim que cruzou seu caminho. Olhou para trás, a alguns metros alguma coisa se moveu no escuro. Tentou ir mais rápido, mesmo parecendo não sair do lugar. Olhou para trás mais uma vez, conseguiu ver a figura do palhaço tomando forma na pouca luz. Gritou por socorro. E a risada do palhaço chegou aos seus ouvidos. Não conseguiu ver uma saída, pensou que seria o fim. Desejou aos menos que as crianças escapassem.

O ritmo de suas passadas pareciam mais lentos e pesados a cada respiração. O palhaço demonstrava gostar que fosse assim.

Luzes forte de farol de carro clareou a rua. Ela se virou, erguendo a mão para pedir ajuda. Reconheceu o jipe do namorado, o alívio foi quase imediato. Seguiu o instinto de fuga indo para o meio da rua. O carro diminuiu a velocidade mesmo antes disso, já tendo avistado sua figura.

O carro parou a poucos metros, Emmett saiu e correu até ela.

— Rose! — chamou seu nome. Se colocando ao lado dando apoio onde se segurar.

— Graças a Deus é você — murmurou, com um passo manco se permitindo agarrar-se a ele. — Ele está vindo.

Emmett a ergueu nos braços.

— Vou levá-la ao hospital. — Se apressou em abrir a porta no lado do carona acomodando ela dentro do carro.

— Ele está vindo — ela repetiu, vendo a figura do palhaço chegando ao meio da rua.

Emmett bateu a porta do carro. Rosalie se desesperou, olhando entre os bancos, a rua atrás do veículo.

— Vem, seu filho da mãe.

— Emmett! — ela gritou. — Não faça isso. Volte, volte para o carro.

— Venha atrás de mim, seu bosta.

O palhaço olhou para ele com o pescoço curvado para um lado do corpo.

— Só persegue garotas e crianças indefesas? Venha me pegar, seu filho da mãe, covarde. Venha!

— Emmett — Rosalie ainda chamava por ele.

Luzes de viatura de polícia brilharam ao longe. O palhaço atravessou a rua entrando em uma área arborizada, onde ficava o parquinho.

— Ele foi por ali — Emmett indicou. Policiais saíram do carro com lanterna e armas em punho. Emmett voltou pelo lado do motorista e entrou no carro.

— Você é maluco — Rosalie acusou.

— Ele está ferrado agora. — Se ajeitou no assento ligando o motor do carro. — Vou levá-la ao hospital. Depois ligamos para sua família. — Ele levou a mão à nuca dela fazendo um carinho, deixando a outra ao volante. — Vai ficar tudo bem agora — tentou tranquilizar. Ela fechou os olhos se permitindo relaxar um segundo, mas a imagem do palhaço recente em sua memória a obrigou abrir novamente.

— As crianças — lembrou. — Preciso saber se estão bem.

— As meninas estão com Bella e Alice na garagem da casa de Edward. Ele e Jasper foram procurar por Rayan.

— O que aconteceu com Rayan?

— Ele se perdeu das irmãs enquanto fugiam.

— E se aconteceu algo?

— Jasper e Edward vão encontrar ele. A polícia já deve estar fazendo o mesmo.

— E Jacob, não está ajudando eles?

— Jacob não estava mais lá quando eu voltei para o ensaio.

Rosalie achou estranho, mas não disse nada.

— Acredito que terão de contar tudo o que aconteceu aos polícias. Mas, antes precisa de cuidados médicos.

[…]

Rosalie tinha o pé imobilizado, sentada numa cama de hospital, com uma bandeja de café da manhã em sua frente. Não fazia muito tempo um policial esteve com ela fazendo perguntas. Agora estava no corredor conversando com os pais.

Emmett estava dentro do quarto com ela. Ele afastou a bandeja quando terminou o café.

— Está confortável nessa posição? Precisa de alguma coisa?

Uma batida na porta veio antes que pudesse responder suas perguntas.

— Pode entrar — disse.

A porta foi aberta devagar e Esme surgiu com um buquê de flores nas mãos.

— Bom dia. — Mostrou as flores. — São para você. As crianças estão aqui para te ver — contou.

— Pode as deixar entrar — pediu Rosalie.

Uma por uma, as crianças foram entrando no quarto. Por último o pai delas.

— Vocês estão bem? — pediu Rosalie. Feliz em vê-los novamente.

— Babá — disseram ao mesmo tempo. E se aproximaram da cama, Renesmee de um lado, os dois menores do outro.

— Rayan, que bom que está bem.

— Jasper e Edward me encontraram.

— Como se perdeu de suas irmãs?

— Queria voltar para te ajudar, mas estava escuro e eu me perdi.

— Não deveria ter feito isso. Pôs sua vida em risco.

— Você também pôs sua vida em risco por nós — lembrou o menino.

— Podia ter fugido sozinha, talvez não tivesse machucado o pé. Mas o tempo todo tentou ajudar a gente — afirmou Renesmee.

— É — concordou a menorzinha. — Você é legal.

Renesmee voltou a falar:

— Nós vamos nos mudar para outra casa. Por enquanto estamos num hotel. Preciso que me desculpe por ter sido tão chata com você quando chegou à nossa casa. Gostaria que fosse nossa babá em outra ocasião, se estiver de acordo.

— Sem palhaço, certo? — brincou Rosalie.

— Não quero ver um palhaço na minha frente nunca mais — confessou Renesmee. E os irmãos concordaram.

Rosalie olhou o coala de pelúcia na poltrona ao lado da cama.

— Tenho uma coisa para você, Raylee.

— O que é?

Emmett pegou a pelúcia entregando a Rosalie para que ela mesma entregasse nas mãos da menina.

— Senhor Tonto — vibrou Raylee, recebendo o amigo de pelúcia com um abraço apertado. — Você o salvou também. Obrigada, babá! — Ela abraçou o lado direito do corpo de Rosalie.

— Certo, crianças — disse Carlisle. — Dê espaço a Rose. Vamos a deixar descansar. — Estendeu a mão chamando os filhos, então, falou para Rosalie: — Obrigado por ajudá-los a escapar.

— Obrigada por ajudar meus filhos. — Esme também agradeceu. Ela pegou a caçula no colo. Carlisle, na mão de Rayan. — É uma pena que não tenham conseguido capturar quem fez isso — lamentou. — Mas vão continuar tentando, em algum momento vão encontrá-lo.

Esme e a família foi saindo do quarto, primeiro ela e Raylee, depois Carlisle com Rayan e por último Renesmee, que acenou para Rosalie. 

— Tchau, Rose.

— Tchau, Nessie.

A menina sorriu antes de fechar a porta.

Instantes depois chegaram os amigos para vê-la, Isabella, Alice, Jasper e Edward. Eles conversaram um pouco e depois foram embora. À tarde, Rosalie recebeu alta. Emmett empurrou a cadeira de rodas do hospital até o estacionamento. Os pais de Rosalie estavam logo atrás deles.

Foi no estacionamento que ela avistou Jacob sozinho.

— Por que ele não entrou para me ver? — comentou.

— Não sei.

— Jacob — Rosalie chamou. Emmett parou um instante com a cadeira de rodas. Jacob não respondeu, em vez disso, entrou no carro. Notou que parecia mancar quando fez isso.

— Vamos! — chamou a mãe de Rosalie. Emmett virou a cadeira para aquela direção levando à namorada embora.

— Você o viu mancando? — perguntou a Emmett.

— Não tenho certeza.

— O que será que aconteceu?

— Logo saberemos.

— Ou não — concluiu Rosalie, dando uma última olhada onde viu Jacob antes de ele entrar no carro e partir como não os conhecesse.

 


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